Tag: crítica

  • Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (1993), de Lasse Hallström | Crítica

    Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (1993), de Lasse Hallström | Crítica

    Tudo ao meu redor são ros­tos famil­iares, lugares des­gas­ta­dos, faces des­gas­tadas. (…) Os son­hos nos quais eu estou mor­ren­do são os mel­hores que já tive”
    (Mad World, com­posição do Tears for Fears na voz de Gary Jules).

    gilbert-grape-lasse-hallstrom-critica-posterCer­tos lugares são dev­as­ta­dos por catástro­fes nat­u­rais ou por exter­mínio béli­co. Mas existe um tipo de des­o­lação que chega sem alarde e se insta­la. Algu­mas vezes, ela nasce jun­to com o lugar. Há os que cor­rem deses­per­ada­mente para fugir. E há os que ficam. O filme Gilbert Grape – Apren­diz de Son­hador (orig­i­nal What’s Eat­ing Gilbert Grape?), do dire­tor sue­co Lasse Hall­ström, con­ta a história de um jovem que per­maneceu no mes­mo lugar, enter­ra­do pela roti­na de uma cidade onde o reló­gio parou.

    Gilbert (John­ny Depp) vive em Endo­ra, peque­na cidade engol­i­da pelo tem­po. Depois do suicí­dio do pai, ele assume a respon­s­abil­i­dade pelo sus­ten­to da família. E não ape­nas isso: Gilbert vive inte­gral­mente para cuidar de seu irmão Arnie (Leonar­do DiCaprio), um ado­les­cente com prob­le­mas men­tais, e de sua mãe (Dar­lene Cates), que sofre de obesi­dade mór­bi­da. Há ain­da duas irmãs, Amy (Lau­ra Har­ring­ton) e Ellen (Mary Kate Schell­hardt), criat­uras atra­pal­hadas que ten­tam aux­il­iar Gilbert, mas acabam cobran­do mais do que ajudando.

    A família de Gilbert Grape
    A família de Gilbert Grape

    Tra­bal­han­do como faz-tudo em uma mer­cearia, Gilbert leva Arnie a todos os lugares. O grande even­to do ano para os dois irmãos é a pas­sagem de trail­ers pela estra­da que cruza a cidade. Em uma dessas pas­sagens, um dos veícu­los que­bra e pre­cisa per­manecer na minús­cu­la Endo­ra por algum tem­po. Esse sim­ples fato for­tu­ito é o pon­to de trans­for­mação na cabeça de Gilbert, já que ele con­hece Becky, garo­ta via­ja­da e cos­mopoli­ta, que acom­pan­ha a avó em excursões pelo país. Vivi­da pela atriz Juli­ette Lewis, Becky é o con­trapon­to de Gilbert: enquan­to o jovem tem olhos tristes, pesa­dos pelas obri­gações que nun­ca ces­sam e pre­cisa con­viv­er com son­hos acor­renta­dos, a jovem é viva, inten­sa e efu­si­va. No lugar dos arrou­bos escan­dalosos, Becky ofer­ece out­ro tipo de carpe diem: ela apre­sen­ta para Gilbert a imen­sid­ão de um mun­do que está ali, expres­so no pôr do sol ou na pos­si­bil­i­dade de obser­var a poe­sia no invisív­el. Esse é um dos pon­tos inter­es­santes do filme.

    Leonardo DiCaprio, Johnny Depp e Juliette Lewis
    Leonar­do DiCaprio, John­ny Depp e Juli­ette Lewis

    O enre­do sem pirotec­nia começa a gan­har o coração do espec­ta­dor com a atu­ação sen­sa­cional de Leonar­do DiCaprio. Os gri­tos e brin­cadeiras de Arnie arran­cam emoções do peito e des­per­tam o olhar para a existên­cia inte­ri­or de pes­soas que fogem dos padrões con­sid­er­a­dos nor­mais. As lim­i­tações men­tais de Arnie não o impe­dem de sor­rir, ser feliz e procu­rar o car­in­ho incondi­cional do irmão. Pelo con­trário: o espec­ta­dor obser­va um ado­les­cente que con­segue viv­er em Endo­ra sem que a monot­o­nia da cidade o empurre para den­tro do poço. Nesse caso, a ignorân­cia do mun­do fun­ciona como uma benção. Indi­ca­do ao Oscar em 1994 na cat­e­go­ria de mel­hor ator coad­ju­vante, DiCaprio merece cada menção hon­rosa pela atu­ação. Ele alcança os gestos, olhares e padrões de com­por­ta­men­to de uma pes­soa com defi­ciên­cia men­tal. Na época com dezen­ove anos, o ator deixou muito vet­er­a­no de queixo caído.

    Johnny Depp como Gilbert
    John­ny Depp como Gilbert

    Na pele de Gilbert, Depp mostrou ser o homem ide­al para viv­er o papel: os olhos melancóli­cos e pesa­dos de respon­s­abil­i­dade; o jeito afáv­el e ded­i­ca­do com o qual trata­va seu irmão e o dese­jo inces­sante de sair daque­le lugar. Todas essas emoções gan­haram con­tornos reais no ros­to de John­ny Depp, que ain­da não tin­ha sido pos­suí­do pelos tre­jeitos do famiger­a­do capitão Jack Sparow, per­son­agem que inter­pre­taria uma déca­da depois na série inter­mináv­el Piratas do Caribe. Mais boni­to do que nun­ca, Depp traz na expressão o deses­pero silen­cioso de Gilbert; sua inocên­cia mis­tu­ra­da ao comod­is­mo e o medo de aban­donar a sua benção e calvário: a própria família. Em Endo­ra, a família Grape é a per­son­ifi­cação da imo­bil­i­dade da cidade: a mãe obe­sa que não sai de casa há sete anos; a própria residên­cia da família, com­ple­ta­mente imutáv­el des­de que foi con­struí­da pelo pai; a rejeição de Gilbert em con­hecer o super­me­r­ca­do novo que abriu na cidade, ameaçan­do a sobre­vivên­cia do mer­cad­in­ho em que tra­bal­ha, e a roti­na de vida que leva: de casa para o tra­bal­ho e vice-ver­sa. Sua úni­ca dis­tração é o assé­dio con­stante da mul­her do cor­re­tor Carv­er, a dona de casa Bet­ty. Em uma das silen­ciosas crises exis­ten­ci­ais de Gilbert, Bet­ty rev­ela qual é o moti­vo de quer­er man­ter um caso com ele, aumen­tan­do con­sid­er­av­el­mente o caos inter­no do jovem Grape.

    Leonardo DiCaprio como o jovem Arnie
    Leonar­do DiCaprio como o jovem Arnie

     

    O lon­ga metragem sur­preende pela emoção sin­cera, dico­to­mias e dile­mas que podem estar per­to de nós. Muitas vezes, seguimos mecani­ca­mente os dias porque esta­mos pre­sos na con­fortáv­el bol­ha da vida ou em obri­gações pétreas que trans­for­mam nos­sas existên­cias em bura­cos vazios sem dire­ito à esper­ança. A feli­ci­dade de Arnie, seu modo ale­gre de viv­er, a “benção da ignorân­cia” e a capaci­dade de recomeçar os dias sem remor­so são um pon­to alto na mudança de per­spec­ti­va. O baixo orça­men­to de Gilbert Grape – Apren­diz de Son­hador provou que exis­tem emoções ocul­tas na epi­derme humana que aguardam a opor­tu­nidade de vir à tona, e inde­pen­dem de altos inves­ti­men­tos. O cin­e­ma abre espaço para essa pul­sação se manifestar.

  • Aeon Spoke — Above the Buried Cry (2004) | Crítica

    Aeon Spoke — Above the Buried Cry (2004) | Crítica

    aeon-spoke-above-the-buried-cry-2004-critica-1Boas ener­gias, luz, calor humano e esper­ança inte­gram o com­pos­to do álbum Above the Buried Cry, da ban­da de alternative/atmospheric rock Aeon Spoke. Falan­do assim até pode pare­cer clichê, mas o tra­bal­ho cap­i­tanea­do pelo tal­en­tosís­si­mo gui­tar­rista, com­pos­i­tor e vocal­ista Paul Masvi­dal, ao lado do seu fiel com­pan­heiro, o bater­ista Sean Rein­ert, não pode­ria ser diferente.

    Os dois músi­cos em questão foram mem­bros da ban­da Death durante a exe­cução e turnê do álbum Human (1991), con­sid­er­a­do um divi­sor de águas na car­reira de uma das maiores ban­das de Heavy Met­al que já exi­s­ti­ram em todos os tem­pos. Con­ta-se que Chuck Schuldin­er, líder do Death, ten­tou dis­suadir Paul Masvi­dal a não deixar o grupo, pois considerava‑o um gui­tar­rista excep­cional. Mas o fato acon­te­ceu, levan­do Masvi­dal e Rein­ert a retomarem suas ativi­dades com o Cyn­ic, tra­bal­ho perene dos músicos.

    Para­le­lo ao Cyn­ic, o ano de 2000 fez emer­gir a primeira demo do Aeon Spoke, com­pos­ta por seis faixas, cul­mi­nan­do depois em um EP lança­do em 2002 e radio ses­sions em 2003. No ano seguinte, o primeiro álbum da ban­da vem à tona com sete faixas (o mate­r­i­al foi regrava­do em 2007). Above the Buried Cry intro­duz men­sagens pos­i­ti­vas e reflexões acer­ca do com­por­ta­men­to humano, o que vem a cal­har com as crenças do por­to-riqueno Paul Masvidal.

    Sean Reinert e Paul Masvidal
    Sean Rein­ert e Paul Masvidal

    Nasci­do Pablo Alber­to Masvi­dal, o músi­co cresceu em Mia­mi, Flóri­da, e estu­dou músi­ca clás­si­ca e jazz des­de os primeiros anos. Paul é envolvi­do com a filosofia Ori­en­tal e com tudo o que diz respeito à espir­i­tu­al­i­dade. Ele tam­bém é ini­ci­a­do na práti­ca do Kriya Yoga, expon­do suas ideias/experiências nas letras de suas com­posições, que abar­cam Cyn­ic, Aeon Spoke, Por­tal e out­ros pro­je­tos paralelos.

    Sean Rein­ert tem acom­pan­hado Masvi­dal des­de a déca­da de 1980 e é con­sid­er­a­do um proem­i­nente bater­ista, escreven­do e apre­sen­tan­do per­for­mances em pro­gra­mas de tele­visão e filmes. Rein­ert parece ter a mes­ma filosofia de vida do seu ami­go Paul, o que resul­tou em faixas como:

    No Answers

    A feli­ci­dade não está em respostas e deve ser procu­ra­da com otimismo.

    Grace

    Um pedi­do de fé bem ao esti­lo da dout­ri­na ori­en­tal, onde paz e amor devem ser persegui­dos constantemente.

    Silence

    Crença, dese­jo, amor, esper­ança e alusão, uma vez mais, ao sol como fonte de renovação/renascimento.

    Emmanuel

    Belís­si­ma intro, é uma das faixas mais intro­spec­ti­vas do álbum. A músi­ca lança o ouvinte para uma irremediáv­el conexão com uma natureza oníri­ca, que se perde em cada nova nota. Min­ha faixa preferida!

    https://www.youtube.com/watch?v=vWeXxBGzKe0&ob=av2e

    Above the Buried Cry tam­bém traz Pablo at the Park, Sui­cide Boy, Face the Wind, For Good, Noth­ing e Yel­low­man, tudo den­tro da lin­ha “des­cubra-se e entregue-se”. De fato, pen­sa­men­to pra lá de alter­na­ti­vo para um mun­do cada vez mais egói­co, manip­u­lador e obceca­do pela sede de poder. Mas a arte existe para isso: abrir, cati­var e estim­u­lar consciências.

  • Ida (2013), de Pawel Pawlikowski | Crítica

    Ida (2013), de Pawel Pawlikowski | Crítica

    ida-2013-pawel-pawlikowski-critica-posterUma das mel­hores sen­sações que eu ten­ho exper­i­men­ta­do na par­til­ha físi­ca e men­tal que acon­tece nas salas de cin­e­ma – bas­ta obser­var como todos os espec­ta­dores pare­cem estar lig­a­dos min­i­ma­mente pelos acon­tec­i­men­tos que transcor­rem na tela – é perce­ber o exa­to momen­to em que um filme hip­no­ti­za toda a plateia, alteran­do com­por­ta­men­tos e pren­den­do res­pi­rações. Esse é o pên­du­lo mes­mer­izador de Ida (2013), filme do dire­tor polonês Pawel Paw­likows­ki. O lon­ga con­quis­tou inúmeros prêmios, incluin­do Euro­pean Film Awards e Asso­ci­ação Amer­i­cana dos Dire­tores de Fotografia, além de duas indi­cações ao Oscar 2015 nas cat­e­go­rias “Mel­hor filme em lín­gua estrangeira” e “Mel­hor Fotografia”, ven­cen­do na primeira.

    Fil­ma­do em pre­to e bran­co, Ida revisi­ta as mácu­las do Holo­caus­to através da história de vida da noviça Anna (Aga­ta Trze­bu­chows­ka) e sua recém-descober­ta tia Wan­da (Aga­ta Kulesza). Antes de con­fir­mar os votos no con­ven­to onde vive, Anna é envi­a­da pela madre supe­ri­o­ra à casa da tia, para que sai­ba mais sobre a própria vida e deci­da entrar para a comu­nidade reli­giosa de for­ma con­sciente. Para Anna, o mun­do começa e ter­mi­na nas pare­des do con­ven­to e é com insat­is­fação res­ig­na­da que ela vai ao encon­tro da tia.

    ida-2013-pawel-pawlikowski-critica-1

    Wan­da é uma mul­her dom­i­na­da por fan­tas­mas amar­gos, pelo vício do álcool, por amantes pas­sageiros e um secre­to históri­co de tris­tezas. No pas­sa­do, ela inte­grou a luta do movi­men­to anti­nazista, tor­nan­do-se depois juíza e con­de­nado­ra implacáv­el dos torturadores/assassinos de judeus. Esse uni­ver­so é extrema­mente opos­to ao de Anna que, sem eufemis­mos, desco­bre que tudo o que con­hecia sobre sua vida não pas­sa de um rosário de men­ti­ras. Na ver­dade, a noviça chama-se Ida Leben­stein e foi entregue na por­ta do con­ven­to quan­do ain­da era bebê. Sem saber do paradeiro dos pais, Ida e a tia partem em bus­ca de respostas; cada qual com suas angús­tias, medos e dores.

    A história se pas­sa em 1962, onde os resquí­cios da Segun­da Guer­ra Mundi­al ain­da despon­tavam como feri­das aber­tas, fusti­gan­do os espíri­tos dos sobre­viventes e de seus famil­iares. É nesse mun­do novo que Ida mer­gul­ha com toda a sua inocên­cia, exper­i­men­tan­do a malí­cia e as cha­gas emo­cionais que fazem parte da história de sua família.

    ida-2013-pawel-pawlikowski-critica-2

    O lon­ga-metragem faz uso de uma câmera quase estáti­ca, apo­s­tan­do em close-ups. Out­ro ele­men­to inter­es­sante em Ida é a opção pelo for­ma­to 4:3 e em pre­to e bran­co, ape­sar da gravação com câmera dig­i­tal, uma clara refer­ên­cia aos filmes em 16mm. Out­ra curiosi­dade é que o filme tam­bém foi con­ver­tido para pelícu­la 35mm, sendo exibido nas pou­cas salas de cin­e­ma que ain­da supor­tam esse tipo de pelícu­la. Com fotografia de cair o queixo – assi­na­da por Ryszard Lenczews­ki e Lukasz Zal -, o lon­ga rev­ela a atmos­fera silen­ciosa do inte­ri­or de seus per­son­agens, enfa­ti­za­da tam­bém pela ausên­cia de tril­ha sono­ra e pas­sagens só com sons do ambi­ente. Como o públi­co brasileiro – do qual pos­so falar basea­da em min­ha vivên­cia — não está acos­tu­ma­do com a lin­guagem do silên­cio, é difí­cil man­ter uma con­stante em salas de exibição. Por isso, foi emo­cio­nante pres­en­ciar a inter­rupção ime­di­a­ta do fris­ar de sacos de pipoca, papéis de bom­bom, latas de refrig­er­ante e mur­múrios eter­nos. Naque­la sessão, a plateia esta­va hip­no­ti­za­da: Ida não faz ruí­dos, comu­ni­ca-se pela atenção do olhar. É com esse andar sem deixar ras­tros que a jovem noviça aprende como lidar com a inocên­cia que vai mor­ren­do aos poucos.

    ida-2013-pawel-pawlikowski-critica-3

    Mis­tu­ra de reflexão e memória, o filme con­segue alcançar a poe­sia que não gri­ta, não ges­tic­u­la e não bal­bu­cia: ela expres­sa com olhares e não-ditos. Destaque para a atu­ação das atrizes Aga­ta Trze­bu­chows­ka e Aga­ta Kulesza, intér­pretes de Ida e Wan­da, respec­ti­va­mente. Como ini­ciante, Trze­bu­chows­ka com­pro­va seu empen­ho – que vai além da semel­hança físi­ca com a atriz Sis­sy Spacek (con­heci­da pela atu­ação em “Car­rie, A Estran­ha” – 1976). Já Aga­ta Kulesza recria as dores de inúmeras mul­heres judias, guer­ril­heiras ou não, que viram suas famílias serem despedaçadas pelo hor­ror nazista e tiver­am que olhar para o abis­mo, evi­tan­do mirar em seus próprios reflexos.

    Trail­er:

  • Amantes Eternos (2013), de Jim Jarmusch | Crítica

    Amantes Eternos (2013), de Jim Jarmusch | Crítica

    amantes-eternos-2013-de-jim-jarmusch-critica-posterSer imor­tal, ou pelo menos algo próx­i­mo a isso, é um dese­jo que inspi­ra muitas histórias e pesquisas, pas­san­do des­de abor­da­gens mais mís­ti­cas às mais tec­nológ­i­cas. Essa condição, além de ofer­e­cer várias pos­si­bil­i­dades, tam­bém lev­an­ta várias questões que são muitas vezes difí­ceis de se imag­i­nar dada a bre­v­i­dade de nos­so tem­po de vida. Como será que uma criatu­ra per­pé­tua se sen­tiria em relação ao cam­in­har da história da humanidade? E uma relação amorosa que durasse sécu­los? Estes são os dois fios con­du­tores da tra­ma de “Amantes Eter­nos” (“Only Lovers Left Alive”, Inglaterra/Alemanha/Grécia, 2013), dirigi­do e escrito por Jim Jar­musch.

    Pas­san­do longe da ficção cien­tí­fi­ca para cri­ar tal condição, Jar­musch traz um novo olhar a criatu­ra imor­tal­iza­da (nos dois sen­ti­dos) por Bram Stok­er: o vam­piro. Antes que alguns torçam o nar­iz, não se tra­ta de mais uma adap­tação pueril ou uma des­cul­pa para colo­car pes­soas em colantes pre­tos lutan­do entre si ou com mon­stros em câmera lenta. “Amantes Eter­nos traz nova­mente os vam­piros para o seu auge nas telonas, assim como fez “Entre­vista com o Vam­piro” (1994), de Neil Jor­dan, basea­do na obra da escrito­ra Anne Rice. Só que des­ta vez, o con­fli­to prin­ci­pal não é uma crise exis­ten­cial con­si­go mes­mo, mas sim com a espé­cie humana em ger­al, aqui apel­i­da­da car­in­hosa­mente de zumbis.

    Tal crise tem seus motivos mais que óbvios. Afi­nal, deve ser depri­mente ver, e as vezes tam­bém con­viv­er, com várias mentes bril­hantes que são igno­radas e até mor­tas por con­ta de suas ideias rev­olu­cionárias, para somente depois de décadas, serem final­mente escu­tadas, mes­mo que ape­nas par­cial­mente. Jun­tan­do isso a todo o con­hec­i­men­to que esta pes­soa iria acu­mu­lar durante sécu­los, cria-se uma situ­ação no mín­i­mo desan­i­mado­ra. Os dois per­son­agens prin­ci­pais de “Amantes Eter­nos são extrema­mente cul­tos, sem­pre lem­bran­do de seus ami­gos do pas­sa­do (Schu­bert, Gus­tave Flaubert, Shake­speare…) como se ontem hou­vessem con­ver­sa­do. Por con­ta dis­so, se tor­nam até meios esnobes, mas nun­ca sendo pedantes e sem­pre com um óti­mo sen­so de humor nas suas refer­ên­cias e brincadeiras.

    amantes-eternos-2013-de-jim-jarmusch-critica-1

    Para sobre­viv­er todo esse tem­po, além da con­stante mudança de local, há algo ain­da mais impor­tante a ser preza­do: o anon­i­ma­to. Afi­nal, seria difí­cil, para não diz­er impos­sív­el, escon­der a “imor­tal­i­dade” sob qual­quer tipo de holo­fote. Ou seja, nada de virar astros de rock ou vig­i­lantes noturnos. Faz­er isso seria como se inti­t­u­lar “agente secre­to” quan­do todos sabem que seu nome é James Bond e que você é o 007. Mas voltan­do ao assun­to do lon­ga em questão… Adam vive em Detroit, uma cidade nos Esta­dos Unidos que atual­mente está prati­ca­mente aban­don­a­da, ten­do declar­a­do con­cor­da­ta no ano pas­sa­do. Com certeza um dos mel­hores lugares para alguém se escon­der atual­mente no EUA.

    Em “Amantes Eter­nos, acom­pan­hamos o casal Adam (Tom Hid­dle­ston, o óti­mo Loki de “Thor”), um músi­co ávi­do e genial, e Eve (Til­da Swin­ton, a imor­tal “Orlan­do”), uma amante da lit­er­atu­ra, ten­tan­do sobre­viv­er no mun­do atu­al. Mas a com­posição de músi­cas já não con­segue mais mas­carar a insat­is­fação de Adam em relação a vida e a humanidade e Eve vai vis­itá-lo para ajudá-lo nes­ta crise. Falan­do em músi­ca, a tril­ha sono­ra é um dos grandes destaques do lon­ga, sendo bas­tante som­bria mas ao mes­mo tem­po sedu­to­ra, um ver­dadeiro post-rock vampiresco.

    amantes-eternos-2013-de-jim-jarmusch-critica-2

    Com uma fotografia bem som­bria, o filme se pas­sa quase todo em ambi­entes fecha­dos e mal ilu­mi­na­dos, sem­pre a noite é claro. Este foi o primeiro lon­ga fil­ma­do dig­i­tal­mente por Jar­musch, que tem sérias restrições a respeito desse for­ma­to por não pos­suir, segun­do ele, uma qual­i­dade boa para áreas aber­tas e com mui­ta ilu­mi­nação. Mas como neste lon­ga não há nada dis­so, acabou se adap­tan­do per­feita­mente a estas lim­i­tações. Out­ra curiosi­dade inter­es­sante é que den­tro do set de fil­ma­gens, não era toca­da nen­hu­ma músi­ca, foi ape­nas dis­tribuí­do um mix­tape entre a equipe.

    Para con­diz­er com todo o dis­cur­so da anon­im­i­dade e con­hec­i­men­to sec­u­lar dos per­son­agens, ess­es vam­piros não pos­suem visual­mente nada de extra­vante, ten­do ape­nas como difer­en­cial um cabe­lo bem ani­male­sco (que foi cri­a­do mis­tu­ran­do a par­tir da mis­tu­ra de cabe­lo humano com pêlo de cabra e iaque). O lon­ga tam­bém brin­ca com várias das con­cepções a respeito dess­es seres da noite, prin­ci­pal­mente com a maneira que eles se ali­men­tam, que é sen­sa­cional. Out­ro detal­he inter­es­sante está rela­ciona­do com a intro­dução de um novo, con­ce­bido pelo próprio dire­tor, para car­ac­ter­izá-los. Vamos ver se você percebe ou perce­beu qual é ele.

    amantes-eternos-2013-de-jim-jarmusch-critica-3

    Resu­min­do em pou­cas palavras: se você gos­ta de filmes inteligentes e fica intri­ga­do com as pos­si­bil­i­dades de per­pé­tu­os sug­adores de sangue, é bem prováv­el que fique com­ple­ta­mente seduzi­do por “Amantes Eter­nos.

  • Rurouni Kenshin (2012), de Keishi Ohtomo | Crítica

    Rurouni Kenshin (2012), de Keishi Ohtomo | Crítica

    rurouni_kenshin-posterDepois do fias­co de Drag­on Ball: Evo­lu­tion (2009), uma adap­tação pavorosa da fran­quia Drag­on Ball, a apreen­são em torno do que pode­ri­am faz­er com o anime/mangá Rurouni Ken­shin era inten­sa e real. Um dos maiores suces­sos japone­ses do gênero, a série de mangá “Rurouni Ken­shin: Crôni­cas de um Espadachim da Era Mei­ji” foi cri­a­da pelo artista Nobuhi­ro Wat­su­ki em 1994, e uma ver­são em ani­me foi lança­da dois anos depois, alcançan­do um suces­so estron­doso. No Brasil, a saga do espadachim andar­il­ho ficou con­heci­da como Samu­rai X, uma alusão à cica­triz que Ken­shin car­rega no ros­to, e que ain­da hoje faz a cabeça de mui­ta gente. Por isso, seria uma desagradáv­el sur­pre­sa ter essa série despe­ja­da na lama, exata­mente como acon­te­ceu com Drag­on Ball.

     

    Capa do mangá lançado pela Editora JBC
    Capa do mangá lança­do pela Edi­to­ra JBC

    Feliz­mente, a adap­tação japone­sa em live-action da saga do “andar­il­ho coração de espa­da” sur­preen­deu até mes­mo os mais céti­cos, unin­do fidel­i­dade e orig­i­nal­i­dade na mes­ma metragem. O cenário, con­tex­to históri­co, per­son­agens e diál­o­gos da ver­são orig­i­nal podem ser facil­mente iden­ti­fi­ca­dos no filme Rurouni Ken­shin: Mei­ji Swords­man Roman­tic Sto­ry (2012), do dire­tor Keishi Ohto­mo, lança­do em agos­to do ano pas­sa­do nos cin­e­mas japone­ses, sendo um grande suces­so de bil­hete­ria, críti­ca e públi­co. Por motivos que descon­heço – e pre­firo nem soltar pal­pites –, os brasileiros não rece­ber­am o filme nas salas de cin­e­ma, razão que impul­sio­nou os amantes da série a “adquirir” o DVD, que foi lança­do no final de dezembro.

    O lon­ga con­ta a tra­jetória do andar­il­ho Ken­shin Himu­ra que, cansa­do da vida de assas­si­no que lev­a­va – e que o fez ficar con­heci­do como o lendário Bat­tou­sai – o Retal­hador –, decide sair de for­ma errante, sem paradeiro ou des­ti­no, car­regan­do uma cica­triz em for­ma de X no ros­to. Ken­shin toma essa decisão após a Batal­ha de Toba-Fushi­mi, fato verídi­co na história do Japão e que foi cru­cial para a der­ro­ta deci­si­va do Shogu­na­to Toku­gawa, força que o Bat­tou­sai com­ba­t­ia. Esse san­gren­to perío­do mar­ca o final do feu­dal­is­mo de Toku­gawa e o iní­cio da Era Mei­ji, car­ac­ter­i­za­da por um proces­so de mod­ern­iza­ção políti­ca e social.

    Takeru Sato como o samurai Kenshin Himura
    Takeru Sato como o samu­rai Ken­shin Himura

    Transcor­ri­dos dez anos dessa batal­ha, a len­da da carnific­i­na do espadachim retor­na viva e inten­sa, pois uma série de mortes vio­len­tas é atribuí­da ao Bat­tou­sai, sus­peito de espal­har sangue e ter­ror em Tóquio. No decor­rer desse tem­po, o andar­il­ho Ken­shin (Takero Sato) con­hece a destemi­da Kaoru Kamiya (Emi Takei), herdeira de um dojo de kendo deix­a­do por seu pai, e a par­tir de um fato inusi­tada­mente perigoso – que não vou men­cionar para não ger­ar spoil­er -, o des­ti­no aprox­i­ma ambos.

    Kaoru Kamiya (Emi Takei) e Kenshin (Takero Sato)
    Kaoru Kamiya (Emi Takei) e Ken­shin (Takero Sato)

    O live-action faz uma mis­tu­ra bem elab­o­ra­da de acon­tec­i­men­tos pre­sentes na história orig­i­nal, sem focar em pon­tos especí­fi­cos, per­mitin­do uma lin­ha de raciocínio ger­al, e não dire­ciona­da somente aos já “ini­ci­a­dos” no enre­do. A tra­ma tam­bém apre­sen­ta out­ros per­son­agens já con­sagra­dos no anime/mangá, como Hajime Saitou (Yōsuke Eguchi) – com­bat­ente destemi­do, frio e de pre­sença extrema­mente mar­cante, que coman­dou o batal­hão do anti­go regime na Batal­ha de Toba-Fushi­mi; o diver­tidís­si­mo Sanosuke Sagara (Mune­ta­ka Aoki), luta­dor de rua que osten­ta uma espé­cie de “topete-crista-de-galo” bem curioso; o estri­dente Yahiko Myo­jin (Take­to Tana­ka), órfão e estu­dante do dojo, e a bela Megu­mi Takani (Yu Aoi), descen­dente de uma família con­ceitu­a­da de médi­cos e que se vê força­da a tra­bal­har para um rico traf­i­cante local na fab­ri­cação de ópio.

    O destemido Hajime Saitou (Yōsuke Eguchi)
    O destemi­do Hajime Saitou (Yōsuke Eguchi)

    O traf­i­cante em questão é Kan­ryu Take­da (Teruyu­ki Kagawa), respon­sáv­el pelas cenas hilárias e excên­tri­c­as do filme, que começam pela sua cara, uma cópia descara­da do pasteleiro Beiço­la, do seri­ado glob­al “A Grande Família”. Ape­sar de ter lido algu­mas críti­cas ao imen­so espaço reser­va­do a Take­da no filme, um per­son­agem cita­do por alguns fãs como “ridícu­lo e fra­co”, eu achei que foi uma boa opção dar esse ar mais engraça­do à tra­ma, já que não desqual­i­fi­ca em nada o cur­so dos acon­tec­i­men­tos, bem como a apre­sen­tação dos três grandes espadachins pre­sentes no live-action: Ken­shin Himu­ra, Hajime Saito e Jin‑E Udou, este últi­mo inter­pre­ta­do pelo ator Koji Kikkawa. No fim da Era dos Samu­rais, ess­es três destemi­dos san­guinários ficaram sem espaço e tiver­am que procu­rar novos cam­in­hos, já que a anti­ga práti­ca não era vista com bons olhos na nova refor­ma políti­ca. Ken­shin se tornou um andar­il­ho com muito amor – e cul­pa — no coração, Saitou pas­sa a ocu­par um car­go no depar­ta­men­to de polí­cia do gov­er­no e Jin‑E vira um mer­cenário con­trata­do pelo crime organizado.

    Teruyuki Kagawa como o hilário Kanryu Takeda
    Teruyu­ki Kagawa como o hilário Kan­ryu Takeda

    O filme não tem efeitos espe­ci­ais espal­hafatosos, pirotec­nia ou algo do tipo. Em con­tra­parti­da, a fotografia e a tril­ha sono­ra são exce­lentes, dan­do uma aura espe­cial às cenas e inter­pre­tações. Achei muito inter­es­sante o fato de terem usa­do uma tril­ha sono­ra difer­ente da uti­liza­da no ani­me, pos­si­bil­i­tan­do a cri­ação de uma iden­ti­dade própria e longe de cópias puris­tas e lim­i­tadas. Assi­na­da por Nao­ki Sato, o track-list é incon­fundív­el, com destaque para a lindís­si­ma “Hiten” (algo como “voan­do no céu”)!

    A escol­ha do elen­co foi acer­ta­da e, de cer­ta for­ma, sur­preen­dente. Con­fes­so que assim que come­cei a assi­s­tir, pen­sei que o intér­prete de Ken­shin, Takero Sato, fos­se que­brar ao meio de tão magro! Mas o magér­ri­mo ator foi uma das sur­pre­sas do filme, con­seguin­do trans­por para a tela todo o sen­ti­men­to de solidão, opressão e angús­tia do ex-retal­hador. Out­ro pon­to alto está com a atu­ação pri­morosa de Yōsuke Eguchi na pele do ina­baláv­el Saitou. Os des­falques ficam com a inter­pre­tação de Emi Takei, dan­do à Kaoru uma fem­i­nil­i­dade e obe­diên­cia que ela não pos­sui, e a lacu­na deix­a­da pela ausên­cia do vilão Shishio Mako­to, o mais implacáv­el dos inimi­gos do andar­il­ho Ken­shin. Tam­bém acho que a relação de amizade entre Ken­shin e Sanosuke dev­e­ria ser mais explo­ra­da, pois ficou meio sol­ta no ar e mes­mo no momen­to em que os dois lutam lado a lado — nas cenas finais do filme -, não dá para acom­pan­har de onde aque­le entrosa­men­to surgiu.

    Personagens dos filmes com os do anime/manga
    Per­son­agens do filme e seus respec­tivos per­son­agens do anime/manga

    Ao que tudo indi­ca, a saga vai ter con­tin­u­ação. Quem sabe os per­son­agens secundários ten­ham mais espaço, Shishio dê o ar da graça e Kaoru seja mais Kaoru e menos Amélia.

    P.S: Esse tex­to foi escrito com a pre­ciosa colab­o­ração de Rafaela Tor­res, psicólo­ga, gamer e amante do uni­ver­so ani­me e mangá.

  • O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann | Crítica

    O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann | Crítica

    ograndegatsby-posterCom um visu­al deslum­brante e um elen­co com vários nomes de peso, O Grande Gats­by (The Great Gats­by, EUA/Australia, 2013), dirigi­do por Baz Luhrmann, é com certeza um dos filmes mais esper­a­dos deste semestre.

    O lon­ga con­ta a história de Nick Car­raway (Tobey Maguire), um aspi­rante a escritor que ao se mudar para Nova York, deixa sua paixão pelas letras de lado por con­ta do tra­bal­ho na bol­sa de val­ores. Ele mora ao lado da man­são do mis­te­rioso Jay Gats­by (Leonar­do DiCaprio), que sem­pre está dan­do grandes e lux­u­osas fes­tas e, para sua sur­pre­sa, um dia é con­vi­da­do para uma delas. Do out­ro lado da ilha vive sua pri­ma Daisy (Carey Mul­li­gan) e seu mari­do Tom Buchanan (Joel Edger­ton), com o qual estu­dou jun­to na fac­ul­dade. O des­ti­no de todos aos poucos é entre­laça­do por con­ta de um grande seg­re­do que Gats­by esconde.

    O enre­do foi basea­do no famoso romance homôn­i­mo do escritor amer­i­cano F. Scott Fitzger­ald, pub­li­ca­do em 1925, que já foi adap­ta­do duas vezes para o cin­e­ma. A primeira em 1949, dirigi­da por Elliott Nugent, e a segun­da e mais con­heci­da adap­tação, dirigi­da por Jack Clay­ton em 1974, com Robert Red­ford e Mia Farrow.

    As luxuosas festas na mansão do Gatsby
    As lux­u­osas fes­tas na man­são do Gatsby

    Difí­cil não ficar mar­avil­ha­do com toda a recon­strução da época e seus fig­uri­nos estu­pen­dos ao assi­s­tir O Grande Gats­by. Moti­vo aliás que fez Luhrmann ficar con­heci­do tam­bém pelos lon­gas Moulin Rouge — Amor em Ver­mel­ho (2001) e Romeu + Juli­eta (1996). Nes­ta adap­tação, o dire­tor tam­bém decid­iu explo­rar exten­si­va­mente a téc­ni­ca trav­el­ling para mostrar a Nova York da déca­da de 20 e seus arredores. O resul­ta­do ficou visual­mente muito inter­es­sante, mas pelo seu uso muito repet­i­ti­vo logo ficou algo cansati­vo. Aliás, são só nes­tas cenas em que o 3D é real­mente perce­bido. Há out­ro recur­so visu­al que foi muito bem tra­bal­ha­do: as várias ani­mações cri­adas para retratar visual­mente o tex­to da história nar­ra­da pelo Nick, como se ele estivesse escreven­do naque­le momento.

    A Nova York da década de 20
    A Nova York da déca­da de 20
    Capa da trilha sonora
    Capa da tril­ha sonora

    A tril­ha sono­ra é out­ro aspec­to bem inter­es­sante do filme, pois con­trasta total­mente com o esti­lo e ima­gens da época, out­ra car­ac­terís­ti­ca pecu­liar do dire­tor. Var­ian­do bas­tante de esti­lo mas ten­do sem­pre algum ele­men­to mais eletrôni­co no meio, a tril­ha traz para o pre­sente todo aque­le ambi­ente fes­ti­vo, e tam­bém aumen­ta ain­da mais a sen­sação de arti­fi­cial­i­dade e vazio que todo este glam­our e mate­ri­al­is­mo trazem con­si­go. As músi­cas são com­postas por nomes famosos como Bey­on­cé, will.i.am, Flo­rence + The Machine, Lana del Rey e Jack White.

    Tobey Maguire, Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan e Joel Edgerton
    Tobey Maguire, Leonar­do DiCaprio, Carey Mul­li­gan e Joel Edgerton

    O maior defeito de O Grande Gats­by é não deixar espaço para que o espec­ta­dor pos­sa tirar suas próprias con­clusões e exerci­tar min­i­ma­mente sua imag­i­nação. O prin­ci­pal cul­pa­do dis­to é a pre­sença de uma nar­rador que está sem­pre pre­ocu­pa­do em explicar tudo que se está ven­do nos mín­i­mos detal­h­es, como se ele estivesse lit­eral­mente lendo um livro e as ima­gens da tela fos­sem ape­nas uma rep­re­sen­tação do tex­to. O uso da nar­ração é tão exces­si­vo que a atu­ação de profis­sion­ais tão tal­en­tosos como o Leonar­do DiCaprio (que recen­te­mente fez Djan­go Livre) e a Carey Mul­li­gan (do óti­mo Dri­ve), ficam em segun­do plano. O roteiro, escrito pelo próprio Luhrmann e por Craig Pearce, tam­bém não faz questão de man­ter qual­quer tipo de mis­tério ou pos­sív­el dúvi­da a respeito da inter­pre­tação de uma situ­ação, não per­den­do tem­po para logo explicar tudo, seja por flash­backs ou narração.

    Cena da adaptação de 1974 com Bruce Dern, Sam Waterston, Mia Farrow, Robert Redford e Lois Chiles
    Cena da adap­tação de 1974 com Bruce Dern, Sam Water­ston, Mia Far­row, Robert Red­ford e Lois Chiles

    Na adap­tação de 1974, dirigi­da por Clay­ton e rote­i­riza­da por Fran­cis Ford Cop­po­la, muitas coisas ficam suben­ten­di­das e o mis­tério sobre quem é real­mente esse mis­te­rioso Gab­sty e quais suas intenção, só é rev­e­la­do muito aos poucos. Com­para­n­do com a ver­são atu­al, é difí­cil não se sen­tir trata­do como alguém que não con­segue enten­der nada do que está acon­te­cen­do na tela, de tão exager­a­do que são as expli­cações ou então a demon­stração das inten­sões dos per­son­agens por movi­men­tos físi­cos exager­a­dos. Cer­tos momen­tos a impressão é de que este roteiro foi feito para sanar todas as dúvi­das que o out­ro criou, para não haver assim qual­quer sen­sação de confusão.

    Muitas flores e talento, mas pouco conteúdo
    Muitas flo­res e tal­en­to, mas pouco conteúdo

    O Grande Gats­by tin­ha grandes chances de ser um dos destaques do cin­e­ma deste ano, mas acabou sendo ape­nas uma exper­iên­cia visual­mente deslum­brante por con­ta da fra­ca adap­tação do roteiro, que não se pre­ocupou em insti­gar o inter­esse do espec­ta­dor para algo além de coisas boni­tas na tela. Nem o elen­co de peso con­seguiu tornar a história do filme razoavel­mente cativamente.

  • Oz, Mágico e Poderoso | Crítica

    Oz, Mágico e Poderoso | Crítica

     Oz, Mágico e Poderoso PosterUm trail­er de encher os olhos e um grande inves­ti­men­to em mar­ket­ing. Foi assim que a Dis­ney criou uma enorme expec­ta­ti­va com Oz, Mági­co e Poderoso (Oz the Great and Pow­er­ful, EUA, 2013), seu mais novo lança­men­to dirigi­do por Sam Rai­mi. Explo­ran­do a história de como surgiu o famoso per­son­agem do icôni­co filme O Mági­co de Oz (1939), o lon­ga bus­ca agradar toda a legião de fãs já exis­tentes e tam­bém uma nova ger­ação que provavel­mente nun­ca ouviu falar da estra­da amarela e dos sap­at­in­hos de rubi.

    A história começa em 1905 em Kansas com Oscar Dig­gs, um mul­heren­go mági­co circense apel­i­da­do de Oz. Ao ten­tar fugir em um balão por con­ta de um de seus “truques” sedu­tores, é sug­a­do para o meio de um tor­na­do, chegan­do à fan­tás­ti­ca Ter­ra de Oz, onde há uma pro­fe­cia rela­tan­do que o grande mági­co de Oz viria dos céus para der­ro­tar a Bruxa Má, trazen­do paz para todos. Oscar acred­i­ta que esta pode ser final­mente a sua grande opor­tu­nidade de obter o suces­so que tan­to alme­ja, porém não tem a mín­i­ma ideia das pro­porções do que impli­ca ser este herói.

    A famosa estrada amarela
    A famosa estra­da amarela

    Para quem já assis­tiu O Mági­co de Oz, dirigi­do por Vic­tor Flem­ing, é impos­sív­el olhar para este novo lon­ga sem procu­rar algu­ma refer­ên­cia — que são inúmeras. Temos o famoso iní­cio todo em pre­to e bran­co e a tam­bém diver­ti­da repetição de alguns atores fazen­do per­son­agens sim­i­lares nos dois mun­dos. Dev­i­do aos dire­itos autorais da história e do filme de 1939 serem deti­dos pela Warn­er Bros, muitos dos ele­men­tos mais icôni­cos (como o sap­at­in­ho de rubi) não pud­er­am ser uti­liza­dos — prob­le­ma que irá ces­sar no ano de 2034, quan­do a obra entrará em domínio públi­co. Algu­mas vezes foi pos­sív­el con­tornar este prob­le­ma: para o visu­al da Bruxa Má foi usa­do um tom de verde difer­ente do orig­i­nal e a estra­da amarela foi man­ti­da, mas sem o seu iní­cio em espiral.

    O visual impressionante da terra fantástica de Oz
    O visu­al impres­sio­n­ante da ter­ra fan­tás­ti­ca de Oz

    Um dos grandes atra­tivos do lon­ga é com certeza o seu visu­al fan­tás­ti­co, que fica ain­da mais sur­preen­dente se for assis­ti­do no IMAX. Alguns movi­men­tos de câmera panorâmi­ca são bem inusi­ta­dos, só sendo pos­síveis graças a uti­liza­ção de uma câmera vir­tu­al em um ambi­ente ger­a­do pelo com­puta­dor. O 3D do filme foi muito bem uti­liza­do, lem­bran­do bas­tante o óti­mo tra­bal­ho feito no A Invenção de Hugo Cabret (2011), val­en­do a pena ser assis­ti­do com o uso des­ta tecnologia.

    Apesar de todos os cuidados, em algumas cenas ficou bem evidente o uso do chroma key
    Ape­sar de todos os cuida­dos, em algu­mas cenas ficou bem evi­dente o uso do chro­ma key

    Os pon­tos neg­a­tivos do lon­ga ficaram prin­ci­pal­mente na fal­ta de real­is­mo em alguns momen­tos. Mes­mo com os cuida­dos para os atores inter­a­girem ao máx­i­mo com ele­men­tos reais (foi feito por exem­p­lo uma mar­i­onete da boneca de porce­lana), ficou bem evi­dente em cer­tas cenas o uso do chro­ma key, assim como a inserção dig­i­tal de per­son­agens. Para pio­rar, essas situ­ações ficaram ain­da mais acen­tu­adas por uma atu­ação beiran­do o teatral, supon­do dar mais cred­i­bil­i­dade aos efeitos espe­ci­ais. Mas são poucos os momen­tos que isso acon­tece e na ver­dade, acabou até de cer­ta for­ma sendo diver­tido, lem­bran­do as pro­duções em que o orça­men­to é cur­to demais e foi pre­ciso impro­vis­ar, ape­sar de não ter sido este o caso neste filme. Para quem gos­ta, tem um vídeo bem inter­es­sante no canal Mak­ing Of do YouTube, sobre os back­stages da fil­magem.

    James Franco e o diretor Sam Raimi no set de filmagem
    James Fran­co e o dire­tor Sam Rai­mi no set de filmagem

    O desen­volvi­men­to da história de Oz, Mági­co e Poderoso, reme­teu ao óti­mo, e tam­bém bem arrisca­do, tra­bal­ho feito em TRON: O Lega­do (2010), sequên­cia do filme de 1982, ambos da Dis­ney, assim como a história de Bran­ca de Neve e o Caçador (2012), onde o famoso con­to de fadas é explo­rado de for­ma a agradar um públi­co mais ado­les­cente. Na ver­dade, ele está se sain­do tão bem que a Dis­ney já anun­ciou que fará uma nova sequên­cia (provavel­mente com out­ro diretor).

    Se você não ficou muito empol­ga­do com o remake da Dis­ney de Alice no País das Mar­avil­has (2010), Oz, Mági­co e Poderoso provavel­mente irá te sur­preen­der. Além de explo­rar muito bem toda a história de como surgiu o famoso Mági­co de Oz, ele tam­bém con­tou com uma óti­ma equipe de atores como James Fran­co, Mila Kunis e Rachel Weisz. Para quem gos­ta de tril­has sono­ras, este é out­ro destaque do lon­ga, pro­duzi­do pelo óti­mo Dan­ny Elf­man, que ficou mais con­heci­do pela sua parce­ria com o dire­tor Tim Bur­ton em filmes como O Estran­ho Mun­do de Jack e A Noi­va Cadáver.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=hBlhviucIxc

  • A Viagem | Crítica

    A Viagem | Crítica

    Two roads diverged in a wood, and I
    I took the one less trav­eled by
    And that has made all the difference.
    (Dois cam­in­hos diver­giam em um bosque,
    e eu tomei o menos trilhado.
    E isso fez toda a difer­ença. – tradução livre)

    A Viagem | Crítica: PosterO frag­men­to cita­do faz parte do con­heci­do poe­ma “The Road Not Tak­en” (‘A estra­da não toma­da’ ou, na tradução do poeta por­tuguês Antônio Simões, ‘O cam­in­ho que não tomei’), do poeta norte-amer­i­cano Robert Frost. O sen­ti­men­to de inse­gu­rança cede lugar à escol­ha pela “estra­da mais difí­cil”, íngreme e inacessív­el. Essa é a sen­sação deix­a­da pelo enre­do de A Viagem, títu­lo abobal­ha­do para o orig­i­nal Cloud Atlas, novo filme dos irmãos Andy e Lana Wachows­ki em parce­ria com o dire­tor alemão Tom Tyk­w­er. O lon­ga tem dado muito tra­bal­ho à críti­ca, empurran­do argu­men­tos e pres­su­pos­tos con­tra a parede. Um sim­ples “não gostei” ou “sim, é real­mente muito bom” não cabe para descr­ev­er essa adap­tação fan­tás­ti­ca do romance homôn­i­mo de David Mitchell.

    A nar­ra­ti­va de A Viagem é uma ver­dadeira mis­tu­ra de gêneros e ambi­en­tações, apre­sen­tan­do seis histórias que se traduzem em inúmeras out­ras, for­man­do uma teia infini­ta de novos cam­in­hos, encon­tros e des­en­con­tros e, espe­cial­mente, escol­has. As cenas do filme vão pulan­do de for­ma enlouque­ce­do­ra, tor­nan­do a com­preen­são do enre­do tare­fa digna de olhos bem aber­tos. Cada história é ambi­en­ta­da em perío­dos difer­entes, pas­san­do da época da escra­vatu­ra, em 1849, para a real­i­dade cyber­punk de um local con­heci­do por Neo Sul, aprox­i­mada­mente em 2144. No meio dessas fas­es, o espec­ta­dor é sur­preen­di­do por difer­entes situ­ações e per­son­agens, onde as duas mais inter­es­santes abor­dam a luta de uma jor­nal­ista para inves­ti­gar os planos mega­lo­manía­cos e desumanos de grandes usi­nas nuclear­es amer­i­canas, na então déca­da de 1970, e a ficção cien­tí­fi­ca da Neo Sul, onde uma garçonete de uma grande rede de fast-food viven­cia a rev­olução das ideias e o poder da mudança ger­a­da pela pos­si­bil­i­dade de escol­ha, ain­da que víti­ma de um uni­ver­so distópico.

    A jornalista Luisa Rey (Halle Berry) e o cientista Issac Sachs (Tom Hanks)
    A jor­nal­ista Luisa Rey (Halle Berry) e o cien­tista Issac Sachs (Tom Hanks)

    A vida e os desafios de cada uma dessas existên­cias se inter­calam em detal­h­es sutis, em situ­ações, lem­branças, memórias, sen­ti­men­tos e conexões espir­i­tu­ais. Uma mar­ca de nascença na for­ma de uma estrela cadente conec­ta alguns per­son­agens e suas bus­cas que, mes­mo difer­entes, acabam encon­tran­do um pon­to comum: trans­for­mar, mudar, arriscar, dar e rece­ber. Par­tic­u­lar­mente, só con­segui cap­tar este detal­he depois de assi­s­tir ao filme pela segun­da vez, já que os cortes abrup­tos nas cenas tor­nam a tra­ma uma estra­da mais sin­u­osa, difí­cil de enten­der em um primeiro momen­to. Algu­mas pas­sagens são cor­tadas em momen­tos inde­v­i­dos e os detal­h­es que conec­tam os fatos são sutis, salvos pela edição que reti­ra ou pro­lon­ga o efeito sonoro, como tam­bém pela nar­ra­ti­va em off, que traz à tona os sen­ti­men­tos que conec­tam as histórias e seus protagonistas.

    Rede de fast-food do futuro servida por clones
    Rede de fast-food do futuro servi­da por clones

    O apoio do dire­tor Tom Tyk­w­er, respon­sáv­el pelos sen­sa­cionais O Per­fume, Cor­ra, Lola, Cor­ra e Tra­ma Inter­na­cional, foi fun­da­men­tal no suces­so dessa pro­dução dos irmãos Wachows­ki, já que a dose de genial­i­dade da dupla, obser­va­da em Matrix, der­rapou ver­tig­i­nosa­mente com Speed Rac­er, um ver­dadeiro fra­cas­so com­er­cial. A Viagem enfren­tou difi­cul­dades no finan­cia­men­to, con­clusão e desen­volvi­men­to, já que no iní­cio o pro­je­to não ani­mou muitos patroci­nadores. Obstácu­los à parte, o elen­co faz jus a essa apos­ta cora­josa, trazen­do nomes como Tom Han­ks, Halle Berry, Hugh Grant, Susan Saran­don, Jim Broad­bent, Hugo Weav­ing e Kei­th David, com out­ros atores não tão con­heci­dos do grande públi­co, como o lindís­si­mo Jim Sturgess, Ben Whishaw e David Gyasi, e as atrizes Zhou Xun e Doona Bae, chi­ne­sa e sul-core­ana, respec­ti­va­mente. Um detal­he inter­es­sante e que con­diz com a pro­pos­ta do filme é o fato de todos os atores faz­erem mais de um papel, estando pre­sentes nas difer­entes épocas. A direção de arte e fig­uri­no aju­dou bas­tante e é uma fór­mu­la à parte, trans­for­man­do negros em bran­cos, oci­den­tais em ori­en­tais, novos em vel­hos, home­ns em mul­heres e vice-ver­sa, dan­do uma rota­tivi­dade – em muitos casos, irrecon­hecív­el – ao elenco.

    Mapa dos atores/personagens em A Viagem (clique na imagem para ampliá-la)
    Mapa dos atores/personagens em A Viagem (clique na imagem para ampliá-la)

    Muito mais do que um padrão difer­ente, A Viagem e sua belís­si­ma tril­ha sono­ra são, na ver­dade, uma fan­tás­ti­ca descober­ta rumo ao descon­heci­do, nave­gan­do na direção de existên­cias que depen­dem das nos­sas boas ações ou crimes, dan­do sem­pre uma nova chance, seja para repe­tir os mes­mos erros ou faz­er novos começos. É ver­dade, este não é um filme fácil, mas deixa como lega­do ao espec­ta­dor uma exper­iên­cia que foge do tradi­cional for­ma­to do gênero, que não cede ao roteiro fecha­do e pre­visív­el, crian­do um atlas de sen­si­bil­i­dade, filosofia e movi­men­to inesquecível!

  • TPB AFK: The Pirate Bay Away From Keyboard | Crítica

    TPB AFK: The Pirate Bay Away From Keyboard | Crítica

    TPB AFK: The Pirate Bay Away From Keyboard | CríticaO doc­u­men­tário TPB AFK: The Pirate Bay Away From Key­board (2013), dirigi­do pelo sue­co Simon Klose, acom­pan­ha o proces­so judi­cial por pirataria enfrenta­do pelos três cri­adores do site The Pirate Bay entre os anos 2008 a 2012. Talvez você este­ja se per­gun­tan­do “legal, mas o que eu ten­ho a ver com toda essa história?” e é aí que entra o pon­to prin­ci­pal do lon­ga. Ele não é a respeito da vida dos fun­dadores do site ou uma imer­são no mun­do do copy­right, mas sim um filme sobre a liber­dade de com­par­til­har e o futuro da própria internet.

    Para quem não con­hece, o The Pirate Bay é pos­sivel­mente o maior site de tor­rents da inter­net e, uma hora ou out­ra, aca­ba sendo um pon­to de para­da obri­gatória para quem cos­tu­ma faz­er down­loads. Mas se você pen­sou, ou só ouviu falar, que lá é ape­nas um paraí­so de arquiv­os ile­gais, onde você pode encon­trar prati­ca­mente tudo que quis­er para baixar, está com­ple­ta­mente engana­do. O seu propósi­to é sim­ples­mente pos­si­bil­i­tar o com­par­til­hamen­to de arquiv­os, mas o que os usuários vão faz­er com esse serviço, já é com­ple­ta­mente out­ra história.

    os fundadores do The Pirate Bay: Gottfrid, Peter e Fredrik
    os fun­dadores do The Pirate Bay: Got­tfrid (anaka­ta), Peter (brokep) e Fredrik (TiAMO)

    Ape­sar da ideia ini­cial de que assi­s­tir a um doc­u­men­tário sobre um proces­so judi­cial seja algo maçante e restri­to ape­nas para fãs da causa da inter­net livre, o óti­mo tra­bal­ho de edição de Per K. Kirkegaard, faz com que você prati­ca­mente não sin­ta o tem­po pas­san­do. Esta foi inclu­sive uma das maiores pre­ocu­pações do dire­tor, ele tin­ha fil­ma­do muito mate­r­i­al, mas não que­ria mostrar aqui­lo de uma maneira cha­ta, então criou um pro­je­to no Kick­Starter para con­seguir con­tratar um edi­tor profis­sion­al. Ele esti­mou o cus­to para isso de $25.000 e con­seguiu atin­gir essa meta em menos de três dias, con­seguin­do no total $51,424. Tam­bém vale a pena destacar a óti­ma tril­ha sono­ra cri­a­da por Ola Fløt­tum, que é sutil mas muito envol­vente. Para quem está pre­ocu­pa­do em não enten­der alguns ter­mos téc­ni­cos, há uma expli­cação deles durante o filme, então não pre­cisa se preocupar.

    O títu­lo do doc­u­men­tário veio da abre­vi­ação AFK (Away From Key­board — que seria algo como: Longe Do Tecla­do) que é uma oposição a ideia da sigla IRL (In Real Life — Na Vida Real), uti­liza­da por algu­mas pes­soas para des­ig­nar quan­do algo acon­tece no mun­do fora das telas dos com­puta­dores. O IRL sep­a­ra o on do offline, enquan­to o AFK vê o online ape­nas como uma exten­são do offline, ou seja, está inclu­so no que podemos perce­ber como real­i­dade e não como algo imag­inário ou fic­cional. Os três fun­dadores do site, como a maio­r­ia dos mem­bros do Par­tido Pira­ta, exibidos no doc­u­men­tário, se con­hece­r­am ini­cial­mente pela inter­net e o fato deles nun­ca terem se encon­tra­do pes­soal­mente, não foi um obstácu­lo para poderem cri­ar uma relação ver­dadeira de amizade e confiança.

    Monique Wadsted, a advogado que representa Hollywood no processo
    Monique Wad­st­ed, a advo­ga­do que rep­re­sen­ta Hol­ly­wood no processo

    Um dos motivos do dire­tor ter feito o filme, era que ele não con­seguia ver a relação que a indús­tria de mídia faz ale­gan­do que o com­par­til­hamen­to de arquiv­os é uma ameaça à cria­tivi­dade. Para ele, o aces­so irrestri­to à cul­tura era o cerne da rev­olução online, onde qual­quer expressão artís­ti­ca imag­ináv­el pudesse aflo­rar cria­ti­va­mente. De um lado, seus ami­gos artis­tas estavam sofren­do pela redução nas ven­das, mas por out­ro, as pos­si­bil­i­dades de pro­duzir, com­er­cializar e dis­tribuir a arte deles tin­ha muda­do fun­da­men­tal­mente para mel­hor. Ele ficou então pen­san­do que dev­e­ria haver for­mas de con­stru­ir uma próspera econo­mia dig­i­tal, que incor­po­rasse essas novas fer­ra­men­tas, em vez de crim­i­nal­izá-las. Com este doc­u­men­tário Simon espera lev­an­tar ques­tion­a­men­tos a respeito desse proces­so legal e tam­bém dos já real­iza­dos con­tra pes­soas que com­par­til­havam arquiv­os, para que este cenário mude.

    Simon Klose no vídeo da campanha do KickStarter
    Simon Klose no vídeo da cam­pan­ha do KickStarter

    Esse foi um dos motivos para que que o doc­u­men­tário fos­se dis­tribuí­do sob a licença BY-NC-SA da Cre­ative Com­mons, assim qual­quer um pode com­par­til­har e mod­i­ficar com atribuições, mas não pode faz­er uso com­er­cial da mes­ma. Simon até fez um post no blog do doc­u­men­tário expli­can­do detal­hada­mente porque ele escol­heu esta licença. O dire­tor incen­ti­va não só que as pes­soas façam o down­load, mas que tam­bém com­par­til­hem e remix­em o filme, crian­do out­ras obras. A mes­ma pro­pos­ta tam­bém foi fei­ta, e inclu­sive o remix foi parte da pro­dução, pelo doc­u­men­tário RIP!: Um Man­i­festo Remix, do canadense Brett Gay­lor, provavel­mente o primeiro doc­u­men­tário aber­to (open source) cri­a­do.

    Câmera pirata no Festival
    Câmera pira­ta no Festival

    TPB AFK: The Pirate Bay Away From Key­board foi lança­do dia 8 de fevereiro de 2013 no 63º Fes­ti­val Inter­na­cional de Filmes em Berlim e tam­bém simul­tane­a­mente na inter­net, uma ati­tude total­mente con­dizente com toda a filosofia do site. Inclu­sive uma pes­soa que foi ao fes­ti­val fez uma fil­magem pira­ta do mes­mo, gru­dan­do uma câmera na cadeira com sil­ver tape, cap­tan­do além do filme com­ple­to, o bate-papo com o dire­tor após a exibição. Veja o mes­mo no YouTube ou faça o down­load via tor­rent.

    Des­ta vez se você ficou inter­es­sa­do em assi­s­tir o filme, não vai ter somente a pos­si­bil­i­dade de assi­s­tir ao trail­er logo abaixo, como tam­bém vê-lo na ínte­gra leg­en­da­do pelo YouTube. Se quis­er tam­bém pode faz­er o down­load em difer­entes qual­i­dades (480p, 720p e 1080p) e baixar a leg­en­da separadamente.

    Trail­er:

    Filme Com­ple­to:
    httpv://www.youtube.com/watch?v=eTOKXCEwo_8

  • O Voo | Crítica

    O Voo | Crítica

    O Voo Poster | CríticaUm homem pode ser absolvi­do pelos seus vícios por con­ta de um grande ato de heroís­mo, que salvou muitas vidas em uma situ­ação onde provavel­mente todos iri­am mor­rer? Este é o grande ques­tion­a­men­to em torno de O Voo (Flight, EUA, 2013), dirigi­do por Robert Zemeck­is e com Den­zel Wash­ing­ton no papel principal.

    A história começa em uma man­hã que parece ser como qual­quer out­ra, depois de uma noita­da de álcool, dro­gas e sexo, Whip Whitak­er vai tra­bal­har como se nada tivesse acon­te­ci­do. Só tem um pequeno detal­he, ele é pilo­to de aviões domés­ti­cos em uma grande com­pan­hia aérea. Para pio­rar a situ­ação, o avião que esta­va pilotan­do sofre uma pane no meio do voo e começa a cair de pon­ta cabeça em direção ao chão. Esta era uma situ­ação que difi­cil­mente alguém pode­ria sair vivo, mas ele teve a genial ideia de virar o avião de cabeça para baixo e assim nivelá-lo nova­mente para poder pousar, sal­va­do prati­ca­mente quase todos a bor­do. Só que quan­do as inves­ti­gações a respeito do que pode­ria ter acon­te­ci­do com a aeron­ave começam a ser feitas, é descober­to que ele esta­va bêba­do durante o aci­dente e o mes­mo pode ser pre­so por con­ta disso.

    As atrizes Nadine Velazquez como Katerina Marquez e Tamara Tunie como Margaret Thomason
    Nadine Velazquez como Kate­ri­na Mar­quez e Tama­ra Tunie como Mar­garet Thomason

    Ape­sar do trail­er dar uma impressão de ser um filme de comé­dia, ele é na ver­dade um dra­ma bem inten­so. Com vários out­ros filmes de peso no cur­rícu­lo como a trilo­gia De Vol­ta para o Futuro, For­rest Gump, o Con­ta­dor de Histórias e Náufra­go, talvez este seja o lon­ga mais pesa­do, ou o mais adul­to, que o o dire­tor Robert Zemeck­is já fez. Não só falan­do da temáti­ca, mas tam­bém da escol­ha de fil­mar cenas de maneiras que nor­mal­mente são evi­tadas. É inesquecív­el, por exem­p­lo, o momen­to em que o avião está cain­do e toda a aeron­ave sim­ples­mente vira de cabeça para baixo e vemos detal­he por detal­he tudo que acon­tece den­tro do avião. Depois dessa você vai pen­sar duas vezes antes de não quer­er usar o cin­to de segu­rança na sua próx­i­ma viagem. Tam­bém não são poupadas as cenas de nudez, prin­ci­pal­mente da atriz Nadine Velazquez que faz o papel de aero­moça e amante de Whip, não fican­do naque­le esconde esconde hol­ly­wood­i­ano ridículo.

    Não é por menos que Den­zel Wash­ing­ton está con­cor­ren­do ao Oscar de 2013 como Mel­hor Ator por con­ta deste filme, que segun­do ele é um dos papéis mais com­plex­os que já fez. Dev­i­do as suas várias fac­etas, é con­stante a alternân­cia entre admi­ração e repul­sa em relação ao coman­dante Whip. Você não sabe se ado­ra ou se odeia aque­le per­son­agem. Bem difer­ente por exem­p­lo do seu papel em O Livro de Eli (2010), dirigi­do por Albert e Allen Hugh­es, onde ele é sim­ples­mente o herói bon­doso de coração puro.

    Bruce Greenwood e Don Cheadle como os protetores do personagem de Denzel Washington
    Bruce Green­wood e Don Chea­dle como os pro­te­tores do per­son­agem de Den­zel Washington

    O Voo desen­volve bem toda essa questão do dual­is­mo herói/vilão e do vício de Whitak­er, assim como os de out­ros per­son­agens secundários, sem entrar em todas aque­las cenas e argu­men­tos clichês que esta­mos acos­tu­ma­dos a ver em lon­gas do gênero. Além dis­so, ele tam­bém aprovei­ta para faz­er algu­mas piad­in­has e ques­tionar algu­mas insti­tu­ições, como as próprias com­pan­hias aéreas e o sis­tema legal, mas sem se perder nelas. Para a feli­ci­dade ou o des­gos­to de alguns, o filme aca­ba ten­den­do forte­mente para a religião, mas total­mente plausív­el con­sideran­do as cir­cun­stân­cias do acon­tec­i­men­to. Algu­mas pes­soas talvez achem o filme cansati­vo por ter um pouco mais de duas horas de duração, mas isso aca­ba sendo impor­tante para poder desen­volver sem pres­sa toda a sua trama.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=LdpzTsqRSPw

  • Caça aos Gângsteres | Crítica

    Caça aos Gângsteres | Crítica

    Cada ger­ação tem seu filme de gâng­ster icôni­co e esper­amos que este seja o próximo.

    É com esta frase que o dire­tor Ruben Fleis­ch­er apre­sen­ta o seu novo filme de ação Caça aos Gâng­steres (Gang­ster Squad, EUA, 2013), que estre­ou dia 1 de fevereiro nos cin­e­mas brasileiros, com par­tic­i­pação de nomes de peso como Sean Penn, Ryan Gosling, Josh Brolin e Emma Stone.

    O filme se pas­sa no ano de 1949 quan­do um grupo de poli­ci­ais é sec­re­ta­mente for­ma­do para der­rubar Mick­ey Cohen (Sean Penn), um gân­ster que prati­ca­mente coman­da toda a cidade de Los Ange­les. Ape­sar de Cohen real­mente ter exis­ti­do, as sim­i­lar­i­dades com o mun­do real prati­ca­mente acabam por aí, o resto da história foi inspi­ra­da em rumores e, para trans­for­má-lo em um grande lon­ga de ação, uma boa dose de ficção.

    O prin­ci­pal destaque é o tra­bal­ho feito para recri­ar a Los Ange­les pós-guer­ra, que ficou sim­ples­mente fan­tás­ti­ca, mas acabou sendo total­mente ofus­ca­da pela pés­si­ma qual­i­dade do lon­ga em ger­al. A reunião do elen­co de peso, que é o grande chama­riz ao lado das cenas de ação, foi lit­eral­mente joga­da fora por um roteiro muito fra­co e uma pés­si­ma edição. Os per­son­agens são muito força­dos e total­mente rasos, não há qual­quer moti­vação real para suas ati­tudes que não sejam um ou out­ro pequeno acon­tec­i­men­to, ou uma pseu­do reflexão a respeito de uma situ­ação. Isso aca­ba tor­nan­do o filme real­mente cansati­vo, pois quan­do parece que algum deles vai se apro­fun­dar em algu­ma questão, ela é sim­ples­mente joga­da fora com a mudança de assun­to ou um corte seco.

    Mick­ey Cohen (Sean Penn) em um de seus ataques de raiva

    Não que eles dev­e­ri­am entrar em uma reflexão filosó­fi­ca e exis­ten­cial para jus­ti­fi­carem suas ati­tudes, mas um pouco de embasa­men­to faz mui­ta fal­ta. Aqui vale a pena tam­bém chamar a atenção para o malé­fi­co vilão, sim é para ser exager­a­do e repet­i­ti­vo, pro­tag­on­i­za­do por um Sean Penn com ros­to trans­fig­u­ra­do para enal­te­cer seus traços som­brios, que mes­mo colo­can­do os pul­mões para fora com seus ataques de rai­va, não con­seguiria assus­tar uma joan­in­ha de tão vazio que ficou seu personagem.

    Já o esquadrão anti-gâng­ster, é suposta­mente for­ma­do por profis­sion­ais que são sele­ciona­dos por terem cada um uma qual­i­dade espe­cial, pre­mis­sa com­ple­ta­mente esque­ci­da durante o desen­volver do enre­do. Na ver­dade, a grande espe­cial­i­dade do grupo parece ser enfraque­cer total­mente a capaci­dade de mira dos seus adver­sários, porque é incrív­el como eles são os úni­cos que con­seguem acer­tar alguém no meio de um tiroteio. Tam­bém é curioso notar que a equipe foi clara­mente escol­hi­da para abranger os difer­entes tipos de etnia, idade, tem­pera­men­to e nív­el de testos­terona, for­man­do um grupo total­mente inclu­si­vo e politi­ca­mente cor­re­to, ape­sar de atu­arem por trás da lei.

    A diver­si­dade do esquadrão anti-gângster

    Assim cheg­amos ao pon­to prin­ci­pal de Caça aos Gâng­steres, o uso e abu­so de prati­ca­mente todos os clichês pos­síveis de um filme de gâng­sters. Em vez de ter feito um super remix, como faz por exem­p­lo o Taran­ti­no em Djan­go Livre com o west­ern, ele sim­ples­mente repete inte­gral­mente as fór­mu­las com um toque dos clichês de vet­er­a­nos de guer­ra, sem­pre em bus­ca de mais vio­lên­cia, e do bom e vel­ho amer­i­can way of life. Assim, é con­tínua a sen­sação de que você já sabe exata­mente o que vai suced­er, porque é claro que nada de ruim real­mente pode acon­te­cer. Afi­nal, esta­mos na ter­ra do Tio Sam.

    Além das atu­ações pra lá de car­i­catas, os efeitos espe­ci­ais acabam cain­do no mes­mo prob­le­ma: muito se quer mostrar, mas real­mente pouco se sente. Uti­lizar cenas no esti­lo bul­let-time para adi­cionar mais dra­mati­ci­dade nas cenas de ação não é nen­hu­ma novi­dade, mas ain­da não havia vis­to nada tão sem sal uti­lizan­do esta téc­ni­ca. Pode até ter fica­do legal no trail­er, mas quan­do uti­lizadas den­tro da nar­ra­ti­va do filme, pare­cem terem sido colo­cadas de for­ma total­mente aleatória pois pare­cem com­ple­ta­mente per­di­das e sem grande acrésci­mo na sen­sação de peri­go ou ação.

    Emma Stone e Ryan Gosling são a dupla român­ti­ca do filme

    Depois do Ruben Fleis­ch­er ter feito o óti­mo Zum­bilân­dia (2009), fica até difí­cil de acred­i­tar que foi ele quem dirigiu Caça aos Gâng­steres, de tão fra­co que é. Para um filme que pre­tendia mar­car uma ger­ação, como por exem­p­lo fez Scar­face (1983) de Bri­an De Pal­ma, este com certeza será icôni­co no abu­so e mau uso de clichês.

    Se você não gos­ta de spoil­ers ou de infor­mações demais antes de assi­s­tir um filme, recomen­do que não veja o trail­er ofi­cial, pois ele não só aca­ba entre­gan­do muitas das mel­hores cenas de ação, como tam­bém mostra algu­mas cenas cru­ci­ais que podem estra­gar as várias sur­pre­sas que o lon­ga ten­ta criar.

    Para os apre­ci­adores de design, vale a pena assi­s­tir aos crédi­tos do filme que foram mon­ta­dos no esti­lo dos cartões postais da época.

    Caça aos Gâng­steres — Com­er­cial de TV

    httpv://www.youtube.com/watch?v=m72cJm8DYUg

  • Lincoln | Crítica

    Lincoln | Crítica

    Abra­ham Lin­coln é com certeza uma das fig­uras públi­cas mais con­heci­da e ama­da nos Esta­dos Unidos, e ninguém mel­hor do que o dire­tor Steven Spiel­berg, para enal­te­cer ain­da mais essa figu­ra em Lin­coln (EUA, 2012), seu mais novo filme. Basea­do em uma das partes do livro “Team of Rivals — The Polit­i­cal Genius of Abra­ham Lin­coln” escrito por Doris Kearns Good­win e lança­do aqui no Brasil pela Edi­to­ra Record sob o títu­lo “Lin­coln”, o lon­ga abrange os últi­mos 4 meses de vida do pres­i­dente, que foi assas­si­na­do em 15 de abril de 1865.

    Este foi jus­ta­mente o perío­do em que o Lin­coln batal­ha­va para con­seguir que a 13º emen­da da con­sti­tu­ição, a qual proib­ia a escravidão nos Esta­dos Unidos, fos­se aprova­da, bem como para ter­mi­nar a Guer­ra Civ­il Amer­i­cana, provavel­mente a maior crise inter­na vivi­da pelo país. Saben­do que a guer­ra era uma opor­tu­nidade úni­ca para con­seguir a abolição da escra­vatu­ra,  ten­tou de todas as maneiras pos­síveis que ela fos­se legal­iza­da. Uti­lizan­do difer­entes tipos de arti­man­has e sub­or­nos, lem­bran­do em alguns momen­tos a história do Papa Rodri­go Bor­gia, que pos­sui uma série em quadrin­hos incrív­el ilustra­da por Milo Man­ara e escri­ta por Ale­jan­dro Jodor­owsky, tiran­do todo o sexo, é claro. Esse tipo de manobra traz um ques­tion­a­men­to bem inter­es­sante não só a respeito das vul­ner­a­bil­i­dades de uma repúbli­ca, assim como da val­i­dade do aspec­to, de cer­ta for­ma maquiavéli­co (o fim deter­mi­na os meios), de uma ambição cujo propósi­to é um bem maior para a humanidade. Questões que cer­ta­mente dão muito o que pen­sar e discutir.

    Acom­pan­hamos tam­bém vários momen­tos ínti­mos de Lin­coln em situ­ações que geral­mente não imag­i­namos um pres­i­dente fazen­do, como ele engraxan­do suas próprias botas ou de joel­ho no chão colo­can­do lenha na sua lareira. O foco do filme é mostrar como era o dia a dia des­ta pes­soa que teve um papel tão impor­tante em mod­e­lar o país como ele é hoje, rev­e­lando mais o homem e menos o mito. A facil­i­dade, em relação a hoje em dia, de pes­soas comuns falarem com o pres­i­dente a respeito de prob­le­mas que estavam ten­do, tam­bém causa cer­to estran­hamen­to. Assim como toda a men­tal­i­dade racista e cheia de pre­con­ceitos de uma época em que falar sobre mul­heres terem o dire­ito ao voto causa­va uma grande con­fusão. Este é um momen­to ante­ri­or ao ambi­en­ta­do no filme “Djan­go Livre” (2012), onde a escravidão pre­domi­na­va e a Guer­ra Civ­il Amer­i­cana esta­va prestes a estourar.

    O grande destaque do lon­ga são as óti­mas atu­ações, prin­ci­pal­mente o Daniel Day-Lewis como Lin­coln, cujo últi­mo tra­bal­ho foi o fraquís­si­mo “NINE” (2009) dirigi­do por Rob Mar­shall, e Tom­my Lee Jones (“Home­ns de Pre­to 3″). Há tam­bém um pequeno papel do exce­lente Joseph Gor­don-Levitt (“Loop­er: Assas­si­nos do Futuro” e “Bat­man — O Cav­aleiro das Trevas Ressurge”) como fil­ho do pres­i­dente, o qual foi indi­ca­do ao Spiel­berg pelo próprio Day-Lewis, mas acabou fican­do ofus­ca­do pelas out­ras atu­ações. Ape­sar de já terem sido escritos muitos livros sobre o Lin­coln, há vários pon­tos de vis­tas em relação a sua per­son­al­i­dade, o que aca­ba geran­do cer­ta dis­crepân­cia entre os his­to­ri­adores e tor­nan­do a definição do per­son­agem mais difí­cil. Dev­i­do à inex­istên­cia de mate­r­i­al audio­vi­su­al sobre o pres­i­dente, um dos prob­le­mas por exem­p­lo foi achar a “voz” do mes­mo. O próprio Day-Lewis foi respon­sáv­el por grande parte da con­strução de seu per­son­agem. As cenas que provavel­mente ficarão gravadas na memória, são os momen­tos em que Lin­coln inter­rompe o tra­bal­ho de todos e con­ta uma história, para o deleite ou o despraz­er de quem está a sua volta.

    “Witch­ing Hour” por Andrew Wyeth

    Visual­mente o filme chama bas­tante atenção por ser bem escuro e uti­lizar somente a ilu­mi­nação nat­ur­al, seja por velas, lareiras ou janelas com a corti­na aber­ta. O dire­tor con­ta que se inspirou bas­tante nos quadros dos pin­tores impres­sion­istas do sécu­lo 19, onde eles começaram a usar o efeito da luz nat­ur­al para ilu­mi­nar o con­teú­do de suas pin­turas. A prin­ci­pal refer­ên­cia foram as obras do pin­tor Andrew Wyeth, que pos­sui um con­traste bem forte em seus quadros, car­ac­terís­ti­ca que é bem mar­cante no lon­ga. Inter­es­sante tam­bém, foi a escol­ha de deixar de fora cer­tas cenas que mostravam o grande resul­ta­do de um acon­tec­i­men­to, como o final da votação da 13º emen­da ou o seu assas­i­na­to, para focar em lugares e acon­tec­i­men­tos mais per­iféri­cos. É claro que este não deixa de ser um filme do Spiel­berg, ape­sar de ter uma ou out­ra cena de batal­ha com sangue, a enal­tação da beleza e da bon­dade das pes­soas trans­bor­da pela tela. Tam­bém temos algu­mas tomadas bem estratég­i­cas não só para enfa­ti­zar o quão alto o pres­i­dente era, mas tam­bém toda a grandiosi­dade que o mes­mo trans­mi­tia, tan­to em pre­sença quan­to em espírito.

    Lin­coln pode não faz­er muito sen­ti­do em ter­ritório nacional como um “cin­e­ma pipoca”, não só pelo pouco — ou inex­is­tente — ape­lo emo­cional des­ta figu­ra públi­ca por aqui, mas prin­ci­pal­mente pela sua lon­ga duração, prati­ca­mente duas horas e meia de filme. Sendo o mes­mo assis­ti­do mais como uma exper­iên­cia pela curiosi­dade históri­ca, o lon­ga aca­ba sendo muito inter­es­sante, mas real­mente é pre­ciso estar nesse movi­men­to. E com o Oscar aí, não há dúvi­da que este seja o querid­in­ho dos amer­i­canos, res­ta ago­ra torcer para que o nacional­is­mo não fale mais alto do que a qual­i­dade dos can­didatos entre si. Se não ocor­rer nova­mente toda a tram­bicagem na hora da votação, é claro.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=b6WkKvgn2G4

  • Looper: Assassinos do Futuro (2012), de Rian Johnson

    Looper: Assassinos do Futuro (2012), de Rian Johnson

    Para muitos talvez o ano de 2012 ten­ha fica­do mar­ca­do, no que­si­to de ficção cien­tí­fi­ca no cin­e­ma, pela grande decepção em relação a expec­ta­ti­va — que era maior ain­da — em cima do filme “Prometheus”, pre­quel de Alien dirigi­do nova­mente pelo Rid­ley Scott. Mas o ano tam­bém trouxe uma grande sur­pre­sa no gênero, com “Loop­er: Assas­si­nos do Futuro” (Loop­er, EUA/China, 2012), escrito e dirigi­do por Rian John­son, que reto­mou o tema da viagem no tem­po de uma maneira muito diver­ti­da e acessív­el para qual­quer público.

    O lon­ga já começa apre­sen­tan­do ao expec­ta­dor uma ideia sim­ples e ao mes­mo tem­po insti­gante: em 30 anos, a par­tir do pre­sente do per­son­agem prin­ci­pal, a viagem no tem­po vai ser pos­sív­el. Mas ela irá cair rap­i­da­mente nas mãos de orga­ni­za­ções crim­i­nosas que, por con­ta do imen­so avanço nas téc­ni­cas de inves­ti­gações da polí­cia, a usarão para enviar pes­soas para serem elim­i­nadas no pas­sa­do por assas­i­nos chama­dos de Loop­ers, para que o crime não seja descober­to. Genial, não é?!?

    O tem­po pre­sente do enre­do já se pas­sa num futuro, ape­sar de não saber­mos exata­mente qual o ano. É um tem­po não muito difer­ente do atu­al, com uma visão bem degen­er­a­da do mes­mo — mas não tan­to quan­to um “Mad­Max” — onde há uma lacu­na muito grande entre as class­es soci­ais e boa parte do mun­do está cain­do aos pedaços. O máx­i­mo de algo que voa são motos que vivem dan­do prob­le­mas e os car­ros não mudam muito, ape­nas tem de difer­ente algu­mas gam­biar­ras para serem ali­men­ta­dos com ener­gia solar ou algo do tipo. Tam­bém somos apre­sen­ta­dos a um novo tipo de celu­lar, que é ape­nas um pedaço de “vidro” trans­par­ente e quadra­do. Essa visão de um futuro não muito difer­ente, que talvez seja bem mais real­ista do que as muitas out­ras imag­i­nadas, onde tudo é total­mente tec­nológi­co, lem­brou bas­tante o óti­mo filme espan­hol “Eva — Um Novo Recomeço”, dirigi­do por Kike Maíl­lo, onde uma das pou­cas áreas que real­mente teve um avanço sig­ni­fica­ti­vo foi a robótica.

    Acred­i­to que uma das primeiras coisas que mais chama atenção no filme é o ros­to alter­ado do ator Joseph Gor­don-Levitt, que faz o papel prin­ci­pal de Joe, para ficar mais pare­ci­do com o Bruce Willis, sua ver­são 30 anos mais vel­ha. Mas o que aca­ba tor­nan­do os dois per­son­agens mais pare­ci­dos não é a maquiagem, mas sim todos os maneiris­mos dos dois, pois Gor­don-Levitt pas­sou por um estu­do pro­fun­do do jeitão do Willis. Uma curiosi­dade inter­es­sante é que todos do filme são grande fãs do Bruce e eles ficaram extrema­mente con­tentes que ele aceitou par­tic­i­par de um filme mais alter­na­ti­vo e com baixo orça­men­to, prin­ci­pal­mente o dire­tor que só depois foi se tocar que fisi­ca­mente eles eram total­mente difer­entes, que acabou tor­nan­do a vida do maquiador um inferno.

    Um dos grandes trun­fos do lon­ga é que ele omite proposi­tal­mente muitas das infor­mações, entre­gan­do só o sufi­ciente para se enten­der o que está acon­tendo, fazen­do com que a exper­iên­cia vá além do cin­e­ma, deixan­do um espaço para sua imag­i­nação com­ple­tar e ques­tionar, como acon­tece muitas vezes na leitu­ra de um bom livro. Após a sessão, você quer enten­der mel­hor toda a esquemáti­ca das via­gens no tem­po real­izadas, não por picuin­ha para encon­trar algum erro ou algo do tipo, mas sim como um adi­cional para acres­cen­tar mais ain­da a exper­iên­cia. O filme deixa aber­to várias pos­si­bil­i­dades do que pode­ria ter acon­te­ci­do, brin­can­do tam­bém com a própria memória dos per­son­agens, que vai mudan­do con­forme cer­tas coisas vão acon­te­cen­do, então pode ser que nem sem­pre elas sejam con­fiáveis. Ele inclu­sive deixa claro em cer­to momen­to que não vale a pena ficar desen­han­do esquem­inhas com canud­in­hos para ten­tar com­preen­der todas as pos­si­bil­i­dades, porque tudo que irá acon­te­cer é você ficar louco com aqui­lo e que o mais impor­tante é se con­cen­trar no que está acon­te­cen­do na tela. Segun­do o próprio dire­tor, “Loop­er: Assas­si­nos do Futuro” não é um filme como “Primer¨ (2004) ou ”De Vol­ta para o Futuro” (1985), onde parte do praz­er é desven­dar o que­bra cabeças da viagem no tem­po, mas sim muito mais como “O Exter­mi­nador do Futuro” (1984), onde a viagem no tem­po ape­nas cria uma situ­ação e o lon­ga con­tin­ua a par­tir dela. Ele até comen­ta que mon­tou todo um esque­ma para ter uma lóg­i­ca, mas deixou o mín­i­mo pos­sív­el visív­el no filme pois não que­ria que isso fos­se o foco.

    Para quem gos­ta de histórias envol­ven­do viagem no tem­po, recomen­do o cur­ta “Loop”, que você pode assi­s­tir por com­ple­to aqui no inter­ro­gAção. E se você quer se diver­tir um pouco após ter vis­to o “Loop­er: Assas­si­nos do Futuro”, veja esta “ver­são da Dis­ney” do mes­mo, que os edi­tores do site Screen­Junkies fiz­er­am mis­tu­ran­do cenas dos filmes “Duas Vidas” (2000) e “Os anjos Entram em Cam­po” (1994), mas que infe­liz­mente não tem legendas.

  • Jack Reacher: O Último Tiro | Crítica

    Jack Reacher: O Último Tiro | Crítica

    É difí­cil imag­i­nar o ator Tom Cruise fazen­do um per­son­agem que não seja o mocin­ho bonit­in­ho e galanteador que, quan­do é pos­sív­el, der­ro­ta um monte de caras maus usan­do sua incrív­el habil­i­dade de manuse­ar armas e lutar. No seu novo filme, Jack Reach­er: O Últi­mo Tiro (Jack Reach­er, EUA, 2012), dirigi­do por Christo­pher McQuar­rie, o sr. Cruise é nada mais nada menos do que tudo isso jun­to e mais um pouco, mas nada “impos­sív­el” é claro, pois Jack não é um Ethan Hunt.

    Um ex-mil­i­tar é acu­sa­do de ter mata­do cin­co pes­soas em ple­na luz do dia com um rifle e, ao ser ques­tion­a­do, suas úni­cas palavras são: ache Jack Reach­er. Logo após somos instruí­dos a respeito da mag­ni­tude — para não usar out­ras palavras — desse tal de Reach­er, que ninguém sabe dire­ito da sua história e muito menos como encon­trá-lo, pois é ele que encon­tra você, além dis­so, ele é um cara que segue suas próprias leis, onde a úni­ca coisa que impor­ta para ele é faz­er o que é certo.

    O filme já começa deixan­do claro quem é o ver­dadeiro assas­si­no, por­tan­to a grande questão é: quem são as pes­soas que aju­daram a orga­ni­zar esse assas­i­na­to? E o lon­ga até que con­segue cri­ar um bom sus­pense em cima des­ta questão, mes­mo muitas vezes deixan­do ela em segun­do plano por causa das várias brigas e perseguições. Aliás, há uma cena lon­ga de perseguição de car­ro que acabou sendo tudo menos ten­sa, pas­san­do a impressão como se os atores estivessem diringo aque­les car­rin­hos bate-bate, dos par­ques de diver­são, onde um fica perseguin­do e baten­do no car­ro do out­ro, mas são inca­pazes de faz­er qual­quer coisa — como sair do car­ro, ati­rar, … — além dis­so. Para os fãs de jogos, pare­ceu até aque­les momen­tos no GTA onde você sim­ples­mente quer tirar uma onda e sai com o car­ro baten­do nos veícu­los da polí­cia e foge sem muito rumo ape­nas para ver até onde con­segue ir. Ou seja: com­ple­ta­mente sem mui­ta emoção e desnecessário.

    É claro que não pode­ria fal­tar um climin­ha entre os dois pes­on­agens prin­ci­pais, mas em nen­hum momen­to chega a virar um romancez­in­ho bobo, como por exem­p­lo em Encon­tro Explo­si­vo, só fal­tou mes­mo quími­ca entre eles, que é inex­is­tente. Já a per­son­agem fem­i­ni­na, inter­pre­ta­da por Rosamund Pike, infe­liz­mente chama mais atenção pelos seus dotes físi­cos salti­tan­do enquan­to anda ou corre, do que pela atu­ação em si.

    Lee Child

    Jack Reach­er: O Últi­mo Tiro é basea­do no livro Um Tiro (Edi­to­ra Bertrand Brasil) da série poli­cial cri­a­da pelo escritor britâni­co Lee Child, que tam­bém tra­bal­hou jun­to com a pro­dução do filme. Segun­do o autor, seu per­son­agem, Jack Reach­er, difer­ente dos out­ros dete­tives de out­ras histórias, não tem emprego e residên­cia fixa, o que o tor­na úni­co no gênero. Ou seja, temos prati­ca­mente um Lobo Solitário cuja mis­são prin­ci­pal não é a vin­gança, mas sim sim­ples­mente faz­er o bem, fato que aca­ba trans­for­man­do o per­son­agem, pelo menos no lon­ga, prati­ca­mente em um san­to. Para com­ple­men­tar, o mes­mo faz questão de ques­tionar o modo como a sociedade em ger­al vive sua “liber­dade”, pre­sos em suas lutas diárias para pagar as con­tas. Se ele não fos­se tão bonz­in­ho, talvez até teria uma vaga no Clube da Luta para ele. Aliás, não há prati­ca­mente uma gota de sangue no filme, ape­nas hematomas, seguin­do o padrão de “pureza” do cin­e­ma amer­i­cano, só não deixan­do de ser tão ridícu­lo quan­to as mortes em Bat­man — O Cav­aleiro das Trevas Ressurge.

    Tiran­do de lado a super memória do Jack, o mes­mo é bas­tante crív­el nos out­ros aspec­tos, onde não abusam demais — excluin­do uma ou out­ra cena é claro — da sua capaci­dade de con­seguir faz­er tudo que quer, se difer­en­ci­a­do assim de muitos filmes do gênero, prin­ci­pal­mente do seu mais famoso per­son­agem em Mis­são Impos­sív­el. Um dos aspec­tos bem inter­es­sante do lon­ga, é que fica bem explíc­i­to que ele depende bas­tante da sorte para ser bem suce­di­do em sua jor­na­da, haven­do uma cena mem­o­ráv­el onde se não fos­se por isso, o mes­mo seria facil­mente mor­to por dois capan­gas armados.

    O filme em ger­al é bem lon­go, muitas vezes meio arras­ta­do, mas jus­ta­mente por deixar várias situ­ações se desen­volverem mais do que o nor­mal, o resul­ta­do final aca­ba sendo um pouco mais inter­es­sante. Para quem ado­ra ver os filmes do Tom Cruise, com certeza não deve perder mais este lança­men­to. Já para os que não são fãs mas tam­bém não o odeiam, o lon­ga pode acabar agradan­do, ape­sar de todos os clichês, prin­ci­pal­mente por man­ter a inte­gri­dade com que o per­son­agem se propõe: andar livre­mente em bus­ca de faz­er o que ele acred­i­ta ser o certo.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=oRWnDX8qJKo

  • Indie Game: O Filme (2011), de Lisanne Pajot e James Swirsky

    Indie Game: O Filme (2011), de Lisanne Pajot e James Swirsky

    Ain­da hoje con­si­go lem­brar de quan­do eu era ain­da bem pequeno e desco­bri o jogo Pac­Man em um Mac­in­tosh do com­puta­dor da min­ha mãe. Aqui­lo de cer­ta for­ma me mar­cou bas­tante. Depois veio Home Alone (que tin­ha uns 5 dis­quetes e eu prati­ca­mente que­bra­va o tecla­do de tão forte que aper­ta­va as teclas), SkiFree, HeX­en, Time Com­man­do, Con­struc­tor, Sim­C­i­ty 2000, … e a lista foi crescen­do bas­tante. Mas o que sem­pre me empol­ga­va mais neles eram os desafios e a história, não me inter­es­savam tan­to grá­fi­cos super real­is­tas ou “efeitos espe­ci­ais”. Foi jus­ta­mente por isso que quan­do soube que seria feito um doc­u­men­tário sobre jogos inde­pen­dentes, cujo foco cos­tu­ma ser jus­ta­mente essas car­ac­terís­ti­cas, fiquei muito ansioso para vê-lo assim que possível.

    E a espera valeu a muito pena! Lança­do este ano, Indie Game: o Filme (Indie Game: The Movie, Canadá, 2012), dirigi­do pelos canadens­es Lisanne Pajot e James Swirsky, foi um dos primeiros filmes a con­seguir apoio por crowd­fund­ing no Kick­Starter, em 2010. Eles além de diri­girem, pro­duzi­ram, fil­maram, edi­taram e dis­tribuíram o filme, mais inde­pen­dente do que isso, impossível!

    Quem não está famil­iar­iza­do ain­da com o nome, Indie Games são jogos inde­pen­dentes, cri­a­dos por uma pes­soa ou times pequenos, sem qual­quer tipo de finan­cia­men­to de empre­sas de dis­tribuido­ras de jogos eletrôni­cos (Nin­ten­do, Elec­tron­ic Arts, Cap­com, …). O que define um jogo como Indie são cer­tas car­ac­terís­ti­cas, como essas citadas ante­ri­or­mente, mas não há uma definição muito exa­ta para descr­ev­er o que real­mente é um jogo inde­pen­dente. O que pos­si­bil­i­tou que eles crescessem, foi a facil­i­dade que se tem hoje em dia da dis­tribuição, através da inter­net e das platafor­mas de jogos (que per­mitem com­prar, como a loja de aplica­tivos de celu­lar). Começou com Steam, depois foi cri­a­dos out­ros como XBOX Live Arcade, Playsta­tion Net­work, Wii Ware.

    Lisanne Pajot e James Swirsky

    Mas, voltan­do ao filme ago­ra! A ideia do pro­je­to começou logo depois da dupla ter pro­duzi­do em 2009 o cur­ta “Infi­nite Ammo — New Media Man­i­to­ba Busi­ness Show­case” (que pode ser assis­ti­do abaixo, mas infe­liz­mente sem leg­en­das), que em um pouco mais de 5min con­ta a história de Alec Holowka, um desen­volve­dor inde­pen­dente de jogos cri­ador da empre­sa Infi­nite Ammo. A fasci­nação pelo mun­do dos videogames, prin­ci­pal­mente no cenário indie onde pare­cia estar acon­te­cen­do as coisas mais inter­es­santes, ficou muito forte nos dire­tores após a cri­ação deste primeiro vídeo. Eles então pen­saram: por que não então faz­er um lon­ga? Assim ini­cia­ram fil­man­do algu­mas coisas e logo cri­aram um primeiro vídeo como pro­va-de-con­ceito do pro­je­to e que foi uma das prin­ci­pais razões para o suces­so do pro­je­to no KickStarter.

    Difer­ente de um filme no esti­lo de doc­u­men­tário, Indie Game: O Filme segue uma nar­ra­ti­va mais pare­ci­da com um lon­ga de ficção, com uma mon­tagem não total­mente cronológ­i­ca, onde acom­pan­hamos de per­to os cri­adores antes do seu grande dia: o lança­men­to do jogo em algu­ma das platafor­mas grandes de VideoGames (Xbox, ..), pois muito do suces­so dele depende de como as ven­das serão no primeiro dia, depois dis­so as ven­das cos­tu­man só diminuir. Além dis­so, por con­ta de uma óti­ma edição, que ten­ta repro­duzir ao máx­i­mo as situ­ações como se elas real­mente estivessem acon­te­cen­do naque­le momen­to. Uma das cenas mais inter­es­santes neste sen­ti­do, é a que mostra o dia do lança­men­to do jogo “Super­Me­at Boy” onde vamos acom­pan­han­do por men­sagens que Edmund, um dos cri­adores, vai receben­do do seu sócio no celu­lar, sobre como está sendo o lança­men­to do jogo, como se estivesse envian­do naque­le mes­mo momen­to. Essa e out­ras situ­ações no mes­mo esti­lo, acabaram mudan­do total­mente a maneira de sen­tir a história do filme, man­ten­do um rit­mo muito inten­so e envolvedor.


    Ape­sar de ter vários momen­tos em que são comen­ta­dos alguns detal­h­es mais téc­ni­cos dos jogos, como o que é impor­tante para con­stru­ir um, a sua mecâni­ca, … o foco do filme está longe de ser um man­u­al para pes­soas que querem faz­er jogos, mas sim nos sen­ti­men­tos e exper­iên­cias das pes­soas que estão por trás deles. Uma frase que resume bem isso é quan­do Tom­my (desen­volve­dor do Super­Me­at Boy) diz logo no começo do lon­ga que tem pes­soas que con­seguem se expres­sar escreven­do, que é a mel­hor for­ma que encon­traram para se expres­sar, ele con­segue se expres­sar mel­hor crian­do um jogo. O resul­ta­do final aca­ba sendo algo total­mente pes­soal e cheio de per­son­al­i­dade, algo muito difí­cil, senão impos­sív­el, de ser repro­duzi­do pelas grandes com­pan­hias de games. Já Jonathan Blow, comen­ta que colo­cou em seu jogo, Braid, suas fal­has e fraque­zas mais pro­fun­das. Enquan­to Phil Fish em Fez, criou algo onde o jogador pudesse sim­ples­mente jog­ar com cal­ma, explo­ran­do o ambi­ente sem se pre­ocu­par em ficar mor­ren­do ou der­rotan­do vilões.

    A tril­ha sono­ra de Indie Game: O Filme merece tam­bém um destaque espe­cial, pois con­seguiu traduzir muito bem o esti­lo das músi­cas dos jogos esti­lo 8 bits, mas com um toque mais moderno.

    Jim Guthrie

    Ela foi cri­a­da pelo tam­bém canadense Jim Guthrie, que pos­sui um tra­bal­ho muito legal todo disponív­el para escu­tar na pági­na do Band­Camp dele. Recomen­do em espe­cial tam­bém os seus dois álbuns: “The Scythi­an Steppes: Sev­en #Sworcery Songs Local­ized for Japan” e “Sword & Sworcery LP — The Bal­lad of the Space Babies

    Indie Game: O Filme é essen­cial para todos aque­les que gostam de jogos eletrôni­cos, mas tam­bém é muito inter­es­sante para quem quer ape­nas por curiosi­dade, con­hecer um pouco mais do mun­do por trás dos con­soles, que é muito mais com­plexo e difer­ente do que mui­ta gente imag­i­na. Além dis­so, o lon­ga é um ban­quete nos olhos de quem algum dia pen­sa em pro­duzir um doc­u­men­tário, pois pode ser usa­da como uma óti­ma refer­ên­cia em vários aspec­tos (mais infor­mações no próx­i­mo pará­grafo). O filme leg­en­da­do pode ser com­pra­do por $9,99 dólares no site ofi­cial para ser assis­ti­do on-line ou feito o down­load (sem DRM e disponív­el em vários for­matos, inclu­sive mobile).

    Jogos acompanhados e seus Criadores

    Edmund McMillen e Tom­my Refenes
    Super­Me­at Boy
    2010
    Phil Fish
    Fez
    2012
    Jonathan Blow
    Braid
    2008

    Curiosidades

    Super­Me­at Boy é o suces­sor do jogo em flash Meat Boy, que está disponív­el gra­tuita­mente para ser joga­do on-line no New­Grounds.

    Um bom lugar para con­seguir Indie Games a preços espetac­u­lares são as pro­moções do Hum­ble Bun­dle, onde você com­pra um pacote de jogos e paga o quan­to quis­er. O legal é que você escol­he para onde o din­heiro está indo (desen­volve­dores, cari­dade ou para o próprio site) e se você pagar mais do que a média, gan­ha mais um jogo. O mel­hor é que os jogos rodam em Lin­ux, Mac, Win­dows e ago­ra Android também.

    Para quem ficou inter­es­sa­do no proces­so de pro­dução do filme, eles fiz­er­am uma série de posts no blog chama­do “Indie Game, The Movie: The Case Study”, onde vão rela­tan­do com mais detal­h­es como foi a sua cri­ação. Tam­bém fiz­er­am um históri­co ger­al do pro­je­to, que reune pequenos comen­tários (e links para mais detal­h­es) sobre todas as eta­pas e datas impor­tantes do longa.

  • Crítica: O Espetacular Homem-Aranha

    Crítica: O Espetacular Homem-Aranha

    Depois de três filmes dirigi­dos por Sam Rai­mi com Tobey Maguire como Peter Park­er, a fran­quia cin­e­matográ­fi­ca do super heroi arac­nídeo já esta­va fican­do bem des­gas­ta­da. Mas como toda série de lon­gas de alto retorno com­er­cial, nada como um bom reboot para esquen­tar nova­mente as coisas, afi­nal se deu cer­to com Bat­man e X‑Men por que não ten­tar de novo? O Espetac­u­lar Homem-Aran­ha (The Amaz­ing Spi­der-Man, EUA, 2012), dirigi­do por Marc Webb e com Andrew Garfield no papel prin­ci­pal, é a nova car­ta­da da Sony para traz­er de novo às luzes o heroi.

    Aqui temos nova­mente o iní­cio da história de Peter Park­er, um aluno muito inteligente (nerd), apaixon­a­do pela garo­ta mais pop­u­lar da esco­la, e sofre bul­ly­ing até que um dia ao vis­i­tar um lab­o­ratório é mor­di­do por uma aran­ha geneti­ca­mente mod­i­fi­ca­da e… tcharam! Temos o Homem-Aran­ha! Algu­ma novi­dade? Até ago­ra não… Para quem con­heceu o super heroi através dos out­ros filmes ou da série ani­ma­da que pas­sa­va na TV (que foi por onde con­heci), irá notar duas grandes difer­enças neste novo filme: con­hece­mos um pouco mais da história dos pais do Peter, que até ago­ra era um mis­tério total, e nada da rui­va Mary Jane, mas sim a loira Gwen Sta­cy (Emma Stone). Em relação aos out­ros filmes, o Homem-Aran­ha vol­ta nova­mente a usar o lançador de teias. Ape­sar da teia orgâni­ca uti­liza­da ante­ri­or­mente, o diver­tido delas como um acessório a parte sem­pre foi quan­do o car­tu­cho acaba­va e colo­ca­va nos­so heroi em situ­ações ines­per­adas, mas isto ain­da não aconteceu.

    O Espetac­u­lar Homem-Aran­ha ten­ta ser um filme bem mais real­ista em vários sen­ti­dos. Um deles é a questão da teia arti­fi­cial, onde faz alusões do estu­do pelos cien­tis­tas afim de cri­ar uma fibra super resistente, cuja pesquisa aca­ba sendo usa­do pelo Peter em seu lançador arti­fi­cial. Além dis­so, o homem lagar­to tam­bém ficou muito real­ista, com o seu com­por­ta­men­to forte­mente influ­en­ci­a­do pelo “cére­bro” rep­til­iano que aca­ba coman­dan­do as ações do dr. Curt Con­nors (Rhys Ifans).

    Uma cena bem difer­ente do filme é quan­do acom­pan­hamos o Homem-Aran­ha pela per­spec­ti­va dele, lem­bran­do bas­tante o modo de visão uti­liza­do no jogo Mirror’s Edge. E com a moda do 3D é claro que este lon­ga tam­bém não iria ficar de fora, mas par­tic­u­lar­mente, não vi mui­ta difer­ença com o 3D, são rarís­si­mas cenas que ele pare­ceu faz­er uma difer­ença, mas em ger­al recomen­daria assi­s­tir a ver­são em 2D mesmo.

    Marc Webb, mais con­heci­do por diri­gir o filme 500 Dias com Ela, fez um óti­mo tra­bal­ho em O Espetac­u­lar Homem-Aran­ha, além de muito diver­tido — as piadas são sen­sa­cionais — e com várias óti­ma cenas de ação, temos um herói e uma história bem mais con­vin­cente e palpáv­el que o da trilo­gia ante­ri­or. Com certeza vale o ingres­so no cin­e­ma! A grande per­gun­ta que fica é, quem será o vilão da próx­i­ma sequência?

    E é claro que como quase todos os últi­mos filmes de super herói, no final há uma cena extra anun­ci­a­do a próx­i­ma sequên­cia, que infe­liz­mente é bem fra­ca. A impressão foi que se ten­tou repe­tir o mes­mo efeito para anun­ciar Os Vin­gadores quan­do Nick Fury sem­pre apare­cia no final dos out­ros filmes, mas pas­sou bem longe.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=e6HIFQAzTkM

  • Crítica: Homens de Preto 3

    Crítica: Homens de Preto 3

    Depois de um segun­do filme rel­a­ti­va­mente fra­co, Home­ns de Pre­to 3 (Men in Black 3, EUA, 2012), dirigi­do por Bar­ry Son­nen­feld, veio para revig­o­rar o esti­lo e humor da agên­cia sec­re­ta respon­sáv­el por man­ter a ordem no uni­ver­so, vesti­dos nos famosos ter­nos pre­tos com ócu­los escuros.

    Des­ta vez, um aliení­ge­na chama­do Boris, o Ani­mal (Jemaine Clement), con­segue fugir de uma prisão de segu­rança máx­i­ma na lua e vol­ta a ter­ra para se vin­gar do agente K (Tom­my Lee Jones), respon­sáv­el pela sua prisão. Seu plano é faz­er uma viagem no tem­po e assim mudar a história onde no final saia vito­rioso, mas o agente J (Will Smith) é o úni­co que não parece ter sido alter­ado por esta mudança, fazen­do de tudo para traz­er o agente K de volta.

    Assim como no primeiro filme, que arrisco a diz­er que virou um clás­si­co nos dias de hoje, Home­ns de Pre­to 3 é reple­to de bom humor e muitos aliení­ge­nas. Acred­i­to que um dos maiores trun­fos des­de o primeiro lon­ga, foi ter trazi­do ao grande públi­co a ideia de que aliení­ge­nas exis­tem e estão entre nós, de uma maneira bas­tante diver­ti­da. Alguns podem ques­tionar que a série Arqui­vo X já fez isso, mas ape­sar de ser um grande fã, vejo que ela se tornou tam­bém algo mais de um nicho especí­fi­co e que por muitas vezes ser lev­a­da a sério demais por seus próprios fãs, aca­ba ten­do um públi­co mais restrito.

    Um aspec­to bem inter­es­sante da trilo­gia em ger­al é que ela não fica pre­sa somente aos aliení­ge­nas com papeis mais impor­tantes, tam­bém são cri­a­dos uma grande var­iedade de aliens que ape­nas apare­cem no plano de fun­do. Assim aca­ba crian­do uma von­tade de quer­er assi­s­tir nova­mente ao lon­ga para poder dar mais atenção nesse tipo de detal­he. No Home­ns de Pre­to 3 fica ain­da mais forte esse dese­jo por tam­bém terem dois tipos de extrater­restes, os do pre­sente e do pas­sa­do, que pos­suem um visu­al meio retrô e bem car­ac­terís­ti­co da visão que se tin­ha deles nos anos 60.

    Falan­do neles, nos dois primeiros filmes, é impos­sív­el não dar várias risadas quan­do vemos quem são os aliení­ge­nas que vivem aqui na ter­ra sendo mon­i­tora­dos pela agên­cia, prin­ci­pal­mente no segun­do, quan­do o próprio Michael Jack­son faz uma chama­da em vídeo, pedin­do para ser um dos home­ns de pre­to. Em Home­ns de Pre­to 3, não é difer­ente, e se vai até muito mais além, pegan­do o icôni­co Andy Warhol e inserindo‑o no con­tex­to do filme de for­ma tão genial que nun­ca mais você irá pen­sar nela sem no mín­i­mo esboçar um pequeno sor­riso no rosto.

    Os efeitos espe­ci­ais em Home­ns de Pre­to 3 são óti­mos, a evolução entre os out­ros filmes ante­ri­ores é incrív­el. Somos apre­sen­ta­dos a veícu­los malu­cos, armas muito mais poderosas e, é claro, aliens explodin­do com todos os detal­h­es pos­síveis. Ape­sar de todos os equipa­men­tos super avança­dos, não são eles os respon­sáveis pelo suces­so dos home­ns de pre­to, mas sim o seu poder de impro­vis­ar e, no caso especí­fi­co do agente J, tam­bém de faz­er piadas. Out­ra car­ac­terís­ti­ca inter­es­sante do lon­ga é que ele tra­ta de vários con­ceitos cien­tí­fi­cos como via­gens no tem­po, com todas as ram­i­fi­cações que isso pode traz­er, o efeito bor­bo­le­ta, pre­visão do futuro, etc sem ficar se exten­den­do em expli­cações, assu­min­do que quem tiv­er inter­esse no assun­to pode depois se apro­fun­dar mais e quem não tiv­er, sim­ples­mente cur­tir o filme.

    Home­ns de Pre­to 3 defin­i­ti­va­mente vale a ida ao cin­e­ma, prin­ci­pal­mente para quem gos­ta dos out­ros lon­gas. Este, além de ser tão diver­tido quan­to o primeiro, tam­bém con­segue fechar várias per­gun­tas que ficaram aber­tas des­de o iní­cio da história dos agentes.

    Des­ta vez (infe­liz­mente) a músi­ca tema de MIB 3, não foi fei­ta pelo Will Smith, mas sim por Pit­bull, quem tiv­er inter­esse veja aqui o clipe ofi­cial de Back In Time. Eu par­tic­u­lar­mente pre­firia quan­do Will Smith can­ta­va, dava um humor a mais nas músi­cas. Quem ain­da não viu, segue os vídeos: Men in Black (MIB 1) e Black Suits Comin’ (Nod Ya Head) (MIB 2).

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=q0uy_8l-TqE

  • Crítica: Gigantes de Aço

    Crítica: Gigantes de Aço

    Não, não se assuste quan­do pas­sar a primeira meia hora de Gigantes de Aço (Real Steel, E.U.A., 2011) e você acred­i­tar estar ven­do um remake revis­i­ta­do de filmes dos anos 80 e 90 estre­la­dos pelo bom e vel­ho Stal­lone. Parece que Shawn Levy não rene­ga em nada a fonte que bebeu para dar vida ao lon­ga que prom­ete ren­der uma boa bil­hete­ria nas próx­i­mas semanas.

    Char­lie Ken­ton, inter­pre­ta­do por um Hugh Jack­man com ray­ban e humor típi­cos, é um ex-box­eador frustra­do. Lá pelo ano de 2020 o boxe foi instin­to como esporte, robôs enormes são a sen­sação das lutas nos ringues e Ken­ton é um pro­mo­tor destes que cir­cu­la com as máquinas, den­tro de um cam­in­hão vel­ho, atrás de din­heiro. Sem­pre sem des­ti­no, o homem vai se sen­tir acoa­do quan­do sua ex-mul­her morre e deixa o fil­ho de 11 anos sob a custó­dia dele.

    De fato, o enre­do de Gigantes de Aço se assemel­ha muito a um mix de Fal­cão e a série Rocky Bal­boa. Basea­do no con­to Steel de Richard Math­e­son — que escreveu out­ros livros que der­am origem a filmes como o Eu Sou a Len­da — o lon­ga apela pelos laços entre per­son­agens e men­sagens de não desistên­cia e é inegáv­el que faz isso muito bem. Mes­mo ten­do todos os clichês pos­síveis e esper­a­dos, como a história de pai e fil­ho que ten­tam se encon­trar através de gos­tos e von­tades em comum, man­tém firme o espec­ta­dor que se pega fazen­do o mais clichê que é sim­ples­mente ficar na tor­ci­da que tudo acabe sain­do da mel­hor forma.

    Inter­es­sante que o cli­ma futur­ista não ficou arrisca­do, ou até exager­a­do, com a pre­sença dos robôs. Pas­san­do longe de fran­quias barul­hen­tas do esti­lo Trans­form­ers, o Gigantes de Aço apos­ta num futuro próx­i­mo bem comum com detal­h­es plausíveis e sim­ples de tec­nolo­gia, como alguns com­puta­dores e tablets con­tro­ladores dos robôs. Inclu­sive, as próprias máquinas são sim­ples e bem con­vin­centes, lem­bran­do muito as miniat­uras japone­sas que as cri­anças cos­tu­mam brincar.

    Talvez Hugh Jack­man não seja o mais novo Stal­lone, mas é bem níti­da a influên­cia nos tre­jeitos do Ken­ton-pai. Mas quem rou­ba a cena mes­mo é o meni­no Dako­ta Goya que sem­pre tem fras­es esper­tas sem pre­cis­ar pare­cer cri­ança-prodí­gio. Já Evan­ge­line Lil­ly (ex-Lost), que seria o par român­ti­co de Jack­man, aca­ba ten­do uma per­son­agem bem secundária, como já vem ocor­ren­do numa série de últi­mos lon­gas com out­ras belas atrizes.

    Nas últi­mas sem­anas parece que dire­tores que andaram muito tem­po em baixa, resolver­am apos­tar em novas ten­ta­ti­vas. Shawn Levy vem de uma safra muito ruim de direções, com comé­dias como Uma Noite no Museu e out­ras român­ti­cas do esti­lo Uma noite Fora de Série e arrisco em diz­er que Gigantes de Aço é o mel­hor filme que o dire­tor já pos­sa ter colo­ca­do o dedo. Talvez se ini­cie uma nova fase para dire­tores saírem da mesmice exager­a­da com­er­cial e pos­sam apos­tar em algo com car­ac­terís­ti­cas de ven­da sem subes­ti­mar o espectador.

    E mes­mo que Gigantes de Aço seja con­sid­er­a­do um pas­tiche futur­ista de filmes que der­am tão cer­to, é inevitáv­el não cair nas graças do lon­ga. Se as fór­mu­las fun­cionaram tão bem na época, porque não causari­am efeito hoje, já que esta­mos imer­sos em um razoáv­el número de filmes sem o mín­i­mo de qual­i­dade? Vale a pena o ingres­so, a pipoca e a vel­ha emoção de torcer pelo melhor.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=p0UwOT-9pwk

  • Crítica: A Garota da Capa Vermelha

    Crítica: A Garota da Capa Vermelha

    Depois de adap­tações voltadas à seres mitológi­cos do imag­inário cul­tur­al como vam­piros e lobi­somens, as novas pro­duções em série do cin­e­ma amer­i­cano apos­tam em releituras de clás­si­cas fábu­las infan­tis. Seguir um viés mais real­ista para essas fábu­las é uma pro­pos­ta inter­es­sante e em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha (Red Hid­ing Hood, USA, 2011) de Cather­ine Hard­wicke, basea­do no clás­si­co A Chapeuz­in­ho Ver­mel­ho, a pre­mis­sa da adap­tação acabou fican­do des­fo­ca­da diante de tan­tos ele­men­tos de entreten­i­men­to, volta­dos prin­ci­pal­mente ao públi­co jovem.

    O vilare­jo de Dag­ger­horn con­vive há várias ger­ações com a pre­sença mitológ­i­ca de um lobo. Tan­to que cri­aram uma espé­cie de pacto de paz que aca­ba de ser que­bra­do pela morte de uma jovem e com isso desco­brem que o lobo é na ver­dade um lobi­somem e que este pode ser qual­quer um da vila. Ao tentarem solu­cionar o prob­le­ma chamam o car­ras­co padre Salomon (Gary Old­man), que traz a questão sobre o mito ver­sus religião. Valérie (Aman­da Seyfried) é a irmã mais vel­ha da víti­ma e está fada­da a ter um des­ti­no infe­liz ao se casar com um rapaz que não ama e ao desco­brir que é a úni­ca com quem o lobo con­ver­sa, muito do des­ti­no da jovem irá mudar.

    A con­fig­u­ração históri­ca e a pre­sença do cenário na idade média, con­tan­do com todos os ele­men­tos reli­giosos da época ten­ta recri­ar, de for­ma bem inter­es­sante, o para­doxo de Deus e Dia­bo diante da len­da do Lobi­somen que ron­da o imag­inário do pequeno vilare­jo. A situ­ação de lidar com a religião e os mitos é bem pre­sente na intenção de A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha e pode­ria ter sido bem uti­liza­da se não fos­se o foco no obscu­ran­tismo — força­do! — da len­da e no romance fraquin­ho entre os pos­síveis per­son­agens principais.

    A per­son­agem de Valérie, inter­pre­ta­da por Aman­da Seyfried é bem pouco caris­máti­ca, sendo apre­sen­ta­da como uma pos­sív­el mul­her forte e difer­ente mas aca­ba não se sus­ten­tan­do de for­ma con­vin­cente durante o lon­ga. Aliás, A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha pos­sui todos os clichês do tra­bal­ho ante­ri­or da dire­to­ra, o primeiro filme da fran­quia Crepús­cu­lo, deixan­do claro que ela não se sus­ten­ta como boa real­izado­ra, repetindo as mes­mas jogadas. Ain­da, os per­son­agens que dev­e­ri­am sus­ten­tar o enre­do ficam per­di­dos em super­fi­cial­i­dade na atu­ação, se pren­den­do a jogadas de olhar para as câmeras e juras de amor eter­no, esque­cen­do da tra­ma em si.

    Os efeitos de CGI estão bem pre­sentes em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha, o lobi­somem é um mis­to de todos os seres cani­nos exis­tentes e trans­for­ma­do num enorme cão com olhos e dentes raivosos, mas niti­da­mente manip­u­la­do. Esse efeito e alguns exter­nos, prin­ci­pal­mente em cenas de visão aérea da vila, soam força­dos quan­do colo­ca­dos em con­traste com os ele­men­tos medievais apre­sen­ta­dos no lon­ga. Mas a fotografia, em cenas ambi­en­tadas den­tro da vila, é geral­mente muito boa e o fig­uri­no tam­bém é um pon­to pos­i­ti­vo e bem agradável.

    O prin­ci­pal prob­le­ma em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha é ten­tar pare­cer con­vin­cente — de for­ma con­sciente ou não — forçan­do a visão român­ti­ca entre humano e criatu­ra, algo já pro­pos­to des­de os tem­pos de Drácu­la, Franken­stein e atual­mente na lit­er­atu­ra pop infan­to-juve­nil. A dire­to­ra força as ati­tudes no decor­rer do lon­ga que acabam o levan­do para o rol de filmes-rótu­los e fór­mu­las que fun­cionam para o atu­al cin­e­ma-instân­ta­neo, facil­mente esque­ci­do em menos de 2 sem­anas em car­taz. Talvez o lon­ga val­ha o ingres­so pela curiosi­dade de se ver uma fábu­la revista para o cin­e­ma, ou ain­da para um grande públi­co que se inter­es­sa pelo esti­lo. Parece tam­bém que muitas out­ras ver­sões de fábu­las vem por ai, res­ta esperar…

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=rr6wiWSrJ48

  • Lançamento da HQ “Ordinário” e debate com Rafael Sica na Itiban, em Curitiba

    Lançamento da HQ “Ordinário” e debate com Rafael Sica na Itiban, em Curitiba

    ¨Meus desen­hos são sobre esse cotid­i­ano alien­ante¨ afir­ma o quadrin­ista Rafael Sica. O gaú­cho é uma das promes­sas da nova safra de desen­his­tas que parece ter vin­do para mudar a cara das HQs brasileiras. Sica esteve em Curiti­ba, no dia 23 de fevereiro, lançan­do o livro Ordinário (Com­pan­hia das Letras, 2011), na tradi­cional livraria espe­cial­iza­da em quadrin­hos, a Itiban Com­ic Shop. Hou­ve sessão de autó­grafos e debate sobre a obra do autor, medi­a­do por Liel­son Zeni.

    Ordinário reúne tiras que Rafael Sica pub­li­ca no seu blog des­de 2009. que são mar­cadas pelo silên­cio e iro­nias. Elas garan­tem muitas opiniões con­tro­ver­sas pelos leitores do blog e provavel­mente dos que lerem o livro tam­bém. O desen­hista se inspi­ra prin­ci­pal­mente em obser­vações, há muito sobre com­por­ta­men­tos obses­sivos, refer­ên­cias cin­e­matográ­fi­cas e literárias nos seus per­son­agem indigentes.

    Rafael Sica diz que os quadrin­hos falam de pes­soas e que o silên­cio é fun­da­men­tal para isso, anteceden­do a respos­ta na obra. Garante que tudo é dito o tem­po todo, por­tan­to a ausên­cia de nar­ra­ti­va é fun­da­men­tal. Além dis­so, reflete que o tem­po da leitu­ra de um quadrin­ho sem tex­to é difer­ente, mais lento. Quan­do está lendo histórias maiores, muitas vezes ele mes­mo se viu ape­nas indo rap­i­da­mente de um diál­o­go para o out­ro sem nem olhar dire­ito o desen­ho. Sica expli­ca que com o silên­cio, os desen­hos pas­saram a ser mais provoca­tivos ao leitor.

    Sica não vê o seu tra­bal­ho como críti­ca social com função de acer­tar algum alvo especi­fi­co. Afir­ma que não lev­an­ta ban­deiras e nem teo­rias, sim­ples­mente apon­ta um seg­men­to e que as inter­pre­tações vem de quem as lê e obser­va. O leitor de Ordinário e, con­se­quente­mente, do blog de Rafael Sica é tam­bém um autor. É esse obser­vador não pas­si­vo que, com seus próprios fil­tros, vai dar sen­ti­do a cada quadro e metá­fo­ra sur­re­al apresentada.

    O quadrin­ista diz que há uma cer­ta demo­ra para se ter um tra­bal­ho mais autoral e que para ele, em par­tic­u­lar, hou­ve um proces­so tran­sitório lento entre a nar­ra­ti­va tex­tu­al e o silên­cio dos quadrin­hos atu­ais. Quan­do ques­tion­a­do sobre a ausên­cia de diál­o­gos ser uma fer­ra­men­ta fácil para se pub­licar em out­ros país­es e expandir o tra­bal­ho, Sica responde que não foi esta a razão da uti­liza­ção deste esti­lo, mas é claro que seria óti­mo ver ess­es tra­bal­hos em vários can­tos do mun­do. Entre­tan­to, não está dis­pos­to a faz­er ¨de tudo um pouco¨ para isso, ele sim­ples­mente desen­ha, se der cer­to, óti­mo. Rafael Sica con­ta que já teve algu­mas ilus­trações pub­li­cadas em Buenos Aires e algu­mas tiras numa revista na Eslovê­nia, mas isso em um meio mais under­ground. As indi­cações para ess­es tra­bal­hos vier­am através do blog, ressaltan­do a importân­cia da inter­net no tra­bal­ho dele.

    O tra­bal­ho de Rafael Sica pode se encaixar per­feita­mente no ter­mo de ¨con­tem­porâ­neo¨ por tratar de temas urbanos e das doenças com­por­ta­men­tais obses­si­vas, aparente­mente comuns do dia a dia, de for­ma escan­car­a­da e irôni­ca. Mas o autor faz pia­da sobre ess­es ter­mos gen­er­al­izadores, e diz que ele somente faz quadrin­hos. Afir­ma que fal­ta uma críti­ca ver­dadeira de HQs no Brasil e acred­i­ta que isso tende a mudar, afi­nal as edi­toras estão apo­s­tan­do bas­tante no seg­men­to, o que não acon­te­cia há quase duas décadas.

    Rafael Sica ain­da não vive dos quadrin­hos, expli­ca que isso no Brasil não é tão sim­ples, atual­mente tra­bal­ha como ilustrador e faz alguns edi­to­ri­ais. Além dis­so, o desen­hista par­tic­i­pa de pro­je­tos como o Friquinique e a revista Picabu. Ain­da, quan­do per­gun­tam a ele se estaria dis­pos­to a desen­har sobre qual­quer assun­to, diz que não, sendo essa negação uma for­ma de inde­pendên­cia nos quadrin­hos. Afi­nal, Sica afir­ma que pos­sui um esti­lo bem par­tic­u­lar e este cer­ta­mente não com­bi­na­ria com qual­quer proposta.

    Ordinário lem­bra bas­tante os primeiros quadrin­hos de Lourenço Mutarel­li, em Tran­sub­stan­ci­ação, mas com um teor menos pes­simista, mais real­ista e hilário em muitos momen­tos. Até diria que os desen­hos são bas­tante reflex­ivos e muitas vezes facil­mente ide­ti­ficáveis com situ­ações cotid­i­anas. Rafael Sica merece destaque nesse novo cenário que a inter­net per­mite e mes­mo que amorte­ci­dos pelo hábito, vale a reflexão em torno dessas nar­ra­ti­vas desenhadas.

    Veja as fotos do even­to no Flickr da Itiban.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o seu com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Ouça o debate com­ple­to: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

    [wpau­dio url=“http://www.interrogacao.com.br/media/eventos/20100223-rafael_sica-palestra_itiban.mp3” text=“Debate com Rafael Sica na Itiban” dl=“0”]

    Você é de Curiti­ba e pref­ere com­prar livros pes­soal­mente? Então que tal pas­sar na Itiban Comics Shop que fica na Av. Sil­va Jardim, 845. Ou entre em con­ta­to por tele­fone: (41) 3232–5367.