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Livro: Estórias Abensonhadas — Mia Couto
É praticamente indispensável a apresentação da figura do escritor Moçambicano que comumente é colocado no hall dos grandes escritores fantásticos e inventivos. Assim como Gabriel García Marquez, Guimarães Rosa e Manoel de Barros, Mia Couto recria a realidade ressaltando situações com tons de magia. Nada é banal na vida dos personagens que compõem as suas narrativas e essas figuras, com seu próprio português e modo de se expressar, circulam pelo texto direcionando o leitor.
Estórias Abensonhadas é um conjunto de contos e como sinalizado na introdução, foram escritos num período pós-guerras — em 1994, ano de lançamento do livro, fazia apenas dois anos que a Guerra Civil de Moçambique somada a Guerra da Indepêndencia que se arrastou desde os anos 60, haviam terminado — e o livro é formado por contos onde figuras como o sangue e a guerra são elementos de histórias de recomeço e iluminações, como se os personagens estivessem aprendendo a ver a luz novamente e assim reconstruindo suas rotinas.
Mia Couto escreve com a linguagem dos sonhos, opera a palavra como um trabalhador opera o seu melhor instrumento. E vai além, recria seu uso e funções provando que a língua Portuguesa se transmuta conforme a sua geografia, é viva. E em Estórias Abensonhadas essa língua ganha ares de esperança num terreno onde tudo precisa de reconstrução e mesmo que a morte esteja presente em boa parte dos contos, não há como esconder a esperança de ir adiante.
Nas Águas do Tempo, o conto que abre o livro, o leitor é apresentados à magia do relato e a importância da figura do avô, um símbolo do contador de histórias. O avô permite que o neto veja além de um lado do rio em que ele o leva todos dias, pois os fantasmas da guerra ainda circulam pela região e deve-se respeitá-los. Como se vê em vários outros contos, a presença maciça da mitologia da região representada por figuras e palavras próprias dá ordem do tom de oralidade de Mia Couto.
Em outros textos como em O Cego Estrelinho é a força da palavra que faz recriar imagens nunca vistas. Com uma grande sensibilidade os personagens tem nomes muito sugestivos como é o caso de Estrelinho que, orientado pelas mãos de Gigito é apresentado por um mundo fantástico e pulsante e quando este é mandado à guerra — matadora de esperanças e cores — o cego passa a ser orientado pela irmã, a Infelizmina que não vê nada demais no mundo ali fora.
Boa parte dos personagens de Estórias Abensonhadas tem seus pares que contrabalançam a falta de esperança, como a capa da edição brasileira sugere, duas cadeiras frente a frente vendo o sol nascer. Duas pessoas são capazes de iniciar uma guerra como sinaliza A Guerra dos Palhaços onde dois palhaços brincantes, numa acalorada discussão, começam uma guerra entre os espectadores que tentam interpretar a performance. Um texto curto mas imenso de alegorias sobre a estupidez de um conflito.
Com romances premiados e igualmente inventivos, Mia Couto demonstra maior versatilidade ainda em contos ou crônicas porque são relatos curtos e boa parte deles publicado no jornal português Público. O fato de estarem presentes em jornal, além de dar uma grande visibilidade, dialoga muito intimamente com o leitor, mesmo aquele desacostumado com o seu tom fantástico. Creio que um dos fatos cruciais do escritor conseguir criar essa relação de intimidade é a sua profissão de biólogo que permite que ele seja inventivo unindo o ser humano e sua relação com o espaço, ambiente e o lugar.
Estórias Abensonhadas ultrapassa qualquer relação simplória de leitor e obra, é como se olhássemos através de uma janela e conhecessemos esses personagens como nossos vizinhos, amigos e parentes. São histórias fantásticas escritas com a liberdade de um contador de histórias, pois além de Mia não se prender à conveções linguísticas, ele dialoga de muito perto com as nossas próprias raízes, é a linguagem universal dos sonhos.
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