Category: Café Literário

  • Café Literário: Heloisa Seixas e João Paulo Cuenca

    Café Literário: Heloisa Seixas e João Paulo Cuenca

    O leitor que nun­ca fora seduzi­do por um exce­lente romance, que atire a primeira pedra! Mes­mo que haja con­tro­vér­sias entre os escritores sobre a ¨util­i­dade¨ da leitu­ra, uma coisa é fato: a lit­er­atu­ra causa algu­ma espé­cie de sen­ti­do no leitor, uma ato de sedução ocorre no momen­to ínti­mo da relação leitor e obra. Foi com esse enfoque que os escritores Heloisa Seixas e João Paulo Cuen­ca, debat­er­am A sedução do romance: onde está sua força? no Café Literário, medi­a­do por Luis Hen­rique Pel­lan­da, do dia 09 de out­ubro, na Bien­al do Livro Paraná 2010.

    Heloisa Seixas é car­i­o­ca, romancista, cro­nista, tradu­to­ra e um de seus con­jun­tos de con­tos mais con­heci­dos é Pente de Vênus. A escrito­ra já escreveu con­tos para vários suple­men­tos cul­tur­ais e é casa­da com o escritor Ruy Cas­tro. Já João Paulo Cuen­ca, que tam­bém é car­i­o­ca, faz parte do rol de escritores bem cota­dos e con­tem­porâ­neos. Em breve terá um roteiro adap­ta­do pelo dire­tor Luis Fer­nan­do Car­val­ho e lançou recen­te­mente O úni­co final feliz para uma história de amor é um aci­dente, que faz parte do pro­je­to Amores Expres­sos.

    Os seg­re­dos de um bom romance literário nen­hum escritor con­ta. Já, nós leitores, podemos enu­mer­ar mil­hares de adje­tivos que nos fiz­er­am entor­pecer por deter­mi­na­da obra e/ou per­son­agens. Pen­san­do nes­sa situ­ação de leitor que Luis Hen­rique Pel­lan­da ini­ciou o bate-papo com os dois escritores, afi­nal o que os seduz­iu como leitor para pos­te­ri­or neces­si­dade de escrita?

    Para Heloisa Seixas a respos­ta foi ime­di­a­ta, con­tan­do da sua aprox­i­mação, segun­do ela pre­coce, aos 12 anos com a obra O Pri­mo Basilio, de Eça de Queiroz. Logo em segui­da, rela­ta de for­ma oníri­ca a iden­ti­fi­cação que hou­vera durante a leitu­ra com uma das per­son­agens que acabou a acom­pan­han­do durante cer­to perío­do. Inclu­sive, Heloisa con­ta de out­ras situ­ações em que estes per­son­agens a man­tinham numa real­i­dade onde as ficções, fos­sem de livros ou na TV, man­tinham uma por­ta aber­ta e de diál­o­go que somente ela como leito­ra podia aces­sar. Mas, defin­i­ti­va­mente, afir­ma que se não fos­sem as histórias con­tadas, e a cap­tura de atenção destas, ela jamais seria escrito­ra ou sen­tiria a neces­si­dade de cri­ar suas próprias narrativas.

    João Paulo Cuen­ca diz que Fer­nan­do Sabi­no com Encon­tro Mar­ca­do mudou a sua relação com a lit­er­atu­ra. O escritor con­ta que é um trági­co exis­ten­cial­ista, sem­pre fora assim, e esse livro somente reforçou essa neces­si­dade de ques­tion­a­men­to sen­ti­do des­de da infân­cia. Inclu­sive, ele expli­ca o ato de ler deve ter esse efeito, deve ger­ar um anti-equi­líbrio, um desapren­diza­do. A leitu­ra, e a lit­er­atu­ra para Cuen­ca, não devem sal­var ninguém e sim deses­ta­bi­lizar o sis­tema e até mes­mo causar descon­for­to. Para ele o autor nun­ca deve ser refer­ên­cia para nada e sim um grande cau­sador de polêmi­cas e questionamentos.

    A questão da função literária retornou muitas vezes no diál­o­go dos escritores. Ambos desa­cred­i­tam que o autor ten­ha algu­ma função especí­fi­ca na con­strução de um romance, inclu­sive, Heloisa comen­ta que a obra é até mes­mo uma con­strução egoís­ta de quem escreve. Para ela o romance é um dos atos mais ínti­mos do autor, pois mexe com os sen­ti­men­tos deste, sendo uma relação de amor e ódio do íni­cio ao fim. A car­i­o­ca brin­ca dizen­do que o escritor que acred­i­ta que sua lit­er­atu­ra é útil para algo, vendeu a alma ao diabo.

    O debate se deu, como um todo, de for­ma muito aber­ta e bem ref­er­en­ci­a­da com as obras dos dois escritores e as obras que influ­en­cia­ram o cam­in­ho de ambos. A relação leitor/livro/autor é total­mente dinâmi­ca e só é fun­cional quan­do os três tra­bal­ham jun­tos. Out­ra metá­fo­ra inter­es­sante vin­da de João Paulo Cuen­ca é que o ato de escr­ev­er um romance é como estar num labrir­in­to escuro onde a luz, no fim, fica oscilan­do. É esse proces­so de descober­ta do próprio autor que aca­ba por refle­tir na descober­ta do leitor no livro, ambos bus­cam algo na obra. E enfim, o debate pro­va que não há uma úni­ca for­ma de sedução da lit­er­atu­ra para com o leitor, ela é um mecan­is­mo que faz girar os saberes o tem­po todo, fazen­do sur­gir essa sen­sação de exper­iên­cia a três: leitor/livro/autor.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

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  • Café Literário: Elvira Vigna e Luiz Ruffato

    Café Literário: Elvira Vigna e Luiz Ruffato

    A dis­cussão se a lit­er­atu­ra é de fato um obje­to trans­for­mador ou não, sendo sim­ples­mente pas­si­va per­ante o leitor, existe há sécu­los e é um dos assun­tos mais per­ti­nentes nos meios literários. Foi com esse ques­tion­a­men­to, den­tro do tópi­co Lit­er­atu­ra: um ato de resistên­cia?, que os escritores Luiz Ruffa­to e Elvi­ra Vigna con­ver­saram no Café Literário, medi­a­do por Luis Hen­rique Pel­lan­da, do dia 08 de out­ubro, na Bien­al do Livro Paraná 2010.

    Luiz Ruffa­to é ex-jor­nal­ista e escritor profis­sion­al, entre vários títu­los escreveu o pre­mi­a­do Eles eram muitos cav­a­l­os (leia a críti­ca deste livro) e o atu­al Estive em Lis­boa e lem­brei de você (leia a críti­ca deste livro), pelo pro­je­to Amores Expres­sos. Elvi­ra Vigna é escrito­ra, desen­hista e tem uma empre­sa de tradução. Tam­bém escreveu livros pre­mi­a­dos, gan­hou o Prêmio Jabu­ti com a obra infan­til Lã de Umbi­go, e lançou recen­te­mente a obra Nada a Diz­er.

    O debate deu ini­cio com os autores falan­do sobre as for­mas de resistên­cia que a lit­er­atu­ra se apre­sen­tou em suas vidas. Para Elvira Vigna, a sua vida sem­pre esteve à margem de algo, e foi a própria exper­iên­cia que a lev­ou até a leitu­ra. Esta se trans­for­mou em obje­to de resistên­cia a tudo que ela vivia, e fun­cio­nou como o mel­hor meio de se encon­trar. Já para Luiz Ruffa­to, o livro foi e é trans­for­mador. Ele con­ta que a lit­er­atu­ra ampliou os hor­i­zontes pequenos que ele enx­er­ga­va quan­do cri­ança em Cataguas­es e, inclu­sive, lança a ideia da Igre­ja do Livro Trans­for­mador, como uma for­ma de levar a sério o poder da literatura.

    Dan­do con­tinuidade a ideia de trans­for­mação que Ruffa­to propõe, Pel­lan­da o ques­tiona se é esse sen­ti­men­to de resistên­cia que o faz sem­pre usar a classe operária como plano de fun­do e per­son­agem de suas obras. O mineiro responde dizen­do que de cer­ta for­ma sim, essa escol­ha é uma opção políti­ca, uma neces­si­dade de dar voz a quem ele acred­i­ta­va estar dis­tante e que tam­bém se sente por­ta­dor de meios de ter essa visão mais real­ista. Ain­da, afir­ma que com esse tipo de lit­er­atu­ra, ele foi apre­sen­ta­do a um novo uni­ver­so de leitores, pes­soas de fora dos cír­cu­los literários, alcançan­do uma das neces­si­dades que ele con­sid­era bási­ca à lit­er­atu­ra: ser acessív­el a todos.

    Para a escrito­ra car­i­o­ca, Ruffa­to é um otimista em relação ao poder da obra literária. Ela expli­ca que só con­segue ver isso com pes­simis­mo. Elvi­ra acred­i­ta que por tra­bal­har com a asso­ci­ação palavra + imagem, o poder da obra aca­ba por se tornar efêmero e que sim­ples­mente ¨bal­ança¨, mas não muda nen­hu­ma estru­tu­ra. Aliás, a escrito­ra car­i­o­ca, ape­sar de bem humora­da, se apre­sen­ta bem resistente a todo o val­or apli­ca­do sobre a obra literária como meio de transformação.

    Mes­mo que Elvi­ra Vigna não veja a lit­er­atu­ra da mes­ma for­ma que Luiz Ruffa­to, ela mes­ma diz que se con­tradiz ao afir­mar que a Lit­er­atu­ra pode ser sim um meio de ataque, de resistên­cia a estru­tu­ra nor­mal impos­ta pela lóg­i­ca do romance tradi­cional. Ela usa seu livro Nada a Diz­er para exem­pli­ficar as for­mas que um autor pode pro­duzir a iden­ti­fi­cação do leitor com a obra sem se focar tan­to no enre­do, e sim, na estéti­ca da palavra.

    Ain­da, a escrito­ra vê a inter­net como a maior fer­ra­men­ta para se fomen­tar a cul­tura literária. Para ela a tela do com­puta­dor é o antôn­i­mo da TV, prin­ci­pal­mente por ser um meio ati­vo, onde é o usuário que cria os links e refer­ên­cias con­tra­stan­do com o segun­do apar­el­ho em que somos usuários total­mente pas­sivos e con­sum­i­dores . Há a neces­si­dade de leitu­ra e escri­ta na web, mes­mo os famosos, e muito crit­i­ca­dos, ¨140 car­ac­teres¨ é um dos meios mais cria­tivos de se pas­sar uma men­sagem. Se há esti­los de escri­ta com lim­i­tações muito rig­orosas, como o Haikai, qual o prob­le­ma em ter algo pare­ci­do na inter­net? O escritor mineiro con­cor­da com a cole­ga de mesa dizen­do que cada história tem uma maneira de ser escri­ta e nada mel­hor do que a cria­tivi­dade da web para isso.

    Muitos out­ros assun­tos acabaram entran­do na dis­cussão sobre a lit­er­atu­ra como meio de resistên­cia. O tópi­co é de fato vas­to e pode englo­bar questões que partem des­de da relação autor-leitor, até as políti­cas sobre o incen­ti­vo da leitu­ra no país. Luíz Ruffa­to e Elvi­ra Vigna afir­mam que o próprio escritor sofre crises de iden­ti­dade, prin­ci­pal­mente quan­do bus­ca faz­er uma lit­er­atu­ra mais util­i­tarista. Ambos ressaltam dois pon­tos prin­ci­pais: a neces­si­dade do autor se assumir no cam­po estéti­co da escri­ta e da neces­si­dade social de fomen­tar a cul­tura literária. A mesa com os dois escritores foi uma das mais agradáveis do Café Literário na Bien­al do Livro Paraná 2010 jus­ta­mente por traz­er o antag­o­nis­mo bem-humora­do dos dois escritores, crian­do um debate muito inter­es­sante sem ser ten­den­cioso ou agressivo.

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  • Café Literário: Ruy Castro e Guilherme Fiuza

    Café Literário: Ruy Castro e Guilherme Fiuza

    A Biografia é um dos esti­los literários que mais gera con­tro­vér­sia, prin­ci­pal­mente dev­i­do ao ques­tion­a­men­to sobre em que momen­to está se rela­tan­do fatos ou crian­do uma ficção sobre a vida de deter­mi­na­da per­son­al­i­dade. A par­tir desse tema per­ti­nente foi que Ruy Cas­tro e Guil­herme Fiuza (vis­ite tam­bém o seu blog) dis­cu­ti­ram o tema Biografia: em bus­ca de uma grande história, dia 09 de out­ubro, no Café Literário na edição de 2010 da Bien­al do Livro Paraná.

    Ruy Cas­tro é jor­nal­ista e con­sid­er­a­do um dos maiores biografis­tas brasileiros, ten­do escrito sobre a vida de grandes per­son­al­i­dades como Nel­son Rodrigues e o jogador Gar­rin­cha, além de ter tam­bém obras com tex­tos reunidos. Já Guil­herme Fiuza é jor­nal­ista e bas­tante con­heci­do por atu­ar em col­u­nas sobre políti­ca em jor­nais, revis­tas e por­tais na inter­net. Ficou con­heci­do pelo livro Meu Nome Não é John­ny, sobre a história do traf­i­cante João Guil­herme Estrel­la, que ficou em foco com a adap­tação cin­e­matográ­fi­ca homôn­i­na por Mau­ro Lima.

    A dis­cussão teve como base na aceitação da biografia como Lit­er­atu­ra nar­ra­da em fatos reais, sem nec­es­sari­a­mente ser uma ficção. Ambos os autores reforçaram que o bom bió­grafo é antes de tudo um óti­mo jor­nal­ista e/ou repórter, o definin­do como um facil­i­ta­dor de infor­mações. Afi­nal, um bió­grafo que queira se focar no rela­to da vida de uma per­son­al­i­dade de for­ma con­cisa e atraente, deve estar dis­pos­to a ser um exce­lente pesquisador e saber aproveitar cada infor­mação rece­bi­da em favor do texto.

    Os dois bió­grafos per­me­ar­am o diál­o­go rela­tan­do suas próprias exper­iên­cias na bus­ca de mate­ri­ais e doc­u­men­tos e falaram sobre as for­mas usadas para darem vida a todas as infor­mações. Ruy Cas­tro reforça que cada doc­u­men­to rece­bido por famil­iares e ami­gos é dado como ouro para a pro­dução. Aliás, a família é con­sid­er­a­da muito impor­tante por ambos, mas estes tam­bém podem ger­ar prob­le­mas. Ruy con­ta que uma ver­dadeira biografia não é uma ¨biografia autor­iza­da¨, pois a par­tir do momen­to que o bió­grafo depende de autor­iza­ções, o tex­to vai se tor­nan­do ape­nas o que a família quer con­tar e não o que inter­es­sa aos leitores. Por­tan­to, o papel do bió­grafo é o de sele­cionar fatos impor­tantes e não deixar que eles depen­dam exclu­si­va­mente de terceiros.

    Ape­sar de Ruy Cas­tro e Guil­herme Fiuza serem bió­grafos, con­tem­porâ­neos entre si, dis­cor­dam em relação ao tipo de biografia a escr­ev­er. Ruy acred­i­ta que para uma biografia ser de fato inter­es­sante e per­ti­nente, a per­son­al­i­dade relata­da deve estar mor­ta há algum tem­po, pois acred­i­ta que o ciclo dessa pes­soa deve estar fecha­do. Já Fiuza não acred­i­ta que isso deva ser lev­a­do tão a sério, sendo que o mes­mo escreveu a biografia do humorista Bus­sun­da logo que este fale­ceu e tam­bém a de João Guil­herme Estrel­la, que ain­da está vivo.

    O debate foi inten­so mas infe­liz­mente, os dois autores acabaram se focan­do muito em suas exper­iên­cias com cada obra já escri­ta, o que deixou o debate menos con­sis­tente em relação ao tema ini­cial. Mas ao fim ficou claro que o bió­grafo não depende somente de boas fontes, mas tam­bém de uma exce­lente bagagem cul­tur­al que o per­mi­ta enten­der e decidir que tipo de infor­mações são rel­e­vantes aos leitores. A biografia é um esti­lo literário sim, que trans­for­ma a real­i­dade numa ficção por tam­bém ser rec­hea­da de histórias e per­son­agens que con­stroem uma narrativa.

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  • Café Literário: João Gabriel de Lima e Paulo Camargo

    Café Literário: João Gabriel de Lima e Paulo Camargo

    Há muito se dis­cute sobre como faz­er um Jor­nal­is­mo Cul­tur­al sério no Brasil. E pen­san­do em todas essas difi­cul­dades e na real­i­dade cul­tur­al do país foi que João Gabriel de Lima e Paulo Camar­go dis­cu­ti­ram o tema Lit­er­atu­ra e Leitor na Impren­sa, no dia 10 de out­ubro, no Café Literário da Bien­al do Livro Paraná 2010.

    João Gabriel de Lima é jor­nal­ista edi­tor-chefe da redação da Revista Bra­vo! e, Paulo Camar­go é edi­tor do Cader­no G do jor­nal paranaense Gaze­ta do Povo. Ambos os palestrantes tem uma vas­ta exper­iên­cia na área de mídias cul­tur­ais e cal­caram a dis­cussão com a mescla de exper­iên­cias que pos­suem no mer­ca­do edi­to­r­i­al e no setor nacional. Tam­bém apon­taram as pos­síveis alter­na­ti­vas de fomen­tar o atu­al cenário do Jor­nal­is­mo Cultural.

    O paulista edi­tor da Bra­vo! ini­ciou o debate lem­bran­do da for­ma em que o Jor­nal­is­mo Cul­tur­al é trata­do em out­ros país­es, como os Esta­dos Unidos e a Inglater­ra. Os suple­men­tos cul­tur­ais dess­es país­es focam as matérias no leitor, com uma lin­guagem mais colo­quial sem muitos ter­mos téc­ni­cos. João lem­bra tam­bém que a impren­sa cul­tur­al ain­da lida com a her­ança da tradição beletrista, como se o leitor fos­se obri­ga­do a ser um ¨ini­ci­a­do¨ e reduzi­do a um pequeno grupo de intelectuais.

    Já o paranaense edi­tor do Cader­no G reforça a fala de João, ressaltan­do que a cada ano que pas­sa a lit­er­atu­ra de entreten­i­men­to vai se tor­nan­do mais pre­sente. Tam­bém existe sim uma neces­si­dade de se tra­bal­har com o mar­ket­ing que os best-sell­ers trazem, mas que isso tam­bém afas­ta o leitor do restante pro­duzi­do. Para Paulo Camar­go o livro deve se tornar triv­ial de tão cotid­i­ano, lem­bran­do inclu­sive que o hábito de leitu­ra é de pos­sív­el apli­cação no nos­so país, não pre­cisan­do ir muito longe para se obter um exem­p­lo, bas­ta obser­var­mos as políti­cas apli­cadas para ela na Argenti­na, onde o livro é peça fun­da­men­tal de consumo.

    Na dis­cussão surgiu a pau­ta sobre a pos­si­bil­i­dade de o jor­nal­is­mo cul­tur­al ser um bom medi­ador para a for­mação de leitores e quan­to a isso, não hou­ve dúvi­das. Com o enorme número de infor­mações cir­cu­lan­do é quase impos­sív­el que o leitor não se influ­en­cie por meios mais especí­fi­cos, como muitas revis­tas, suple­men­tos e sites, que acabam se tor­nan­do enorme refer­ên­cia em pesquisas. Por­tan­to, surge tam­bém a neces­si­dade da impren­sa repen­sar quais ati­tudes tomar para for­mar e chamar a atenção dess­es leitores.

    Os palestrantes tam­bém dis­cu­ti­ram sobre o que o leitor espera quan­do abre um suple­men­to cul­tur­al, revista e site sobre cul­tura. Hoje, o profis­sion­al que tra­bal­ha com jor­nal­is­mo cul­tur­al deve estar aten­to as novas mídias, sem­pre fazen­do a manutenção da sua bagagem cul­tur­al e, ain­da, estar apto para saber difer­en­ciar qual mate­r­i­al vai para a inter­net e qual será impres­so. Pois ambos os meios são com­ple­mentares e não exclu­dentes entre si ‚afir­ma João Gabriel de Lima. O edi­tor Paulo Camar­go tam­bém acred­i­ta que o leitor quer sim ler mais, ter aces­so a entre­vis­tas e matérias mais focadas em assun­tos especí­fi­cos, e aci­ma de tudo, sente neces­si­dade de ser surpreendido.

    Foi destaque tam­bém a afir­mação de João Gabriel de Lima dizen­do que o jor­nal­ista dev­e­ria se sen­tir cul­pa­do por não dis­sem­i­nar mais a cul­tura e que há uma infinidade de opções para que este tra­bal­he em favor dela, a tor­nan­do mais acessív­el a todos. Assim como da importân­cia da pro­lif­er­ação de feiras que vem surgin­do, para que o livro se torne mais pre­sente na vida do leitor.

    O Café Literário: Lit­er­atu­ra e Leitor na Impren­sa foi de extrema relevân­cia para a reflexão sobre o espaço dado à cul­tura na impren­sa se focan­do na ideia de que é ela a for­mado­ra de leitores e espec­ta­dores. Assim como, tam­bém trouxe a reflexão sobre o profis­sion­al de Jor­nal­is­mo Cul­tur­al, com a per­gun­ta: afi­nal o que é real­mente feito para que a cul­tura seja pre­sentes na vida de todos, em um país como o Brasil?

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  • Café Literário: Marçal Aquino e Laerte

    Café Literário: Marçal Aquino e Laerte

    As relações entre Lit­er­atu­ra, Cin­e­ma, TV e Quadrin­hos, hoje, giram em torno da questão da adap­tação. É fre­quente a dis­cussão sobre as for­mas que os meios audio­vi­suais se apro­pri­am da lin­guagem literária. Foi per­me­a­do por essa polémi­ca que o quadrin­ista Laerte e o roteirista Marçal Aquino fiz­er­am um debate medi­a­do por Mar­i­ana Sanchez, dia 06 de out­ubro no Café Literário da Bien­al do Livro Paraná 2010.

    Laerte é car­tunista e um dos maiores quadrin­istas do Brasil, pub­li­ca tiras nos prin­ci­pais jor­nais do país e atual­mente tam­bém no seu site Man­u­al do Mino­tau­ro. Marçal Aquino é roteirista, escritor e jor­nal­ista e assi­na roteiros de filmes como Os Mata­dores e O Cheiro do Ralo. Ambos os con­vi­da­dos tem uma vas­ta exper­iên­cia da imagem como lin­guagem, seja ela no for­ma­to de HQs ou em roteiros para o audio­vi­su­al. Laerte defende mais a Tele­visão e as pro­duções em seri­ados, falan­do muitas vezes que a qual­i­dade da TV não é de todo ruim, já Marçal Aquino é um defen­sor do Cin­e­ma como lin­guagem imagéti­ca e dialo­ga muito sobre a importân­cia da Lit­er­atu­ra para um roteirista.

    A exper­iên­cia de ambos é que pon­tua as duas opiniões durante a dis­cussão. Um dos pon­tos altos do debate acon­te­ceu quan­do o assun­to se situ­ou na adap­tação de livros e quadrin­hos para a tela dos cin­e­mas. Marçal diz que ¨Cin­e­ma é que nem suru­ba, pre­cisa de mais gente para faz­er¨ se con­trapon­do com o ato solitário da escri­ta. Ain­da, diz que essa pre­mis­sa de que o livro é sem­pre mel­hor que o filme é ver­dadeira levan­do em con­ta que as duas lin­gua­gens são com­ple­ta­mente difer­entes e que não há uma neces­si­dade de fidel­i­dade entre os dois, afi­nal ¨tex­to não tem dono quan­do vai ser adap­ta­do para out­ro meio”.

    Para Laerte, não há certeza que o livro seja mel­hor, mas que fre­quente­mente é. Ele cita o filme Uma História sem Fim como refer­ên­cia de adap­tação porque o roteirista teve a sabedo­ria de se lim­i­tar pegan­do ape­nas uma parte da história para que fos­se algo viáv­el. O quadrin­ista comen­ta sobre a adap­tação do seu tra­bal­ho Piratas do Tiête, afir­man­do que Otto Guer­ra é um herói da ani­mação nacional e que o filme não será mais basea­do ness­es per­son­agens, mas sim em tiras feitas nos últi­mos anos, que são mais gerais e sem personagens.

    Laerte lev­an­ta muitas car­ac­terís­ti­cas pio­neiras das HQs que servi­ram de inspi­ração para os esti­los de tomadas no Cin­e­ma. Ambos os palestrantes con­seguiram o tem­po todo com­pro­var com vários ele­men­tos esse diál­o­go que com­põe o tripé Cinema/HQs/Literatura. Marçal tam­bém afir­ma que hoje é quase impos­sív­el ter um roteiro total­mente orig­i­nal, sem refer­ên­cias na lit­er­atu­ra, afi­nal hoje as artes são polifôni­cas e dialogam entre si.

    Out­ro pon­to da dis­cussão foi a questão do papel do artista e da sig­nifi­cação social da palavra Arte. Laerte afir­ma ter difi­cul­dades com ess­es ter­mos e que para ele isso não tem tan­ta importân­cia porque para faz­er quadrin­hos é pre­ciso ape­nas de papel, cane­ta e com­puta­dor, para pesquis­ar ima­gens no google. Marçal tam­bém se mostra pouco inter­es­sa­do em rotu­lações artís­ti­cas, afir­man­do que faz o que real­mente gos­ta e que vê de for­ma favoráv­el ele não viv­er de lit­er­atu­ra, se per­mitin­do escr­ev­er só quan­do tem von­tade ou uma coisa bacana para dizer.

    Marçal final­iza seu dis­cur­so com um grande elo­gio á obra de Laerte, afir­man­do a todos pre­sentes que eles estavam pres­en­cian­do um momen­to muito impor­tante com um grande artista. Além dis­so, chama a atenção para o fato de que os seus quadrin­hos são um dos poucos que podem ser con­ta­dos para out­ra pes­soa, sem pre­cis­ar do apoio visu­al feito pelo desenho.

    Foram muitos os assun­tos per­ti­nentes nesse Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010, os três tópi­cos Cinema/HQs/Literatura são muito amp­los, prin­ci­pal­mente quan­do se colo­ca dois artis­tas ampla­mente lig­a­dos nes­sas áreas para debater. O que ficou níti­do é que hoje, em âmbito con­tem­porâ­neo, é prati­ca­mente impos­sív­el uma arte se desven­cil­har de out­ra, por­tan­to há sem­pre a neces­si­dade de dis­cussão de diál­o­go entre elas.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

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  • Café Literário: Fabrício Carpinejar e Alberto Martins

    Café Literário: Fabrício Carpinejar e Alberto Martins

    Poe­sia é núcleo, é matriz. Quan­do eu faço poe­sia, fico cha­pa­do.Carpine­jar

    Escr­ev­er é poe­sia, é dar cor­da para a inqui­etação.Mar­tins

    Um bate-papo sobre poe­sia talvez não seja um even­to que chame muito a atenção das pes­soas, prin­ci­pal­mente porque a dis­cussão em torno dela seja ain­da muito acadêmi­ca e reple­ta de refer­ên­cias canônes da lit­er­atu­ra, geran­do uma con­ver­sa monó­tona, com lin­guagem muito especí­fi­ca, e assun­tos muito dis­tantes do cotid­i­ano. Não foi o caso do Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010, com Fab­rí­cio Carpine­jar e Alber­to Mar­tins, medi­a­do por Luiz Rebin­s­ki Junior, em cima do tema “Poe­sia, quem é você?”.

    De uma for­ma bem descon­traí­da e acalo­ra­da, os dois poet­as lit­eral­mente dis­cu­ti­am as suas opiniões sobre o que é ser poeta e a poe­sia na atu­al­i­dade. Uma dis­cussão muito per­ti­nente no cam­po literário hoje, já que o faz­er poéti­co vem se meta­mor­fos­e­an­do des­de do Mod­ernismo e os Con­cretis­tas a par­tir da déca­da de 70.

    A iden­ti­dade do poeta foi o pon­to cen­tral em que a dis­cussão girou. Para Carpine­jar, os poet­as vivem uma crise de iden­ti­dade e têm muito prob­le­ma em se assumir, não só per­ante as edi­toras e o mer­ca­do, mas na sua própria vida pes­soal tam­bém. Diz que se essa difi­cul­dade fos­se ultra­pas­sa­da, isto iria ajudá-los na cri­ação do seu próprio tra­bal­ho, tor­nan­do-se mais autên­ti­cos. Já Mar­tins acred­i­ta que não é o escritor que tem o dire­ito de se inti­t­u­lar poeta, até que porque ele não con­sid­era isso como um ofí­cio e sim um momen­to que acon­tece durante o tra­bal­ho, mas cabe ao leitor da obra decidir isto. Este momen­to da dis­cussão deixou claro a dual­i­dade (necessária) das pon­tos de vista dos dois poet­as, Mar­tins optan­do pelas visões do ¨out­ro¨ que o escritor vive e Carpine­jar visan­do o cotid­i­ano na auto­ria da poe­sia, insistin­do em um autor mais próx­i­mo de quem o lê. Este debate foi o que mais se desta­cou, prin­ci­pal­mente pela indig­nação de Carpine­jar com o fato que Mar­tins não con­seguia respon­der a per­gun­ta “Tu é poeta ou não é?” de maneira binária (sim ou não).

    A difer­ença de ger­ações entre os dois é muito clara, prin­ci­pal­mente pela difer­ença das visões sobre as novas tec­nolo­gias. Carpine­jar pub­li­ca tam­bém seus poe­mas em blog e pos­sui uma visão total­mente adep­ta ao mun­do vir­tu­al. Como seria se Drum­mond usasse o twit­ter e fos­se tão expos­to como são as pes­soas hoje? Porque é que um poeta pre­cisa ter um livro pub­li­ca­do para ser con­sid­er­a­do poeta? Não pode ape­nas fazê-lo no mun­do vir­tu­al? Por que uma bib­liote­ca pre­cisa ser silen­ciosa, sem músi­ca e sem poder levar comi­da? Ess­es foram alguns ques­tion­a­men­tos lev­an­ta­dos por ele. Alías, a sua visão de bib­liote­ca mod­er­na é bem difer­ente do que ouvi­mos nor­mal­mente falar por aí. Mar­tins tem uma visão clara­mente mais lit­er­a­ta e volta­da ao ato da leitu­ra como exper­iên­cia e não somente práti­ca social. Ele ques­tiona a efe­meri­dade dos poet­as vir­tu­ais e ao se con­tra­por às opiniões do gaú­cho, diz que a poe­sia não pode ser gen­er­al­iza­da, pois é um ato singular.

    O bate-papo se desen­volveu de uma for­ma exce­lente, pois mes­mo que os dois autores sejam con­tem­porâ­neos entre si, o con­traste de opiniões é necessário para que uma lacu­na per­maneça aber­ta quan­to a car­ac­ter­i­za­ção do que é poe­sia, hoje. A dis­cussão não girou em torno somente desse assun­to, pois quan­do se tra­ta de lit­er­atu­ra out­ros dois com­po­nentes sem­pre andam jun­tos: leitor e autor, e nesse que­si­to ambos abrem novas dis­cussões muito pertinentes.

    No final do bate-papo, Fab­rí­cio Carpine­jar e Alber­to Mar­tins rece­ber­am várias per­gun­tas vin­das dos par­tic­i­pantes, que levaram á des­do­bra­men­tos bem inter­es­santes, tor­nan­do o encon­tro bem dinâmi­co, descon­traí­do e infor­mal, sat­is­fazen­do a pro­pos­ta prin­ci­pal do Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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