Café Literário: Fabrício Carpinejar e Alberto Martins

Poe­sia é núcleo, é matriz. Quan­do eu faço poe­sia, fico cha­pa­do.Carpine­jar

Escr­ev­er é poe­sia, é dar cor­da para a inqui­etação.Mar­tins

Um bate-papo sobre poe­sia talvez não seja um even­to que chame muito a atenção das pes­soas, prin­ci­pal­mente porque a dis­cussão em torno dela seja ain­da muito acadêmi­ca e reple­ta de refer­ên­cias canônes da lit­er­atu­ra, geran­do uma con­ver­sa monó­tona, com lin­guagem muito especí­fi­ca, e assun­tos muito dis­tantes do cotid­i­ano. Não foi o caso do Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010, com Fab­rí­cio Carpine­jar e Alber­to Mar­tins, medi­a­do por Luiz Rebin­s­ki Junior, em cima do tema “Poe­sia, quem é você?”.

De uma for­ma bem descon­traí­da e acalo­ra­da, os dois poet­as lit­eral­mente dis­cu­ti­am as suas opiniões sobre o que é ser poeta e a poe­sia na atu­al­i­dade. Uma dis­cussão muito per­ti­nente no cam­po literário hoje, já que o faz­er poéti­co vem se meta­mor­fos­e­an­do des­de do Mod­ernismo e os Con­cretis­tas a par­tir da déca­da de 70.

A iden­ti­dade do poeta foi o pon­to cen­tral em que a dis­cussão girou. Para Carpine­jar, os poet­as vivem uma crise de iden­ti­dade e têm muito prob­le­ma em se assumir, não só per­ante as edi­toras e o mer­ca­do, mas na sua própria vida pes­soal tam­bém. Diz que se essa difi­cul­dade fos­se ultra­pas­sa­da, isto iria ajudá-los na cri­ação do seu próprio tra­bal­ho, tor­nan­do-se mais autên­ti­cos. Já Mar­tins acred­i­ta que não é o escritor que tem o dire­ito de se inti­t­u­lar poeta, até que porque ele não con­sid­era isso como um ofí­cio e sim um momen­to que acon­tece durante o tra­bal­ho, mas cabe ao leitor da obra decidir isto. Este momen­to da dis­cussão deixou claro a dual­i­dade (necessária) das pon­tos de vista dos dois poet­as, Mar­tins optan­do pelas visões do ¨out­ro¨ que o escritor vive e Carpine­jar visan­do o cotid­i­ano na auto­ria da poe­sia, insistin­do em um autor mais próx­i­mo de quem o lê. Este debate foi o que mais se desta­cou, prin­ci­pal­mente pela indig­nação de Carpine­jar com o fato que Mar­tins não con­seguia respon­der a per­gun­ta “Tu é poeta ou não é?” de maneira binária (sim ou não).

A difer­ença de ger­ações entre os dois é muito clara, prin­ci­pal­mente pela difer­ença das visões sobre as novas tec­nolo­gias. Carpine­jar pub­li­ca tam­bém seus poe­mas em blog e pos­sui uma visão total­mente adep­ta ao mun­do vir­tu­al. Como seria se Drum­mond usasse o twit­ter e fos­se tão expos­to como são as pes­soas hoje? Porque é que um poeta pre­cisa ter um livro pub­li­ca­do para ser con­sid­er­a­do poeta? Não pode ape­nas fazê-lo no mun­do vir­tu­al? Por que uma bib­liote­ca pre­cisa ser silen­ciosa, sem músi­ca e sem poder levar comi­da? Ess­es foram alguns ques­tion­a­men­tos lev­an­ta­dos por ele. Alías, a sua visão de bib­liote­ca mod­er­na é bem difer­ente do que ouvi­mos nor­mal­mente falar por aí. Mar­tins tem uma visão clara­mente mais lit­er­a­ta e volta­da ao ato da leitu­ra como exper­iên­cia e não somente práti­ca social. Ele ques­tiona a efe­meri­dade dos poet­as vir­tu­ais e ao se con­tra­por às opiniões do gaú­cho, diz que a poe­sia não pode ser gen­er­al­iza­da, pois é um ato singular.

O bate-papo se desen­volveu de uma for­ma exce­lente, pois mes­mo que os dois autores sejam con­tem­porâ­neos entre si, o con­traste de opiniões é necessário para que uma lacu­na per­maneça aber­ta quan­to a car­ac­ter­i­za­ção do que é poe­sia, hoje. A dis­cussão não girou em torno somente desse assun­to, pois quan­do se tra­ta de lit­er­atu­ra out­ros dois com­po­nentes sem­pre andam jun­tos: leitor e autor, e nesse que­si­to ambos abrem novas dis­cussões muito pertinentes.

No final do bate-papo, Fab­rí­cio Carpine­jar e Alber­to Mar­tins rece­ber­am várias per­gun­tas vin­das dos par­tic­i­pantes, que levaram á des­do­bra­men­tos bem inter­es­santes, tor­nan­do o encon­tro bem dinâmi­co, descon­traí­do e infor­mal, sat­is­fazen­do a pro­pos­ta prin­ci­pal do Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010.

O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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