Ainda hoje consigo lembrar de quando eu era ainda bem pequeno e descobri o jogo PacMan em um Macintosh do computador da minha mãe. Aquilo de certa forma me marcou bastante. Depois veio Home Alone (que tinha uns 5 disquetes e eu praticamente quebrava o teclado de tão forte que apertava as teclas), SkiFree, HeXen, Time Commando, Constructor, SimCity 2000, … e a lista foi crescendo bastante. Mas o que sempre me empolgava mais neles eram os desafios e a história, não me interessavam tanto gráficos super realistas ou “efeitos especiais”. Foi justamente por isso que quando soube que seria feito um documentário sobre jogos independentes, cujo foco costuma ser justamente essas características, fiquei muito ansioso para vê-lo assim que possível.
E a espera valeu a muito pena! Lançado este ano, Indie Game: o Filme (Indie Game: The Movie, Canadá, 2012), dirigido pelos canadenses Lisanne Pajot e James Swirsky, foi um dos primeiros filmes a conseguir apoio por crowdfunding no KickStarter, em 2010. Eles além de dirigirem, produziram, filmaram, editaram e distribuíram o filme, mais independente do que isso, impossível!
Quem não está familiarizado ainda com o nome, Indie Games são jogos independentes, criados por uma pessoa ou times pequenos, sem qualquer tipo de financiamento de empresas de distribuidoras de jogos eletrônicos (Nintendo, Electronic Arts, Capcom, …). O que define um jogo como Indie são certas características, como essas citadas anteriormente, mas não há uma definição muito exata para descrever o que realmente é um jogo independente. O que possibilitou que eles crescessem, foi a facilidade que se tem hoje em dia da distribuição, através da internet e das plataformas de jogos (que permitem comprar, como a loja de aplicativos de celular). Começou com Steam, depois foi criados outros como XBOX Live Arcade, Playstation Network, Wii Ware.
Mas, voltando ao filme agora! A ideia do projeto começou logo depois da dupla ter produzido em 2009 o curta “Infinite Ammo — New Media Manitoba Business Showcase” (que pode ser assistido abaixo, mas infelizmente sem legendas), que em um pouco mais de 5min conta a história de Alec Holowka, um desenvolvedor independente de jogos criador da empresa Infinite Ammo. A fascinação pelo mundo dos videogames, principalmente no cenário indie onde parecia estar acontecendo as coisas mais interessantes, ficou muito forte nos diretores após a criação deste primeiro vídeo. Eles então pensaram: por que não então fazer um longa? Assim iniciaram filmando algumas coisas e logo criaram um primeiro vídeo como prova-de-conceito do projeto e que foi uma das principais razões para o sucesso do projeto no KickStarter.
Diferente de um filme no estilo de documentário, Indie Game: O Filme segue uma narrativa mais parecida com um longa de ficção, com uma montagem não totalmente cronológica, onde acompanhamos de perto os criadores antes do seu grande dia: o lançamento do jogo em alguma das plataformas grandes de VideoGames (Xbox, ..), pois muito do sucesso dele depende de como as vendas serão no primeiro dia, depois disso as vendas costuman só diminuir. Além disso, por conta de uma ótima edição, que tenta reproduzir ao máximo as situações como se elas realmente estivessem acontecendo naquele momento. Uma das cenas mais interessantes neste sentido, é a que mostra o dia do lançamento do jogo “SuperMeat Boy” onde vamos acompanhando por mensagens que Edmund, um dos criadores, vai recebendo do seu sócio no celular, sobre como está sendo o lançamento do jogo, como se estivesse enviando naquele mesmo momento. Essa e outras situações no mesmo estilo, acabaram mudando totalmente a maneira de sentir a história do filme, mantendo um ritmo muito intenso e envolvedor.
Apesar de ter vários momentos em que são comentados alguns detalhes mais técnicos dos jogos, como o que é importante para construir um, a sua mecânica, … o foco do filme está longe de ser um manual para pessoas que querem fazer jogos, mas sim nos sentimentos e experiências das pessoas que estão por trás deles. Uma frase que resume bem isso é quando Tommy (desenvolvedor do SuperMeat Boy) diz logo no começo do longa que tem pessoas que conseguem se expressar escrevendo, que é a melhor forma que encontraram para se expressar, ele consegue se expressar melhor criando um jogo. O resultado final acaba sendo algo totalmente pessoal e cheio de personalidade, algo muito difícil, senão impossível, de ser reproduzido pelas grandes companhias de games. Já Jonathan Blow, comenta que colocou em seu jogo, Braid, suas falhas e fraquezas mais profundas. Enquanto Phil Fish em Fez, criou algo onde o jogador pudesse simplesmente jogar com calma, explorando o ambiente sem se preocupar em ficar morrendo ou derrotando vilões.
A trilha sonora de Indie Game: O Filme merece também um destaque especial, pois conseguiu traduzir muito bem o estilo das músicas dos jogos estilo 8 bits, mas com um toque mais moderno.
Ela foi criada pelo também canadense Jim Guthrie, que possui um trabalho muito legal todo disponível para escutar na página do BandCamp dele. Recomendo em especial também os seus dois álbuns: “The Scythian Steppes: Seven #Sworcery Songs Localized for Japan” e “Sword & Sworcery LP — The Ballad of the Space Babies”
Indie Game: O Filme é essencial para todos aqueles que gostam de jogos eletrônicos, mas também é muito interessante para quem quer apenas por curiosidade, conhecer um pouco mais do mundo por trás dos consoles, que é muito mais complexo e diferente do que muita gente imagina. Além disso, o longa é um banquete nos olhos de quem algum dia pensa em produzir um documentário, pois pode ser usada como uma ótima referência em vários aspectos (mais informações no próximo parágrafo). O filme legendado pode ser comprado por $9,99 dólares no site oficial para ser assistido on-line ou feito o download (sem DRM e disponível em vários formatos, inclusive mobile).
Jogos acompanhados e seus Criadores
Curiosidades
SuperMeat Boy é o sucessor do jogo em flash Meat Boy, que está disponível gratuitamente para ser jogado on-line no NewGrounds.
Um bom lugar para conseguir Indie Games a preços espetaculares são as promoções do Humble Bundle, onde você compra um pacote de jogos e paga o quanto quiser. O legal é que você escolhe para onde o dinheiro está indo (desenvolvedores, caridade ou para o próprio site) e se você pagar mais do que a média, ganha mais um jogo. O melhor é que os jogos rodam em Linux, Mac, Windows e agora Android também.
Para quem ficou interessado no processo de produção do filme, eles fizeram uma série de posts no blog chamado “Indie Game, The Movie: The Case Study”, onde vão relatando com mais detalhes como foi a sua criação. Também fizeram um histórico geral do projeto, que reune pequenos comentários (e links para mais detalhes) sobre todas as etapas e datas importantes do longa.
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