Category: FestivalVerãoRS 2011

  • Crítica: Fora-da-lei

    Crítica: Fora-da-lei

    crítica Fora-da-leiFora-da-lei (Hors-la-Loi, França/Argélia/Bélgica, 2010), com roteiro e direção de Rachid Bouchareb, é bem mais do que ape­nas um filme de ação, ide­ológi­co, ou até históri­co. Além de jun­tar ess­es três ele­men­tos de maneira pri­morosa, é cri­a­do uma atmos­fera de época belís­si­ma que em con­jun­to com um enre­do bem desen­volvi­do torna‑o um lon­ga muito interessante.

    Abdelka­d­er, Mes­saoud e Said são três irmãos argeli­nos que, após serem expul­sos de sua ter­ra natal seguem cam­in­hos sep­a­ra­dos. Depois de alguns anos eles voltam a se reen­con­trar na França para, cada um de sua maneira, lutar pela liber­dade pes­soal e de sua nação.

    Difer­ente de muitas out­ras rep­re­sen­tações de movi­men­tos com luta arma­da, Fora-da-lei não se uti­liza daque­le tom aven­tureiro e, de cer­ta for­ma, van­glo­ri­ador — para não diz­er fan­tás­ti­co ou utópi­co — das ações e vidas dessas pes­soas. Sua visão está mais para um filme de guer­ra, onde o máx­i­mo de glam­our que você pode ter são roupas — ou uni­formes — mais boni­tos e armas mais poderosas, mas não escon­den­do em nen­hum momen­to a situ­ação real dessas pes­soas. Aliás, o esti­lo estéti­co remete bas­tante aos filmes de mafiosos, que ficou uma mis­tu­ra bem inter­es­sante jun­to com o con­tex­to político.

    Aliás, a políti­ca é o tema prin­ci­pal do lon­ga e em cada um dos três per­son­agens prin­ci­pais de Fora-da-lei, temos um pen­sa­men­to bem difer­ente de como faz­er uma rev­olução. Um é o teóri­co ao extremo que não con­segue aplicá-la na práti­ca, out­ro um ex-sol­da­do que ape­nas sabe seguir ordens e usar sua força e por fim, o últi­mo imag­i­na uma meio indi­re­to e com­ple­ta­mente difer­ente dos out­ros dois, e da maio­r­ia destes rev­olu­cionários, de real­mente cos­neguir mudar algo. Este con­fli­to de ideais e cam­in­hos diver­gentes é algo muito per­ti­nente quan­do se dis­cute esta questão tam­bém fora das telas. Mas o filme tam­bém não se propõe a dar uma respos­ta exa­ta para ela, cada um terá uma con­clusão depen­den­do de sua própria visão. Pois não há, nem nun­ca hou­ve, só uma respos­ta “cer­ta”.

    Fora-da-lei é um filme lon­go (2h18min) — em relação à maio­r­ia dos lança­men­tos — mas isso per­mi­tiu tam­bém um desen­volvi­men­to maior da for­mação de seus per­son­agens e da própria história. Mas a tran­sição entre os perío­dos do enre­do, sem­pre exibindo a data ou a estação do ano, infe­liz­mente, acabou sendo meio con­fusa e muitas vezes até desnecessária. Cul­pa talvez de um dese­jo da cri­ação de algo, de cer­ta for­ma, mais doc­u­men­tal. Mas graças a boa estru­tu­ra da história e cenas de ação bem con­struí­das, não ficou cansativo.

    É prin­ci­pal­mente o ques­tion­a­men­to ide­ológi­co que se desta­ca, mes­mo haven­do cenas com mui­ta vio­lên­cia e ação, lev­an­tan­do várias questões não só sobre os atos, mas tam­bém o impacto real que eles causam. Como saber o que real­mente fez a difer­ença? Para con­cluir, Fora-da-lei é um filme que se você tiv­er opor­tu­nidade de ver no cin­e­ma, com certeza vale o ingres­so! Caso o con­trário, sem­pre há a opção de alugá-lo.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=qAljVInNDik

  • Crítica: Elvis e Madona

    Crítica: Elvis e Madona

    crítica elvis e madonaSão poucos os filmes de comé­dia român­ti­ca que con­seguem sair um pouco do padrão do gênero. Elvis e Madona (Brasil, 2010), dirigi­do por Marce­lo Laf­fitte, faz da inver­são de opções sex­u­ais dos per­son­agens prin­ci­pais, o grande chama­riz para o seu lon­ga sair do lugar comum.

    Elvis (Simone Spo­ladore) é uma moto­ci­clista que son­ha em ser fotó­grafo e em uma de suas entre­gas como “moto­girl” de uma piz­zaria, con­hece Madona (Igor Cotrim), uma cabel­ereira que son­ha em pro­duzir um show de teatro. Deste encon­tro inusi­ta­do, entre uma lés­bi­ca e um trav­es­ti, nasce uma história de amor nada convencional.

    Em Elvis e Madona temos todos os clichês das comé­dias român­ti­cas, mas por traz­er essa roupagem difer­en­ci­a­da, con­segue des­per­tar o lado cômi­co deles. Ape­sar dis­so, não traz nada mais inusi­ta­do, ou inteligente, sobre o assun­to. Graças a uma tril­ha sono­ra bem pre­sente e agi­ta­da, muitas situ­ações do lon­ga se tor­nam menos cansativas do que real­mente seri­am se não hou­vesse esse recur­so. Inclu­sive, uma de suas músi­cas é “Reflexo” da ban­da Beep-Polares, que é lid­er­a­da pelo próprio Igor Cotrim.

    O foco do filme é mes­mo a con­strução e o desen­volvi­men­to do amor entre esse dois per­son­agens, sem faz­er qual­quer ques­tion­a­men­to ou apro­fun­da­men­to em relação a opção sex­u­al de cada um deles. Ape­sar de em pou­cas cenas de Elvis e Madona haver um pre­con­ceito de out­ros per­son­agens, des­de incom­preen­são á repul­sa ficar mais aparente, essas situ­ações são rap­i­da­mente igno­radas ou concluídas.

    Elvis e Madona é um filme mais para diver­são, bem cin­e­ma pipoca, que ques­tiona com o con­ceito de casal mais usu­al, além é claro de tam­bém mex­er na feri­da do pre­con­ceito de muitos. Se você esta­va esperan­do algo mais ques­tion­ador e pro­fun­do sobre a questão de gêneros, este não é o lon­ga que você esta­va procurando.

    Após a exibição do filme no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, hou­ve uma con­ver­sa com o ator Igor Cotrim, que falou um pouco sobre como foi sua preparação para o papel e tam­bém como hou­ve a pre­ocu­pação de não faz­er algo que ficas­se car­i­ca­to ou este­ri­oti­pa­do, além de out­ros detal­h­es sobre a pro­dução do longa.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=SUqDKzzxzgM

  • Festival Verão RS 2011: Danúbio

    Festival Verão RS 2011: Danúbio

    danubioDanúbio (Brasil, 2010), dirigi­do por Hen­rique Lima, é o primeiro doc­u­men­tário da série Grandes Mestres, sobre a vida e obra do artista plás­ti­co gaú­cho Danúbio Gonçalves. Na úni­ca sessão que foi exibi­da no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, esta­va pre­sente não só o dire­tor do doc­u­men­tário, mas tam­bém o próprio Danúbio, que após a exibição con­ver­saram um pouco com a plateia.

    Danúbio Vil­lamil Gonçalves, nasci­do em Bagé, RS, em 1925 é gravador, desen­hista, pin­tor e pro­fes­sor. Para ler mais sobre o artista, vis­ite a Wikipedia, Enci­clopé­dia Itaú Cul­tur­al ou no MARGS (este pos­sui um mate­r­i­al muito interessante).

    No doc­u­men­tário não há um nar­rador prin­ci­pal, ape­nas depoi­men­tos, que em grande parte são do próprio artista, geran­do um cli­ma de con­ver­sa bem pes­soal e amigáv­el. Há tam­bém várias tomadas exibindo as obras de Danúbio, o que é um pra­to cheio não só para aque­les que apre­ci­am a sua obra, mas tam­bém para aque­les que a descon­hecem. Durante quase toda a duração do lon­ga, uma tril­ha sono­ra quase sem­pre instru­men­tal, aju­da a man­ter o rit­mo de Danúbio, ape­sar de não ter sido necessária em várias situações.

    Em Danúbio, são mostra­dos tam­bém alguns tre­chos de filmes mex­i­canos muito inter­es­santes, como do dire­tor Gabriel Figueroa que já pos­suía uma téc­ni­ca, enquadra­men­tos e mon­ta­gens que só hoje em dia estão mais ado­ta­dos e muitas vezes quem os uti­liza serem mod­er­nos. Aliás, esta é uma das brigas do Danúbio, a incor­po­ração da tradição da arte oci­den­tal, pois se vive num momen­to de negação do pas­sa­do. O artista é um dos que defende bas­tante esta val­oriza­ção e deixa isto bem claro não só no doc­u­men­tário, mas na sua fala após a sua exibição em con­jun­to com o dire­tor que tam­bém defende esta posição.

    Para quem gos­ta de arte e quer con­hecer um pouco mais sobre a vida, obra e ideiais do artista, Danúbio é uma óti­ma opor­tu­nidade. Não é sem­pre que se vê um doc­u­men­tário tão bem feito sobre este gênero em ter­ritório nacional. Com certeza vale a pena assisti-lo!

    Con­fi­ra abaixo alguns tre­chos do doc­u­men­tário Danúbio:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=Is0-0aGxXNo

  • Festival Verão RS 2011: Espião Negro

    Festival Verão RS 2011: Espião Negro

    espião negro

    Espião Negro (The Spy in Black, Inglater­ra, 1939), de Michael Pow­ell, foi um dos qua­tro filmes da Mostra Michael Pow­ell e Emer­ic Press­burg­er que foram exibidos no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Alegre.

    Este foi meu primeiro, e infe­liz­mente ain­da úni­co, con­ta­to com a obra deste dire­tor. Fiquei sur­preeen­di­do com o roteiro do filme, que é bem inter­es­sante e inteligente, pos­suin­do algu­mas revi­ra­voltas muito bem estru­tu­radas. Além dis­so, o rit­mo mais cal­mo pre­sente no filme — algo prati­ca­mente inex­is­tente atual­mente no cin­e­ma mais com­er­cial, per­mite um desen­volvi­men­to maior das situ­ações, que a tor­na mais real, no sen­ti­do da tem­po­ral­i­dade com o mun­do fora das telas. Além dis­so, há situ­ações e diál­o­gos que por si só, valem a pena con­ferir o longa.

    Infe­liz­mente não con­segui ver os out­ros filmes da mostra do dire­tor, prin­ci­pal­mente Os Sap­at­in­hos Ver­mel­hos que me foi muito bem recomen­da­do, inclu­sive sendo com­para­do ao recente Cisne Negro, de Dar­ren Aronof­sky.

    Não encon­trei o trail­er do filme, mas ele pode ser assis­ti­do na ínte­gra no YouTube, mas acred­i­to que infe­liz­mente sem legendas.

  • Festival Verão RS 2011: Port Of Memory

    Festival Verão RS 2011: Port Of Memory

    Port of MemoryPort Of Mem­o­ry (França, 2009) é um doc­u­men­tário, dirigi­do por Kamal Alja­fari, que não dire­ciona o espec­ta­dor com palavras e nar­ra­ti­vas, ape­nas ima­gens. Acom­pan­hamos o dia a dia de uma família, que mora na em Jaf­fa na Palesti­na, e todas as peque­nas pecu­liari­dades de cada um de seus inte­grantes. Eles rece­ber­am uma ordem de despe­jo da sua casa, e sem saber muito o que faz­er, con­tin­u­am ten­tan­do seguir suas vidas em uma cidade já prati­ca­mente deserta.

    É bem difí­cil diz­er se as situ­ações que acom­pan­hamos são real­mente doc­u­men­tadas ou ficção, o que de cer­ta maneira, ficou bem inter­es­sante. A inter­pre­tação em ger­al, aca­ba fican­do mais para o espec­ta­dor de Port Of Mem­o­ry, que lida a todo momen­to com a dico­to­mia presença/ausência de som, pes­soas e até da própria realidade.

    Port of Mem­o­ry rece­beu o Prêmio Louis Mar­corelles de Cul­tures­france do Fes­ti­val do Ciné­ma du Réel 2010 e foi exibido no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Alegre.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=GcqjtRuPvus

  • Crítica: Ricky

    Crítica: Ricky

    crítica ricky

    Com uma sinopse nada con­vida­ti­va e um trail­er tão pouco explica­ti­vo quan­to ela, con­fes­so que Ricky (França/Itlália, 2009), com direção e roteiro de François Ozon, esta­va bem no fim da min­ha lista de filmes pos­sivel­mente inter­es­santes do 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Ale­gre. Mas, por motivos de horários, acabei indo assistí-lo e fui surpreendido.

    Katie e Paco são duas pes­soas comuns que acabam se con­hecen­do, se apaixo­nan­do e deste amor nasce um fil­ho. Só ele está longe de ser um bebê nor­mal, pode­ria muito bem se diz­er que ele é algo real­mente extraordinário.

    Muito explica­ti­vo este resumo, não? É jus­ta­mente com este mis­tério, que feliz­mente tam­bém é man­ti­do no trail­er, que Ricky con­segue ser uma bela sur­pre­sa para quem vai assistí-lo. O inter­es­sante foi que ape­sar do filme, sutil­mente, dar indí­cios do porque o bebê ser difer­ente, ele em nen­hum momen­to dá qual­quer expli­cação mais dire­ta, ou mirabolante. Alías, Ricky pos­sui bas­tante essa car­ac­terís­ti­ca de não ter a neces­si­dade de explicar as coisas, elas sim­ples­mente acon­te­cem e é isso. Esse ar mais de fan­ta­sia tam­bém lem­bra um pouco o cin­e­ma fan­tás­ti­co do Michael Gondry, com sua magia e ele­men­tos lúdicos.

    Todo o desen­volvi­men­to da história se foca nes­sa exceção acon­te­cen­do com pes­soas total­mente nor­mais, sem nen­hum grande luxo e edu­cação. Isto tor­na Ricky um filme de fácil iden­ti­fi­cação com o cotid­i­ano e as situ­ações apre­sen­tadas. Ao mes­mo tem­po ele tam­bém pos­sui um pouco da per­spec­ti­va dos fatos vis­tos pelos olhos de uma cri­ança, a irmã mais vel­ha dele, que tem um diál­o­go e uma visão total­mente difer­ente dos adultos.

    Algo tão sur­preen­dente assim aca­ba geran­do todos os tipos de reações e curiosi­dades. Alguns pen­sam só no estu­do cien­tí­fi­co do bebê, out­ros como uma maneira de gan­har din­heiro e fama, alguns não sabem que reação ter e por fim há tam­bém aque­les que o con­sid­er­am uma anom­alia que deve ser cura­do. Estas coisas, prin­ci­pal­mente a curiosi­dade da mãe em ten­tar enten­der e acom­pan­har mel­hor seu desen­volvi­men­to, acabam geran­do situ­ações muito engraçadas e tam­bém muitas vezes ques­tion­ado­ras, em relação a real intenção destas pessoas.

    Ricky é um filme diver­tido e tam­bém total­mente ines­per­a­do, que vale a pena ser assis­ti­do com uma men­tal­i­dade mais aber­ta para sur­pre­sas e situ­ações que sim­ples­mente acon­te­cem, sem mui­ta racional­iza­ção e/ou grandes teo­rias. O lon­ga foi Indi­ca­do no Fes­ti­val inter­na­cional de Berlin 2009 — Gold­en Berlin Bear (François Ozon).

    Para quem já viu o filme, alguém con­seguiu perce­ber a relação da cena ini­cial, na del­e­ga­cia, com o do filme? Se você acha que tem uma ideia, comente abaixo!

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=RHdP4R2spnw

  • Crítica: Profissão:Músico

    Crítica: Profissão:Músico

    profissão: músico

    A pop­u­lar­iza­ção do MP3 e do down­load de músi­cas pela inter­net mexeu com a estru­tu­ra do comér­cio da indús­tria fono­grá­fi­ca, e de várias out­ras tam­bém. Este é um fato inques­tionáv­el e con­heci­do por muitos, prin­ci­pal­mente pelos próprios artis­tas. Profis­são: Músi­co é um doc­u­men­tário, dirigi­do por Daniel Igná­cio Var­gas, que abor­da jus­ta­mente esta mudança a par­tir da per­spec­ti­va dess­es artistas.

    O doc­u­men­tário Profis­são: Músi­co con­ta um pouco da exper­iên­cia do Pro­je­to CCOMA, um duo de jazz instru­men­tal con­tem­porâ­neo, com a história deles como pano de fun­do e tam­bém pos­sui relatos de out­ros artis­tas ao redor do mun­do. A mon­tagem do média metragem foi muito bem fei­ta e pos­sui um rit­mo bem dinâmi­co, muitas vezes exibindo mais de um vídeo na tela ao mes­mo tem­po, com cortes bem rápi­dos, refletindo bas­tante as car­ac­terís­ti­cas do con­ceito mashup (mis­tu­ra), que aliás car­ac­ter­i­za grande parte da pro­dução dess­es próprios músicos.

    No próprio site do média metragem Profis­são: Músi­co tem-se a seguinte infor­mação: “Ago­ra, não bas­ta só tocar. A profis­são de músi­co mudou muito nos últi­mos anos. A inter­net trouxe o artista para per­to do públi­co e vice-ver­sa, não impor­tan­do mais se este músi­co vive em Lon­dres ou no inte­ri­or das mon­tan­has do Sul do Brasil. O Faça Você Mes­mo (DYI) é a for­ma revis­i­ta­da para faz­er o próprio mar­ket­ing no mun­do dig­i­tal.” que é a pre­mis­sa base deste documentário.

    Infe­liz­mente, a argu­men­tação — assim como a pre­mis­sa base — uti­liza­da em Profis­são: Músi­co é vaga demais e de cer­ta maneira irre­al­ista. O son­ho de todo artista, inde­pen­dente da área, é poder viv­er somente da sua pro­dução, mas são ape­nas poucos — exceções — que con­seguem isto. O foco do doc­u­men­tário — e ele deixa claro logo no iní­cio — é jus­ta­mente os músi­cos que não são essas mino­rias e que tra­bal­ham muito para con­seguir sobre­viv­er, ou seja, a real­i­dade deles é com­ple­ta­mente out­ra. Seria necessário um out­ro tipo de pen­sa­men­to para poder se apro­fun­dar em pos­síveis alter­na­ti­vas para esta out­ra real­i­dade. Ou seja, não dá para ficar ten­do como mod­e­lo de com­para­ção as exceções de um mer­ca­do que já se sabe — e ele mes­mo afir­ma isso — estar em ruí­nas, o que infe­liz­mente não acon­tece no doc­u­men­tário, ele fica pre­so na visão saudo­sista de como as coisas eram mel­hores no passado.

    A impressão que fica é que o respon­sáv­el por isso foi de cer­ta for­ma a inter­net. Será que foi esque­ci­do que a maio­r­ia dos artis­tas não faz parte do pequeno grupo de exceções e que tem que batal­har e ir atrás de con­seguir gan­har o seu pão e de divul­gar o seu tra­bal­ho? Pelo meu con­hec­i­men­to — pos­so estar engana­do — faz muito tem­po, bem antes da idade média, que artis­tas muitas vezes pre­cisavam faz­er out­ra coisa para se sus­ten­tar, além da sua arte, ape­nas não havia na época o car­go de pro­du­tor, divul­gador, etc, então eles acabavam sendo mul­ti-profis­sion­ais sem mes­mo saberem. As exceções tam­bém eram aque­les que, como hoje, con­seguiam viv­er prin­ci­pal­mente — difí­cil diz­er se total­mente, talvez só aque­les que eram “apadrin­hados” por alguém rico, que de cer­ta for­ma os tor­navam súdi­tos de um só um sen­ho­rio — de sua arte, e estes muitas vezes ain­da pas­savam por situ­ações muito difí­ceis. Seria mes­mo essa difi­cul­dade um prob­le­ma atual?

    Out­ro pon­to impor­tante que tam­bém não foi ques­tion­a­do em Profis­são: Músi­co é a qual­i­dade da músi­ca pro­duzi­da. Pode ser que um músi­co nun­ca ven­ha a ter suces­so porque sim­ples­mente ele não pos­sui um públi­co que goste da músi­ca dele, ou ele é tão pequeno que não con­segue sus­ten­tar o artista. E é jus­ta­mente a inter­net que con­segue aju­dar os artis­tas a encon­trarem seu públi­co, que muitas vezes pode estar seg­men­ta­do em várias partes do mun­do. Vejo ela mais como uma solução do que parte do prob­le­ma. Só aqui no Brasil temos dois exem­p­los de músi­cos que con­seguiram chegar a fama graças a inter­net: Mal­lu Mag­a­l­hães e a ban­da Can­sei de ser Sexy. Além dis­so, há vários sites que aju­dam estes a divul­gar seu tra­bal­ho, e até gan­har din­heiro, como o MySpace e o brasileiro Tra­ma Virtual.

    Durante Profis­são: Músi­co são recol­hi­dos depoi­men­tos de vários artis­tas do mun­do inteiro e, em especí­fi­co, as opiniões dos músi­cos Naná Vas­con­ce­los e Philip (tam­bém dono de uma loja de dis­cos na França, pelo que eu pude achar), são geni­ais em suas obser­vações sobre como o mer­ca­do mudou e qual é a real­i­dade do artista ago­ra. Ape­sar dos vários prob­le­mas, o doc­u­men­tário vale a pena ser assis­ti­do jus­ta­mente pela opinião dess­es dois músicos.

    Para mais infor­mações sobre o doc­u­men­tário, vis­ite o site ofi­cial do projeto.

    Só para não ger­ar nen­hum mal enten­di­do: de maneira algu­ma invali­do o tra­bal­ho dos cri­adores do doc­u­men­tário ao expres­sar min­has obser­vações aci­ma. Acred­i­to que opiniões difer­entes são uma óti­ma opor­tu­nidade de diál­o­go e tam­bém de apren­diza­do para todos que par­tic­i­pam da conversa.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=wkXUDfvaLoE

  • FestivalVerãoRS 2011: Dicas de Filmes

    FestivalVerãoRS 2011: Dicas de Filmes

    O 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Ale­gre começou na quin­ta, dia 24 de março, com a pré-estreia do lon­ga-metragem Lope, de Andrucha Wadding­ton. Obvi­a­mente que mui­ta gente já fez a sua lista de filmes, mas quem não fez, ain­da dá tem­po. Pen­san­do nis­so, o inter­ro­gAção sele­cio­nou os prováveis filmes mais inter­es­santes — e esper­a­dos por nós — do Fes­ti­val. Se você assis­tiu algum deles, gos­tou ou não, deixe sua opinião nos comentários!


    Nati­mor­to (Brasil, 2010) - A adap­tação homôn­i­ma do livro do quadrin­ista e escritor Lourenço Mutarel­li pre­tende dar o que falar. O livro, antes adap­ta­do pelo teatro, traz a história de um homem com­pul­si­vo — o próprio Mutarel­li — e um caça-tal­en­tos que traz uma jovem can­to­ra para São Paulo para uma audição, enquan­to esper­am o dia mar­ca­do ele vai se apre­sen­ta­do mais e mais estran­ho, toman­do café, fuman­do com­pul­si­va­mente e lendo as car­tas de tarô para ela.

    Talvez o pon­to mais alto da espera pelo lon­ga é que o próprio Mutarel­li é uma figu­ra incóg­ni­ta, com uma lista de quadrin­hos e livros com um humor áci­do e um tan­to obscuro. Além, claro, que O Cheiro do Ralo, escrito por ele, foi uma das mel­hores adap­tações do cin­e­ma nacional até hoje.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=Opls68GIyT8

    Amor? (Brasil, 2010) É Mais um lon­ga nacional que prom­ete. João Jardim é um cineas­ta que tra­bal­ha com doc­u­men­tários de uma for­ma extrema­mente artís­ti­ca, bas­ta ver o incrív­el Janela da Alma para enten­der um pouco o esti­lo autor.

    Em Amor? o enre­do se foca em histórias reais de vio­lên­cia pas­sion­al inter­pre­tadas por atores, ou seja, o dire­tor criou uma ficção poéti­ca em cima da real­i­dade. O filme estre­ou ano pas­sa­do no Fes­ti­val de Brasília e con­ta com uma sessão comen­ta­da no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional (Con­fi­ra a pro­gra­mação)

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=hDckZziiWS0


    A min­ha ver­são do Amor (Canadá/Itália, 2010) Nor­mal­mente filmes que envolvam Paul Gia­mat­ti sem­pre são inter­es­santes, vis­to por exem­p­lo o exce­lente Almas à Ven­da e a cinebi­ografia do quadrin­ista Har­vey Pekar em Anti-herói Amer­i­cano.

    Em A min­ha ver­são do Amor, Giammati inter­pre­ta Bar­ney Panof­sky, o per­son­agem-nar­rador de A Ver­são de Bar­ney, livro de Morde­cai Rich­ler. Panof­sky é car­i­ca­to e está pos­ses­so — e bêba­do, como sem­pre —, porque seu vel­ho desafe­to e ex-ami­go, Ter­ry McIv­er, está para lançar um livro auto­bi­ográ­fi­co em que lhe faz pesadas acusações. Então que Panof­sky resolve rev­er sua vida através de sua própria visão e lembranças.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VMWf3UpmuvM

    Poe­sia (Coréia do Sul, 2010) Cin­e­ma core­ano sem­pre é uma bela indi­cação, vis­to que na últi­ma déca­da dire­tores como Kim Ki-Duk e Chan-wook Park, alcançaram boas tem­po­radas no cin­e­ma ocidental.

    Poe­sia é um dess­es filmes ori­en­tais que você dese­ja ver somente pela beleza que o filme evo­ca logo no trail­er. Dirigi­do por Chang-dong Lee o lon­ga con­ta a história de Mija, uma sen­ho­ra curiosa e ques­tion­ado­ra que ao rece­ber uma notí­cia que muda a sua vida decide ver mais poe­sia e beleza no cotid­i­ano, se inscreve numa aula do gênero e pas­sa a ten­tar com­preen­der a vida através das palavras.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VM27hunyDTA

    Zona de Risco (Córeia do Sul, 2001) Reforço que cin­e­ma core­ano é sem­pre sen­sa­cional. Este lon­ga do Chan-wook Park, faz parte de uma mostra espe­cial para o cin­e­ma core­ano (veja a pro­gra­mação no site), por­tan­to já recomen­damos logo de cara todos os filmes.

    Por vários ângu­los Zona de Risco é um filme políti­co, mas como todo filme do dire­tor pode-se esper­ar ação e sangue à von­tade. Alguns sol­da­dos core­anos são mor­tos após um dire­tor, uma equipe espe­cial da Suíça vem para inves­ti­gar o caso pois acred­i­ta-se que haja um deser­tor entre os soldados.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=B3zOZL5nl2w

    Em um Mun­do Mel­hor (Dinamarca/Suécia, 2010) Talvez o sim­ples fato do filme ter gan­ho o Oscar de mel­hor filme estrangeiro seja um belo moti­vo para ver esse lon­ga. Mas ain­da há o fato do lon­ga ser dina­mar­quês e o cin­e­ma do norte-europeu cos­tu­ma apre­sen­tar belas sur­pre­sas. A dire­to­ra Susane Bier já dirigiu lon­gas inter­es­santes como Coisas que perdemos pelo cam­in­ho.

    Em um Mun­do Mel­hor um médi­co dina­mar­quês tra­bal­ha em um cam­po de refu­gia­dos na África enquan­to sua família está na Dina­mar­ca, a história de ambos se entre­laça com a de um garo­to orfão de mãe que migra para o país.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=diJ3IRIyqfo

    Para quem você lig­aria? Os nos­sos her­manos têm um cin­e­ma sen­sa­cional, isso é indis­cutív­el! O cin­e­ma exis­ten­cial dos argenti­nos sem­pre resul­ta em belas pelícu­las, tan­to com enre­dos encan­ta­dores como em fotografia.

    Em Para quem você lig­aria? um homem se vê numa ver­dadeira crise que ao encar­ar sua difi­cul­dade de lidar com as pes­soas se per­gun­ta, que em um momen­to com esse, para quem lig­ar, afinal?

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=yNqfM0Ef2Cw

  • FestivalVerãoRS 2011: Entrevista Andrucha Waddington

    FestivalVerãoRS 2011: Entrevista Andrucha Waddington

    entrevista Andrucha Waddington

    Pro­duções cin­e­matográ­fi­cas asso­ci­adas entre país­es não são nen­hu­ma novi­dade, são inclu­sive estim­u­lantes para resul­ta­dos mais elab­o­ra­dos. Lope, de Andrucha Wadding­ton é um tra­bal­ho que surgiu com a parce­ria de Brasil e Espan­ha sobre um perío­do da juven­tude de Lope de Vega, um grande poeta espan­hol que é prati­ca­mente descon­heci­do aqui no país.

    O dire­tor Andrucha Wadding­ton é con­heci­do por seus tra­bal­hos como Casa de Areia (2005), o pre­mi­a­do Eu, tu, eles (2000) ou ain­da por diri­gir artis­tas como Arnal­do Antunes e Os Par­ala­mas do Suces­so. Com o lon­ga-metragem Lope, o dire­tor diz que hou­ve um cer­to receio, pois a direção de um lon­ga assim era real­mente desafi­ado­ra, além de envolver dois país­es com cul­turas um tan­to diferentes.

    Ele con­ta que hou­ve um proces­so de em média qua­tro anos para estu­dar a vida de Lope, uma espé­cie de Don Juan da poe­sia espan­ho­la, e con­seguir com­preende-lo a pon­to de apre­sen­tá-lo ao grande públi­co. Ressalta que o lon­ga cria uma espé­cie de fun­dação do per­son­agem, con­tan­do a sua vida pré-fama e de que for­ma a poe­sia pas­sou a ser o esti­lo de vida do escritor. Ain­da, diz que o maior desafio foi recu­per­ar os cenários da Idade Média, mes­mo que a Espan­ha ain­da pre­serve muito o patrimônio, a recon­sti­tu­ição de época foi um tra­bal­ho árduo mas que foi bem resolvi­do graças a preparação tan­to dos cenários, como dos atores.

    O inter­ro­gAção con­ver­sou com Wadding­ton no lança­men­to de Lope, na séti­ma edição do Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Ale­gre. Além de con­tar como foi fil­mar fora do país, o dire­tor rela­ta seus anseios sobre a fal­ta de inter­esse dos exibidores em torno de filmes menos com­er­ci­ais, mais volta­dos para cin­e­ma de arte. Inclu­sive, sug­ere algu­mas for­mas para que as dis­tribuido­ras e os artis­tas parem de perder incen­tivos e retorno finan­ceiro com suas obras, prin­ci­pal­mente com a pirataria via inter­net. Con­fi­ra abaixo!

    Como foi o lança­men­to do filme?
    Lope é um filme que para a Espan­ha é extrema­mente com­er­cial, porque é um per­son­agem que é um mito den­tro da cul­tura espan­ho­la. Lá ele saiu com 340 copias e aqui ele é um per­son­agem abso­lu­ta­mente descon­heci­do do públi­co. Lançamos ele com 25 cópias, primeiro no cir­cuito Rio, São Paulo, Belo Hor­i­zonte e Brasília e ago­ra Por­to Ale­gre, Curiti­ba e Flo­ri­anópo­lis, no dia primeiro de abril.

    Nor­mal­mente as cópias para os filmes brasileiros vem em número menor, é muito difí­cil elas chegarem em out­ras cidades que não seja esse primeiro cir­cuito que você comen­tou. Essa é mais uma decisão de quem?
    Isso é uma decisão do exibidor e do dis­tribuidor. O dis­tribuidor tem a função de levar o filme ao maior número de espec­ta­dores pos­síveis, ele tem inter­esse nis­so. Existe uma lei do nat­ur­al do mer­ca­do, que ele próprio se reg­u­la, onde um exibidor tem inter­esse em um filme que vai dar bil­hete­ria, então, muitos filmes que pos­suem uma deman­da mel­hor do públi­co, não é um filme órfão de um grande públi­co, ele não encon­tra muito espaço den­tro do cir­cuito com­er­cial mais aber­to, então ele aca­ba depen­den­do do cir­cuito de arte. Mas isso é uma coisa que acho que acon­tece no mun­do inteiro, isso não é uma tragé­dia que só acon­tece aqui. O cin­e­ma extrema­mente com­er­cial, vem como um arrasa quar­teirão, ele tira todo mun­do do cir­cuito. Tem lança­men­tos que saem com 700, 800 cópias, mas o Brasil tem 2200 salas. Então um lança­men­to gigante estran­gu­la o cir­cuito, porque ele já o ocu­pa com 1/3 do total.

    Como dire­tor, você vê isso…
    O mer­ca­do é assim, eu não ten­ho muito o que… assim, por exem­p­lo, se o Lope saiu com 25 cópias, eu ten­to tra­bal­har nele, como dire­tor, da maneira mais poderosa pos­sív­el para ele ter uma vida lon­ga sem ser eje­ta­do do cir­cuito. Se eu lançar o Lope com 100 cópias ele vai ficar uma sem­ana em car­taz e adios. Então o exibidor, se o filme entrou na sex­ta, vai olhar a bil­hete­ria de segun­da e vai falar “sin­to muito, tem um filme que vai me dar bem mais bil­hete­ria e eu vou colo­car no lugar”. Então você depende muito do cir­cuito de arte sim, para deter­mi­na­dos filmes. Como dire­tor, eu gostaria que o públi­co tivesse mais inter­esse em filmes um pouco mais elab­o­ra­dos e menos, a pri­ori, com­er­ci­ais. Mas o mun­do não é assim, o públi­co tem o dire­ito de con­sumir o que ele quis­er, então infe­liz­mente, ou feliz­mente, é assim que o mer­ca­do funciona.

    Muitas pes­soas con­seguem aces­so a filmes menos com­er­ci­ais só pela inter­net, fazen­do o down­load deles.
    Ó, eu acho que assim, isso é uma coisa que é um erro. O erro está no sis­tema de dis­tribuição, que não enx­er­gou a inter­net como uma fer­ra­men­ta de dis­tribuição des­de o iní­cio. A Net­flix nos Esta­dos Unidos, você paga sete dólares por mês e tem aces­so ilim­i­ta­do ao catál­o­go inteiro, então não tem por que você não pagar, e o autor gan­ha com isso. Demor­ou muito para o mer­ca­do aceitar isso e fez com que fos­se nor­mal para toda uma ger­ação, meus fil­hos inclu­sive, acharem nor­mal down­lo­dar filmes ou músi­ca sem pagar. Mas eu acho o grande vilão, o grande cul­pa­do dis­so ter acon­te­ci­do, é o próprio sis­tema de dis­tribuição. Acho que ago­ra nat­u­ral­mente vai começar a ser impos­sív­el não ter a inter­net como meio de dis­tribuição e isso vai mudar.

    Mas esse públi­co que con­some os filmes des­ta maneira, você acha que isso é algo válido?
    Eu acho que o dire­ito autoral é algo que deve ser preser­va­do, ao mes­mo tem­po que tem um dese­jo que o maior número de pes­soas veja o filme. Então se você tem esse dese­jo como um dire­tor que fez o filme, a questão para mim é o ter um mod­e­lo de dis­tribuição den­tro da inter­net que seja acessív­el, e você cor­ta uma quan­ti­dade de inter­mediário e gan­ha nesse meio pra levar dire­to do pro­du­tor através do canal dis­tribuidor da inter­net para o públi­co. Isso é o que eu gostaria que acon­te­cesse, que fos­se uma coisa de praxe, que ocor­resse nat­u­ral­mente. Com isso ninguém perde, todo mun­do vai poder con­sumir por um preço bara­to. Com uma assi­natu­ra, por exem­p­lo, por doze reais e você poder con­sumir quan­tos filmes quis­er, não tem porque você não pagar, vai ter um down­load rápi­do, de qual­i­dade. Não só no Brasil que os dis­tribuidores tem essa difi­cul­dade, nos Esta­dos Unidos tam­bém hou­ve isso e na Europa tam­bém, hou­ve no mun­do inteiro um pre­con­ceito diante esse méto­do de distribuição.

    Como é que foi para um dire­tor brasileiro fil­mar fora do país?
    Acho que o cin­e­ma é uma lin­guagem uni­ver­sal, quan­do você começa a faz­er um filme você até esquece que está fora do teu país, porque todo mun­do que está ali é profis­sion­al do cin­e­ma, somente o que muda é a lin­gua, fora isso nada muda, todo mun­do é meio bicho de cin­e­ma, então você rapid­in­ho se acos­tu­ma, rapid­in­ho você acha que já é espanhol.

    Você comen­tou que usou duas pre­mis­sas bem atem­po­rais no filme, porque escol­her essa época para mostrar isso?
    Na ver­dade, acon­te­ceu que difer­ente dos meus filmes ante­ri­ores, este foi um filme que o pro­je­to chegou a mim. Era um uni­ver­so dis­tante, tin­ha um roteiro pron­to que eu ador­ei. Era um pro­je­to que na ver­dade me escol­heu, no sen­ti­do de que eu não tive um insight “oh vou faz­er a história do Lope”. Eu achei muito legal usar um per­son­agem do sécu­lo 16, para falar dessas duas questões que é um jovem resol­ven­do tro­car o cer­to pelo son­ho, largan­do o exérci­to para virar um poeta, dra­matur­go, e acred­i­tar no tal­en­to dele, e a ini­ci­ação amorosa de um jovem adul­to. Essas duas pre­mis­sas me fiz­er­am ficar muito insti­ga­do em con­tar essa história e aí quan­do fui con­hecen­do o Lope, per­son­agem, fui fican­do cada vez mais fasci­na­do por ele.

    Acom­pan­he o twit­ter do Andrucha Wadding­ton.

    Leia tam­bém o comen­tário sobre o filme Lope, que fize­mos após a sessão do filme no festival.

  • FestivalVerãoRS 2011: Lope

    FestivalVerãoRS 2011: Lope

    Para ini­ciar o 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, foi escol­hi­do o lon­ga-metragem Lope (Lope, Espanha/Brasil, 2010) apre­sen­ta­do pelo próprio dire­tor Andrucha Wadding­ton.

    Lope de Vega é um jovem poeta que vive inten­sa­mente sua poe­sia, além de ser um grande amante. Para muitos, seu com­por­ta­men­to equiv­alia a de um louco, por não faz­er sen­ti­do em relação a seus val­ores cul­tur­ais. Além dis­so, fazia muitas coisas por impul­so e ado­ra­va uma boa briga. Essas car­ac­terís­ti­cas lem­bram um pouco a vida do pin­tor Car­avag­gio, que tam­bém com­par­til­ha­va dos mes­mos gos­tos e peri­gos, viven­do inten­sa­mente a vida artística.

    A con­strução de época em Lope real­mente ficou incrív­el, a atenção aos detal­h­es foi total, prin­ci­pal­mente para retratar a higiene da época. A escol­ha de cer­tos ângu­los mais inusi­ta­dos — prin­ci­pal­mente em relação ao enquadra­men­to tão comum das nov­e­las nacionais — pro­por­cio­nou muitas vezes a sen­sação de real­mente estar sendo um obser­vador pre­sente na história do pro­tag­o­nista. A tril­ha sono­ra, ape­sar de bem pre­sente, é muitas vezes ape­nas sutil­mente toca­da ao fun­do, inten­si­f­i­can­do mais ain­da o efeito cri­a­do pela imagem. As cenas de ação são um belo exem­p­lo onde não somos trans­bor­da­dos por um som frenéti­co para cri­ar o dinamis­mo dese­ja­do nes­sas situ­ações. Infe­liz­mente em algu­mas cenas mais dramáti­cas, o mes­mo pode­ria ter sido repeti­do cau­san­do o mes­mo efeito.

    Lope é uma história de amor e de rup­tura em relação as regras impostas pela sociedade. Ape­sar de se pas­sar no sécu­lo 16, seus ele­men­tos prin­ci­pais, o amor e a bus­ca pela liber­dade, estão longe de serem algo ultra­pas­sa­do. Na Espan­ha ele foi lança­do como um grande block­buster, pos­suin­do as já con­heci­das car­ac­terís­ti­cas — e defeitos — deste tipo de lon­ga. Mas, pela história ser de uma figu­ra não con­heci­da por aqui, além de ser todo fal­a­do em espan­hol, acabou sendo dis­tribuí­do mais pelo cir­cuito de arte, o que pode ser bem decep­cio­nante para quem vai a estes locais procu­ran­do assi­s­tir algo mais diferente.

    Infe­liz­mente, pela primeira vez no fes­ti­val, a sessão não foi fei­ta a céu aber­to no vão da Casa de Cul­tura Mário Quin­tana, o que não deixou que várias pes­soas fos­sem con­ferir o filme, que cau­sou uma bela reação dos espec­ta­dores  durante o longa.

    Leia tam­bém a entre­vista com Andrucha Wadding­ton, que fize­mos antes do iní­cio a sessão do filme no festival.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=k2jIj_zfwvQ