Desde adolescente frequento bibliotecas públicas. Quando criança, não. Nas escolas em que estudei, em Paranaguá, não havia bibliotecas. Uma vez, uma professora inventou uma biblioteca ambulante. Cada aluno deveria levar um livro. Não funcionou. Ninguém levou livros. Quando mudei para Curitiba, passava um tempão passeando pelos corredores da Biblioteca Pública do Paraná. Minhas estantes preferidas eram as de literatura brasileira e poesia. Também passei quase cem anos de solidão e areia diante da literatura em língua espanhola, quando descobri Gabriel Garcia Márquez e Jorge Luis Borges.
Uma biblioteca que sempre me fascinou foi a da Universidade Federal do Paraná, quando ainda não era aluna. A diversidade de títulos, e em línguas diferentes impressionava. Lembro do encanto por um livro de Luís da Câmara Cascudo sobre lendas brasileiras. Quando me tornei aluna, pude emprestar um livro de poemas de Manuel Bandeira traduzidos para o francês. Mais tarde, na pós-graduação, li livros sobre literatura japonesa.
Outra biblioteca que gostei de conhecer foi a do Instituto Goethe. Frequentei pouco, mas quando a conheci, era uma novidade emprestar, além de livros, CDs e filmes. Depois, em São Paulo, visitei bibliotecas que também tinham seções multimídia. E nas quais passava horas lendo revistas sobre todo o tipo de assunto.
Nesse ano conheci a biblioteca do Instituto de Estadual de Educação Erasmo Pilotto, escola na qual Helena Kolody foi professora. Uma amiga, a poeta Jane Sprenger Bodnar, trabalha lá. O acervo, embora seja uma biblioteca escolar, é diversificado. Além de literatura e educação, há livros sobre cultura popular. Pena que precise de reformas e não receba atenção do governo do estado.
Apesar de ter sido reestruturada, especialmente na área de comunicação visual, hoje tenho medo de voltar à Biblioteca Pública do Paraná. Já li quase todos os livros da seção de Literatura que me interessavam. Há poucos títulos novos. Confesso que ler os autores da literatura contemporânea, celebrados em eventos promovidos pela própria BPP me atemoriza.
Não consigo mais exercer o ritual juvenil, de aventurar entre as estantes para descobrir um livro estranho. Falando em estranheza, tempos atrás havia leitores bizarros entre os frequentadores da BPP. Escritores, artistas, designers, jornalistas? Não: sem-teto ou desempregados, enfurnados nas salas de leitura. A neoliberalização do lugar expulsou os bizarros, que devem ter voltado para o seu lugar: as ruas.
Certa vez, num programa de tevê, vi a biblioteca da professora de literatura Luzilá Gonçalves, que mora no Recife. Os livros estavam em desordem e as estantes roídas por cupins. Desordem igual às das bibliotecas do poeta Paulo Leminski e do ilustrador Claudio Seto. Nem tudo está conforme a nova ordem e os cupins roem as prateleiras. Mais que cupins, o que importa é alimentar os ratos de biblioteca. Em tempo de bienais e grandes eventos de literatura, bibliotecas cheias de poeira são um refúgio contra os que cobrem a história com verniz.
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