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  • Desejo (2005), de Anne Pinheiro Guimarães | Curta

    Desejo (2005), de Anne Pinheiro Guimarães | Curta

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    Um cor­ta­dor de gra­ma atrav­es­sa em rit­mo monocór­dio os imen­sos espaços de um gra­ma­do que bril­ha como móv­el novo. Ao fun­do, uma canção que nos faz lem­brar dias boni­tos e fras­es do tipo “a esper­ança nun­ca morre”. Ima­gens idíli­cas começam a se mis­tu­rar até serem sumari­a­mente que­bradas pelo barul­ho do ven­ti­lador imer­so em fumaça. Deita­do em uma cama estre­i­ta, um homem fuma e tran­spi­ra, tran­spi­ra e fuma. Ao deixar seu san­tuário pes­soal, ele vai de encon­tro à vida nor­mal de cada dia. Uma vida de tra­bal­ho, de tédio, de cansaço, de madames lamen­tosas e son­hos que se per­dem na fumaça do cig­a­r­ro. No entan­to, algu­mas ideias podem ser o começo de ver­dadeiras epi­fa­nias. É assim que o cur­ta-metragem “Dese­jo” (2005) lança baforadas no ros­to do espec­ta­dor ao apre­sen­tar a história de um homem comum e suas cobiças con­struí­das a par­tir do olhar fixo para o teto.

    No cur­ta, o porteiro Ataná­sio José (Wag­n­er Moura) faz uma descober­ta sur­preen­dente em uma tarde tór­ri­da e estim­u­lante de glân­du­las sudorí­paras. Deita­do em sua cama, ele se deu con­ta da rev­e­lação que mudaria os rumos de sua vida, transformando‑o em um indi­ví­duo real­iza­do. Ataná­sio tin­ha ago­ra uma obsessão: aden­trar o Jock­ey Club Brasileiro (local­iza­do na Gávea, bair­ro do Rio de Janeiro), con­sid­er­a­do por ele o “san­tuário dos end­in­heira­dos”. Depois de con­seguir a façan­ha, Ataná­sio saberia o que faz­er – mas isso pou­ca impor­ta­va. Para chegar ao pon­to final da jor­na­da, ele pre­cis­aria da aju­da do cun­hado, Edmil­son André (Lázaro Ramos), respon­sáv­el pelos cuida­dos com o gra­ma­do do Jock­ey e con­sid­er­a­do por Ataná­sio como um homem “dire­ito, qui­eto, hon­esto e tra­bal­hador – tudo isso até demais”. Pre­so nes­sa relação de causa e efeito, o porteiro faz a trav­es­sia dos seus dias sem esque­cer por um momen­to da obsessão com o cun­hado, o cor­ta­dor de gra­ma e o Jock­ey Club.

    Com roteiro e direção de Anne Pin­heiro Guimarães, “Dese­jo” remon­ta aos tex­tos do cita­do Charles Bukows­ki e traz à beira da pra­ia nomes como Hen­ry Miller e Nel­son Rodrigues, conectan­do a vida do sujeito ordinário aos devaneios que o fazem resi­s­tir, sobre­viv­er e elab­o­rar de um modo menos lim­i­ta­do a sua existên­cia. A nar­ra­ti­va em off é uti­liza­da durante todo o cur­ta e abre espaço para a mis­tu­ra entre a lin­guagem fílmi­ca e literária, sopran­do no ar fig­uras irôni­cas, sar­cás­ti­cas, áci­das e humanas.

    Da clás­si­ca músi­ca “What a Won­der­ful World” — per­pet­u­a­da na voz de Louis Arm­strong – até o afama­do “Melô do Piri Piri”, da pop­u­lar can­to­ra e casadoura Gretchen, “Dese­jo” vai além das epi­fa­nias do porteiro Ataná­sio e mostra que o mun­do pode ter lá suas mar­avil­has – se a desco­brir­mos do nos­so jeito.

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  • Décimo Segundo (2007), de Leonardo Lacca | Curta

    Décimo Segundo (2007), de Leonardo Lacca | Curta

    curta-decimo-segundo-2007-leonardo-lacca-cartazO silên­cio que pesa, arras­ta e guar­da, trans­for­man­do a ausên­cia de palavras em uma cur­va mís­ti­ca, enevoa­da. Essa descrição é uma das pos­si­bil­i­dades de “Déci­mo Segun­do” (2007), tra­bal­ho do dire­tor per­nam­bu­cano Leonar­do Lac­ca. Pre­mi­a­do em ter­ritório nacional e inter­na­cional, o cur­ta-metragem traz um recur­so ain­da pouco uti­liza­do na lin­guagem cin­e­matográ­fi­ca brasileira: o silêncio.

    As cenas avançam em direção a dois pro­tag­o­nistas, um homem e uma mul­her, que pare­cem estar em um pal­co cer­ca­do por corti­nas que abrem e fecham simul­tane­a­mente. Acom­pan­hamos a chega­da do homem e de suas malas a um deter­mi­na­do aparta­men­to, e logo somos sur­preen­di­dos por uma refer­ên­cia clara ao filme “Estra­da Per­di­da” (Lost High­way), do cineas­ta David Lynch. A clás­si­ca voz sotur­na que sol­ta no inter­fone “Dick Lau­rent is dead” (Dick Lau­rent está mor­to), pre­sente no filme de Lynch, tam­bém está no cur­ta, acom­pan­han­do até mes­mo o número exa­to de toques na cam­painha. Essa alusão é perce­bi­da como um jogo pes­soal entre o casal, já que a mul­her tam­bém faz uma brin­cadeira com seu vis­i­tante, ao escon­der as malas que ele deixa no elevador.

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    O reen­con­tro do casal, com o abraço do homem em sua anfitriã feito de for­ma inten­sa e ao mes­mo tem­po con­strangi­da, é um dos frag­men­tos do não-dito, da ponte que vai nos pos­si­bil­i­tan­do entrar na mente dos per­son­agens. Os close-ups, o plano-sequên­cia, a câmera na mão — tremen­do cal­a­da como a própria história – e o efeito intimista de todo o enre­do per­mitem cri­ar canais de prox­im­i­dade entre per­son­agem e espec­ta­dor. Por meio das fras­es engas­gadas, surgem inda­gações curiosas sobre o casal que se encara de olhos baixos. Como teste­munhas onipresentes, pas­samos a nos per­gun­tar: “quem são essas pes­soas?”, “elas foram amantes?”, “como e quan­do tudo ter­mi­nou?”, além de notar que a importân­cia do que acon­tece ali reside, na ver­dade, no ambi­ente fora-de-cena.

    Alphonse Osbert, o pintor do silêncio (La Riviére, 1890)
    Alphonse Osbert, o pin­tor do silên­cio (La Riv­iére, 1890)

    Déci­mo Segun­do cria con­strang­i­men­tos, dis­tân­cias e expressões abafadas. Vivi­da pela atriz e dire­to­ra teatral Rita Carel­li, a anfitriã do cur­ta parece con­seguir super­ar mel­hor a invasão do pas­sa­do, per­son­ifi­ca­da pela pre­sença do homem que está ali na sua frente, com o olhar per­di­do. Na pele do vis­i­tante tími­do, o ator per­nam­bu­cano Irand­hir San­tos gan­ha força e bril­ho ao con­seguir repro­duzir todo o embaraço do reen­con­tro. Pre­mi­a­do por sua atu­ação no lon­ga “Tat­u­agem” (2013), Irand­hir reforçou o elen­co de várias pro­duções nacionais, como as con­heci­das “Tropa de Elite 2” (2010) e “O som ao redor” (2012). O ator inte­grou o elen­co da Rede Globo nas minis­séries “A Pedra do Reino” (2007) e “Amores Rou­ba­dos” (2014), e atual­mente dá vida ao per­son­agem Zelão, o cap­ataz anal­fa­beto que se apaixon­a­da pela bela e meiga pro­fes­so­ra na nov­ela “Meu Pedac­in­ho de Chão”.

    Assim como as enig­máti­cas pin­turas do francês Alphonse Osbert (1857–1939), dis­solvi­das no iso­la­men­to de luzes e névoas mis­te­riosas, Déci­mo Segun­do vai descorti­nan­do a anato­mia do silên­cio, suas pos­si­bil­i­dades e dimen­sões, e deixa a car­go do expec­ta­dor a trav­es­sia – ou não – para o inte­ri­or dos per­son­agens, suas rev­oluções, emoções e sensações.

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  • O Duplo (2012), de Juliana Rojas | Curta

    O Duplo (2012), de Juliana Rojas | Curta

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    A cineas­ta paulista Juliana Rojas tem con­quis­ta­do destaque no cenário cin­e­matográ­fi­co brasileiro com o cur­ta-metragem “O Dup­lo” (2012), tra­bal­ho pre­mi­a­do em Cannes e em diver­sos fes­ti­vais nacionais e estrangeiros. Na tra­ma, a pro­fes­so­ra Sil­via (Sab­ri­na Greve) é con­fronta­da com a imagem de seu dup­lo, uma espé­cie de clone soturno e neg­a­ti­vo, e entra em colap­so. A história toma por base o mito europeu con­heci­do como Dop­pel­gänger, que é con­sid­er­a­do um sinal nada aus­pi­cioso. Segun­do a len­da, quem vê seu dup­lo enfrenta o risco de maus pressá­gios e morte iminente.

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    A história do cur­ta foi basea­da em um depoi­men­to real sobre a aparição do Dop­pel­gänger, fato reg­istra­do no começo do filme e que dá o pon­tapé ini­cial para abrir as com­por­tas do uni­ver­so fan­tás­ti­co e das fábu­las de hor­ror, assi­natu­ra de Juliana. Assim como em “Lençol Bran­co” (2004) e “Um Ramo” (2007), tra­bal­hos pro­duzi­dos em parce­ria com o dire­tor Mar­co Dutra, a cineas­ta con­cil­ia com pre­cisão a triv­i­al­i­dade da vida de mul­heres que, abrup­ta­mente deses­ta­bi­lizadas, pre­cisam lidar de for­ma pavorosa com ele­men­tos sur­reais lig­a­dos ao macabro e à trans­for­mação físi­ca ou mental.

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    As ima­gens envel­he­ci­das e com tonal­i­dade mar­rom de “O Dup­lo” for­t­ale­cem a aura silen­ciosa e sin­is­tra que cer­ca a esco­la, espaço prin­ci­pal dos acon­tec­i­men­tos. Ao encar­ar o seu clone malig­no, os olhos da pro­fes­so­ra Sil­via gan­ham um bril­ho novo, algo que se move com a fero­ci­dade e carnific­i­na de um tubarão-bran­co. Há ele­men­tos de hor­ror e ten­são espal­ha­dos do começo ao fim dos vinte e cin­co min­u­tos do cur­ta, com destaque para a apoc­alíp­ti­ca cena em que a per­son­agem da atriz Gil­da Nomac­ce, pre­sença mar­cante nas pro­duções de Rojas, esti­ca e puxa o elás­ti­co de uma pas­ta de for­ma frenéti­ca e per­tur­bado­ra. Nestes poucos segun­dos que pare­cem durar uma eternidade, há a certeza abso­lu­ta do des­fe­cho trági­co. Sim­ples­mente fenomenal!

    O Dup­lo” faz emer­gir a qual­i­dade de um tra­bal­ho que explo­ra o ter­ror e o fan­tás­ti­co de for­ma con­sis­tente, dan­do força a um gênero ain­da pouco difun­di­do entre as pro­duções nacionais.

    Assista abaixo ao curta:

  • Por Dentro do Máscara de Ferro, de Bernardo Aurélio | HQ

    Por Dentro do Máscara de Ferro, de Bernardo Aurélio | HQ

    Será que temos de ser loucos para ser­mos heróis? Será que todos não usamos máscaras?

    Não, aqui você não encon­tra ninguém vesti­do com roupas super-col­ori­das, poderes daque­les que soltam fogo pela boca, raios pelos olhos, muito menos lutas core­ografadas. O tra­bal­ho do quadrin­ista e artic­u­lador cul­tur­al — isso, artic­u­lador: pro­du­tor de ambi­entes cul­tur­ais na área das HQs em Teresina, o que fal­ta a muitos cri­adores hoje em dia — Bernar­do Aurélio pas­sa longe das explosões gra­tu­itas dos nos­sos ama­dos heróis impe­ri­al­is­tas, mas com uma influên­cia fun­da­men­tal no seu proces­so criativo.

    por-dentro-do-mascara-de-ferro-de-bernardo-aurelio-hq-capaAntes de falar de “Por Den­tro do Más­cara de Fer­ro”, vale a pena situ­ar a importân­cia do autor na cena das HQs na cidade. Autor de “Foic­es e Facões – A Batal­ha do Jeni­pa­po” (jun­to com Caio Oliveira, seu irmão e artista dos bons, que par­tic­i­pa do livro como desen­hista con­vi­da­do), Bernar­do faz parte do Núcleo de Quadrin­hos do Piauí, onde orga­ni­za (ao lado de uma equipe muito coer­ente) feiras temáti­cas em Teresina des­de 2001 até então, movi­men­tan­do o cir­cuito dos quadrin­hos inde­pen­dentes por aqui com mui­ta responsabilidade.

    O culpo diari­a­mente por me tornar um apaixon­a­do pelos quadrin­hos há quase um ano. Depois da indi­cação de “Bat­man: Ano Um” não con­si­go parar de ler HQs. Enfim, vamos voltar ao que interessa!

    Por Den­tro do Más­cara de Fer­ro” é um livro que te atrai fisi­ca­mente. Grande, ver­mel­ho, com uma capa impos­sív­el de resi­s­tir à leitu­ra, gos­toso de segu­rar e car­regar por aí. Um difer­en­cial que gostei foi o cruza­men­to com out­ras lin­gua­gens, mar­ca­dos pela inserção do tex­to em prosa no iní­cio da história, seguin­do com seus traços em p&b, bem como a pre­ocu­pação com a pais­agem sono­ra nos momen­tos mais impor­tantes da saga. Músi­ca e HQ tran­si­tam no mes­mo espaço.

    Já no índice, Bernar­do lança para o leitor uma tril­ha indi­ca­da, pre­scrição sono­ra que des­obe­de­ci — quan­do come­cei a ler, veio out­ro barul­ho na min­ha cabeça, já que na min­ha con­strução sono­ra do per­son­agem cou­ber­am out­ros sons, como Ten Years After e alguns momen­tos de Neil Young — para exper­i­men­tar out­ras pos­si­bil­i­dades de leitu­ra e exer­cí­cios par­tic­u­lares de imaginação.

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    A cada situ­ação valiosa na tra­ma, Bernar­do faz as indi­cações sono­ras apare­cerem ao leitor, como podemos visu­alizar em Aceleran­do em mar­cha ré, com a tril­ha “Foi tudo cul­pa do amor”, de Odair José ou “As rosas não falam”, de Car­to­la, e out­ras sequên­cias musi­cais artic­u­ladas ao enre­do. Assim, Bernar­do abre espaço para ampli­ar as sen­sações do públi­co, tor­nan­do seu tra­bal­ho mais sonoro-visu­al-pop-exper­i­men­tal. Um jogo de mix­agem que deve ser feito tan­to com as músi­cas sug­eri­das e as que com­põem o uni­ver­so do leitor, sacud­in­do as exper­iên­cias do personagem.

    Numa ofic­i­na de car­ros, o jovem mecâni­co ten­ta recu­per­ar o motor de um Mav­er­ick (entra o som de Alvin Lee e Ten Years After… viu? Não pude evi­tar). Neste cenário é que a história do Más­cara ini­cia em tex­to-prosa. Sua mente está divi­di­da entre o fim de um rela­ciona­men­to e o tra­bal­ho que o con­some, a roti­na, a repetição, a von­tade de mudar o per­cur­so: “ten­ho pen­sa­do em ten­tar coisa nova (…). O prob­le­ma é esse: não sei o que quero. Só sei que pre­ciso sair dessa ofic­i­na vez ou out­ra (…)”.

    Uma inqui­etação move aque­le mecâni­co, algo esta­va fora do lugar. A oper­ação de reviv­er o Mav­er­ick foi um fra­cas­so. Fecham-se as por­tas da ofic­i­na. A pais­agem fica cada vez mais notur­na e úmi­da. Um leve chu­vis­co, daque­les leves e demor­a­dos, com relâm­pa­gos e tro­vões ao fun­do. Nos­so olho está do lado de fora da garagem aparente­mente vazia e triste, esperan­do algo acon­te­cer, pois dá pra ver lá den­tro que a luz está acesa.

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    A garagem abre. Dois faróis acen­dem (…). A Kom­bi gan­ha a rua. Den­tro dele, pela primeira vez, a alma de um aven­tureiro encon­tra aque­le botão de adren­a­li­na escon­di­do, que inje­ta bati­das fortes no peito”. Eis que explode o Más­cara de Fer­ro.

    Car­ac­ter­i­za­do por uma más­cara típi­ca dos sol­dadores, car­regan­do no seu “cin­to de util­i­dades” um maçari­co, umas chaves de boca e roda, marte­lo, pre­gos, por­cas, um cano e o “anti­go 38 do meu vel­ho pai”, o Más­cara de Fer­ro sai em bus­ca de aven­turas nas noites de Teresina.

    Entre ações frustradas como “super-herói” da noite e explo­rações das suas habil­i­dades, o Más­cara abre para nós uma reflexão que move sua cam­in­ha­da: “Será que temos de ser loucos para ser­mos heróis? Será que todos não usamos más­caras?

    por-dentro-do-mascara-de-ferro-de-bernardo-aurelio-hq-3E assim, vamos acom­pan­han­do o proces­so de autode­scober­ta do Más­cara. Após a cômi­ca “car­ga dramáti­ca” que movi­men­ta a per­for­mance do nos­so herói, ele salta pelo ar e viven­cia um con­jun­to de exper­iên­cias fun­da­men­tais para reor­ga­ni­zar seus sen­ti­men­tos, mes­mo em con­fli­to com seu mel­hor ami­go: “Algu­ma vez, da altura dess­es teus vinte e poucos anos, tu já sen­tiu uma maldita certeza de que que­ria faz­er algu­ma coisa na vida e que só o que te impe­dia era tu mes­mo?

    Cam­in­han­do por Teresina (já escu­ra), ele vai em direção aos seus fan­tas­mas, pois a sua más­cara é o instru­men­to que poten­cial­iza todas as suas von­tades mais sec­re­tas, ago­ra com­par­til­hadas entre nós. É aí que fui imag­i­nan­do os traços auto­bi­ográ­fi­cos em con­vergên­cia entre Más­cara e seu autor, que o toma como ele­men­to para explo­rar pais­agens talvez inabitadas, se não hou­vesse a armadu­ra con­struí­da para tal.

    A bus­ca por justiça, ameaça­da por um dese­jo mal com­preen­di­do? A angús­tia e a von­tade de invadir os olhos da anti­ga ama­da? Uma curiosi­dade insis­tente pela feli­ci­dade dela? Por que tomar os olhos dos out­ros? “Você ain­da não con­seguiu colo­car uma pedra por cima dis­so”? Estaria o Más­cara, (como todos nós) bus­can­do uma armadu­ra para resolver seus con­fli­tos mais ínti­mos? Quan­tas Kás­sias pre­cisamos (diari­a­mente) para exor­cizar nos­sos demônios, a fim de rein­ven­tar a noção de dese­jo e todo aque­le pó que cobre nos­sas taras? Aqui entra Mari­na Lima (na min­ha tril­ha sono­ra), situan­do o amor dos dois: “Os dois cansa­dos, de tan­to amar, empapuça­dos, pra poder fugir, os dois cansa­dos, de via­jar, mar­avil­ha­dos, pra poder fugir, enquan­to você se afas­ta me desen­ter­ro…”.

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    Nada como a água para purificar os con­fli­tos inter­nos, mes­mo com Deus cus­pin­do ver­dades que a gente não quer ouvir. Às vezes a gente toma o apren­diza­do como algo doloroso e é dessa for­ma que vejo o Más­cara, um per­son­agem que car­rega a von­tade de des­bravar todos os seus lim­ites e de con­hecer esferas que fogem das con­venções esta­b­ele­ci­das. Como invadir sem pro­teção? Como não sen­tir dor se algu­mas explo­rações podem nos cus­tar um preço alto?

    Todos os des­bravadores da vida, seja por meio líc­i­to ou não, guardam nas mochi­las suas más­caras de fer­ro, pois o cor­po não supor­ta todas as pressões: “somos tão falíveis”!

    Sen­ta­do na calça­da, con­ver­san­do com uma garo­ta per­to da Ponte Metáli­ca, talvez o Más­cara ten­ha encon­tra­do algum estil­haço que pos­sa ser útil para aliviar seus con­fli­tos. “Sabe o que acon­tece quan­do se pede algo a Deus? Ele te dá a opor­tu­nidade de provar para si mes­mo se você merece o que quer… depende mais de você e das suas escol­has do que da von­tade dele”.

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    Os demônios que o cer­cam são expul­sos para que um Amor pos­sa entrar. O Más­cara enfrenta todos os seus inimi­gos inte­ri­ores, amplia todos os seus hor­i­zontes de exper­iên­cia, para final­mente com­ple­tar seu obje­ti­vo mais impor­tante: se reen­con­trar a par­tir do outro.

    Bernar­do é o Más­cara de Fer­ro? E você? Aonde você esconde a sua? Já explodiu em si mes­mo para arran­car as armaduras que o impe­dem de viv­er um grande amor? Não seria a nos­sa más­cara um artefa­to moral­ista-con­ser­vador diante da mar­avil­hosa pos­si­bil­i­dade de tran­si­tar pelo Infer­no e por vários cor­pos ofer­e­ci­dos por Dino Buz­za­ti? A difer­ença entre Más­cara e Orfi é que aque­le não usa vio­lão para lutar con­tra seus maus espíri­tos, mas con­vergem no mes­mo “inven­tário de ‘baix­ezas’ e de ‘nobrezas’, aque­las que se abrigam no coração de todos” (TOSCANI, Cláudio).

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    Orfi sofre o luto de não cap­turar Eura e o Más­cara vive feliz, jogan­do fora sua armadu­ra para poder (final­mente) olhar sem medo para a mul­her que ama, encer­ran­do uma saga inte­ri­or, pois “pou­cas coisas no mun­do devem ser como estar no fun­do da rede com quem você quer”. A vida segue.

  • DOC de Amor (2010), de Jucélio Matos

    DOC de Amor (2010), de Jucélio Matos

    Esse amor sem razão.
    Sem val­or amanhã.
    Mes­mo assim arderá eternamente.

    Mari­na Lima

    O cin­e­ma brasileiro inde­pen­dente col­he seus fru­tos. Vive­mos uma fase mar­ca­da pelas novas pos­si­bil­i­dades de pro­dução audio­vi­su­al em vir­tude da democ­ra­ti­za­ção das mídias e suporte de expressão. Hoje é pos­sív­el colo­car em práti­ca ideias, até então amar­radas pela lim­i­tação dos recur­sos téc­ni­cos, que esta­va disponív­el nas mãos de poucos. Ago­ra podemos cri­ar e faz­er cin­e­ma no Brasil em per­spec­ti­va plur­al, exper­i­men­tan­do a lin­guagem den­tro de nos­sas via­bil­i­dades e dese­jos de cri­ação, com nos­sos celu­lares, máquinas fotográ­fi­cas e demais dis­pos­i­tivos móveis.

    Novos doc­u­men­taris­tas surgem nes­sa safra cria­ti­va, pro­duzin­do sen­ti­do à História – seja na políti­ca, nos debates soci­ais, religião, etc — no caso de Jucélio Matos, às histórias das sen­si­bil­i­dades con­tem­porâneas. Ao ini­ciar seus estu­dos sobre cin­e­ma em 2004, Jucélio se rev­el­ou para a cena audio­vi­su­al per­nam­bu­cana em pouco tem­po, com o filme Doc de Amor (2010).

    Real­iza­do para um tra­bal­ho de con­clusão de cur­so da Fac­ul­dade Mau­rí­cio de Nas­sau, o filme já des­bravou qua­tro fes­ti­vais (Fes­ti­val Brasileiro de Cin­e­ma Uni­ver­sitário (RJ), Cur­ta Cabo Frio (RJ), Fes­ti­val do Filme etno­grá­fi­co do Recife (PE) e Arra­ial Cine Fest (BA)) e vem gan­han­do espaço por onde pas­sa, ao explo­rar um tema descon­cer­tante e mis­te­rioso para muitos de nós: o Amor.

    O filme apre­sen­ta um mosaico de histórias: expon­do a vida de várias pes­soas comuns viven­do seu dia-dia, sejam nos pos­tos de gasoli­na, nos bares, nas coz­in­has, nas casas, nas aven­turas ou nos lanch­es habit­u­ais de fim de tarde. Em cada coração que tran­si­ta no filme, podemos encon­trar difer­entes reina­dos, que deci­dem as for­mas de viven­ciar suas noções de Amor.

    O filme prob­lema­ti­za o ato de amar, vis­to nos depoi­men­tos como rup­tura das con­venções, que antes pren­di­am nos­sos cor­pos numa estru­tu­ra rígi­da, sus­ten­ta­do pelo sen­so mas­culin­izante da sociedade, lim­i­tan­do as pos­si­bil­i­dades de exper­i­men­tação dos sentidos.

    Jucélio sabe cap­tar os aro­mas das per­spec­ti­vas, das vozes que pren­dem o espec­ta­dor nas nar­ra­ti­vas mais ínti­mas, na bus­ca de pro­duzir vários sabores que se aprox­i­mam do pal­adar de Rodol­fo, o coz­in­heiro real, espe­cial­ista em trans­for­mar o Amor num con­jun­to de porções regadas à sal­a­da verde (lev­eza), com um toque de arroz mar­ro­quino (con­sistên­cia), mescla­do com pro­teí­na — entre o salmão e o camarão (ener­gia e tran­qüil­i­dade), fechan­do com um café e choco­late, para não perder o ânimo.

    Nem sem­pre o Amor é vis­to como trân­si­to de liber­dade. Ele tam­bém é con­t­role e dis­ci­plina, como aque­le pote de jujubas que você não pode devorá-lo de ime­di­a­to, mas só pode com­er um, sob o monopólio de uma tuto­ra, que impede o dese­jo de se lam­buzar no açú­car. É o que podemos ver no reina­do de Paula, que percebe o Amor numa lóg­i­ca de jogo e con­t­role – muitas vezes de for­ma tirâni­ca – para ger­ar “fun­cional­i­dade” e medi­da na relação. Para ela, “amar é cas­ti­go. Nada sobre con­t­role, tudo em peri­go. Adoráv­el pen­itên­cia, chicote ami­go. Se chegar a falên­cia, mor­ro con­ti­go”.

    Entre comi­da e con­t­role, temos expec­ta­ti­va e morte, entre risos e timidez, temos a rep­re­sen­tação cêni­ca que faz do Amor um grande espetácu­lo, demar­can­do as fron­teiras entre o real e o dese­jo. Até que pon­to nos é per­mi­ti­do que­brar mais de um pote e saciar nos­sa fome?

    Cada vida aber­ta nos ensi­na que o Amor não é vis­to ape­nas por um ângu­lo, mas vivi­dos em múlti­p­los olhares não-con­tem­pla­tivos, que fazem do sen­ti­men­to um cam­po de exper­iên­cias e tro­ca de sen­si­bil­i­dades, mes­mo que o out­ro não fale sua lín­gua, ou que não con­si­ga viv­er no mes­mo teto. Os amores enquan­to proces­so, fluxo e instru­men­to de redefinição con­stante de cada indivíduo.

    O filme não expõe o Amor enquan­to efe­ti­vação, resul­ta­do final, pre­vis­i­bil­i­dade, o que Jucélio procu­ra é tran­si­tar pelas exper­iên­cias que se colo­cam diante de nós, para com­par­til­har um con­jun­to de visões em proces­so de con­strução, muitas vezes não-ditas no uni­ver­so sen­so-comum, que é vigia­da pela estu­pid­ez da vir­il­i­dade machista, restri­ta ao moral­is­mo tri­un­fante do homem sifil­izador e da mul­her recata­da, enri­je­ci­da pela tradição do cor­po que se fecha para os pos­síveis e impossíveis.

    Para­le­lo às nar­ra­ti­vas, Jucélio explo­ra no filme o uso de leg­en­das para con­tar out­ra história, exigin­do do espec­ta­dor atenção redo­bra­da no cruza­men­to entre o tex­to e as ima­gens. Era uma vez, um príncipe que “só gosta­va de príncipes”, com receio de perder todas as suas riquezas, o príncipe “decide escr­ev­er um dis­cur­so a todo seu reina­do”, um pro­nun­ci­a­men­to que fala do Amor.

    Para rece­ber inspi­ração, o príncipe vai à bus­ca de con­viv­er com pes­soas que com­par­til­havam das mes­mas emoções. As leg­en­das que nar­ram esta história não apare­cem numa ordem defini­da, mas durante todo o filme, dis­per­sas entre as vozes que rev­e­lam seus amores ao espec­ta­dor. As leg­en­das tam­bém são uti­lizadas em algu­mas cenas para acom­pan­har simul­tane­a­mente os depoimentos.

    Quan­do entre­vista Rodol­fo, Jucélio exper­i­men­ta tro­car a voz do depoente pelas leg­en­das, onde a entre­vista é tex­tu­al­iza­da, a par­tir de um corte na cena, para invert­er a relação que o espec­ta­dor man­tinha até então com o filme. Nesse momen­to, quem assiste é tam­bém leitor, ao acom­pan­har a con­ver­sa entre os dois, a par­tir do tex­to disponív­el, silen­cian­do as vozes, ao destacar ima­gens de Rodol­fo no tra­bal­ho, coz­in­han­do, despre­ocu­pa­do com a pre­sença da câmera, que fixa o olhar em seus movi­men­tos quase automáti­cos na cozinha.

    Jucélio Matos, dire­tor do documentário

    Já no final do filme, Jucélio retoma as leg­en­das para con­cluir que o príncipe, ao escr­ev­er seu dis­cur­so, “apron­tou-se ele­gan­te­mente… e desis­tiu. Não havia sen­ti­do em falatório algum. Porque ape­sar de amor rimar tan­to com dor, ele resolveu acred­i­tar no tem­po pre­sente. Inde­pen­dente em qual lado do espel­ho estivesse. E a real­i­dade e ficção viraram assim, um só amor”.

    Seria o príncipe do Doc de Amor uma exten­são de Jucélio? Ou nos­sas exten­sões mais ínti­mas, postas em questão? Para aden­trar neste uni­ver­so que se des­faz com uma névoa bran­ca, que se perde entre as fol­has e o céu, é pre­ciso se per­mi­tir, ati­var todos os poros que ain­da nos restam para con­sumir e ser con­sum­i­do pelos amores que com­par­til­hamos num espaço aber­to-fecha­do-aber­to, num exer­cí­cio con­stante de rein­venção dos con­ceitos que cer­cam o Amor, a fim de torná-lo livre, para degus­tações afe­ti­vas, em quem sabe, efetivas…

    O sol rea­parece, os cor­pos são obri­ga­dos a se sep­a­rar… é hora de ir emb­o­ra para casa… mas, como diz Jorge Maut­ner*, “min­has lágri­mas se acabaram, mas não a von­tade de chorar… só o amor pode matar o medo”.

    Esse é o Doc de Amor, meu Doc de Amor, que Jucélio Matos fez para o mun­do. Por uma história das sensibilidades.

    * Jorge Maut­ner em Ressureições do álbum Revirão (Warn­er Music), de 2007

  • Café Literário: Fabrício Carpinejar e Alberto Martins

    Café Literário: Fabrício Carpinejar e Alberto Martins

    Poe­sia é núcleo, é matriz. Quan­do eu faço poe­sia, fico cha­pa­do.Carpine­jar

    Escr­ev­er é poe­sia, é dar cor­da para a inqui­etação.Mar­tins

    Um bate-papo sobre poe­sia talvez não seja um even­to que chame muito a atenção das pes­soas, prin­ci­pal­mente porque a dis­cussão em torno dela seja ain­da muito acadêmi­ca e reple­ta de refer­ên­cias canônes da lit­er­atu­ra, geran­do uma con­ver­sa monó­tona, com lin­guagem muito especí­fi­ca, e assun­tos muito dis­tantes do cotid­i­ano. Não foi o caso do Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010, com Fab­rí­cio Carpine­jar e Alber­to Mar­tins, medi­a­do por Luiz Rebin­s­ki Junior, em cima do tema “Poe­sia, quem é você?”.

    De uma for­ma bem descon­traí­da e acalo­ra­da, os dois poet­as lit­eral­mente dis­cu­ti­am as suas opiniões sobre o que é ser poeta e a poe­sia na atu­al­i­dade. Uma dis­cussão muito per­ti­nente no cam­po literário hoje, já que o faz­er poéti­co vem se meta­mor­fos­e­an­do des­de do Mod­ernismo e os Con­cretis­tas a par­tir da déca­da de 70.

    A iden­ti­dade do poeta foi o pon­to cen­tral em que a dis­cussão girou. Para Carpine­jar, os poet­as vivem uma crise de iden­ti­dade e têm muito prob­le­ma em se assumir, não só per­ante as edi­toras e o mer­ca­do, mas na sua própria vida pes­soal tam­bém. Diz que se essa difi­cul­dade fos­se ultra­pas­sa­da, isto iria ajudá-los na cri­ação do seu próprio tra­bal­ho, tor­nan­do-se mais autên­ti­cos. Já Mar­tins acred­i­ta que não é o escritor que tem o dire­ito de se inti­t­u­lar poeta, até que porque ele não con­sid­era isso como um ofí­cio e sim um momen­to que acon­tece durante o tra­bal­ho, mas cabe ao leitor da obra decidir isto. Este momen­to da dis­cussão deixou claro a dual­i­dade (necessária) das pon­tos de vista dos dois poet­as, Mar­tins optan­do pelas visões do ¨out­ro¨ que o escritor vive e Carpine­jar visan­do o cotid­i­ano na auto­ria da poe­sia, insistin­do em um autor mais próx­i­mo de quem o lê. Este debate foi o que mais se desta­cou, prin­ci­pal­mente pela indig­nação de Carpine­jar com o fato que Mar­tins não con­seguia respon­der a per­gun­ta “Tu é poeta ou não é?” de maneira binária (sim ou não).

    A difer­ença de ger­ações entre os dois é muito clara, prin­ci­pal­mente pela difer­ença das visões sobre as novas tec­nolo­gias. Carpine­jar pub­li­ca tam­bém seus poe­mas em blog e pos­sui uma visão total­mente adep­ta ao mun­do vir­tu­al. Como seria se Drum­mond usasse o twit­ter e fos­se tão expos­to como são as pes­soas hoje? Porque é que um poeta pre­cisa ter um livro pub­li­ca­do para ser con­sid­er­a­do poeta? Não pode ape­nas fazê-lo no mun­do vir­tu­al? Por que uma bib­liote­ca pre­cisa ser silen­ciosa, sem músi­ca e sem poder levar comi­da? Ess­es foram alguns ques­tion­a­men­tos lev­an­ta­dos por ele. Alías, a sua visão de bib­liote­ca mod­er­na é bem difer­ente do que ouvi­mos nor­mal­mente falar por aí. Mar­tins tem uma visão clara­mente mais lit­er­a­ta e volta­da ao ato da leitu­ra como exper­iên­cia e não somente práti­ca social. Ele ques­tiona a efe­meri­dade dos poet­as vir­tu­ais e ao se con­tra­por às opiniões do gaú­cho, diz que a poe­sia não pode ser gen­er­al­iza­da, pois é um ato singular.

    O bate-papo se desen­volveu de uma for­ma exce­lente, pois mes­mo que os dois autores sejam con­tem­porâ­neos entre si, o con­traste de opiniões é necessário para que uma lacu­na per­maneça aber­ta quan­to a car­ac­ter­i­za­ção do que é poe­sia, hoje. A dis­cussão não girou em torno somente desse assun­to, pois quan­do se tra­ta de lit­er­atu­ra out­ros dois com­po­nentes sem­pre andam jun­tos: leitor e autor, e nesse que­si­to ambos abrem novas dis­cussões muito pertinentes.

    No final do bate-papo, Fab­rí­cio Carpine­jar e Alber­to Mar­tins rece­ber­am várias per­gun­tas vin­das dos par­tic­i­pantes, que levaram á des­do­bra­men­tos bem inter­es­santes, tor­nan­do o encon­tro bem dinâmi­co, descon­traí­do e infor­mal, sat­is­fazen­do a pro­pos­ta prin­ci­pal do Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

    [wpau­dio url=“http://www.interrogacao.com.br/media/bienallivropr2010/CafeLiterario-Carpinejar-Martins.mp3” text=“Café Literário: Fab­rí­cio Carpine­jar e Alber­to Mar­tins” dl=“0”]

  • Promoção B1 – Tenório em Pequim ENCERRADA: ganhe convites para o filme

    Promoção B1 – Tenório em Pequim ENCERRADA: ganhe convites para o filme

    b1 tenorio em pequim

    O sorteio já foi real­iza­do e os vence­dores serão comu­ni­ca­dos por email.

    Para mar­car o lança­men­to de B1 – Tenório em Pequim, que estreia dia 3 de setem­bro, o inter­ro­gAção, jun­ta­mente com a equipe de pro­dução do filme, estarão sorte­an­do 5 pares de con­vites para o filme. Pro­moção vál­i­da para todo Brasil.

    A pro­moção vai até dia 12 de Setem­bro e os vence­dores serão noti­fi­ca­dos por email.

    Sinopse: O que faz um campeão? Per­se­ver­ança, sac­ri­fí­cio e dis­ci­plina somam-se na jor­na­da de Tenório, judo­ca profis­sion­al clas­si­fi­ca­do como B1 – cego total. Iso­la­men­to e solidão são alguns dos desafios enfrenta­dos por este brasileiro espetac­u­lar em um pro­je­to inédi­to, a con­quista de uma quar­ta medal­ha de ouro em Paraolimpíadas. Fil­ma­do no Brasil, França e Chi­na, o doc­u­men­tário “B1 – Tenório em Pequim” mer­gul­ha na sen­si­bil­i­dade de um per­son­agem explo­si­vo e tocante, e nar­ra por um pon­to de vista que nada tem de defi­ciente a preparação para este grande com­bate, numa emo­cio­nante viagem cinematográfica.

    O sorteio já foi real­iza­do e os vence­dores serão comu­ni­ca­dos por email.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=8Pc-2IMzgoQ

  • Senhora Liberdade

    Senhora Liberdade

    liberdade

    No próx­i­mo dia 06 de agos­to, estréia nos cin­e­mas o filme 400 con­tra 1, de Caco Souza, que ten­ta res­gatar o históri­co de William da Sil­va Lima, um dos prin­ci­pais pro­tag­o­nistas da for­mação da orga­ni­za­ção crim­i­nosa Coman­do Ver­mel­ho, no Rio de Janeiro.

    Em Sen­ho­ra Liber­dade, cur­ta-metragem tam­bém de Caco Souza, a per­son­al­i­dade de William é trata­da de for­ma mais intí­ma e traz o inter­es­sante enga­ja­men­to políti­co e int­elec­tu­al do pre­so que está há em regime fecha­do há mais de 30 anos e hoje bus­ca a liber­dade condicional.

    No for­ma­to de doc­u­men­tário, Sen­ho­ra Liber­dade é de con­cepções sim­ples porém rico em con­teú­do, nos fazen­do com­preen­der as raízes da atu­al vio­lên­cia urbana brasileira e enten­der como, ain­da hoje, ecoam situ­ações que sur­gi­ram nos momen­tos de repressão nos piores anos da ditadu­ra militar.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=-lCHgA93XhQ

    httpv://www.youtube.com/watch?v=KvypQZ0nK8o

  • Minhocas

    Minhocas

    minhocas

    Nem sem­pre os adul­tos estão prepara­dos para respon­der as per­gun­tas, muitas vezes óbvias, das cri­anças. Em Min­ho­cas (2006), de Pao­lo Con­ti, Junior é uma peque­na min­ho­ca que até hoje não teve respostas conc­re­tas sobre seus ques­tion­a­men­tos e um dia, durante o almoço, resolve final­mente faz­er a per­gun­ta der­radeira, afi­nal, por que é proibido cavar para cima?

    A ani­mação, recomen­da­da para todas as idades, traz o ques­tion­a­men­to sobre o por quê das coisas, sendo uma espé­cie de filosofia ani­ma­da. Abor­dan­do prin­ci­pal­mente a difi­cul­dade dos adul­tos em explicar sobre o que fazem, quan­do são per­gun­ta­dos pelos pequenos, pois eles mes­mos mal enten­dem o real motivo.

    Min­ho­cas, foi ani­ma­do em stop-motion e gan­hou, entre out­ros prêmios, o Juri Infan­til do Ani­ma­Mun­di 2006. Esta em fase de desen­volvi­men­to um lon­ga basea­do no cur­ta, uti­lizan­do a mes­ma téc­ni­ca de ani­mação, feito inteira­mente por brasileiros. Veja tam­bém o site da pro­dução Min­ho­cas — O Filme.

  • Crítica: FilmeFobia

    Crítica: FilmeFobia

    filmefobia

    A úni­ca imagem ver­dadeira é de um fóbi­co diante da sua fobia”, frase sus­sur­ra­da e dita inúmeras vezes, por Jean Claude Bernardet, durante Filme­Fo­bia (Filme­Fo­bia, Brasil, 2008), o últi­mo tra­bal­ho de Kiko Goif­man.

    Goif­man em parce­ria com uma mod­es­ta equipe (que inclui o teórico/crítico e cineas­ta Jean-Claude Bernardet), se aven­tur­ou num filme que tra­ta da fobia, apresentado‑a, em cer­tos momen­tos, de for­ma sádi­ca e exibi­cionista. Nele são exibidos alguns medos, aparente­mente banais, de bor­bo­le­tas, celu­lares, botões, pen­e­tração sex­u­al, entre out­ros que se tornaram car­ac­terís­ti­cas comuns ao homem moderno.

    Foram uti­liza­dos atores, fóbi­cos reais e atores fóbi­cos como per­son­agens. O tom doc­u­men­tal tem como pro­pos­ta que eles par­ticipem de exper­i­men­tos, genial­mente elab­o­ra­dos pela fotó­grafa, dire­to­ra de arte e atriz Cris Bier­ren­bach. Na maio­r­ia das tomadas o estú­dio se mostra como um pequeno lab­o­ratório de hor­rores. São usa­dos instru­men­tos de ¨tor­tu­ra¨ como cadeiras com amar­ras, ven­das e parafer­nálias, que instigam os par­tic­i­pantes. Os exper­i­men­tos são coman­da­dos pelo próprio Bernardet que, faz de si mes­mo, um obje­to fic­cional. Inclu­sive, em uma das situ­ações, é chama­do de sádi­co por um dos participantes.

    Bernardet dialo­ga com os fóbi­cos sobre a origem de suas fobias e expõe tam­bém as suas (como o sangue, por ser soropos­i­ti­vo) e seus prob­le­mas de visão. Kiko Goif­man tam­bém par­tic­i­pa com seu medo (real) de sangue e brin­ca com car­tas de pok­er, com fotos de partes de um cor­po cor­tadas. Este é exata­mente um dos pon­tos inter­es­santes do Filme­Fo­bia. A equipe age como um grupo de pro­dução real em bus­ca de fobias dis­cutin­do tam­bém, em algu­mas cenas, se estão no cam­in­ho cer­to e até que pon­to devem chegar.

    O filme se desta­ca, no cin­e­ma brasileiro, jus­ta­mente por não se encaixar numa cat­e­go­ria especi­fi­ca, oscilan­do entre a ficção e o doc­u­men­tal. Por vezes, se mostra tam­bém como uma videoarte, val­orizan­do o pon­to de vista do espectador/observador. Afi­nal, ver as cenas dos fóbi­cos atuan­do é inqui­etante, por­tan­do, artís­ti­co. A estéti­ca do Filme­Fo­bia por si só é angus­tiante, escu­ra e cheia de brinquedos/experimentos adap­ta­dos. Os instru­men­tos lem­bram muito as téc­ni­cas Ludovi­co uti­lizadas no filme Laran­ja Mecâni­ca, de Stan­ley Kubrick[bb] (e no livro de Antho­ny Burgess). Ain­da, somente duas câmeras foram usadas, uma na mão de Kiko Goif­man e out­ra na cadeira de rodas com Jean-Claude Bernardet.

    Kiko Goif­man já é um vet­er­a­no em cin­e­ma doc­u­men­tário, e exata­mente por isso a dis­cussão sobre qual é a car­ac­terís­ti­ca limítrofe entre o fic­cional e o doc­u­men­tário fica explíci­ta. Afi­nal, em que momen­to a real­i­dade se tor­na tão fic­cional a pon­to de ser passív­el de tornar pelícu­la? Filme­Fo­bia é um óti­mo filme para se dis­cu­tir tabus e praticar um pouco de Rel­a­tivis­mo em relação ao “out­ro”.

    Leia o diário de fil­magem do filme neste blog, muito legal!

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=_yjbS8Y-BQI