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  • Augustine (2012), de Alice Winocour

    Augustine (2012), de Alice Winocour

    Caça às Bruxas na Idade Média
    Caça às Bruxas na Idade Média

    A Idade Média, perío­do obtu­so da história da humanidade, con­tabi­liza um número grande de mul­heres con­de­nadas à fogueira ou enfor­ca­men­to por acusações como bruxaria, pos­sessão demonía­ca e pactos dia­bóli­cos. Sob a égide do “Não deixarás viv­er a feiti­ceira” (Êxo­do – Capí­tu­lo 22, Ver­sícu­lo 17), a San­ta Inquisição, “tri­bunal ecle­siás­ti­co cri­a­do com a final­i­dade de inves­ti­gar e punir crimes con­tra a fé católi­ca”, pro­moveu exe­cuções em mas­sa numa ensande­ci­da “caça às bruxas”. Com o apoio do livro “Malleus Malefi­carum” (algo como ‘Marte­lo das Bruxas’), pub­li­ca­do em mea­d­os de 1486, os inquisidores difun­di­am entre a pop­u­lação a existên­cia de supos­tos “méto­dos” para iden­ti­ficar, acusar e con­denar for­mal­mente uma bruxa.

    O man­u­al reli­gioso apon­ta a arte de manip­u­lar e con­tro­lar a sex­u­al­i­dade como uma das prin­ci­pais fontes de poder das feiti­ceiras, asso­cian­do o ato sex­u­al ao pacto car­nal entre mul­her e demônio. O sexo é apon­ta­do aqui como propul­sor da here­sia e blas­fêmia, dig­no de repul­sa e dom­i­nação. Com base nesse argu­men­to, muitas mul­heres foram con­sid­er­adas ‘ser­vas de Satã’ e lev­adas à morte sem qual­quer remor­so por parte dos algo­zes, ao apre­sentarem um quadro de insta­bil­i­dade emo­cional e alter­ação nos sin­tomas físi­cos, entre eles a per­tur­bação dos sen­ti­dos, par­al­isia, dores agu­das, con­trações, con­vul­sões, den­tre out­ros distúrbios.

    Une leçon clinique à la Salpêtrière - André Brouillet - 1887
    Une leçon clin­ique à la Salpêtrière — André Brouil­let — 1887

    Somente no final do sécu­lo XIX, com os estu­dos ini­ci­a­dos pelo neu­rol­o­gista e cien­tista francês Jean-Mar­tin Char­cot, pro­fes­sor de nomes que viraram refer­ên­cia, como Sig­mund Freud e William James, o ter­mo his­te­ria foi gan­han­do for­ma para definir o tipo de neu­rose respon­sáv­el por deter­mi­na­dos dis­túr­bios sen­so­ri­ais e motores, respon­sáveis por faz­erem com que as mul­heres afe­tadas perdessem o auto­con­t­role e entrassem em colapso.

    Jean-Mar­tin Char­cot ficou con­heci­do pelos exper­i­men­tos e estu­dos que real­iza­va na famosa clíni­ca psiquiátri­ca france­sa Pitié-Salpêtrière, onde rece­bia – e fotografa­va — pacientes em diver­sos esta­dos de insta­bil­i­dade men­tal. Uma dessas pacientes era Louise Augus­tine Gleizes, uma jovem diag­nos­ti­ca­da com histeria.

    Pôster do filme
    Pôster do filme

    Esse caso clíni­co-amoroso foi abor­da­do pela dire­to­ra france­sa Alice Winocour no dra­ma “Augus­tine” (2012), adap­tação efer­ves­cente que nar­ra a história de dese­jo, ambição acadêmi­ca, inves­ti­gação cien­tí­fi­ca e ardor sex­u­al entre o médi­co francês e a jovem paciente. No filme, Jean-Mar­tin Char­cot (inter­pre­ta­do por Vin­cent Lin­don), respeita­do e temi­do nas dependên­cias do Hos­pi­tal Salpêtrière, está às voltas com a recepção de sua pesquisa cien­tí­fi­ca pelo meio acadêmi­co e pela elite social, ten­do em vista que a boa reper­cussão con­ced­e­ria ao médi­co aumen­to de inves­ti­men­tos e maior vis­i­bil­i­dade. Em dado momen­to, chega ao hos­pi­tal a jovem Augus­tine, de 19 anos, viti­ma­da por uma forte crise con­vul­si­va e com o lado esquer­do par­al­isa­do, fato que ocor­reu em meio às ativi­dades domés­ti­cas real­izadas pela moça durante um jan­tar, na casa na qual era empregada.

    Augus­tine, inter­pre­ta­da pela can­to­ra pop-folk france­sa Stéphanie Sokolin­s­ki, con­heci­da como Soko, tor­na-se logo um caso emblemáti­co para Char­cot, deses­ta­bi­lizan­do a mente racional do médi­co ao exalar ingenuidade infan­til com luxúria ocul­ta. O filme todo é envolvi­do por uma atmos­fera neb­u­losa, uma espé­cie de ter­ror silen­cioso que Augus­tine traz nas feições, niti­da­mente góti­cas. Após a par­al­isia do lado esquer­do, oca­sion­a­da depois que Augus­tine vê carangue­jos vivos em ebu­lição na pan­ela, a jovem paciente é inva­di­da por uma nova onda de ter­ror quan­do pres­en­cia con­vul­sões de uma gal­in­ha decap­i­ta­da, trazen­do à tona seus ataques eróti­cos. Dessa vez, o olho dire­ito da jovem é abrup­ta­mente fechado.

    Imagem de divulgação do filme Augustine
    Imagem de divul­gação do filme Augustine

    Estu­dar os sin­tomas apre­sen­ta­dos por Augus­tine ren­o­va a eufo­ria de Char­cot, ali­men­tan­do a crença pes­soal de que ele está bem próx­i­mo de uma descober­ta cru­cial no cam­po da his­te­ria, ciên­cia que se propôs a inves­ti­gar. Ao lado das inves­ti­gações inter­nas real­izadas pelo médi­co no cor­po de Augus­tine, há tam­bém demon­strações públi­cas para acadêmi­cos e pesquisadores da área, onde sessões de hip­nose e colap­sos públi­cos dão efe­tivi­dade à teo­ria lev­an­ta­da pelo neurologista.

    Augus­tine é sub­meti­da a uma ver­dadeira pro­fusão de testes e obser­vações. A obsessão de Jean-Mar­tin Char­cot em fotogra­far suas pacientes tam­bém é apre­sen­ta­da no filme, com uma sequên­cia de reg­istros e anális­es de Augus­tine até mes­mo nos momen­tos de sono pro­fun­do. A aprox­i­mação gera um amor furti­vo, uma ten­são libidi­nosa entre médi­co e paciente, ao embar­al­har suces­si­va­mente os sen­ti­men­tos que Augus­tine nutre pelo médi­co. Pen­sador mod­er­no e for­mador de plateias, Char­cot não con­segue lidar de maneira isen­ta com o tufão de emoções que começam a inva­di-lo, per­cepção que não escapa aos olhos de sua mul­her, Con­stance, vivi­da pela atriz Chiara Mas­troian­ni. No meio dessa con­fusão, nasce a trans­fer­ên­cia. Os lim­ites entre ter­apeu­ta e paciente são rompi­dos, tal qual uma rachadu­ra em um dique. Cedo ou tarde, a cor­renteza transborda.

    Imagem de divulgação do filme Augustine
    Imagem de divul­gação do filme Augustine

    A dinâmi­ca perigosa na relação entre o médi­co e a paciente em crise tam­bém é explo­ra­da nos lon­gas Um Méto­do Perigoso (2012), dirigi­do por David Cro­nen­berg, enre­do que traz o caso de Carl Jung e Sabi­na Spiel­rein, com pitadas de Freud, e o fan­tás­ti­co A Pele que Habito (2011), de Pedro Almod­ó­var, onde um con­ceitu­a­do cirurgião plás­ti­co cria uma nova iden­ti­dade físi­ca para um desafe­to e aca­ba se apaixo­nan­do pela própria criação.

    O tra­bal­ho de Alice Winocour em Augus­tine não apre­sen­ta a mas­sacrante car­ga da parábo­la mor­al­izante, crian­do vilão ou víti­ma. Pelo con­trário: a orig­i­nal­i­dade da dire­to­ra está na apos­ta em um romance que vio­la tabus, descon­cer­ta a éti­ca e rompe com os canôni­cos pro­to­co­los de trata­men­to, para o bem ou para o mal.

    Imagem de divulgação do filme Augustine
    Imagem de divul­gação do filme Augustine

    A inter­pre­tação de Soko realça e encan­ta, exercendo enorme fascínio pelo modo como a atriz se entre­ga, seja pelo cor­po ou pelas expressões sig­ni­fica­ti­vas do olhar. Como uma bor­bo­le­ta, a per­son­agem exper­i­men­ta uma meta­mor­fose ao sair do esta­do de pavor, manip­u­lação e medo, para a cumpli­ci­dade e decisão que mar­cam os momen­tos finais do filme.

    medicalmusesAden­trar as difer­entes esferas do incon­sciente, acei­tan­do o risco de suas voltas – muitas vezes sem retorno -, fazem de Augus­tine um filme maior do que a dis­pu­ta entre doença/cura e médico/paciente; a sutileza está nas trans­for­mações que nascem no rio pro­fun­do e inabita­do, exata­mente onde mora o desejo.

    Para con­hecer um pouco mais sobre as mul­heres que se trans­for­maram em uma espé­cie de “musas médi­cas”, recomen­do a leitu­ra do livro Med­ical Mus­es: Hys­te­ria in Nine­teenth-Cen­tu­ry Paris, de Asti Hustvedt.


    Trailer:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=FXepn0vkR_8

  • Valente para todas | HQ da Semana

    Valente para todas | HQ da Semana

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    Quem nun­ca deu suas cabeçadas por causa de amor? Quem não meteu os pés pelas mãos, fez con­fusão, quem nun­ca teve dor-de-cotovelo? Quem acred­i­ta em amor?

    Se essas per­gun­tas mex­em com você, Valente para todas é um livro de quadrin­hos que vai te agradar em cheio. Valente, Dama, Bu, Prince­sa e out­ros per­son­agens pare­cem ape­nas mais um pun­hado de bich­in­hos fofin­hos, mas quan­do começar a ler as aven­turas dessa tur­ma vai perce­ber que ali tem muito mais do que fofura.

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    O autor, Vitor Cafag­gi, recria com ess­es sim­páti­cos per­son­agens situ­ações com as quais que todo mun­do que já foi ado­les­cente apaixon­a­do (ou apaixon­a­da) vai se iden­ti­ficar. Seu tex­to é óti­mo, os diál­o­gos são cati­vantes e a tra­ma, basea­da em um inusi­ta­do triân­gu­lo amoroso, não deixa largar o livro antes do fim.

    As histórias tem o for­ma­to de tiras em quadrin­hos, que fun­cionam muito bem quan­do reunidas em um só livro, man­ten­do coerên­cia e continuidade.

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    Valente para todas é o segun­do vol­ume de uma série, dan­do con­tinuidade às histórias de Valente para sem­pre. Graças a uma boa apre­sen­tação resu­min­do os even­tos ante­ri­ores, é per­feita­mente pos­sív­el ler e se envolver com as desven­turas do cãozinho.

    Cafag­gi pre­tende faz­er uma série com cin­co livros con­tan­do a saga de Valente. O final do segun­do vol­ume deixa o leitor ansioso pela continuação.

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    Tam­bém é pos­sív­el con­ferir todas as aven­turas do per­son­agem no blog do autor, que disponi­bi­liza sem­anal­mente atu­al­iza­ções das aven­turas de Valente.

    Para adquirir Valente para todas, entre em con­ta­to dire­to com o autor por e‑mail (vitor­cafag­gi [arrom­ba] gmail [pon­to] com) ou acesse o site da Comix , onde estão disponíveis os dois álbuns da série.

    Valente para todas
    Autor: Vitor Cafaggi
    Pub­li­cação independente.
    Preço: R$ 12,00

  • Livro: Eu Receberia as Piores Notícias dos seus lindo Lábios — Marçal Aquino

    Livro: Eu Receberia as Piores Notícias dos seus lindo Lábios — Marçal Aquino

    Alguém pode­ria escr­ev­er um man­u­al sobre como se deve rea­gir a esse tipo de notí­cia, se as cir­cun­stân­cias não forem favoráveis ao casal. Eu rece­be­ria as piores notí­cias dos seus lin­dos lábios. Seria bas­tante útil para home­ns como eu. (p.183)

    Des­de as primeiras estórias de amor que se tem noti­cia o infortúnio de amantes é sem­pre um mote inter­es­sante para escritores. Eu Rece­be­ria as Piores Noti­cias de seus lin­dos Lábios (Com­pan­hia das Letras, 2005), de Marçal Aquino já nasce com um amor desafor­tu­na­do, cheio de paixão e tragé­dia con­ta­da pela voz de Cau­by, quase que um Romeu nas mãos de Aquino.

    Cau­by é fotó­grafo, rodou o mun­do e sem­pre se sen­tiu incom­ple­to quan­to à vida. Num impul­so de fotogra­far lugares inóspi­tos e fugir da frenéti­ca São Paulo, vai para o inte­ri­or do Pará. Numa região onde as leis são feitas à base do silên­cio dom­i­nador dos grandes e os sujeitos à estes — pes­soas que vis­lum­bram o encon­tro de ouro nos garim­pos — é o pano de fun­do da história do fotó­grafo com a mis­te­riosa e sen­su­al Lavinia. No calor do norte do Brasil, lugar descrito por Cau­by como quente e um tan­to mor­to é propí­cio que tudo se mis­ture, a lei, a religião e o amor, tudo, sem o mín­i­mo de delicadeza.

    Nun­ca prom­e­te­mos nada um ao out­ro, e eu sabia que podia acabar de repente. Poe­ma que ces­sa antes de virar a pági­na. Um Haikai. Na práti­ca, con­tu­do, não me con­for­ma­va com a ideia. Eu que­ria mais. (p.67)

    Eu Rece­be­ria as Piores Noti­cias de seus lin­dos Lábios é nar­ra­do em tom de alu­ci­nação e insistên­cia de um homem apaixon­a­do. Cau­by oscila entre o pre­sente, um momen­to cur­to de uma noite, onde um out­ro homem nar­ra as suas decepcões amorosas, e o pas­sa­do, não muito longe, inten­so e cheio de revi­ra­voltas. Tudo sem maiores sinal­iza­ções além da lóg­i­ca que a própria leitu­ra dá. Um pon­to-chave e bacana do livro é o fluxo de con­sciên­cia de Cau­by, reple­to de sen­ti­men­tos e orga­ni­za­do con­forme os fatos que vão surgin­do e reme­tendo à out­ras situ­ações. O nar­rador con­segue cri­ar uma própria orga­ni­za­ção no seu rela­to sem deixar de ser infor­mal e con­t­a­m­i­na­do pelo que sente, usan­do a não-lin­eari­dade total­mente a seu favor.

    Lem­brei dos dias que pas­sei sem ela. Dias em que encon­trar, por aca­so, um fio de seu cabe­lo pre­so na fron­ha do trav­es­seiro bas­ta­va para me encher de angús­tia e dor. Estive a pon­to de raste­jar. Atire a primeira pedra aque­le que não estreme­ceu ao recu­per­ar, nos lençóis encar­di­dos da cama em que dorme solitário, o cheiro da mul­her ausente. (p.74)

    Marçal Aquino
    O livro é divi­di­do em três partes com títu­los bas­tante per­ti­nentes e trag­icômi­cos quan­do se tra­ta de Marçal Aquino. Em Amor é Sex­ual­mente Trans­mís­siv­el tra­ta da efer­vescên­cia do amor de Cau­by e Lavinia como um encan­ta­men­to que é basi­ca­mente sex­u­al. Seus cor­pos con­ver­sam, tro­cam e fun­cionam mel­hor na cama. O diál­o­go entre os dois quase só é pos­sív­el quan­do con­seguem curar o seu caos no sexo. Quan­do não o fazem é tudo muito estran­ho e depen­dente, nem eles sabem ao cer­to porque estão ali. Para enten­der um pouco da desen­f­rea­da Lavinia, em Carne-Viva é apre­sen­ta­da, numa nar­ra­ti­va bem con­ven­cional, o históri­co dessa mul­her que dá sequên­cia no rela­to de Cau­by em Postais de Sodoma à luz do primeiro fogo, onde somos lev­a­dos, já sem fôlego, ao des­fe­cho da relação tem­pes­tu­osa do casal.

    De acor­do com o pro­fes­sor Schi­an­berg (op. cit), não é pos­sív­el deter­mi­nar o momen­to exa­to em que uma pes­soa se apaixona. Se fos­se, ele afir­ma, bas­taria um ter­mômetro para com­pro­var sua teo­ria de que, neste instante, a tem­per­atu­ra cor­po­ral se ele­va vários graus. Uma febre, nos­sa úni­ca sequela div­ina. Schi­amberg diz mais: ao se apaixonar, um ¨homem de sangue quente¨ exper­i­men­ta o desam­paro de sen­tir-se vul­neráv­el. Ele não caçou; foi caça­do. (p.15)

    Um dos pon­tos mais inter­es­santes é como Cau­by e o per­son­agem Vik­tor são lev­a­dos a agir con­forme leituras feitas. O fotó­grafo é fiel seguidor do fic­tí­cio filó­so­fo do amor, Ben­jamin Schi­an­berg, o mes­mo que veio a se tornar o ide­al­izador imag­inário do exper­i­men­to de Beto Brant em O amor segun­do B. Schi­an­berg . Os tre­chos de livros do filó­so­fo são inseri­dos de for­ma bas­tante inteligente em Eu Rece­be­ria as Piores Noti­cias de seus lin­dos Lábios com Cau­by trazen­do a tona pági­nas e citações inteiras asso­ci­adas à sua relação com Lavínia. 

    Mas Eu Rece­be­ria as Piores Noti­cias de seus lin­dos Lábios não é somente um livro sobre amantes mal suce­di­dos. Em vários momen­tos o casal se tor­na ape­nas duas peças para tratar de uma ter­ra sem lei, com explo­ração ambi­en­tal e humana onde quase tudo é deci­di­do por instin­to. Essa filosofia do matar ou mor­rer é que tor­na os per­son­agens um monte de anti-heróis fada­dos a um des­ti­no deter­mi­na­do caso não andem con­forme o pro­gra­ma­do. Todos são reple­tos de con­tro­vér­sias, donos de val­ores que acred­i­tam ter, como se estivessem nesse lugar aparente­mente tão longe para expur­gar sua vida.

    Fada­dos ou não à tragé­dia, Cau­by e Lavinia, assim como boa parte dos per­son­agens são toma­dos pelo sen­ti­men­to de insistên­cia, seja de val­ores, sen­ti­men­tos e o que for. Eu Rece­be­ria as Piores Noti­cias de seus lin­dos Lábios é um romance para se ler com o fôlego daque­les que gostam de arriscar con­tra o tédio da vida.

    *Eu Rece­be­ria as Piores Notí­cias dos seus lin­do Lábios foi adap­ta­do — com títu­lo homôn­i­mo — para o cin­e­ma pelo dire­tor Beto Brant e entrou em car­taz em abril de 2012.

  • Estou Aqui

    Estou Aqui

    Spike Jonze é um dess­es dire­tores que parece que sem­pre está fazen­do algo fofo para agradar a qual­quer um. Há pouco tem­po foi acla­ma­do por diri­gir o exce­lente clipe da músi­ca The Sub­urbs, do álbum homôn­i­mo, do Arcade Fire e pos­te­ri­or cur­ta-media-metragem Scenes from the Sub­urbs. A car­reira do dire­tor é exten­sa, prin­ci­pal­mente pelo seu bom gos­to na direção de video­clipes e pelos tra­bal­hos geni­ais com o ami­go-par­ceiro Char­lie Kauf­man nos óti­mos Adap­tação (Adap­ta­tion, EUA, 2002) e Quero ser John Malkovich (Being John Malkovich, EUA, 1999).

    O cur­ta-media-metragem Estou Aqui (I’m Here, 2010) é reple­to de ideias já vis­tas em seus tra­bal­hos. Com um sub­tí­tu­lo de Uma história de amor em um mun­do abso­lu­to o enre­do se tra­ta basi­ca­mente da história de amor de dois robôs que vão con­stru­in­do sua relação através de uma doação mútua que os colo­ca num pata­mar até mais sen­sív­el do que os sen­ti­men­tos humanos. Viven­do num mun­do que os robôs coex­is­tem com as pes­soas, onde acabaram gan­han­do muitas car­ac­terís­ti­cas sen­ti­men­tais destes, o casal vai apren­den­do a lidar com as difer­enças do fato de sen­tirem que devem cuidar um do outro.

    Claro que Estou Aqui não surgiu por aca­so, o cur­ta foi cri­a­do em uma parce­ria com a mar­ca de vod­ca Abso­lut, sendo que o dire­tor soube muito bem unir a pro­pa­gan­da com os sen­ti­dos de comoção do espec­ta­dor. O cur­ta pas­sou por alguns fes­ti­vais e foi muito bem rece­bido prin­ci­pal­mente pela estéti­ca cria­ti­va e ao mes­mo tem­po sim­plória que se apre­sen­ta. Lem­bran­do bas­tante o tra­bal­ho do francês Michel Gondry, Estou aqui é um cur­ta tocante onde a vida toma pro­porções fan­tás­ti­cas e sen­síveis, uma bela metá­fo­ra do que se entende por amor.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=dy5MufiKTX0&feature=related

    httpv://www.youtube.com/watch?v=uVa07lwhTtU&feature=related

  • Amor? estreia em Porto Alegre nesta sexta-feira

    Amor? estreia em Porto Alegre nesta sexta-feira

    Vence­dor do Prêmio do Júri Pop­u­lar e do Prêmio Vagalume do 43º Fes­ti­val de Brasília do Cin­e­ma Brasileiro, Amor? chega às telas do Rio Grande do Sul no próx­i­mo dia 27 de maio. Nem ficção, nem doc­u­men­tário, o lon­ga é um híbri­do dos dois. Para relatar rela­ciona­men­tos amorosos em que a vio­lên­cia é parte do cotid­i­ano, inde­pen­dente da for­ma em que se apre­sen­ta, atores repro­duzi­ram depoi­men­tos ver­dadeiros col­hi­dos de víti­mas dessas relações, baseadas em ciúmes, cul­pa, paixão e poder.

    A opção do dire­tor João Jardim, con­sagra­do por filmes como Janela da Alma, Pro Dia Nascer Feliz e Lixo Extra­ordinário, foi escol­hi­da dev­i­do à del­i­cadeza do tema. “Até pen­sei em mostrar os ver­dadeiros per­son­agens na tela, mas, além da pri­vaci­dade de cada um, havia a pri­vaci­dade do par­ceiro de quem falavam. Além dis­so, havia tam­bém questões legais. Poderíamos ou não expor estas pes­soas a esta situ­ação? Então, optei por con­vi­dar atores. Por isso, Amor? não é um doc­u­men­tário. Nem ficção. É impos­sív­el de clas­si­ficá-lo”, afir­mou o diretor.

    Para repro­duzir a vivên­cia destas pes­soas na tela, o time de atores, a maio­r­ia expe­ri­entes, ensaiou antes de gravar os tre­chos de depoi­men­tos sele­ciona­dos, mas não pesquisou sobre seus per­son­agens. A ideia do dire­tor era ter atu­ações livres, para que o elen­co pudesse incor­po­rar as histórias. A lista inclui nomes como Lil­ia Cabral, Eduar­do Mosco­vis, Julia Lem­mertz, Ânge­lo Antônio, Fabi­u­la Nasci­men­to, Mar­i­ana Lima, Sil­via Lourenço, Cláu­dio Jab­o­randy e Leti­cia Collin.

    Para o proces­so de pesquisa e seleção dos entre­vis­ta­dos de Amor?, Jardim con­tou com o tra­bal­ho de Renée Caste­lo Bran­co. A fase de pesquisas, real­iza­da em cen­tros, orga­ni­za­ções e del­e­ga­cias, con­sum­iu um ano de tra­bal­ho. Foram gravadas 50 entre­vis­tas. Destas, oito foram sele­cionadas para serem inter­pre­tadas pelos atores.

    O filme Amor? estre­ou em abril em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Hor­i­zonte, San­tos, Sal­vador e For­t­aleza. Em Por­to Ale­gre, o lon­ga foi exibido durante o 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional e terá uma sessão de pré-estreia para con­vi­da­dos no próx­i­mo dia 19 de maio, às 21h30 no Uni­ban­co Arteplex. Amor? é uma pro­dução da Copaca­bana Filmes, copro­dução Fogo Azul Filmes, GNT e Labocine e con­ta com patrocínio da AVON. Out­ras infor­mações, fotos e trail­er no site ofi­cial.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=rzkWlh3DA8I

  • FestivalVerãoRS 2011: Dicas de Filmes

    FestivalVerãoRS 2011: Dicas de Filmes

    O 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, em Por­to Ale­gre começou na quin­ta, dia 24 de março, com a pré-estreia do lon­ga-metragem Lope, de Andrucha Wadding­ton. Obvi­a­mente que mui­ta gente já fez a sua lista de filmes, mas quem não fez, ain­da dá tem­po. Pen­san­do nis­so, o inter­ro­gAção sele­cio­nou os prováveis filmes mais inter­es­santes — e esper­a­dos por nós — do Fes­ti­val. Se você assis­tiu algum deles, gos­tou ou não, deixe sua opinião nos comentários!


    Nati­mor­to (Brasil, 2010) - A adap­tação homôn­i­ma do livro do quadrin­ista e escritor Lourenço Mutarel­li pre­tende dar o que falar. O livro, antes adap­ta­do pelo teatro, traz a história de um homem com­pul­si­vo — o próprio Mutarel­li — e um caça-tal­en­tos que traz uma jovem can­to­ra para São Paulo para uma audição, enquan­to esper­am o dia mar­ca­do ele vai se apre­sen­ta­do mais e mais estran­ho, toman­do café, fuman­do com­pul­si­va­mente e lendo as car­tas de tarô para ela.

    Talvez o pon­to mais alto da espera pelo lon­ga é que o próprio Mutarel­li é uma figu­ra incóg­ni­ta, com uma lista de quadrin­hos e livros com um humor áci­do e um tan­to obscuro. Além, claro, que O Cheiro do Ralo, escrito por ele, foi uma das mel­hores adap­tações do cin­e­ma nacional até hoje.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=Opls68GIyT8

    Amor? (Brasil, 2010) É Mais um lon­ga nacional que prom­ete. João Jardim é um cineas­ta que tra­bal­ha com doc­u­men­tários de uma for­ma extrema­mente artís­ti­ca, bas­ta ver o incrív­el Janela da Alma para enten­der um pouco o esti­lo autor.

    Em Amor? o enre­do se foca em histórias reais de vio­lên­cia pas­sion­al inter­pre­tadas por atores, ou seja, o dire­tor criou uma ficção poéti­ca em cima da real­i­dade. O filme estre­ou ano pas­sa­do no Fes­ti­val de Brasília e con­ta com uma sessão comen­ta­da no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional (Con­fi­ra a pro­gra­mação)

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=hDckZziiWS0


    A min­ha ver­são do Amor (Canadá/Itália, 2010) Nor­mal­mente filmes que envolvam Paul Gia­mat­ti sem­pre são inter­es­santes, vis­to por exem­p­lo o exce­lente Almas à Ven­da e a cinebi­ografia do quadrin­ista Har­vey Pekar em Anti-herói Amer­i­cano.

    Em A min­ha ver­são do Amor, Giammati inter­pre­ta Bar­ney Panof­sky, o per­son­agem-nar­rador de A Ver­são de Bar­ney, livro de Morde­cai Rich­ler. Panof­sky é car­i­ca­to e está pos­ses­so — e bêba­do, como sem­pre —, porque seu vel­ho desafe­to e ex-ami­go, Ter­ry McIv­er, está para lançar um livro auto­bi­ográ­fi­co em que lhe faz pesadas acusações. Então que Panof­sky resolve rev­er sua vida através de sua própria visão e lembranças.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VMWf3UpmuvM

    Poe­sia (Coréia do Sul, 2010) Cin­e­ma core­ano sem­pre é uma bela indi­cação, vis­to que na últi­ma déca­da dire­tores como Kim Ki-Duk e Chan-wook Park, alcançaram boas tem­po­radas no cin­e­ma ocidental.

    Poe­sia é um dess­es filmes ori­en­tais que você dese­ja ver somente pela beleza que o filme evo­ca logo no trail­er. Dirigi­do por Chang-dong Lee o lon­ga con­ta a história de Mija, uma sen­ho­ra curiosa e ques­tion­ado­ra que ao rece­ber uma notí­cia que muda a sua vida decide ver mais poe­sia e beleza no cotid­i­ano, se inscreve numa aula do gênero e pas­sa a ten­tar com­preen­der a vida através das palavras.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VM27hunyDTA

    Zona de Risco (Córeia do Sul, 2001) Reforço que cin­e­ma core­ano é sem­pre sen­sa­cional. Este lon­ga do Chan-wook Park, faz parte de uma mostra espe­cial para o cin­e­ma core­ano (veja a pro­gra­mação no site), por­tan­to já recomen­damos logo de cara todos os filmes.

    Por vários ângu­los Zona de Risco é um filme políti­co, mas como todo filme do dire­tor pode-se esper­ar ação e sangue à von­tade. Alguns sol­da­dos core­anos são mor­tos após um dire­tor, uma equipe espe­cial da Suíça vem para inves­ti­gar o caso pois acred­i­ta-se que haja um deser­tor entre os soldados.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=B3zOZL5nl2w

    Em um Mun­do Mel­hor (Dinamarca/Suécia, 2010) Talvez o sim­ples fato do filme ter gan­ho o Oscar de mel­hor filme estrangeiro seja um belo moti­vo para ver esse lon­ga. Mas ain­da há o fato do lon­ga ser dina­mar­quês e o cin­e­ma do norte-europeu cos­tu­ma apre­sen­tar belas sur­pre­sas. A dire­to­ra Susane Bier já dirigiu lon­gas inter­es­santes como Coisas que perdemos pelo cam­in­ho.

    Em um Mun­do Mel­hor um médi­co dina­mar­quês tra­bal­ha em um cam­po de refu­gia­dos na África enquan­to sua família está na Dina­mar­ca, a história de ambos se entre­laça com a de um garo­to orfão de mãe que migra para o país.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=diJ3IRIyqfo

    Para quem você lig­aria? Os nos­sos her­manos têm um cin­e­ma sen­sa­cional, isso é indis­cutív­el! O cin­e­ma exis­ten­cial dos argenti­nos sem­pre resul­ta em belas pelícu­las, tan­to com enre­dos encan­ta­dores como em fotografia.

    Em Para quem você lig­aria? um homem se vê numa ver­dadeira crise que ao encar­ar sua difi­cul­dade de lidar com as pes­soas se per­gun­ta, que em um momen­to com esse, para quem lig­ar, afinal?

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=yNqfM0Ef2Cw

  • Harvey

    Harvey

    A bus­ca pela metade, pela com­ple­tude. As utopias em torno do con­ceito con­tem­porâ­neo do Amor são muitas. A solidão não cabe ao ser humano e ele insis­ten­te­mente faz de tudo para que o out­ro lado cor­re­spon­da a todo cus­to, como se hou­vesse uma obri­gação, egoís­ta, na rec­i­pro­ci­dade dos sen­ti­men­tos. E é desse auto-engano sobre a existên­cia de uma metade que o cur­ta Har­vey (2001) de Peter Mcdon­ald tra­ta, de uma for­ma espe­cial­mente realista-fantástica.

    Har­vey é um homem incom­ple­to, em todos os sen­ti­dos. Soz­in­ho e pela metade ele obser­va a sua estran­ha viz­in­ha pela por­ta, se apre­sen­tan­do como um voyeur apaixon­a­do de olhar obceca­do. Em bus­ca de suprir e ali­men­tar o seu ego par­tido ao meio, Har­vey vai até ela e a obri­ga ser a sua metade. Mes­mo a cos­tu­ran­do ao seu cor­po, Har­vey não con­segue obrigá-la a amá-lo na sua mes­ma pro­fun­di­dade. Ao con­trário, a faz ter mais medo ain­da daque­la obsessão e fug­in­do ela o deixa numa solidão mais pro­fun­da ainda.

    Peter Mcdon­ald pode­ria ter tor­na­do Har­vey em ape­nas um pro­je­to ambi­cioso de ficção beiran­do ao estran­hamen­to e ao ter­ror. Mas, fez o cur­ta fun­cionar pelas téc­ni­cas usadas que vão des­de o chro­ma key até o 3D, em ape­nas nove min­u­tos sin­te­ti­za em metá­foras a sig­nifi­cação de amores platôni­cos e os lim­ites da pos­sessão. Har­vey rep­re­sen­ta uma infinidade de pes­soas que vivem a incom­ple­tude da solidão e a obsessão pelo sen­ti­do utópi­co de amor eter­no e obri­gatório. Um cur­ta antes de tudo, e para­doxal­mente, sen­sív­el a pon­to de doer os olhos.

  • Crítica: Amor por Acaso

    Crítica: Amor por Acaso

    Amor por Aca­so (Bed & Break­fast, Brasil/EUA, 2010), do ator brasileiro e dire­tor estre­ante Már­cio Gar­cia, é uma típi­ca comé­dia român­ti­ca, den­tro dos moldes hol­ly­wood­i­anos, que mis­tu­ra atores e locações dos dois país­es, além de ser fal­a­do quase todo em inglês.

    Ana Vilano­va (Juliana Paes) é uma vende­do­ra de uma grande loja de depar­ta­men­tos no Rio de Janeiro. Após a morte de seu pai, desco­bre que her­dou uma grande dívi­da dele, jun­to com um ter­reno na Cal­ifór­nia. Mas ela desco­bre que alguém está moran­do no local e decide ir aos EUA para poder resolver este prob­le­ma. Chegan­do lá, desco­bre que o local é uma pou­sa­da admin­istra­da por Jake Sul­li­van (Dean Cain) e ten­ta faz­er de tudo para tirá-lo de lá.

    Parece que há dois lon­gas difer­entes den­tro de Amor por Aca­so, um feito no Brasil e o out­ro feito nos EUA, pois a difer­ença entre a qual­i­dade da fotografia e do som entre as duas locações são absur­das. A cap­tação do som fei­ta em ambi­en­tação nacional é pés­si­ma, além de pas­sar a impressão de filme mal dubla­do, tem um vol­ume baixo demais, fican­do difí­cil enten­der o que os per­son­agens dizem. Fica difí­cil levar um filme a sério quan­do há essa dis­crepân­cia de qual­i­dade tão absur­da, parece até piada.

    Por falar em pia­da, temos no filme todas as piad­in­has e situ­ações já muito bati­das do gênero, além de per­son­agens total­mente desnecessários, como o pés­si­mo Mar­cos Pasquim fazen­do o papel de namora­do da Ana. Sem falar em cer­tas situ­ações de Amor por Aca­so que ficaram bem forçadas, sendo muito aparente a arti­fi­cial­i­dade delas, prin­ci­pal­mente naque­las situ­ações “aci­den­tais”. Ain­da por cima, se elas envolvessem cer­to risco, como virar rap­i­da­mente de um lado para o out­ro o volante de um car­ro em movi­men­to, fica ain­da mais evi­dente o cuida­do (extremo) dos atores em realizá-la.

    Difer­ente de out­ras comé­dias român­ti­cas como 500 Dias com ela (2009), de Marc Webb, e Amor à Dis­tân­cia (2010), de Nanette Burstein, (que são óti­mas) em Amor por Aca­so temos a vol­ta do “homem ide­al fortão” man­tene­dor do lar com seus dotes físi­cos, mas igual­mente sen­sív­el e acan­hado, como os per­son­agens prin­ci­pais dos out­ros dois out­ros filmes citados.

    Sem nen­hu­ma novi­dade em relação ao gênero, Amor por Aca­so é mais uma sessão da tarde român­ti­ca para ser assis­ti­da sem muitas pre­ten­sões. O filme pode­ria ter ter­mi­na­do bem mel­hor, se o dire­tor não tivesse deci­di­do faz­er uma aparição e um mer­cha­dis­ing de sham­poo de últi­ma hora que ficou ridícula.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=YmUW9snEmH8

  • Promoção “Comer, Rezar, Amar” ENCERRADA: ganhe convites para o filme

    Promoção “Comer, Rezar, Amar” ENCERRADA: ganhe convites para o filme

    comer rezar amar

    O sorteio já foi real­iza­do e os vence­dores serão comu­ni­ca­dos por email.

    Para mar­car o lança­men­to de Com­er, Rezar, Amar, que estreia dia 1 de out­ubro, o inter­ro­gAção, jun­ta­mente com a Espaço Z, estarão sorte­an­do 8 pares de con­vites do filme. Pro­moção vál­i­da para todo Brasil.

    A pro­moção vai até dia 13 de Out­ubro e os vence­dores serão noti­fi­ca­dos por email no dia seguinte.

    Sinopse: Liz Gilbert (Julia Roberts) tin­ha tudo o que uma mul­her mod­er­na deve son­har em ter – um mari­do, uma casa, uma car­reira bem-suce­di­da – ain­da sim, como muitas out­ras pes­soas, ela está per­di­da, con­fusa e em bus­ca do que ela real­mente dese­ja na vida. Recen­te­mente divor­ci­a­da e num momen­to deci­si­vo, Gilbert said a zona de con­for­to, arriscan­do tudo para mudar sua vida, embar­can­do em uma jor­na­da ao redor do mun­do que se trans­for­ma em uma bus­ca por auto-con­hec­i­men­to. Em suas via­gens, ela desco­bre o ver­dadeiro praz­er da gas­trono­mia na Itália; o poder da oração na Índia, e, final­mente e ines­per­ada­mente, a paz inte­ri­or e equi­líbrio de um ver­dadeiro amor em Bali. Basea­do no best-sell­er auto­bi­ográ­fi­co de Eliz­a­beth Gilbert, Com­er, Rezar, Amar pro­va que existe mais de uma maneira de levar a vida e de via­jar pelo mundo.

    O sorteio já foi real­iza­do e os vence­dores serão comu­ni­ca­dos por email.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=LIGfQYg4lSQ

  • Crítica: Amor à Distância

    Crítica: Amor à Distância

    amor a distancia

    Man­ter um rela­ciona­men­to à dis­tân­cia não é algo fácil e Amor à Dis­tân­cia (Going the Dis­tance, EUA, 2010), uma comé­dia român­ti­ca dirigi­da por Nanette Burstein, tra­ta jus­ta­mente das difi­cul­dades, paranóias e dos bons momen­tos deste tipo de relação.

    Gar­rett (Justin Long) acabou de levar um fora de sua namora­da e vai ao bar afog­ar suas mágoas jun­to com os ami­gos. Lá con­hece Erin (Drew Bar­ry­more), uma mul­her com quem com­par­til­ha cer­tas afinidades, e ela aca­ba indo para casa dele no final da noita­da. No dia seguinte temos a típi­ca situ­ação do “e ago­ra, o que eu faço?” com os dois, durante o café da man­hã, afir­man­do que não querem nada sério, prin­ci­pal­mente pelo fato de que Erin vai mudar de cidade em seis meses. Mas eles acabam se ven­do com bas­tante fre­quên­cia e uma paixão se ini­cia. Quan­do final­mente chega a hora de ela ir emb­o­ra, deci­dem que vão ten­tar man­ter a relação ape­sar da distância.

    Quem já namorou à dis­tân­cia, ou namo­ra, vai se iden­ti­ficar em vários momen­tos, ape­sar de que em Amor à Dis­tân­cia parece não exi­s­tir algo chama­do con­ta tele­fôni­ca, prin­ci­pal­mente por que os per­son­agens prin­ci­pais não seguem aque­le padrão per­feit­in­hos e bem resolvi­dos em tudo, exce­to no amor, muito comum em comé­dias român­ti­cas. Os ami­gos de Gar­rett, um deles mora jun­to com ele, são out­ro difer­en­cial, prin­ci­pal­mente pelos seus gos­tos difer­entes, geran­do algu­mas situ­ações bem engraçadas.

    Amor à Dis­tân­cia pode ser resum­i­do basi­ca­mente em 3 palavras: bebidas, sexo e roman­tismo. Qual­quer decepção é des­cul­pa para ir ao bar, tudo é rela­ciona­do com sexo e há atos “super român­ti­cos” real­iza­dos por Gar­rett, um pos­sív­el namora­do dos son­hos para muitas mul­heres. Com um humor bem áci­do e debocha­do, que em cer­tos momen­tos lem­bra Se Beber Não Case, o filme usa e abusa de piad­in­has com teor sex­u­al, que as vezes são bem engraçadas, mas out­ras total­mente forçadas e ridículas.

    Um pon­to que chamou atenção em Amor à Dis­tân­cia, foi o destaque dado a ban­da The box­er rebel­lion, que é lit­eral­mente lança­da no filme. Com certeza é um óti­mo meio de divul­gação, prin­ci­pal­mente porque seu esti­lo musi­cal provavel­mente irá agradar ao públi­co alvo do longa.

    Com um enre­do bem lin­ear, seguin­do o padrão da comé­dia mod­er­na típi­ca, Amor à Dis­tân­cia se desta­ca jus­ta­mente por traz­er per­son­agens, e situ­ações, mais plausíveis de acon­te­cer no mun­do real. Mis­tu­ran­do ele­men­tos mais fem­i­ni­nos e out­ras vezes mais mas­culi­nos, provavel­mente o filme irá diver­tir ambos os públi­cos, prin­ci­pal­mente aque­les apre­ci­adores do gênero.

    Quer assi­s­tir Amor à Dis­tân­cia de graça? Então par­ticipe da Pro­moção Amor à Dis­tân­cia e con­cor­ra a brindes e con­vites para ver o filme em todo o Brasil.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=bkBDo2WMaXI

  • Crítica: Shrek para Sempre

    Crítica: Shrek para Sempre

    Shrek para Sempre

    Depois de casa­do e pai de três fil­hos, Shrek começa a sen­tir como sua vida mudou. Cansa­do da roti­na a qual se sub­me­teu, não con­seguin­do faz­er mais as coisas que gos­ta e sentin­do fal­ta de ser ater­ror­izante, ele decide tomar uma ati­tude em que poderá mudar para sem­pre a vida de todos. Este é Shrek Para Sem­pre (Shrek For­ev­er After, EUA, 2010), o últi­mo filme da famosa série da Dream­works, dirigi­do des­ta vez por Mike Mitchell, com roteiro de Josh Klaus­ner e Dar­ren Lemke.

    Des­ta vez os per­son­agens estão difer­entes do que esta­mos acos­tu­ma­dos, trazen­do uma cer­ta sur­pre­sa a mais e ren­den­do boas risadas. Assim como acon­te­ceu no primeiro Shrek, o gato de botas con­seguiu nova­mente roubar a cena, com uma toma­da de “apre­sen­tação” total­mente inesquecív­el. Isso sem falar no vilão do filme, que con­segue pas­sar ao mes­mo tem­po uma sen­sação de ater­ror­izante e super frágil (não seria na ver­dade todo vilão assim?), sendo muito car­i­ca­to e mar­cante. Ape­sar de ter algu­mas piadas muito boas, ele não con­segue pro­duzir tan­tas gar­gal­hadas como, por exem­p­lo o Toy Sto­ry 3. Mas isto sem­pre foi um dos grandes trun­fos da Pixar em relação aos seus concorrentes.

    Parece que a Dream­works decid­iu tam­bém adi­cionar umas cenas emo­cional­mente mais pesadas, o que acred­i­to ser um pon­to muito pos­i­ti­vo. As ani­mações mais main­stream estão, final­mente, começan­do a perce­ber que não pre­cisam ser sem­pre bonit­in­has para agradar ao públi­co em ger­al. Shrek Para Sem­pre pode­ria ter tido uma car­ga dramáti­ca bem mais inten­sa, mas não acon­te­ceu porque talvez teria fica­do pesa­do demais para grande parte do público.

    Difer­ente das out­ras ani­mações, esta uti­liza bas­tantes clos­es nos per­son­agens, exibindo a altís­si­ma qual­i­dade das tex­turas e detal­h­es em ger­al, que é de deixar qual­quer um de boca aber­ta. A cada filme, foi pos­sív­el notar uma con­sid­eráv­el aper­feiçoarão no visu­al dos per­son­agens. Mas acred­i­to que ago­ra em Shrek Para Sem­pre se chegou ao ápice.

    Se você pud­er, veja este filme no IMAX, pois é uma exper­iên­cia que vale a pena. Shrek Para Sem­pre con­seguiu usar bem o poten­cial do cin­e­ma 3D, e vê-lo em uma tela tão grande causa lit­eral­mente a sen­sação de que você está den­tro do filme e pode sen­tir a tex­tu­ra de cada per­son­agem. Falan­do em sen­sações, será que o cin­e­ma com cheiros um dia irá virar real­i­dade? Se bem ten­ho min­has dúvi­das se seria muito agradáv­el sen­tir o cheiro do lugar onde o Shrek mora.

    Difer­ente das out­ras duas sequên­cias, prin­ci­pal­mente do últi­mo Shrek 3, este con­seguiu res­gatar o encan­to e a magia que esta­va se per­den­do a cada novo filme. Se às vezes parece que Shrek Para Sem­pre é lit­eral­mente um capí­tu­lo final para se red­imir de fal­has pas­sadas, ele con­seguiu (mes­mo o trail­er dan­do a impressão que é meia boca). Com uma história bem embasa­da, jun­tos com os típi­cos ele­men­tos de con­to de fadas (amor úni­co, felizes para sem­pre, …, …), o filme é diver­são garan­ti­da. E quem con­hece as histórias da qual são tiradas os per­son­agens, irá aproveitar muito mais o filme e suas piadas, às vezes, bem singelas.

    Nos crédi­tos de Shrek Para Sem­pre é pos­sív­el ver os per­son­agens de todas as histórias, na maio­r­ia das vezes em sua cena mais mar­cante, como uma grande des­pe­di­da de cada um deles. Vale a pena ver até o final.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=TlRgGvROYOM

  • Crítica: Sede de Sangue

    Crítica: Sede de Sangue

    sede de sangue

    Para começar, devo diz­er que os comen­tários a seguir dizem respeito ao tra­bal­ho de um diretor/escritor que admiro muito. Por­tan­to, são total­mente ten­den­ciosos e par­ci­ais. Aler­ta feito, continuemos.

    Sede de Sangue (Bakjwi, Cor­eia do Sul, 2009) é o mais recente filme de um dos mais bril­hantes cineas­tas da atu­al­i­dade. Chan-Wook Park já havia demon­stra­do evolução e amadurec­i­men­to mar­cantes ao lon­go de sua obra: recon­heci­do inter­na­cional­mente após o rel­a­ti­vo suces­so do fab­u­loso Joint Secu­ri­ty Area e a explosão com a (já clás­si­ca) Trilo­gia da Vin­gança (Mr. Vin­gança, Old­boy e Lady Vin­gança), ele já havia cau­sa­do sur­pre­sa com o lança­men­to de I’m a Cyborg, But That’s OK, que foge con­sid­er­av­el­mente de car­ac­terís­ti­cas de seus tra­bal­hos ante­ri­ores – e com isso mostra uma bem-vin­da ver­sa­til­i­dade em sua obra.

    Ago­ra, com Sede de Sangue, fica claro que a evolução é, sim, con­stante. Des­de a abor­dagem de assun­tos del­i­ca­dos aos aspec­tos téc­ni­cos, tudo no filme se mostra supe­ri­or às suas obras anteriores.

    Com o suces­so da chama­da Saga Crepús­cu­lo, tudo que envolve vam­piros aca­ba sendo vis­to com descrédi­to por grande parte dos apre­ci­adores de cin­e­ma com um gos­to min­i­ma­mente apu­ra­do, o que é total­mente com­preen­sív­el. Mas isso tam­bém pode faz­er com que se per­ca pelícu­las pre­ciosas, como no caso de Deixa Ela Entrar e Sede de Sangue – que não guardam semel­hança algu­ma entre si, exce­to o fato do vampirismo.

    No filme em questão, Sang-Hyeon é um padre vol­un­tário em um hos­pi­tal que se sub­mete a um exper­i­men­to bus­can­do encon­trar a cura para uma doença rara, mas durante a exper­iên­cia as coisas dão erra­do e o padre aca­ba se tor­nan­do um vam­piro após rece­ber uma trans­fusão de sangue (par­tic­u­lar­mente achei bril­hante este detal­he, que que­bra com o ordinário dos filmes sobre o assunto).

    A par­tir dis­so começa o prin­ci­pal con­fron­to de Sede de Sangue: o de Hyeon com sua própria crença. Ele desco­bre que ao se ali­men­tar com sangue, a doença con­traí­da na exper­iên­cia some, mas tem­po­rari­a­mente, o que faz com que ten­ha que lutar não ape­nas con­tra a fome, mas tam­bém con­tra o vírus. Como podem con­viv­er den­tro da mes­ma pes­soa o padre e o vam­piro? Em sua negação rel­a­ti­va a matar out­ro ser humano, mes­mo que para sua própria sal­vação, bus­ca for­mas alter­na­ti­vas e começa a se ali­men­tar do sangue de um paciente em coma do hos­pi­tal no qual tra­bal­ha­va, e mais para frente a aju­dar pes­soas que bus­cam o suicídio.

    No meio das descober­tas rela­cionadas à sua nova vida, ele se reen­con­tra com uma ami­ga de infân­cia, Tae-Ju, que vive infe­liz em uma casa onde é prati­ca­mente escrav­iza­da pelo mari­do e a sogra (que tam­bém fazem parte da infân­cia de Hyeon). E ao se ver apaixon­a­do pela ami­ga, novos con­fli­tos com a religião surgem para ele.

    E tudo isso se dá na primeira metade de Sede de Sangue. Na metade final somos apre­sen­ta­dos a assas­si­natos e alu­ci­nações que dão out­ro tom a história, que, por sinal, é cheia de revi­ra­voltas, mas sem nun­ca perder sua lin­ha cen­tral, extrema­mente coesa e forte.

    Há algum gore em Sede de Sangue, mas nada que vá sur­preen­der aque­les que já estão habit­u­a­dos ao cin­e­ma extremo ori­en­tal. O que sur­preende são as lin­das ima­gens que apare­cem a todo momen­to no filme, com cenas que ficam entre o sur­re­al e o absur­do, e que per­manecem na lem­brança por um bom tem­po após o seu tér­mi­no. Ele pos­sui uma exce­lente fotografia, que é ao mes­mo tem­po crua e delicada.

    E na ver­dade, é pos­sív­el encon­trar out­ra semel­hança com o genial Deixa Ela Entrar: toda a ação no desen­ro­lar do filme é, na ver­dade, um pano de fun­do para uma história de amor mais pro­fun­da do que podemos encon­trar em qual­quer dra­ma ou romance. Sede de Sangue é uma lin­da história ban­ha­da em sangue.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=2Cc16OX4zvg

  • Crítica: Pecado da Carne

    Crítica: Pecado da Carne

    pecado da carne

    O que você faria se para se sen­tir vivo, tivesse que que­brar um, ou mais, dos maiores tabus da sua religião? Peca­do da Carne (Einaym Pkuhot/ Eyes Wide Open, França/Alemanha/Israel, 2009), o primeiro lon­ga metragem de Haim Tabak­man, tra­ta jus­ta­mente des­ta questão.

    Aaron Fleish­man (Zohar Shtrauss) é pai de qua­tro fil­hos e vive em Meah Shearim, um bair­ro ultra-orto­doxo de Jerusalém. Ten­do her­da­do o açougue Kosher, após a morte de seu pai, ele con­tra­ta Ezri (Ran Danker), um estu­dante que ele con­heceu recen­te­mente por aca­so, para lhe aju­dar no tra­bal­ho e a relação entre os dois vai muito além do que eles pode­ri­am ter imaginado.

    Peca­do da Carne é um con­vite à intro­specção, sendo ao mes­mo tem­po poéti­co e inten­so, no sen­ti­do mais animal/carnal da palavra, sem ser apel­a­ti­vo. Mes­mo ten­do poucos diál­o­gos, muito é comu­ni­ca­do se uti­lizan­do somente dos olhares e de pequenos gestos de cada per­son­agem. É inter­es­sante notar tam­bém o rit­mo em ger­al. Nada é frenéti­co, e mes­mo os entre­laça­men­tos que neces­si­tam de uma respos­ta mais ráp­i­da, são todos resolvi­dos em um tem­po muito próprio. Assim como o cin­e­ma do ori­ente médio em ger­al, Peca­do da Carne sabe tra­bal­har muito bem com o silên­cio e com um desen­volvi­men­to mais grad­ual dos acon­tec­i­men­tos. Não se uti­lizan­do quase de nen­hu­ma músi­ca como tril­ha sono­ra, ouvi­mos prati­ca­mente só os sons do próprio ambi­ente, que são bem tran­qui­los. Tiran­do algu­mas tomadas den­tro do car­ro no trân­si­to que enfa­ti­zam o choque entre esta cul­tura mais anti­ga e a modernidade.

    Ape­sar de mostrar bas­tante a religião, assim como a cul­tura e os cos­tumes, não se tra­ta de quer­er ques­tioná-la e apon­tar as suas pos­síveis “fal­has”. São apre­sen­tadas algu­ma questões, de for­mas bem del­i­cadas e sutis, em relação á não pri­vação de dese­jos, como poder beber vin­ho, e a out­ros são com­ple­ta­mente igno­ra­dos (de cer­ta for­ma até tidos como inex­is­tentes), como a homos­sex­u­al­i­dade. O fato de um dos cenários prin­ci­pais ser um açougue, onde o tra­bal­ho é a manip­u­lação da carne, não pode ser con­sid­er­a­do um mero detal­he. Tam­bém há toda uma pre­ocu­pação na manutenção do dis­tan­ci­a­men­to cor­po­ral, entre homem e mul­her, onde por exem­p­lo: o momen­to em que Aaron jun­ta toda noite a sua cama de solteiro jun­to com a da sua mul­her, para que pos­sam dormir jun­tos, que de man­hã deve ser nova­mente separada.

    Rotu­lar Peca­do da Carne sim­ples­mente como um “dra­ma gay” (ou qual­quer out­ra clas­si­fi­cação do gênero) pode­ria ter sido algo cabív­el anós atrás, quan­do essa temáti­ca ain­da era extrema­mente rara. Mas faz­er isto hoje em dia é reduzí-lo a banal­i­dade, seria como ape­nas vis­lum­brar a pon­ta de um ice­berg e descar­tar todo seu con­teú­do aparente­mente escon­di­do. Recomen­do o filme a todos que querem faz­er uma viagem por den­tro de seus próprios dese­jos, pre­con­ceitos e cos­tumes para em segui­da ques­tioná-los e se per­guntarem se dese­jam con­tin­uar ou não com eles.

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    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=rYhtwvfZxxg

  • Crítica: Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

    Crítica: Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

    Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

    Um road movie pelo sertão ou uma poe­sia sobre a fuga. Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo (Brasil, 2009) de Karim Ain­ouz e Marce­lo Gomes, vai além da geografia dos espaços e do val­or de uma sim­ples frase de efeito surgi­da numa parede. Por ser poéti­co e fic­cional, sem deixar de doc­u­men­tar o real, pode-se diz­er que ain­da não se encaixa em um padrão do cin­e­ma brasileiro.

    Obri­ga­do a estar no ban­co do pas­sageiro, a primeira cena de Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo não esconde ao espec­ta­dor que embar­cará como carona ao lado do geól­o­go José Rena­to (Irand­hir San­tos). Ele tem 35 anos e é envi­a­do ao sertão nordes­ti­no a fim de pesquis­ar as condições para um pos­sív­el canal que será feito com o desvio de águas de um úni­co rio cau­daloso da região. Não vê-se o pro­tag­o­nista em momen­to algum, ele é ape­nas uma voz em off que ori­en­ta as cenas de um sertão que por horas é o mes­mo ári­do de sem­pre e por out­ros momen­tos é um descon­heci­do, um grande vazio com luzes noturnas.

    José Rena­to é um apaixon­a­do e ao mes­mo tem­po foge da decepção dessa paixão. Fazen­do refer­ên­cias inter­es­santes de momen­tos vivi­dos e pequenos detal­h­es entre ele e sua mul­her, o nar­rador con­strói o cenário que assis­ti­mos alian­do seus pen­sa­men­tos dia após dia que se afas­ta (ou se aprox­i­ma) de sua casa. Faze­mos parte desse diário de viagem.

    Durante a odis­séia encon­tra-se os mais estran­hos e incríveis per­son­agens que vão moldan­do os sen­ti­men­tos do nar­rador ao lon­go do cam­in­ho. Dess­es per­son­agens são as pros­ti­tu­tas que têm o dev­er de preencher o vazio de José Rena­to, não somente com o sexo, mas com suas histórias e tra­jetórias. Destaque para Pati que ao ser ques­tion­a­da sobre o que esper­a­va da vida, ela ape­nas resume quer­er ¨Uma vida-laz­er com sua fil­ha e um companheiro¨.

    Tratar o sertão nordes­ti­no sem mitolo­gias é um das car­ac­terís­ti­cas mais inter­es­santes dos dois dire­tores. Con­struíram, com as exper­iên­cias ante­ri­ores como em Cin­e­ma, Aspiri­nas e Urubus e O Céu de Sue­ly, um novo con­ceito sobre a região. Afi­nal, os ser­tane­jos tam­bém são afe­ta­dos pela mídia e pelas deses­per­anças do urbano, e fugir do imag­inário pop­u­lar sobre a região não é tare­fa fácil. Em entre­vista com o dire­tor Jean-Claude Bernardet, Karim Ain­ouz e Marce­lo Gomes, ambos nordes­ti­nos, falam sobre a neces­si­dade que sen­ti­am em expe­ri­en­ciar, viven­ciar de fato, tudo que ouvi­am e suposta­mente sabi­am da região. Um tra­bal­ho, aci­ma de tudo, sensorial.

    Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo foi grava­do num perío­do de aprox­i­mada­mente 10 anos, partin­do de um pro­je­to que ini­cial­mente seria sobre as feiras do inte­ri­or nordes­ti­no. Karim Ain­ouz e Marce­lo Gomes relatam que tin­ham uma lig­ação meio mís­ti­ca com as fil­ma­gens, mas até 2009 não tin­ham mui­ta certeza do que faz­er, até decidi­rem que seria um tra­bal­ho que envolve­ria as gravações do sertão mescladas a história de um per­son­agem, o José Rena­to, muito bem tra­bal­ha­do na voz de Irand­hir Santos.

    A fotografia do filme chama bas­tante a atenção por mesclar ima­gens de slides, de uma câmera super‑8, duas câmeras 16mm (Bolex), uma câmera tcheca (Minock­n­er) e uma mini-DV VX1000 (Sony). Essa mis­tu­ra resul­ta numa boni­ta colagem e visões sen­so­ri­ais inten­sas a quem assiste. Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo é sim­ples de con­cepções téc­ni­cas, porém se mostra car­rega­do de uma nar­ra­ti­va inten­sa. Um filme para ser lido, ou uma leitu­ra para ser vista.

    A sen­sação no fim do lon­ga, é a da neces­si­dade de mudança. Zé Rena­to encara a viagem como uma trans­mu­tação do seu sen­ti­men­to de per­da e vazio. Ao viven­ciar os 75 min­u­tos dessa tra­jetória, fica a von­tade de ir para qual­quer lugar, uma neces­si­dade de fuga que deixa o espec­ta­dor bus­can­do algo. Uma sen­sação de quer­er uma ¨vida-laz­er¨ e de aban­dono quan­do Zé Rena­to ces­sa a sua fala, afi­nal não ven­do o per­son­agem o espec­ta­dor se con­funde com as coisas ditas e vis­tas por ele. Impos­sív­el não sair do cin­e­ma não car­regan­do um pouco do geól­o­go den­tro de si. E mes­mo que pie­gas, o espec­ta­dor ao fim sabe que todos já via­jaram porque pre­cisavam e voltaram porque amavam algo ou alguém.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=wn4ZBttHVaU

  • Crítica: O amor segundo B. Schianberg

    Crítica: O amor segundo B. Schianberg

    Uma artista plás­ti­ca e video­mak­er, Mar­i­ana Pre­vi­a­to, e um ator, Gus­ta­vo Macha­do, são semi­con­fi­na­dos, durante 3 sem­anas, em um aparta­men­to de São Paulo, com câmeras estrate­gi­ca­mente local­izadas, receben­do ape­nas uma sinopse e algu­mas instruções do dire­tor. Parece um pro­je­to inter­es­sante, não? Este é O amor segun­do B. Schi­an­berg, o novo filme de Beto Brant.

    Basea­do num per­son­agem do livro Eu rece­be­ria as piores notí­cias dos seus lin­dos lábios, de Marçal Aquino, Ben­jamin Schi­an­berg é um psi­canal­ista e pro­fes­sor uni­ver­sitário, que tem como prin­ci­pal inter­esse, refle­tir sobre o com­por­ta­men­to amoroso a par­tir de obser­vações da real­i­dade, que está ape­nas pre­sente como nar­rador (Felipe Ehren­berg) em áudio no filme. Sua fil­ha Gala (Mar­i­ana Pre­vi­a­to), por dese­jo do pai, seduz Félix (Gus­ta­vo Macha­do) para seu aparta­men­to afim de aju­dar nas pesquisas dele.

    O amor segun­do B. Schi­an­berg cria uma sen­sação bem ínti­ma com os pseudop­er­son­agens, pois, usan­do prati­ca­mente só o som ambi­ente e oito câmeras “robo­t­i­zadas”, que foram insta­l­adas no aparta­men­to, acom­pan­hamos os momen­tos mais, e menos, ínti­mos do casal. Este não é mais um filme esti­lo real­i­ty show, ou até uma “casa (aparta­men­to) dos artis­tas”, pois o foco é a (des)construção de um amor e, não sim­ples­mente um Big Broth­er[bb]. Fica bas­tante a dúvi­da a respeito do real e do inter­pre­ta­do, e até mes­mo se há qual­quer tipo de direção. Tudo parece ser tão descom­pro­mis­sa­do e amador, crian­do a impressão de que ele pode­ria estar sendo exibido no Youtube, no canal de Schiamberg.

    Há um bur­bur­in­ho acon­te­cen­do, pois no mes­mo há cenas de nu frontal, mas­culi­no e fem­i­ni­no, sexo, e palavrões. Mas é pos­sív­el exibir, verossi­ma­mente, uma história de amor, des­de o começo ao fim, sem ess­es ele­men­tos? Acred­i­to que não! Chega a ser estran­ho ain­da se deparar com comen­tários do tipo em um tem­po onde tan­to se fala sobre a liber­dade sex­u­al e a bus­ca pela ‘ver­dade’.

    É necessário estar aber­to para uma exper­iên­cia difer­ente da nor­mal, ao se assi­s­tir O amor segun­do B. Schi­an­berg, mas para quem já viu algo do movi­men­to Dog­ma 95, não irá estran­har tan­to. Este é um filme bas­tante reflex­i­vo sobre o amor[bb], fal­so e ver­dadeiro, e, ape­sar de mais indi­re­ta­mente, a respeito de um modo mais pecu­liar de se viver.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Pata mais infor­mações infor­mações sobre o filme, acesse esta pági­na da TV Cul­tura.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=I1nB-jRZ8e4

    Con­fi­ra tam­bém out­ras críti­cas de filmes no blog Claque ou Cla­que­te, por Joba Tri­dente.