O interrogAção é o tradutor oficial das HQs do Stuart McMillen.
Author: Daniel Kossmann Ferraz
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Aniversário de 5 anos | Editorial
Compartilhar. Esta é a palavra que iniciou uma série de ações, pesquisas e aventuras que fizeram surgir e abastecer o interrogAção durante estes 5 anos de vida. De uma pequena faísca iniciada por um blog pessoal, hoje somos um portal cultural com uma equipe de 6 pessoas fixas, espalhados por quatro cidades do Brasil e uma nos EUA, e com conteúdo de mais de outros 15 colaboradores. E foi por causa de pequenas e grandes ações que cada um deles tomou, que o interrogAção é o que ele é hoje.
Sou profundamente agradecido a Mara, que é mais que parceira no movimento catártico de tentar fazer o impossível e revolucionar a produção de conteúdo cultural, a Marília, que está sempre respirando poesia e possui um olhar incrível, ao Rafael, que é um furacão na produção dos mais diversos textos e entrevistas, ao Aristides, que está sempre compartilhando suas aventuras pelos mares da contracultura, ao Lauro, por disseminar que a arte é inevitável, a Débora, por sua visão afiada e certeira, ao Faw, por acreditar e colaborar na construção de novos caminhos, e a Carol, por ajudar a espalhar a nossa paixão. Considero todos vocês mais que importantes companheiros nessa jornada, mas verdadeiros amigos, daqueles que contamos nos dedos das mãos.
Alguns deles também tem o que falar dessa jornada, segue abaixo seus depoimentos:
Uma das coisas que eu tenho aprendido com a vida é que o entusiasmo nos faz navegar em águas profundas, subterrâneas, abissais. Esse é o sentimento que tenho experimentado nestes 3 anos em que faço parte do interrogAção.
Com as imersões que faço por meio do trabalho que desenvolvemos no site – e através das conversas que tenho com o Daniel, editor-chefe, nas reuniões de fechamento de pauta e de edição, continuo mantendo meu entusiasmo vivo, flamejante, respirando minhas três palavras mágicas — sonho, galáxia e saudade.
No interrogAção, nós sonhamos em viver pela e para a cultura; não achamos que a galáxia é o limite e mantemos a saudade do que ainda não vivemos como elemento de pulsão. É essa crença em paixões avassaladoras, no poder dos livros, na magia da música e na imersão cultural que eu quero continuar despertando no meu coração, na minha mente e no meu espírito. E tudo isso eu tenho encontrado em dobro no interrogAção.
Obrigada a quem me indicou e a quem abraçou a causa ao meu lado e ao lado do Daniel – a quem chamo de melhor amigo. Eu sempre leio livros ou ouço música para sonhar, para ser transportada dentro de uma visão nova, de uma partícula de vida especial. Obrigada por isso e muito mais, interroga! Parabéns!
Mara Vanessa Torres
Editora-ExecutivaMinha relação com o site interrogAção é de pura afetividade. É uma equipe jovem, apaixonada por cultura e artes, que em vez de seguir regras e padrões, procura descobrir ou criar sua identidade, seu espaço.
Escrever para o site interrogAção é uma experiência interessante. Estimula a organizar a escrita e a dialogar com a literatura contemporânea. Nunca tive método para escrever, para mim a literatura e a poesia são necessidades íntimas, tanto de leitura quanto de composição. Publicar no site permite compartilhar paixões e dialogar com o admirável mundo novo em que vivemos.
Marilia Kubota
RedatoraO interrogAção é o campo livre da expressão e do aprofundamento do intelecto. É nele que encontramos textos/artigos/crônicas/dossiês que nos permitem ir além do conhecimento. É o atalho para a sabedoria.
Foi o interrogAção que me permitiu explorar áreas e potencialidades que até então só vislumbrava em um horizonte distante. A parceria está no começo. Em breve iremos lançar o ‘Dossiê Musas da Boca’, solidificando essa parceria.
Foi também graças ao interrogAção que tive a oportunidade de conhecer dois amigos que levarei pra sempre: Daniel Kossmann e Mara Vanessa Torres.
Rafael Spaca
RedatorMas não vamos parar a festa por aí! Para comemorar esta meia década de muita paixão pela cultura, iremos lançar durante o mês de março uma nova versão do site, totalmente focada na experiência da leitura, novas seções de conteúdo e várias outras novidades. Fiquem atentos aos anúncios neste editorial e nas nossas redes sociais.
Para finalizar, queria também agradecer a todos os nossos leitores, parceiros e apoiadores, por acreditarem e ajudarem a manter essa chama do interrogAção acesa, que é alimentada por muito suor, tesão e sonhos.
Obrigado!!!
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Novembro 2014 | Editorial
Há um espaço vazio dentro do portal
Onde cresce as teias
E agora eu vou te atualizar
Vou te atualizar(Modificação espontânea da letra Lotus Flower, do Radiohead)
Tirando as teias e o mofo do editorial, assim como do portal interrogAção, voltamos a atualizá-lo mensalmente, agora também brincando com novos formatos.
Para este mês reservamos vários assuntos interessantes, como uma entrevista especial com o Rafael Spaca, autor do blog Os Curtos Filmes, um dos maiores blogs nacionais sobre curtas, e o responsável pelo projeto “Rua do Triunfo — a volta”, local que foi um grande marco no Cinema Nacional.
Falando em cinema, ressusitaremos a seção do Cinema Clássico com uma análise microscópica do filme “O Vagabundo”, do querido Charles Chaplin, feito pelo nosso mais novo colaborador Cicero Pedro. No final de outubro também voltamos com o Curta Da Semana, com o “Desejo”, de Anne Pinheiro Guimarães, e vamos dar continuidade focando nos curtas nacionais, sendo um dele sobre o futuro do cinema. Também voltamos a escrever sobre algumas estreias de filmes, como foi o caso de “Boyhood: Da Infância à Juventude”, de Richard Linklater.
Em Literatura, vamos ter uma resenha do “As Virgens Suicidas”, de Jeffrey Eugenides, e continuando em livros, quem melhor para resenhar um livro de poesia do que um poeta? Teremos a resenha da Marilia Kubota do “Poema Sujo”, de Ferreiro Gullar.
Também vamos estrear uma nova série de artigos sobre financiamento coletivo, mas ainda não vou entregar mais detalhes para manter a surpresa no ar. Mas as novidades não param por aí! No final de novembro, vamos para São Paulo fazer uma passagem pela Balada Literária 2014!
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Boyhood: Da Infância à Juventude (2014), de Richard Linklater | Crítica
Fazer um filme que seja cinematograficamente inovador não é algo trivial, muito menos quando se deseja que ele chame a atenção do grande público das salas de cinema. Esse feito fica ainda mais difícil quando não é utilizado grandes efeitos especiais ou narrativas complexas, que podem muitas vezes afastar mais o público do que o instigar. “Boyhood: Da Infância à Juventude” (Boyhood, EUA, 2014) conseguiu realizar todas essas proezas, e a ideia para criá-lo veio justamente do desejo de não utilizar efeitos especiais para simular o envelhecimento dos personagens ou então utilizar diferentes atores para representar a passagem to tempo em uma história sobre o amadurecimento da infância à juventude (explicitado no desnecessário subtítulo nacional). A solução encontrada por Richard Linklater, que escreveu, dirigiu e produziu o longa, por mais maluca (e genial) que pareça, foi de filmar os mesmos atores durante 12 anos, mais ou menos uma vez por ano.
A história do filme é bem universal: acompanhamos Mason (Ellar Coltrane), dos 5 aos 18 anos, assim como os outros personagens que convivem com ele durante esse tempo. Mas o foco da história não é somente o crescimento de uma criança, mas também sobre o processo de ser pai/mãe, principalmente em um tempo onde é cada vez mais comum casais se separarem e os filhos acabam por ter duas, ou mais, pessoas que cumprem o papel dos genitores. Não temos aqui a tradicional estrutura, normalmente simplista, de um enredo de cinema, onde é fácil identificar os altos e baixos do desenvolvimento do personagem principal, que vai atravessando as suas dificuldades para, no final do longa, chegar a uma conclusão da história, seja ela positiva ou não. Apesar de Linklater ter um objetivo bem definido para o longa, o roteiro do longa estava sempre bem aberto para poder acompanhar parte das decisões de vida tomada pelo ator principal. O diretor até brinca que se Ellar decidisse virar um lutador, o filme provavelmente iria acompanhar isso de algo forma, mudando drasticamente de rumo.
A vida é um sopro, dizia Oscar Niemeyer, e é justamente assim que acompanhamos o passar do tempo em “Boyhood: Da Infância à Juventude”. Vamos pulando de um ano ao outro, algumas vezes com acontecimentos mais impactantes, outras vezes apenas com a mudança da folha calendário como fato marcante. Quando menos percebemos, já se passaram vários anos. Tudo isso sem qualquer indicação explícita, nada de “um ano depois” ou a data carimbada na tela. Tirando uma ou outra festa de aniversário e acontecimentos marcantes da história, como a candidatura do presidente Obama e a febre do Harry Potter, que ajudam a criar uma noção melhor da temporalidade dos eventos. Isso também ocorre pela escolha da trilha sonora, com os hits que marcaram cada época, que aliás é uma das grandes virtudes do filme, com bandas como Coldplay, The Hives, Foo Fighters, Cat Power, Arcade Fire, entre outros.
O que mais chama a atenção em relação ao tempo, é acompanhar como a aparência dos personagens vão se transformando. Difícil dizer se o fato de saber que todas essas mudanças são reais, as tornam mais impressionantes do que se não tivesse essa informação. Mas acredito que seria muito difícil, se não impossível, causar o mesmo impacto através dos métodos tradicionais de envelhecimento.
De início, Mason esta mais para um observador de tudo que acontece em sua volta, sempre com um olhar bem atento, mas sem qualquer poder de ação. São mudanças de cidade, separação dos pais, novas escolas… Tudo acontece a partir da sua perspectiva, na qual muitas coisas parecem não ter muito sentido, elas simplesmente acontecem. Com o tempo, ele vai amadurecendo, não só percebendo mais a complexidade da realidade a sua volta, mas também começando a ter um efeito maior sobre ela. Isso é crescer.
Se assemelhando bastante com a vida fora das telas do cinema, “Boyhood: Da Infância à Juventude” é um filme universal e muito sensível. Difícil não refletir sobre as próprias escolhas, e aquelas que ainda podemos fazer, depois e durante a imersão de 12 anos condensados em quase três horas da vida de Mason, um personagem que ainda tem uma vida toda pela frente.
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Amantes Eternos (2013), de Jim Jarmusch | Crítica
Ser imortal, ou pelo menos algo próximo a isso, é um desejo que inspira muitas histórias e pesquisas, passando desde abordagens mais místicas às mais tecnológicas. Essa condição, além de oferecer várias possibilidades, também levanta várias questões que são muitas vezes difíceis de se imaginar dada a brevidade de nosso tempo de vida. Como será que uma criatura perpétua se sentiria em relação ao caminhar da história da humanidade? E uma relação amorosa que durasse séculos? Estes são os dois fios condutores da trama de “Amantes Eternos” (“Only Lovers Left Alive”, Inglaterra/Alemanha/Grécia, 2013), dirigido e escrito por Jim Jarmusch.
Passando longe da ficção científica para criar tal condição, Jarmusch traz um novo olhar a criatura imortalizada (nos dois sentidos) por Bram Stoker: o vampiro. Antes que alguns torçam o nariz, não se trata de mais uma adaptação pueril ou uma desculpa para colocar pessoas em colantes pretos lutando entre si ou com monstros em câmera lenta. “Amantes Eternos” traz novamente os vampiros para o seu auge nas telonas, assim como fez “Entrevista com o Vampiro” (1994), de Neil Jordan, baseado na obra da escritora Anne Rice. Só que desta vez, o conflito principal não é uma crise existencial consigo mesmo, mas sim com a espécie humana em geral, aqui apelidada carinhosamente de zumbis.
Tal crise tem seus motivos mais que óbvios. Afinal, deve ser deprimente ver, e as vezes também conviver, com várias mentes brilhantes que são ignoradas e até mortas por conta de suas ideias revolucionárias, para somente depois de décadas, serem finalmente escutadas, mesmo que apenas parcialmente. Juntando isso a todo o conhecimento que esta pessoa iria acumular durante séculos, cria-se uma situação no mínimo desanimadora. Os dois personagens principais de “Amantes Eternos” são extremamente cultos, sempre lembrando de seus amigos do passado (Schubert, Gustave Flaubert, Shakespeare…) como se ontem houvessem conversado. Por conta disso, se tornam até meios esnobes, mas nunca sendo pedantes e sempre com um ótimo senso de humor nas suas referências e brincadeiras.
Para sobreviver todo esse tempo, além da constante mudança de local, há algo ainda mais importante a ser prezado: o anonimato. Afinal, seria difícil, para não dizer impossível, esconder a “imortalidade” sob qualquer tipo de holofote. Ou seja, nada de virar astros de rock ou vigilantes noturnos. Fazer isso seria como se intitular “agente secreto” quando todos sabem que seu nome é James Bond e que você é o 007. Mas voltando ao assunto do longa em questão… Adam vive em Detroit, uma cidade nos Estados Unidos que atualmente está praticamente abandonada, tendo declarado concordata no ano passado. Com certeza um dos melhores lugares para alguém se esconder atualmente no EUA.
Em “Amantes Eternos”, acompanhamos o casal Adam (Tom Hiddleston, o ótimo Loki de “Thor”), um músico ávido e genial, e Eve (Tilda Swinton, a imortal “Orlando”), uma amante da literatura, tentando sobreviver no mundo atual. Mas a composição de músicas já não consegue mais mascarar a insatisfação de Adam em relação a vida e a humanidade e Eve vai visitá-lo para ajudá-lo nesta crise. Falando em música, a trilha sonora é um dos grandes destaques do longa, sendo bastante sombria mas ao mesmo tempo sedutora, um verdadeiro post-rock vampiresco.
Com uma fotografia bem sombria, o filme se passa quase todo em ambientes fechados e mal iluminados, sempre a noite é claro. Este foi o primeiro longa filmado digitalmente por Jarmusch, que tem sérias restrições a respeito desse formato por não possuir, segundo ele, uma qualidade boa para áreas abertas e com muita iluminação. Mas como neste longa não há nada disso, acabou se adaptando perfeitamente a estas limitações. Outra curiosidade interessante é que dentro do set de filmagens, não era tocada nenhuma música, foi apenas distribuído um mixtape entre a equipe.
Para condizer com todo o discurso da anonimidade e conhecimento secular dos personagens, esses vampiros não possuem visualmente nada de extravante, tendo apenas como diferencial um cabelo bem animalesco (que foi criado misturando a partir da mistura de cabelo humano com pêlo de cabra e iaque). O longa também brinca com várias das concepções a respeito desses seres da noite, principalmente com a maneira que eles se alimentam, que é sensacional. Outro detalhe interessante está relacionado com a introdução de um novo, concebido pelo próprio diretor, para caracterizá-los. Vamos ver se você percebe ou percebeu qual é ele.
Resumindo em poucas palavras: se você gosta de filmes inteligentes e fica intrigado com as possibilidades de perpétuos sugadores de sangue, é bem provável que fique completamente seduzido por “Amantes Eternos”.
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Julho 2014 | Editorial
O que te dá Tesão na vida?
É com a pergunta acima que a Revista Trip de Junho (#233) coleta alguns depoimentos para o seu especial “Cadê o Tesão?”. E o que isto tem haver com o interrogAção? Tudo! Afinal, é o Tesão (sempre com T maiúsculo) que move cada centímetro deste portal. Não só o Tesão pela cultura e pelo jornalismo, que por enquanto é só digital, mas principalmente o Tesão pelo compartilhamento de conhecimento. Escrevemos e publicamos neste espaço para compartilhar nossas experiências, opiniões, análises e tudo que faz o nosso coração bater mais forte.
Cada um tem o seu jeito particular e peculiar de comunicar aquilo que sente e de viver suas emoções. Alguns conseguem se expressar mais pela escrita e de maneira mais introvertida, que é o tema da crônica deste mês da Marilia. Já outras vezes, são mais reativos e podem até ser internados por isso, como aconteceu com o personagem Neto do filme “Bicho de Sete Cabeças”, explorado em uma análise da Mara. Também tem aquelas vezes que simplesmente decidem ir embora, como fez Che Guevara em sua célebre viagem de moto pela América do Sul, figura que Rafael comenta a biografia. Mas não vamos esquecer também do “mundo virtual”, ou “afastado do teclado” (away from keyboard), que o ativista Aaron Swartz utilizou como seu principal meio de expressão, retratado no documentário “Internet’s own boy”, lançado faz poucos dias e do qual falarei.
Além do conteúdo acima que vai ser publicado ao longo do mês, continuaremos também melhorando a organização do portal. Os mais atentos já devem ter percebido que no mês passado trabalhamos principalmente na organização do menu, separando o conteúdo em análises, críticas, entrevistas, crônicas, … além de outras pequenas mudanças no site.
Para quem estava se perguntando a respeito do Concurso Cultural que anunciamos no editorial de quatro anos do interrogAção, agora ele finalmente será divulgado!
Difícil terminar este editorial sem lembrar da ótima frase, e título de livro, do Roberto Freire (1927–2008), que acaba sendo um grande norteador: Sem Tesão não há solução.
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O Pássaro-do-Sol ressurge das cinzas | Editorial
O nome interrogAção surgiu no início de 2009 para um projeto de compartilhamento de aprendizados (depois apelidado carinhosamente de “Universidade Pirata”), que acabou não vingando, mas o seu conceito (de interrogar e agir) ficou e não saiu mais da minha cabeça. Decidi então resignificá-lo alguns meses depois como um blog para compartilhar algumas traduções que havia feito pelo simples e puro prazer de poder torná-las mais acessíveis, necessidade que ficou mais eminente pricipalmente depois de ler e traduzir o quadrinho “Entretendo-nos até a morte”, do Stuart McMillen, que me marcou profundamente na época.
Essa e mais outras duas traduções (“Cozinha Caseira” e “O Kama Sutra da Leitura”, que foi a primeira que fiz muitos anos antes) foram publicadas em julho de 2009, e depois acabei não alimentando mais o espaço. Foi só no início de 2010 que resolvi parar de deixar este espaço como uma grande interrogação na vida e finalmente assumir a ação que estava adormecida dentro daquela palavra. Como já fazia anos que queria escrever sobre filmes, mas ainda não tinha tomado a iniciativa, decidi que este seria um bom início para, finalmente, colocar o projeto em prática. Assim, com a ajuda do amigo Joba Tridente, escrevi minhas primeiras críticas de cinema. Foi dessa forma que, há exatamente quatro anos, em uma madrugada de hiperatividade cultural, publiquei às 0 horas (um bom marco para um início) a crítica “Hanami — Cerejeiras em Flor”, texto que não só oficialmente lançou o interrogAção, mas também mudou completamente minha vida.
Depois de 12 críticas de filmes publicadas, o blog estava começando a receber mais visitas e a ter um retorno muito positivo de amigos e visitantes. Aí pensei, por que não assumir o projeto como um espaço colaborativo onde a cultura seria refletida por várias perspectivas? Foi assim que o interrogAção passou de um blog pessoal para um portal cultural. Aos poucos os colaboradores foram aparecendo e as novas possibilidades se concretizando. O foco do site deixou de ser apenas cinema, contracultura e quadrinhos, expandindo para literatura e a cobertura de eventos. Todas essas mudanças tiveram como fonte de energia a paixão pelo compartilhamento e pela reflexão da cultura, sem qualquer retorno financeiro.
Como todo projeto, o interrogAção também teve vários altos e baixos durante esses quatro anos. Passamos por momentos de extrema empolgação e produção ao conseguir acesso para cobrir eventos como a Bienal do Livro do Rio e o Festival de Verão de Cinema do RS, até encarar um intervalo de meses com publicações escassas por conta da falta de tempo dos integrantes (faculdade, trabalho e vida pessoal). Em 2013, o portal passou por um desses choques, onde houve um hiato significativo devido a uma grande mudança na equipe. Felizmente, em novembro do mesmo ano, o projeto foi lentamente passando por uma reestruturação interna, para surgir em 2014 totalmente transformado, como uma fênix revigorada saindo das cinzas.
Além da nova equipe do portal, composta também pela editora-executiva Mara Vanessa e pelos redatores Aristides Oliveira e Marilia Kubota, outro grande sinal desta nova fase é a estreia deste editorial mensal que, depois de quatro anos, finalmente entrará em ação. Várias outras novidades estão por vir, então prepare-se, pois viemos para, no mímino, sacudir o cenário do jornalismo cultural digital. E para finalizar, nada melhor do que entoar em alto e bom som o grito de comemoração de aniversário deste ano: Para o alto e avante, interrogAção!
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O Lobo de Wall Street (2013), de Martin Scorsese | Crítica
Considerada como um dos setes pecados capitais, a ganância é um sentimento cuja origem está profundamente enraizada na nossa história como seres humanos. Sendo muito cultuada em certos círculos de negócios, a cobiça é muitas vezes vista como essencial para quem aspira ser bem sucedido. “O Lobo de Wall Street” (The Wolf of Wall Street, EUA, 2013), novo filme do renomado diretor Martin Scorsese, é uma odisseia no mundo de um grupo de corretores de Wall Street, onde a ambição desmedida impera sem qualquer restrições.
Baseado na vida do corretor Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), cuja trajetória foi repleta de drogas, excessos e fraudes, acompanhamos sua evolução de trabalhador inocente vindo de uma família pobre para milionário dono de uma grande empresa. Jordan é um verdadeiro “self made man”, que vende sua trajetória como exemplo da concretização do sonho americano. Afinal, segundo ele, quem não quer ficar rico?
Suas competências como vendedor vão muito além da sua área de atuação, e seu principal produto é ele mesmo. A plateia de Belfort não é formada só por seus clientes e funcionários, que muitas vezes o adoram quase como um deus, mas também pelo próprio espectador do filme. Através de várias falas diretamente para câmera, Jordan não está só contando a sua história, mas vendendo‑a para você, criando simpatia e ganhando sua confiança. Ao mesmo tempo que suas atitudes são intoleráveis, é difícil não sentir certa fascinação por sua “sinceridade” e carisma. É um sentimento muito parecido com aquele criado por alguns dos personagens principais do Woody Allen, que as vezes ele mesmo interpreta, ao se justificar ao espectador o seu comportamento egoísta e muitas vezes bizarro.
Falando em não usual, leia-se extravagante e as vezes até grotesco, esqueça totalmente o politicamente correto ao assistir “O Lobo de Wall Street”, pois um dos seus destaques é justamente o humor negro, e as vezes de mau gosto. Preconceitos, drogas, masturbação, sexo, … tudo é contato e mostrado abertamente e sem censura como se fosse uma conversa entre dois amigos íntimos. Se você gostou de filmes como “TED” (2012) e “Superbad: É Hoje” (2007), provavelmente vai adorar este.
Outro grande destaque do filme é seu excelente elenco. Depois de fazer dois papéis seguidos de milionário, no péssimo “O Grande Gatsby” (2013) e no ótimo “Django Livre” (2012), Leonardo DiCaprio está sensacional como o magnata Belfort, ficando muitas vezes irreconhecível de tão envolvedora que é sua atuação. Seu papel é quase como uma possível maturação de seu outro personagem, o Frank de “Prenda-me se For Capaz” (2002). Mas apesar de já ter um portfólio bem forte, este é seu sexto trabalho com o diretor Scorsese, DiCaprio ainda não conquistou nenhum Oscar, fato que pode mudar este ano com sua indicação como melhor ator pelo papel, principalmente por já ter levado o “Globo de Ouro” de 2014 na mesma categoria. “O Lobo de Wall Street” também está sendo indicado a mais quatro Oscars, o de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (o excelente Jonah Hill) e roteiro adaptado.
Uma curiosidade interessante a respeito desta produção é que o verdadeiro Jordan Belfort ainda está vivo e foi bastante consultado durante a produção do filme. Além de ter passado um tempo junto com Belfort durante a preparação para o papel, DiCaprio também o consultava quando tinha alguma dúvida durante as filmagens. Segundo o ator, Jordan é bem aberto a respeito desta sua fase mais obscura, não tendo problema de falar sobre ela, inclusive em público.
Com três horas de duração, “O Lobo de Wall Street” consegue explorar bem a sua história e personagens, tudo se desenvolve de forma tão natural que você quase não percebe o tempo passando. A não linearidade da narrativa cria um ritmo bem dinâmico, não apelando para flashbacks ou cortes muito rápidos demais somente para envolver o espectador em seu enredo. Sua carga dramática é muito bem balanceada com o seu humor, mas apesar de engraçado não classificaria como comédia. Ao final do filme fica apenas uma grande questão: como você me venderia uma caneta?
Assista o trailer legendado abaixo:
Veja também o makin off dos efeitos especiais:
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Revolta! | HQ da Semana
Notícias sobre corrupção no governo não são nenhuma grande novidade e estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. É difícil não mostrar certa indignação a respeito do assunto em conversas com nossos conhecidos e amigos, ficando a discussão ainda mais acalorada em bares, onde o efeito do álcool se une ao forte sentimento de indignação. Quem aqui nunca pensou que talvez seria mais fácil se alguém colocasse uma bala na cabeça desses políticos corruptos para resolver de vez a situação?
É justamente a notícia de uma pessoa que resolveu tomar esta atitude, que cinco amigos escutam na televisão enquanto estão bebendo no bar, conversando sobre suas revoltas com a situação política do país. Na saída, eles acabam esbarrando com esse mascarado assassino e a vida de todos atravessa uma profunda transformação. Assim começa “Revolta!”, uma HQ roteirizada e desenhada pelo curitibano André Caliman, publicada mensalmente, desde outubro de 2012, em seu blog oficial.
O projeto iniciou antes das primeiras passeatas do país, quando ainda pairava no ar um clima desconfortável de calmaria. Na época, André (que é também escritor, ilustrador, caricaturista e professor), queria fazer algo mais autoral, que fosse relevante e falasse sobre o momento atual brasileiro. Quando começou a publicar a história na internet, viu que ela poderia tomar proporções bem maiores e que também havia uma certa urgência para publicá-la, pois a realidade estava se mostrando coerente com suas ideias. Assim, decidiu financiar coletivamente o seu trabalho, através do Catarse, para transformá-lo em um livro, conseguindo inclusive atingir um valor maior do que sua meta inicial em outubro de 2013.
Além da arte muito bem trabalhada, feita inteiramente a mão com nanquim, a história é o grande destaque desta HQ. Com personagens bem complexos, não há aquela divisão simplista de bom/mau e, por conta de várias reviravoltas e surpresas, o enredo prende o leitor de uma forma alucinante entre seus capítulos. É aquele tipo de leitura que uma vez que você inicia, não consegue mais parar.
Por enquanto, a história ainda não foi publicada por inteiro no blog da HQ, mas já está finalizada e em breve os apoiadores do projeto no Catarse deverão recebê-la em suas casas. Posso afirmar que não é fácil quando você se depara com o aviso “Em breve” ao chegar no último capítulo disponível, mas a espera por cada novo capítulo está valendo a pena!
Se você ficou interessado em saber um pouco mais sobre o autor e a obra, confira a entrevista com o André Caliman que o interrogAção fez.
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Entrevista: André Caliman
Iniciando o nosso ciclo de entrevistas com autores nacionais de Histórias em Quadrinhos, conversamos diretamente de Curitiba com o André Caliman, que recentemente teve seu projeto “Revolta!” financiado pela plataforma Catarse.
André também é escritor, ilustrador, caricaturista e professor. Ele foi um dos criadores da revista Quadrinhópole e também da revista Avenida, possuindo vários de seus trabalhos publicados tanto nacionalmente quanto internacionalmente, como as HQs: “Rua”, “Fire”, “Sequestro em Três Buracos” e “E.L.F”.
Como surgiu a ideia de criar “Revolta” e qual foi o estopim para o projeto sair apenas do mundo das ideias?
Escrevi e desenhei o primeiro capítulo em Outubro de 2012. A situação não era a mesma que vivemos agora. Na verdade era bem o contrário. Pairava no ar uma calmaria desconfortável. Parecia que um jogava no outro a culpa por ninguém fazer nada com relação aos escândalos de corrupção. Quantas vezes, em alguma discussão política, eu ouvia alguém falar, não necessariamente pra mim: “Ah, é?! E você, o que está fazendo sobre isso?”
Outro comentário recorrente era: “Quero ver quando chegar algum maluco e matar esses ladrões!”
Nessa época eu queria fazer um projeto meu, e algo que fosse relevante, que falasse sobre o momento atual e sobre essas pessoas que eu encontrava em bares, faculdades, etc. Imaginei o que aconteceria se as pessoas se revoltassem. Ou ao menos, se uma pessoa se revoltasse.
O resto da história veio naturalmente.
Você já pensava desde o início em utilizar o crowdfunding para viabilizar uma versão impressa da HQ?
Não, a ideia era simplesmente escrever e desenhar e esperar que as pessoas lessem. Eu não sabia muito bem no que isso ia dar. O primeiro capítulo, que retrata o bar que eu sempre frequentava e os amigos com os quais eu sempre estava, foi umas das coisas mais divertidas que já fiz. Quando a história foi tomando corpo e vi que seria um grande livro e precisava ser publicado o quanto antes, pois a realidade se mostrou coerente com a ficção, o Catarse pareceu a melhor opção, me valendo do público que já acompanhava a HQ na internet.
Como foi o planejamento para criar a campanha deste seu primeiro projeto de crowdfunding? Onde você sentiu, ou sente, mais dificuldade?
“Revolta!” é uma HQ mais marginal, violenta, transgressora. E quando coloquei ela no Catarse, me deparei com uma suposta obrigação de torná-la comercial, um produto que precisava ser comprado. E o desafio foi fazer isso sem descaracterizar a obra e sua intenção provocativa. Acho que deu certo.
Há vários projetos de HQs que conseguiram ser viabilizados graças a essa nova dinâmica, para citar apenas alguns: “GNUT”, “RYOTIRAS OMNIBUS” e recentemente o livro “Ícones dos Quadrinhos”. Você acredita que o modelo de crowdfunding pode ser, ou já está sendo, uma grande revolução no cenário nacional dos quadrinhos?
Acho que sim, pois há muito tempo são os próprios autores de quadrinhos que fazem o mercado nacional. As editoras tem uma misteriosa dificuldade para apostar em coisas novas e autores novos. Então o Catarse vem como uma ferramenta para tirar essa dificuldade que os autores tem de atingir o seu público e vender seu produto diretamente.
Por que você decidiu lançar a HQ gratuitamente na internet? Você acredita que isto pode ter um impacto negativo numa futura venda da versão impressa de algum projeto deste tipo?
Acho que não. Pretendo manter o público que começou a ler a HQ gratuitamente no blog, fazendo-os conhecer mais do material e eternizá-lo em suas prateleiras com o livro impresso. Fora que essa inciativa de publicar gratuitamente também teve um intuito de atingir um público mais amplo, que não está acostumado e comprar quadrinhos. Mesmo porque, antes disso, precisa saber que existem bons quadrinhos sendo feitos.
Você já trabalhou roteirizando e desenhando (“FIRE” e “Avenida”), somente desenhando (“E.L.F.” e “Sequestro em Três Buracos”) e recentemente participou em um projeto que apenas roteirizou. Qual você mais gosta de fazer? Como foi trabalhar só escrevendo?
Eu gosto cada vez mais de escrever. E a atualidade está me dando muitas ideias que quero abordar. Não consigo mais me satisfazer desenhando roteiros de outras pessoas que falam de personagens que já não existem há cem anos.
E, para mim, a única forma de ser um quadrinista completo é escrever e desenhar histórias próprias. Recentemente eu escrevi um roteiro que foi desenhado por uma quadrinista super talentosa daqui de Curitiba, a Marina Tyemi, e gostei da experiência.
Mas como disse, não é um trabalho autoral completo.
Você também já possui trabalhos publicados no exterior (“E.L.F.” e “Fire”), como foi essa experiência?
Antes ainda de me formar, comecei a desenhar a série E.L.F. escrita pelo Jason Avery. Antes disso, eu havia feito apenas revistas independentes, então foi um momento de profissionalização do meu trabalho. Tinha muita preocupação com o resultado, e isso me fez crescer muito, pensando novas formas de resolver meu desenho.
Também foi muito bom ser bem remunerado e publicado lá fora. É um mercado para o qual eu quero voltar, mas com projetos próprios.
Falando em publicar no exterior, há planos de no futuro sair uma versão em inglês de Revolta?
Sim. Mas antes preciso publicar aqui. A história pertence a este país e esse é o momento de ser publicada aqui. Mas num passo seguinte, com certeza.
Acho que o tema da Revolta é universal. E os conflitos dos personagens da HQ com certeza são reconhecíveis em qualquer parte do mundo. E isso fica provado com algumas críticas que recebo no blog onde a HQ é publicada. As pessoas sempre criticam aquilo que as aflige, que as provoca. E na minha opinião, é isso que uma boa história deve causar nas pessoas.
Quais são os autores e artistas que exercem algum tipo de influência no seu trabalho?
Muitos, mas eu poderia citar alguns: Hugo Pratt, Flavio Colin, Victor de La Fuente, Dino Battaglia, Lourenço Mutarelli.
Se você pensar na sua trajetória até agora no mundo dos quadrinhos, houve algo específico que te deixou extremamente revoltado?
Algo óbvio: As editoras nacionais se empenharem tanto em republicar material estrangeiro e não fazerem muito esforço para apostar em algo feito aqui, muitas vezes com uma qualidade maior.
Inclusive autores brasileiros que estão acostumados a publicar por editoras estrangeiras, que possuem trabalhos autorais superiores ao que fazem lá fora, encontram dificuldade em achar espaço com as editoras daqui.
Acho que a atitude a ser tomada pelas editoras é: Apostar em coisas novas e interessantes. Os autores já estão fazendo isso, e se elas não os acompanharem, vão ser deixadas cada vez mais de lado.
Na maioria das vezes que te vi desenhando Revolta, você estava com fone de ouvido. Que tipo de música você costuma escutar para desenhar?
Na maioria das vezes ouço palestras filosóficas. Hahaha
Ouço todo tipo de música.
Analisando o cenário atual de HQs, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, quais são os quadrinistas que mais estão chamando a sua atenção?
Gipi, Sean Murphy, Danilo Beyruth, Cyril Pedrosa, Guazzelli, Craig Thompson.
Muito se discute sobre os novos jeitos de se criar quadrinhos na web, adicionando animações, interatividade e até realidade aumentada. Como você vê isso? Acredita que ainda possam ser chamados de quadrinhos ou é outra coisa? Tem alguma dessas novas possibilidades que você gostaria de explorar?
Quando você muda de formato, é natural que perca alguns elementos e ganhe outros. Acho que essas possibilidades tem que ser bem aproveitadas. E se chegarem ao ponto de se tornarem outra coisa que não quadrinhos, ótimo. Os quadrinhos vão continuar do jeito que são.
Não penso em nada do tipo agora, mas é uma possibilidade.
Na maioria de seus quadrinhos você sempre aparece de alguma forma, as vezes você mesmo é o personagem principal das histórias e em outras as vezes aparece discretamente apenas em um desenho. Essa aparição é algo estilo Hitchcock ou tem algum significado específico?
É inevitável. Em todos os personagens há um pouco de mim e quando eu retrato a mim mesmo, tem um pouco de outras pessoas ali. E isso acontece porque gosto de humanizar bastante meus personagens, torná-los reconhecíveis. A minha melhor referencia sou eu mesmo e as pessoas ao meu redor.
No Revolta, além de você como referência para o “Animal”, há também há seus amigos como inspiração para o visual dos personagens. Até onde eles se misturam com a realidade?
No começo da HQ, eu queria que os personagens fossem eles mesmos, inteiramente. Mas conforme a história foi avançando, os personagens foram se definindo dentro da trama de formas diferentes. E me dei a liberdade de dar autonomia aos personagens, desvinculando-os em parte das pessoas que os inspiraram. Mesmo assim, ainda agora quando vou desenhar os gestos dos personagens ou colocar uma fala nos balões, penso nos meus amigos que serviram de modelo. Isso enriquece e humaniza muito cada um dos personagens.
Alguém já reclamou por ter se visto desenhado em algum dos quadros da HQ?
Não, todo mundo gosta. (até agora)
Você acha que é possível a ideia principal do Revolta sair do papel e se transformar em realidade?
Foi uma sensação estranha quando, em Junho, eu vi na televisão as manifestações no Brasil todo. Foi quase como se a HQ estivesse se tornando realidade, pois esse era o caminho para o qual eu estava direcionando a trama.
Quando eu participei das manifestações, vi e senti o que estava acontecendo, sabia que eu deveria aproximar ainda mais a HQ da realidade. Se antes eu havia invadido as ruas, colando páginas nas paredes, agora as ruas pareciam estar entrando na HQ. As pessoas que eu desenhava gritando agora gritavam de verdade. E eu deixei que elas entrassem de volta nos quadrinhos. E tudo fez muito mais sentido.
Ainda assim, é uma peça de ficção, e o que eu vi se tornar realidade foi o clima da HQ, a intenção de gritar, falar, se revoltar, reclamar. E não se preocupar se tem um bando de gente dizendo que tudo não passa de uma ingenuidade, porque querem parecer cultas e controladas, quando no fundo o que querem é estar ali gritando junto, mesmo na chuva e depois de um dia de trabalho duro.
Vários quadros do Revolta são bastante cinematográficos, as vezes é quase possível escutar o que está acontecendo em cada um deles. Isso me fez ficar imaginando que tipo de trilha sonora a HQ teria. Qual seria a sua indicação de tracklist perfeita para escutar enquanto se lê Revolta?
Acho que de tudo um pouco, não consigo pensar em uma trilha específica. Mas posso dizer que eu colocaria algumas coisas épicas para os capítulos que ainda estão por vir.
Quais ferramentas físicas e virtuais você utiliza para desenhar este projeto?
Eu desenho tudo com pena e nanquim em papel A3. Depois faço um tratamento no photoshop e coloco as letras. Gosto de manter a simplicidade que os quadrinhos permitem.
Muito legal a sua ideia de colar algumas páginas pela cidade, como está sendo o retorno desta iniciativa? Já pensou em colar eles em algum lugar bem inusitado mas ainda não teve coragem?
O retorno é muito bom. As pessoas me mandam e‑mails, comentam, mas a maior parte do retorno é silencioso. Eu gosto de pensar que as pessoas olham a página colada em algum lugar, gostam ou desgostam e voltam à sua vida normal.
Eu sempre penso em colar onde as pessoas possam ler. Pontos de ônibus, paredes de bares, faculdades. Eu faço isso apenas para as pessoas lerem, e não para provocar os donos de estabelecimentos.
Mas eu gostaria de colar dentro dos ônibus ou dentro da prefeitura.
Você já tem ideia no que quer trabalhar depois deste projeto?
Primeiro eu vou tirar férias (curtas). Mas já tem alguns projetos quase acabados que vão sair logo em seguida do Revolta!
Depois pretendo enveredar por quadrinhos jornalísticos por um tempo.
Mas tudo isso só depois de publicar o livro do Revolta!, que é a minha prioridade.
Para finalizar a entrevista: o sentimento de revolta pode ser um grande catalisador, o que te move a desenhar?
Quando eu comecei a ler, quadrinhos e livros (lá na adolescência), me surpreendi com a possibilidade de conhecer novas ideias e principalmente pensar sobre elas, seja concordando ou discordando. É isso que eu busco agora como autor, abordar ideias, de várias formas. E com isso, sacio a minha necessidade de me expressar.
E o que me mantêm escrevendo e desenhando é ver que as pessoas estão lendo.
Por isso, agradeço a todos que acompanham o blog e que contribuíram no Catarse. O livro da “Revolta!” vai existir graças a vocês.
Obrigado.
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Ratolândia (Rat Park)
Consultoria científica da tradução por Luís Fernando Tófoli. O interrogAção é o tradutor oficial das HQs do Stuart McMillen.
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O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann | Crítica
Com um visual deslumbrante e um elenco com vários nomes de peso, O Grande Gatsby (The Great Gatsby, EUA/Australia, 2013), dirigido por Baz Luhrmann, é com certeza um dos filmes mais esperados deste semestre.
O longa conta a história de Nick Carraway (Tobey Maguire), um aspirante a escritor que ao se mudar para Nova York, deixa sua paixão pelas letras de lado por conta do trabalho na bolsa de valores. Ele mora ao lado da mansão do misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), que sempre está dando grandes e luxuosas festas e, para sua surpresa, um dia é convidado para uma delas. Do outro lado da ilha vive sua prima Daisy (Carey Mulligan) e seu marido Tom Buchanan (Joel Edgerton), com o qual estudou junto na faculdade. O destino de todos aos poucos é entrelaçado por conta de um grande segredo que Gatsby esconde.
O enredo foi baseado no famoso romance homônimo do escritor americano F. Scott Fitzgerald, publicado em 1925, que já foi adaptado duas vezes para o cinema. A primeira em 1949, dirigida por Elliott Nugent, e a segunda e mais conhecida adaptação, dirigida por Jack Clayton em 1974, com Robert Redford e Mia Farrow.
Difícil não ficar maravilhado com toda a reconstrução da época e seus figurinos estupendos ao assistir O Grande Gatsby. Motivo aliás que fez Luhrmann ficar conhecido também pelos longas Moulin Rouge — Amor em Vermelho (2001) e Romeu + Julieta (1996). Nesta adaptação, o diretor também decidiu explorar extensivamente a técnica travelling para mostrar a Nova York da década de 20 e seus arredores. O resultado ficou visualmente muito interessante, mas pelo seu uso muito repetitivo logo ficou algo cansativo. Aliás, são só nestas cenas em que o 3D é realmente percebido. Há outro recurso visual que foi muito bem trabalhado: as várias animações criadas para retratar visualmente o texto da história narrada pelo Nick, como se ele estivesse escrevendo naquele momento.
A trilha sonora é outro aspecto bem interessante do filme, pois contrasta totalmente com o estilo e imagens da época, outra característica peculiar do diretor. Variando bastante de estilo mas tendo sempre algum elemento mais eletrônico no meio, a trilha traz para o presente todo aquele ambiente festivo, e também aumenta ainda mais a sensação de artificialidade e vazio que todo este glamour e materialismo trazem consigo. As músicas são compostas por nomes famosos como Beyoncé, will.i.am, Florence + The Machine, Lana del Rey e Jack White.
O maior defeito de O Grande Gatsby é não deixar espaço para que o espectador possa tirar suas próprias conclusões e exercitar minimamente sua imaginação. O principal culpado disto é a presença de uma narrador que está sempre preocupado em explicar tudo que se está vendo nos mínimos detalhes, como se ele estivesse literalmente lendo um livro e as imagens da tela fossem apenas uma representação do texto. O uso da narração é tão excessivo que a atuação de profissionais tão talentosos como o Leonardo DiCaprio (que recentemente fez Django Livre) e a Carey Mulligan (do ótimo Drive), ficam em segundo plano. O roteiro, escrito pelo próprio Luhrmann e por Craig Pearce, também não faz questão de manter qualquer tipo de mistério ou possível dúvida a respeito da interpretação de uma situação, não perdendo tempo para logo explicar tudo, seja por flashbacks ou narração.
Na adaptação de 1974, dirigida por Clayton e roteirizada por Francis Ford Coppola, muitas coisas ficam subentendidas e o mistério sobre quem é realmente esse misterioso Gabsty e quais suas intenção, só é revelado muito aos poucos. Comparando com a versão atual, é difícil não se sentir tratado como alguém que não consegue entender nada do que está acontecendo na tela, de tão exagerado que são as explicações ou então a demonstração das intensões dos personagens por movimentos físicos exagerados. Certos momentos a impressão é de que este roteiro foi feito para sanar todas as dúvidas que o outro criou, para não haver assim qualquer sensação de confusão.
O Grande Gatsby tinha grandes chances de ser um dos destaques do cinema deste ano, mas acabou sendo apenas uma experiência visualmente deslumbrante por conta da fraca adaptação do roteiro, que não se preocupou em instigar o interesse do espectador para algo além de coisas bonitas na tela. Nem o elenco de peso conseguiu tornar a história do filme razoavelmente cativamente.
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Lapsus
Com um desenho minimalista e um ótimo senso de humor, a animação Lapsus (2007), do argentino Juan Pablo Zaramella, conta a divertida história de uma freira que decide se aventurar no seu lado negro.
Utilizando somente o contraste do branco com o preto, Zaramella explora não só as ideias e conceitos por trás dessas cores, mas também brinca com as várias posibilidades gráficas das formas utilizadas no desenho quando a cor do fundo é invertida. O curta fica ainda mais engraçada pois as únicas palabras que a freira consegue falar são “Oh my God!”, que em português seria algo como “Ai meu Deus!”, independente da situação em que ela está.
A animação Lapsus foi vencedora de melhor curta do Anima Mundi São Paulo 2007 e ganhou prêmios nos festivais de Hiroshima, Annecy e Sundance. O diretor também foi premiado em vários outros festivais, com animações como a “El Desafio a la Muerte“, “Viaje a Marte”, “Sexteens” e “Luminaris”. Além disso, ele possui em seu portfolio excelentes curtas para comerciais de marcas como: Pepitos, Plan Rombo, Knorr e American Express.
Juan Pablo Zaramella é formado pelo Instituto de Arte Cinematografico de Avellaneda, na Argentina, como Diretor de Animação, trabalha atualmente como animador independente, escrevendo, dirigindo e animando curtas. Começou a desenhar quando tinha somente três anos de idade e aos oito já estudava desenho e fazia flipbooks. Este ano, também foi o responsável pela criação da identidade visual do Anima Mundi 2013, festival que participa com seus curtas desde 2002 e através do qual seu trabalho é muito divulgado aqui no Brasil.
Assista o curta completo abaixo:
O diretor também fez um divertido “Por trás das cameras”, com cenas exclusivas, imagens dos bastidores e uma entrevista polêmica.
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A Recompensa (The Reward)
Em um pequeno vilarejo de Tohan, dois jovens vivem seus dias apenas seguindo suas rotinas comuns e sem graça. Mas um dia, um glorioso herói surge repentinamente. E enquanto os dois o observam com grande admiração, ele deixa cair acidentalmente um mapa do tesouro. Após uma pequena briga sobre quem vai ficar com o mapa, decidem encontrar juntos o misterioso tesouro. Na animação A Recompensa (The Reward, 2013), dirigido por Mikkel Mainz e Kenneth Ladekjær, acompanhamos durante nove minutos, a jornada desses personagens para conseguirem ganhar a tão desejada recompensa.
O curta foi produzido durante sete meses em um workshop, por estudantes da escola de animação dinamarquesa The Animation Workshop. Boa parte do processo de criação foi documentado no blog oficial do projeto, assim como as artes de cada um dos personagens, cenários e armas utilizadas. Um verdadeiro tesouro para qualquer fã de desenho ou animação! A trilha sonora, criada por Mathias Winum, também está disponível e pode ser escutada abaixo.
Uma dica antes assistir: veja o curta até o final. Tem uma pequena cena após os créditos, que é relevante para a trama apresentada.
Assista a animação A Recompensa (The Reward) abaixo:
Making Of da animação:
Após o término do workshop e do lançamento do curta, os dois diretores se juntaram a Bo Juhl (outro ex-estudante da escola), para criar o estúdio de animação Sun Creature, cujo propósito é explorar o mundo da animação 2D e tentar ultrapassar as barreiras e limites das animações atuais. Como seu primeiro projeto, a equipe decidiu criar uma campanha no Kickstarter para fazer uma série animada baseada no mundo de A Recompensa (The Reward), se aprofundando em alguns aspectos da história original, como o conto da lenda por trás do espelho e porque o mapa e foi criado. Eles também fizeram um pequeno jogo baseado no curta, para ser jogado em duas pessoas, que está disponível gratuitamente na internet. A boa notícia é que o projeto conseguiu ser bem sucedido no dia 6 de abril, agora só resta esperar o resultado!
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Le Taxidermiste
A esposa em sua sua última homenagem ao falecido marido — um exímio taxidermista — contrata uma agência funerárial à domicílio. Esta é a história do curta Le Taxidermiste (França, 2011), dirigido por Paulin Cointot, Dorianne Fibleuil, Antoine Robert e Maud Sertour, alunos da universidade francesa de computação gráfica Supinfocom Arles.
Apesar do tema mórbido, a animação é repleta de humor negro, cheia de pequenas brincadeiras e piadas, sendo difícil não esboçar nem que seja um pequeno sorriso durante a duração do curta. Além dos personagens principais (que são no mínimo excêntricos), não podemos esquecer de outro sempre presente: a mosca.
Através dos vários trabalhos espalhados pela casa, descobrimos um pouco mais sobre a vida deste peculiar taxidermista, que em seu velório só teve a presença da esposa e dos animais empalhados. Vemos alguns dos que parecem serem seus primeiros trabalhos, ainda bem tortos e sem muito cuidado. Outros que estavam em progresso e também todas as ferramentas utilizadas em seu ofício. Além disso, é possível ver rapidamente algumas fotos suas e de sua mulher, espalhadas pelos cômodos, revelando um pouco mais da vida dos dois.
Por conta da enorme quantidade de objetos presentes em cada um dos ambientes da casa, vários detalhes podem passar desapercebidos na primeira vez, tornando uma segunda assistida ainda mais interessante e divertida.
No site oficial da animação é possível ver várias imagens do processo de criação do curta e dos personagens. Apesar do making of ainda não estar disponível, vale a pena a visita.
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Vinil Verde
Mãe dá a Filha uma caixa cheia de velhos disquinhos coloridos com músicas infantis. Filha poderia ouvir os disquinhos, mas nunca, o disco verde.
É com essa narração peculiar e sinistra que começa o curta Vinil Verde (2004), dirigido por Kleber Mendonça Filho, um suspense brasileiro bem fora do comum.
A história toda se desenvolve em volta desta proibição e como já era de se esperar, Filha não consegue resistir por muito tempo à tentação de escutar o Vinil Verde (apesar de todos os dias Mãe lembrar de que não poderia). Cada vez que toca o disquinho, algo ruim acontece. Mesmo assim, continua fazendo isso todos os dias até as consequências chegarem ao seu ápice.
O fato dos personagens serem chamados de “Mãe” e “Filha”, já cria um tom meio sinistro no curta, que fica ainda mais macabro por conta da narração com sotaque alemão carregado. A história é uma livre adaptação da fábula russa “Luvas Verdes”. Seu estilo lembra bastante o livro infantil “Juca e Chico — História de Dois Meninos em Sete Travessuras”, do autor alemão Wilhelm Busch, traduzido por Olavo Bilac, onde as travessuras são tão cruéis quanto suas consequências.
Este é o segundo trabalho de Kleber Mendonça Filho, que está chamando muita atenção na mídia nacional e internacional, por conta do seu último longa O Som ao Redor. O curta foi todo feito com fotografias (totalizando 500 fotogramas) e junto com a narração, faz com que ganhe um ar fantasioso e assustador.
Para quem ficou curioso, a música do tão perigoso Vinil Verde, foi feita por Silvério Pessoa e Tonca. Ela foi tocada por uma banda de Ribeirão Preto que fazia basicamente só cover dos Los Hermanos, sendo este um de seus experimentos mais autorais.
Se você ficou interessado em assistir outros trabalhos do diretor, alguns deles podem ser assistidos na sua conta oficial do Vimeo.
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Ar
O interrogAção é o tradutor oficial das HQs do Stuart McMillen.
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Francesca da Rimini, de Zondonai, direto de Nova York na UCI
A rede de cinemas UCI exibirá, ao vivo, no próximo dia 16, a partir das 13h, “Francesca da Rimini”. Adaptada pelo compositor italiano Riccardo Zandonai e inspirada no episódio “Inferno de Dante”, da Divina Comédia, a ópera tomou os palcos do Metropolitan Opera House pela última vez em 1986, e retorna à cena com uma bela e encantadora produção. O espetáculo poderá ser conferido no conforto das poltronas de cinema em 12 diferentes salas da rede UCI, e será transmitido diretamente do MET, em Nova York, Estados Unidos. Em Curitiba (PR), as sessões acontecem no UCI Estação e no UCI Palladium.
Composta por quatro atos, a ópera conta a história do amor proibido entre Francesca e seu cunhado Paolo, interpretado pelo tenor Marcello Giordani. A soprano Eva Maria-Westbroek empresta sua voz à personagem principal da trama, Francesca, casada contra sua vontade com o jovem desfigurado Giovanni Malatesta, conhecido como Gianciotto. Quem conduz o espetáculo é o maestro Marco Armiliato.
“Francesca da Ramini” é uma adaptação de Zandonai, baseada no episódio ‘Inferno’, da obra ‘Divina Comédia’, de Dante Alighieri, escritor italiano. Sua estreia aconteceu há 99 anos, em 1914, no Royal Theatre, em Turim, Itália. Zandonai compôs esta e diversas óperas durante sua vida, eternizando suas criações.
Esta é a penúltima exibição da temporada 2013 de óperas do Metropolitan. “Giulio Cesare” encerrará a programação, no dia 27 de abril, trazendo o alto tenor mais aclamado do mundo, David Daniels. Os ingressos custam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada) e poderão ser adquiridos nas bilheterias dos cinemas e nos terminais de autoatendimento. Os bilhetes também podem ser comprados no site da UCI.
SERVIÇO:
UCI Estação – Sala 05
Rua Sete de Setembro, 2775/ loja C‑01
Rebouças – Curitiba – Paraná
CEP: 80230–010UCI Palladium – Sala 04
Av. Presidente Kennedy, 4121/ Loja 4001
Portão – Curitiba – Paraná
CEP: 80610–905 -
Oz, Mágico e Poderoso | Crítica
Um trailer de encher os olhos e um grande investimento em marketing. Foi assim que a Disney criou uma enorme expectativa com Oz, Mágico e Poderoso (Oz the Great and Powerful, EUA, 2013), seu mais novo lançamento dirigido por Sam Raimi. Explorando a história de como surgiu o famoso personagem do icônico filme O Mágico de Oz (1939), o longa busca agradar toda a legião de fãs já existentes e também uma nova geração que provavelmente nunca ouviu falar da estrada amarela e dos sapatinhos de rubi.
A história começa em 1905 em Kansas com Oscar Diggs, um mulherengo mágico circense apelidado de Oz. Ao tentar fugir em um balão por conta de um de seus “truques” sedutores, é sugado para o meio de um tornado, chegando à fantástica Terra de Oz, onde há uma profecia relatando que o grande mágico de Oz viria dos céus para derrotar a Bruxa Má, trazendo paz para todos. Oscar acredita que esta pode ser finalmente a sua grande oportunidade de obter o sucesso que tanto almeja, porém não tem a mínima ideia das proporções do que implica ser este herói.
Para quem já assistiu O Mágico de Oz, dirigido por Victor Fleming, é impossível olhar para este novo longa sem procurar alguma referência — que são inúmeras. Temos o famoso início todo em preto e branco e a também divertida repetição de alguns atores fazendo personagens similares nos dois mundos. Devido aos direitos autorais da história e do filme de 1939 serem detidos pela Warner Bros, muitos dos elementos mais icônicos (como o sapatinho de rubi) não puderam ser utilizados — problema que irá cessar no ano de 2034, quando a obra entrará em domínio público. Algumas vezes foi possível contornar este problema: para o visual da Bruxa Má foi usado um tom de verde diferente do original e a estrada amarela foi mantida, mas sem o seu início em espiral.
Um dos grandes atrativos do longa é com certeza o seu visual fantástico, que fica ainda mais surpreendente se for assistido no IMAX. Alguns movimentos de câmera panorâmica são bem inusitados, só sendo possíveis graças a utilização de uma câmera virtual em um ambiente gerado pelo computador. O 3D do filme foi muito bem utilizado, lembrando bastante o ótimo trabalho feito no A Invenção de Hugo Cabret (2011), valendo a pena ser assistido com o uso desta tecnologia.
Os pontos negativos do longa ficaram principalmente na falta de realismo em alguns momentos. Mesmo com os cuidados para os atores interagirem ao máximo com elementos reais (foi feito por exemplo uma marionete da boneca de porcelana), ficou bem evidente em certas cenas o uso do chroma key, assim como a inserção digital de personagens. Para piorar, essas situações ficaram ainda mais acentuadas por uma atuação beirando o teatral, supondo dar mais credibilidade aos efeitos especiais. Mas são poucos os momentos que isso acontece e na verdade, acabou até de certa forma sendo divertido, lembrando as produções em que o orçamento é curto demais e foi preciso improvisar, apesar de não ter sido este o caso neste filme. Para quem gosta, tem um vídeo bem interessante no canal Making Of do YouTube, sobre os backstages da filmagem.
O desenvolvimento da história de Oz, Mágico e Poderoso, remeteu ao ótimo, e também bem arriscado, trabalho feito em TRON: O Legado (2010), sequência do filme de 1982, ambos da Disney, assim como a história de Branca de Neve e o Caçador (2012), onde o famoso conto de fadas é explorado de forma a agradar um público mais adolescente. Na verdade, ele está se saindo tão bem que a Disney já anunciou que fará uma nova sequência (provavelmente com outro diretor).
Se você não ficou muito empolgado com o remake da Disney de Alice no País das Maravilhas (2010), Oz, Mágico e Poderoso provavelmente irá te surpreender. Além de explorar muito bem toda a história de como surgiu o famoso Mágico de Oz, ele também contou com uma ótima equipe de atores como James Franco, Mila Kunis e Rachel Weisz. Para quem gosta de trilhas sonoras, este é outro destaque do longa, produzido pelo ótimo Danny Elfman, que ficou mais conhecido pela sua parceria com o diretor Tim Burton em filmes como O Estranho Mundo de Jack e A Noiva Cadáver.
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=hBlhviucIxc