Author: Liber Paz

  • Folheteen: direto ao ponto | HQ da Semana

    Folheteen: direto ao ponto | HQ da Semana

    folheteen-capaArran­jar um novo emprego, aju­dar a pagar o aluguel e as con­tas da casa, estu­dar pras provas no colé­gio, aceitar o novo namora­do da mãe den­tro da família. Ess­es são os prob­le­mas de Malu.

    Malu não tem super-poderes, não pre­cisa sal­var o mun­do, não teve uma exper­iên­cia traumáti­ca, não vive uma grande história de amor. Ela é a meni­na que te atende no caixa do super­me­r­ca­do, é a meni­na que dis­tribui fol­hetos nos sinais de trânsito.

    Essa é a pro­tag­o­nista do álbum Fol­heteen: dire­to ao pon­to, escrito pelo curitibano José Aguiar. E a cidade de Curiti­ba se faz pre­sente em toda a história, nos detal­h­es dos lam­bre­quins, pré­dios, pon­tos de ônibus. Ain­da assim, não é uma história bair­rista. A moça Malu pode­ria morar em qual­quer cidade. O forte do álbum é essa nar­ra­ti­va despre­ten­siosa e adoráv­el sobre essa meni­na abso­lu­ta­mente comum.

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    A tra­ma de Fol­heteen começa quan­do a pro­tag­o­nista perde seu emprego no super­me­r­ca­do. A par­tir dis­so, acom­pan­hamos as dúvi­das e pre­ocu­pações de Malu, ten­tan­do aju­dar a man­ter sua casa, equi­li­bran­do estu­dos com sua vida pes­soal. Ela pre­cisa resolver prob­le­mas den­tro de sua família e, prin­ci­pal­mente, prob­le­mas den­tro de si mesma.

    folheteen-2Os per­son­agens no traço de José Aguiar gan­ham uma forte expressão grá­fi­ca em lin­has geométri­c­as e for­mas sim­ples. O esti­lo de desen­ho aju­da na nar­ra­ti­va que flui de maneira nat­ur­al e aumen­ta ain­da mais a sen­sação de “cotid­i­ano”.

    Tra­ta-se de um tra­bal­ho hon­esto, muito bem real­iza­do e cheio de humanidade. O acaba­men­to grá­fi­co do álbum é belís­si­mo e ain­da apre­sen­ta um tex­to sobre a car­reira profis­sion­al do autor e a gênese de sua obra.

    Fol­heteen: dire­to ao pon­to foi lança­do ago­ra, em de jun­ho de 2013, e pode ser encon­tra­do nas livrarias e com­ic shops com preços var­ian­do entre R$40,00 e R$49,00. Você tam­bém pode adquirir um exem­plar dire­to com o autor, auto­grafa­do, pelo e‑mail projeto.quadrinho [arro­ba] gmail [pon­to] com.

    Fol­heteen: dire­to ao ponto
    Autor: José Aguiar
    Edi­to­ra: Quadrinhofilia
    Preço: Entre R$ 40,00 e R$49,00

  • Vertigo Especial: Atire | HQ da Semana

    Vertigo Especial: Atire | HQ da Semana

    Vertigo_Especial_atireLança­da esse mês, essa edição de 232 pági­nas reúne um grande apan­hado de diver­sas histórias pub­li­cadas pelo selo Ver­ti­go, da edi­to­ra norte-amer­i­cana DC Comics. A maio­r­ia são histórias cur­tas, de 8 pági­nas em média, falan­do sobre fan­ta­sia e ficção cien­tí­fi­ca. Mas há aque­las que fogem desse tema.

    Atire é uma delas e recebe grande destaque, sendo capa da edição. A história, pro­tag­on­i­za­da pelo mago John Con­stan­tine, cau­sou mui­ta polêmi­ca. Ela foi com­ple­ta­mente cen­sura­da na época de sua real­iza­ção, em 1999, e só veio a ser pub­li­ca­da em 2010.

    A tra­ma de Atire mostra uma inves­ti­gado­ra do con­gres­so norte-amer­i­cano ten­tan­do com­preen­der o porquê de uma série de matanças que acon­te­ci­am nas esco­las do país. Cri­anças e ado­les­centes que matavam out­ros e se sui­ci­davam. Seria cul­pa de videogames, dro­gas, vio­lên­cia na tv? Durante a inves­ti­gação, a mul­her percebe a pre­sença de Con­stan­tine em muitas fil­ma­gens feitas em cenários de diver­sos crimes. A princí­pio isso levaria o leitor, que acom­pan­ha as histórias do per­son­agem, a imag­i­nar que os assas­si­natos seri­am cau­sa­dos por forças sobre­nat­u­rais. Mas o real moti­vo das mortes que John Con­stan­tine sug­ere é muito mais per­tur­bador e cor­riqueiro. A con­clusão da história é impactante.

    Recorte de uma das páginas de “Atire”
    Recorte de uma das pági­nas de “Atire”

    Atire foi escri­ta e esta­va prestes a ser pub­li­ca­da quan­do acon­te­ceu o mas­sacre em Columbine. A edi­to­ra DC Comics sug­eriu alter­ações na história, que o autor War­ren Ellis não aceitou. Então, a edi­to­ra decid­iu sim­ples­mente não pub­licar e arquiv­ou o mate­r­i­al. Incon­for­ma­do, Ellis demitiu-se.

    Emb­o­ra Atire seja a prin­ci­pal atração, a mel­hor HQ da revista é Mate seu namora­do, um dos roteiros mais inspi­ra­dos e insti­gantes do escocês Grant Mor­ri­son. A mais lon­ga história apre­sen­ta­da nes­sa edição, com 56 pági­nas, Mate seu namora­do não tem nada a ver com fan­ta­sia ou ficção cien­tí­fi­ca. Tra­ta-se de uma tra­ma sobre amor, vio­lên­cia, rebel­dia e ado­lescên­cia, que lem­bra um boca­do filmes como Assas­si­nos por Natureza (1994).

    Recorte de uma das páginas de “Mate seu namorado”
    Recorte de uma das pági­nas de “Mate seu namorado”

    Ver­ti­go Espe­cial: Atire apre­sen­ta diver­sos autores e desen­his­tas reno­ma­dos em suas pági­nas, como Mor­ri­son, Ellis, Bri­an Azzarel­lo, Garth Ennis, Peter Mil­li­gan, Jim Lee, Frank Quite­ly, Bri­an Bol­land, Jeff Lamire, Eduar­do Ris­so e muitos outros.

    Como toda coletânea, há histórias fra­cas, porém a média do mate­r­i­al apre­sen­ta­do é óti­ma. Vale con­ferir com atenção as HQs Par­ceiros, Ultra: o mul­ti­alien, Brin­que­dos Novos, O Kapas… Enfim, tra­ta-se do lança­men­to com a mel­hor relação qualidade/custo do mês.

    Ver­ti­go Espe­cial: Atire
    Autores: diversos
    Edi­to­ra: Panini
    Preço: R$19,90

  • Frequência Global | HQ da Semana

    Frequência Global | HQ da Semana

    encadernado_frequencia-capa1A Fre­quên­cia Glob­al é uma força-tare­fa não gov­er­na­men­tal, inde­pen­dente, com­pos­ta por 1001 agentes. Miran­da Zero, a líder do grupo, e Aleph, a moça que coor­de­na a comu­ni­cação da equipe, são as úni­cas per­son­agens con­stantes nas histórias. O elen­co da equipe prin­ci­pal, assim como os próprios desen­his­tas da série, não se repete nunca.

    A par­tir dessa pre­mis­sa, War­ren Ellis cria 12 episó­dios que podem ser lidos em qual­quer ordem. São histórias fechadas que ver­sam sobre diver­sos temas, anco­ra­dos em ideias con­tem­porâneas sobre sis­temas de infor­mação e tec­nolo­gia. Fre­quên­cia Glob­al lem­bra um pouco o espíri­to do seri­ado Arqui­vo X, com a equipe reunin­do-se para resolver situ­ações extraordinárias.

    Cada caso requer uma habil­i­dade especí­fi­ca e sem­pre há urgên­cia na ação. Assim, uma bom­ba escon­di­da em Lon­dres pede uma espe­cial­ista em le park­our para encon­trá-la a tem­po, uma invasão aliení­ge­na via um vírus cog­ni­ti­vo deve ser com­bat­i­da por uma espe­cial­ista em lin­guís­ti­ca, e por aí vai.

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    Como cada mis­são requer um tipo de agente e não há nec­es­sari­a­mente um pro­tag­o­nista fixo, nun­ca se sabe se o per­son­agem que acom­pan­hamos con­seguirá cumprir sua mis­são ou chegar vivo ao final da história.

    O roteirista Warren Ellis
    O roteirista War­ren Ellis

    Além do rit­mo acel­er­a­do e da ação con­stante, War­ren Ellis enriquece suas tra­mas apre­sen­tan­do con­ceitos tec­nológi­cos insti­gantes e explo­ran­do-os den­tro de uma ficção fantástica.

    A série foi escri­ta entre 2002 e 2004 e muitas das ideias tec­nológ­i­cas abor­dadas por Ellis já não impres­sion­am mais. Ain­da assim, vale acom­pan­har pelos out­ros méri­tos da série, como o roteiro insti­gante e as cria­ti­vas situações.

    encadernado_frequencia-capa2O grande méri­to de Fre­quên­cia Glob­al é a val­oriza­ção do tra­bal­ho cole­ti­vo. É a cole­tivi­dade, a coop­er­ação e a diver­si­dade de seus agentes que per­mite atin­gir soluções para os prob­le­mas mais ter­ríveis e emergenciais.

    Fre­quên­cia Glob­al — Vol­umes 1 e 2
    Autores: War­ren Ellis (roteirista) e diver­sos desenhistas
    Edi­to­ra: Panini.
    Preço: R$ 39,90 (vol­ume 1) e R$42,00 (vol­ume 2)

  • O Inescrito | HQ da Semana

    O Inescrito | HQ da Semana

    O-inescritoEssa história em quadrin­hos mostra um mun­do muito, muito pare­ci­do com o nos­so. A prin­ci­pal difer­ença é que nele o maior best-sell­er de fan­ta­sia não é Har­ry Pot­ter, mas um garo­to bruxo chama­do Tom­my Tay­lor. Ao invés de enfrentar Vold­mort, o inimi­go é Conde Ambró­sio. No lugar de uma coru­ja, temos um gato com asas.

    O autor Wil­son Tay­lor escreveu 13 livros com as aven­turas de Tom­my e então desa­pare­ceu mis­te­riosa­mente. Seu fil­ho, Tom Tay­lor, jamais desco­briu o que acon­te­ceu ao pai. Hoje, Tom gan­ha a vida par­tic­i­pan­do de con­venções, auto­grafan­do pôsteres e livros e tiran­do retratos com a legião de fãs do per­son­agem que inspirou.

    Tudo vai muito bem até que aparece uma moça que ten­ta con­vencer Tom de que ele não é bem quem pen­sa que é.

    Essa é a pre­mis­sa de O Ine­scrito, série de quadrin­hos que começou a ser lança­da no Brasil esse ano e que se encon­tra em seu segun­do vol­ume. Os autores baseiam-se clara­mente na obra de J.K. Rowl­ing, mas com out­ra abor­dagem. Ao invés de falar de mág­i­ca, eles querem falar de lit­er­atu­ra e ficção.

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    O-inescrito-3À medi­da que se acom­pan­ha as aven­turas de Tom Tay­lor, percebe­mos que a história é fan­tás­ti­ca, mas baseia-se na força das ficções, dos per­son­agens inven­ta­dos. Partin­do da pre­mis­sa que algo não pre­cisa ser real para ser ver­dadeiro (e vice-ver­sa), os autores apre­sen­tam uma tra­ma insti­gante onde os mis­térios do des­ti­no de Wil­son Tay­lor, de uma sin­is­tra orga­ni­za­ção sec­re­ta e de um mapa com os locais de livros e ficções se mis­tu­ram e pren­dem a atenção do leitor.

    Além do bom rit­mo e do sus­pense, as refer­ên­cias à lit­er­atu­ra, cul­tura pop e mídias são exce­lentes e dão uma dimen­são dinâmi­ca e extrema­mente con­tem­porânea à história. Vale muito a pena con­hecer e acom­pan­har a tra­jetória do sen­hor Tom Taylor.

    O Ine­scrito
    Autores: Mike Carey (roteiro) e Peter Gross (desen­hos)
    Edi­to­ra Panini
    Preço: R$ 18,90

  • Homem-Aranha 2099 | HQ da Semana

    Homem-Aranha 2099 | HQ da Semana

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    Edição lança­da pela Panini

    No começo da déca­da de 1990 a edi­to­ra Mar­vel ten­tou lançar uma nova ver­são de alguns de seus per­son­agens mais pop­u­lares. Imag­i­nan­do um mun­do futur­ista, cheio de ele­men­tos tec­nológi­cos de ficção cien­tí­fi­ca e uma sociedade com um forte lega­do cul­tur­al dos super-heróis, o selo “2099” chegou às ban­cas com qua­tro títu­los apre­sen­tan­do ver­sões do Jus­ti­ceiro, Dr. Des­ti­no e Homem-Aran­ha. O quar­to títu­lo era um per­son­agem inédi­to chama­do Rav­age. Mais tarde, diver­sos out­ros per­son­agens entraram para o uni­ver­so 2099: X‑Men, Hulk, Moto­queiro Fantasma.

    Essas ver­sões futur­is­tas foram pub­li­cadas nos Esta­dos Unidos entre 1993 e 1996. No Brasil, a série fez bas­tante suces­so. Den­tre todos os títu­los, o mais pop­u­lar era o Homem-Aran­ha. Mas ele não tin­ha muito a ver com o Peter Park­er que con­hece­mos hoje. Em 2099, o Homem-Aran­ha era um cien­tista, empre­ga­do de uma grande cor­po­ração, chama­do Miguel O’Hara. Geneticista, ele se inspi­ra no herói dos nos­sos dias para cri­ar um novo tipo de ser humano, capaz de escalar pare­des e dar saltos de 15 metros.

    homemaranha2099-1 Como toda boa história de super-herói, O’Hara é víti­ma de um aci­dente no lab­o­ratório que, ao invés de matá-lo, lhe con­fere super­poderes. Esse Homem-Aran­ha do futuro pos­sui gar­ras nas pon­tas dos dedos e com elas é capaz de escalar pare­des, além de ras­gar inimi­gos. Tam­bém é capaz de pro­duzir organi­ca­mente a própria teia, pro­duz veneno, é sen­sív­el à luz. Enfim, é muito mais “aran­ha” do que o Homem-Aran­ha atual.

    O grande atra­ti­vo desse gibi é o roteiro de Peter David. Ele cria uma sequên­cia de histórias alu­ci­nante, onde o pobre Miguel O’Hara vai sain­do de uma encren­ca para entrar em out­ra pior ain­da num rit­mo frenéti­co. Mas o mel­hor são os diál­o­gos. Peter David dá a Miguel O’Hara um sen­so de humor sen­sa­cional, mor­daz, cíni­co. É difí­cil não rir ao ler as histórias. Além dis­so, o roteirista tam­bém não leva a sério a história como um todo: sem­pre há espaço para uma pia­da, para uma brin­cadeira ou uma situ­ação engraçada.

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    Homem-Aran­ha 2099 é lança­do como encader­na­da, que reúne as 10 primeiras histórias do per­son­agem pub­li­cadas em 1993 e 1994. É boa, despre­ten­siosa e pura diversão.

    Homem-Aran­ha 2099
    Autores: Peter David (roteiro) e Rick Leonar­di (arte)
    Edi­to­ra: Panini.
    Preço esti­ma­do: R$ 22,90

  • Valente para todas | HQ da Semana

    Valente para todas | HQ da Semana

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    Quem nun­ca deu suas cabeçadas por causa de amor? Quem não meteu os pés pelas mãos, fez con­fusão, quem nun­ca teve dor-de-cotovelo? Quem acred­i­ta em amor?

    Se essas per­gun­tas mex­em com você, Valente para todas é um livro de quadrin­hos que vai te agradar em cheio. Valente, Dama, Bu, Prince­sa e out­ros per­son­agens pare­cem ape­nas mais um pun­hado de bich­in­hos fofin­hos, mas quan­do começar a ler as aven­turas dessa tur­ma vai perce­ber que ali tem muito mais do que fofura.

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    O autor, Vitor Cafag­gi, recria com ess­es sim­páti­cos per­son­agens situ­ações com as quais que todo mun­do que já foi ado­les­cente apaixon­a­do (ou apaixon­a­da) vai se iden­ti­ficar. Seu tex­to é óti­mo, os diál­o­gos são cati­vantes e a tra­ma, basea­da em um inusi­ta­do triân­gu­lo amoroso, não deixa largar o livro antes do fim.

    As histórias tem o for­ma­to de tiras em quadrin­hos, que fun­cionam muito bem quan­do reunidas em um só livro, man­ten­do coerên­cia e continuidade.

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    Valente para todas é o segun­do vol­ume de uma série, dan­do con­tinuidade às histórias de Valente para sem­pre. Graças a uma boa apre­sen­tação resu­min­do os even­tos ante­ri­ores, é per­feita­mente pos­sív­el ler e se envolver com as desven­turas do cãozinho.

    Cafag­gi pre­tende faz­er uma série com cin­co livros con­tan­do a saga de Valente. O final do segun­do vol­ume deixa o leitor ansioso pela continuação.

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    Tam­bém é pos­sív­el con­ferir todas as aven­turas do per­son­agem no blog do autor, que disponi­bi­liza sem­anal­mente atu­al­iza­ções das aven­turas de Valente.

    Para adquirir Valente para todas, entre em con­ta­to dire­to com o autor por e‑mail (vitor­cafag­gi [arrom­ba] gmail [pon­to] com) ou acesse o site da Comix , onde estão disponíveis os dois álbuns da série.

    Valente para todas
    Autor: Vitor Cafaggi
    Pub­li­cação independente.
    Preço: R$ 12,00

  • Asterios Polyp | HQ da Semana

    Asterios Polyp | HQ da Semana

    AsteriosIgnazio era irmão gêmeo idên­ti­co de Aste­r­ios Polyp, mas mor­reu durante o par­to. Sua ausên­cia foi sen­ti­da pelo sobre­vivente durante toda sua vida e é jus­ta­mente esse gêmeo fan­tas­ma que nar­ra essa história fab­u­losa sobre arte, caos e ordem.

    O autor Dave Maz­zuc­chel­li tra­bal­hou nesse livro durante 10 anos. Durante os anos 80 desen­hou alguns clás­si­cos dos quadrin­hos de super-heróis, como Bat­man – Ano Um e Demoli­dor – A Que­da de Mur­dock. Ao lon­go dos anos 90 dedi­cou-se à pro­dução de diver­sas histórias em quadrin­hos alter­na­ti­vas. Aste­r­ios Polyp foi sendo desen­volvi­do lenta­mente, enquan­to Maz­zuc­chel­li leciona­va na School of Visu­al Arts de Nova York. E, de fato, é a obra-pri­ma do autor.

    Aste­r­ios Polyp é uma iro­nia viva. Um bril­hante arquite­to que foi con­sagra­do no meio acadêmi­co graças à ino­vação e ousa­dia de seus pro­je­tos, que, ape­sar de geni­ais, jamais foram construídos.

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    Maz­zuc­chel­li explo­ra ao máx­i­mo a lin­guagem dos quadrin­hos, brin­can­do com recur­sos grá­fi­cos como cor e esti­los de desen­ho para ampli­ar a gama de sig­nifi­ca­dos que per­me­iam a história. O design da edição é belís­si­mo e todo detal­he tem função narrativa.

    Asterios-2Polyp inter­age com diver­sos per­son­agens inter­es­santes, cada um inter­pre­tan­do uma per­spec­ti­va sobre a vida, a arte, o caos e a ordem. Para cada per­son­agem foi desen­volvi­da uma caligrafia espe­cial para car­ac­teri­zar suas falas.

    Ao mes­mo tem­po em que abor­da diver­sas ideias e abre por­tas para mui­ta dis­cussão e reflexão, o livro não é em nen­hum momen­to pedante ou modor­ren­to. A nar­ra­ti­va flui e os per­son­agens cati­vam o leitor. Além de Aste­r­ios, a adoráv­el Hana, a excên­tri­ca Ursu­la e o vai­doso Willy Ili­um se destacam.

    Tra­ta-se de uma obra espetac­u­lar, ple­na de sig­nifi­ca­dos e leituras, que con­quis­tou a críti­ca ao redor do mun­do e esta­b­ele­ceu um novo pata­mar de qual­i­dade para as chamadas graph­ic nov­els.

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    Quem quis­er se apro­fun­dar um pouco mais na obra, veja tam­bém este post no meu blog que escrevi sobre ele.

    Aste­r­ios Polyp
    Autor: David Mazzucchelli
    Edi­to­ra: Quadrin­hos na Cia.
    Preço esti­ma­do: R$ 63,00

  • Xampu | HQ da Semana

    Xampu | HQ da Semana

    xampu-capaRoger Cruz tra­bal­hou muito tem­po como desen­hista de gibis de super-heróis. X‑men, Hulk, Moto­queiro Fan­tas­ma. Mas em 2009, entre um tra­bal­ho e out­ro, Cruz arran­jou tem­po pra faz­er uma série de histórias com um esti­lo de desen­ho, enre­do e espíri­to com­ple­ta­mente difer­entes do mod­e­lo do super-herói.

    O álbum Xam­pu reúne essas histórias que falam sobre pes­soas comuns, jovens e ado­les­centes, em São Paulo no final da déca­da de 1980. Pra quem viveu essa época, o álbum tem um sabor de nos­tal­gia deli­cioso. São detal­h­es nos desen­hos: car­tazes, capas de LP, livros…

    Mas o méri­to maior do livro não está na nos­tal­gia e sim na maneira envol­vente como são nar­radas as desven­turas de seus pro­tag­o­nistas. Difí­cil não se iden­ti­ficar com as incertezas e paixões que movem essa tur­ma. Cruz con­segue cri­ar per­son­agens que cati­vam o leitor, que se tor­nam impor­tantes e que per­manecem na memória.

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    As histórias são rel­a­ti­va­mente inde­pen­dentes umas das out­ras, emb­o­ra pos­suam cronolo­gia e um elen­co prin­ci­pal estáv­el, todos jovens, de uma per­ife­ria. Tudo gira em torno do aparta­men­to do edifí­cio número 78, onde o Som­bra, Max, Nicole, Pedrão e mais uma galera se “mocosavam” pra cur­tir um som, dro­gas e amassos.

    xampu-2O esti­lo rock&roll, cabe­lo com­pri­do, calças jeans, jaque­ta de couro, tat­u­a­gens, bebidas, sexo… A vida dos per­son­agens vai se con­stru­in­do em torno dis­so e acom­pan­hamos tra­jetórias que nem sem­pre ter­mi­nam em finais felizes.

    A capa do álbum mostra um dis­co de vinil e brin­ca com a ideia de que não apre­sen­ta histórias, mas sim “faixas”, “canções” que recebem nomes como “Xam­pu Gen­er­a­tion”, “O Som­bra”, “Raquel”, “Max & Nicole” e out­ras. Há tam­bém uma “faixa bônus: UnPlugged”: uma sessão cheia de esboços e testes de esti­los de desenho.

    É um tra­bal­ho exce­lente, com uma nar­ra­ti­va cati­vante, óti­mos desen­hos e histórias.

    Lança­do em 2010, o álbum ain­da pode ser encon­tra­do nas livrarias e com­ic shops. O autor fez um post em seu blog com várias fotos de orig­i­nais e tam­bém  criou um blog ofi­cial da HQ.

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    Desen­hos orig­i­nais e fer­ra­men­tas de tra­bal­ho do autor

    Xam­pu
    Autor: Roger Cruz
    Edi­to­ra: Devir
    Preço esti­ma­do: R$ 29,50

  • A Chegada | HQ da Semana

    A Chegada | HQ da Semana

    Chegada-capaUma história em quadrin­hos que usa ape­nas ima­gens e nen­hu­ma palavra. Ou mel­hor, nen­hu­ma palavra em idioma con­heci­do. Vemos tex­tos em car­ac­teres imag­inários, letras fan­tás­ti­cas incom­preen­síveis que acabam se tor­nan­do parte das imagens.

    Isso é um artifí­cio nar­ra­ti­vo do autor Shaun Tan, que pre­tende cri­ar no leitor a sen­sação do pro­tag­o­nista da história: ser imi­grante em um país com­ple­ta­mente estran­ho, de cul­tura prati­ca­mente alienígena.

    A arte do álbum é embas­ba­cante, mag­nifi­ca­mente desen­ha­da a lápis. As ima­gens procu­ram repro­duzir fotografias anti­gas que retratavam a chega­da de estrangeiros à Améri­ca no começo do sécu­lo XX.

    Há todo um cli­ma de nos­tal­gia, mas o tem­pero espe­cial do álbum é a fan­ta­sia. Nesse novo país, o nos­so pro­tag­o­nista toma con­ta­to com estra­nhas cria­tur­in­has que pare­cem Poké­mons, com hábitos e estru­turas de tra­bal­ho rad­i­cal­mente difer­entes das que con­hecia e, prin­ci­pal­mente, com out­ros estrangeiros como ele, que vier­am de lugares ain­da mais estran­hos com histórias comoventes e sur­preen­den­te­mente reais.

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    A Chega­da é uma belís­si­ma obra sobre diver­si­dade e sol­i­dariedade. Com suas silen­ciosas ima­gens em tom de sépia, está cheia de sons, histórias, cores e vida. Shaun Tan com­pôs uma história cheia de poe­sia e sen­si­bil­i­dade, mar­ca­da por ele­men­tos fan­tás­ti­cos que pare­cem simul­tane­a­mente estran­hos e famil­iares. Uma história sobre pes­soas tão difer­entes e ao mes­mo tem­po com tan­to em comum.

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    A Chega­da
    Autor: Shaun Tan
    Edi­to­ra: Edições SM
    Preço esti­ma­do: R$48,00

  • We3 – Instinto de Sobrevivência | HQ da Semana

    We3 – Instinto de Sobrevivência | HQ da Semana

    we3-capaImag­ine uma mis­tu­ra insana de Robo­cop com A Incrív­el Jor­na­da e pitadas de Matrix. O resul­ta­do dis­so é We3 – Instin­to de Sobre­vivên­cia.

    De A Incrív­el Jor­na­da vêm um trio de bich­in­hos: um cachor­ro, um gato e um coel­ho. Ani­maiz­in­hos de esti­mação que são rou­ba­dos de seus donos pelo exérci­to para par­tic­i­par de um pro­je­to mil­i­tar secretíssimo.

    Daí vem a parte do Robo­cop: os três são trans­for­ma­dos em ciborgues, máquinas de matar extrema­mente sofisti­cadas e se envolvem em sequên­cias de ação cheias de vio­lên­cia sanguinolenta.

    De Matrix vem os exper­i­men­tal­is­mos ousa­dos: uma dis­posição de quadrin­hos e pági­nas que fazem lem­brar toda a rev­olução do bul­let time, mas trans­pos­ta ago­ra para a lin­guagem dos quadrin­hos. São pági­nas em que o sen­ti­do de per­cepção de tem­po dos ani­mais é rep­re­sen­ta­do através da dis­posição de quadrin­hos que invo­cam mul­ti­pli­ci­dade de leituras e explo­ração da ter­ceira dimen­são na página.

    transposição do bullet time para a linguagem dos quadrinhos
    trans­posição do bul­let time para a lin­guagem dos quadrinhos

    We3 é uma história alu­ci­nante que com­bi­na de maneira magis­tral ação, vio­lên­cia e ter­nu­ra. Ter­nu­ra porque é impos­sív­el não cri­ar empa­tia pelo sofri­men­to e des­ti­no dos pro­tag­o­nistas. Mes­mo com as alu­ci­nantes sequên­cias de ação, há diver­sos momen­tos e detal­h­es que dão um aper­to no coração, como os car­tazes dos ani­maiz­in­hos perdidos.

    Apesar de tudo eles ainda são animais que necessitam de cuidado e carinho
    Ape­sar de tudo eles ain­da são ani­mais que neces­si­tam de cuida­do e carinho

    Essa edição ain­da tem uma porção de extras bem bacanas, com comen­tários do roteirista Grant Mor­ri­son e do desen­hista Frank Quite­ly sobre os basti­dores dessa HQ. Sim­ples­mente imperdível.

    We3 – Instin­to de Sobrevivência
    Autores: Grant Mor­ri­son (roteiro) e Frank Quite­ly (arte)
    Edi­to­ra: Panini
    Preço esti­ma­do: R$45,00

  • Crítica: Batman — O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    Crítica: Batman — O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    O mel­hor a faz­er para aproveitar ao máx­i­mo esse filme é se infor­mar o menos pos­sív­el a respeito de sua história. Quan­to menos sou­ber, maiores serão as surpresas.

    Não que o últi­mo filme da trilo­gia dirigi­da por Christo­pher Nolan depen­da ape­nas das revi­ra­voltas e rev­e­lações do roteiro. Exis­tem out­ros méri­tos que tor­nam o filme muito atraente. O pre­sente tex­to pre­tende, sem rev­e­lar ele­men­tos do enre­do, jus­ta­mente apon­tar ess­es méritos.

    Bat­man: o Cav­aleiro das Trevas Ressurge (The Dark Night Ris­es, USA, 2012) é uma con­tin­u­ação dire­ta de seus ante­ces­sores. Há muitas menções e con­se­quên­cias dos even­tos ocor­ri­dos nos dois filmes ante­ri­ores. Tra­ta-se de uma ver­dadeira con­clusão, como se os três filmes for­massem uma úni­ca história, de modo muito semel­hante a trilo­gias como O Sen­hor dos Anéis e De Vol­ta para o Futuro.

    Bat­man é um per­son­agem de histórias em quadrin­hos que há muito tem­po tornou-se um mito da cul­tura pop. Ao lon­go de mais de 70 anos de existên­cia, teve inúmeras abor­da­gens e con­cepções em diver­sas mídias. A série sessen­tista com Adam West, os filmes de Tim Bur­ton, peças de teatro, con­tos literários, mil­hares e mil­hares de pági­nas de quadrinhos.

    Mes­mo no uni­ver­so dos quadrin­hos, parece que exis­tem diver­sos “bat­men” difer­entes. O pro­tag­o­nista da famosa história O Cav­aleiro das Trevas, de Frank Miller, é um boca­do difer­ente do Bat­man do final da déca­da de 1950 (que con­tra­ce­na­va com per­son­agens como o Batcão e o Batmirim).

    O que Christo­pher Nolan fez em sua trilo­gia foi cri­ar uma nova abor­dagem para o homem morcego. Emb­o­ra ten­ham muitos ele­men­tos e per­son­agens reti­ra­dos dos quadrin­hos, Nolan tomou diver­sas liber­dades na trans­posição e con­strução de seu uni­ver­so fic­tí­cio. Por­tan­to, os fãs podem se diver­tir encon­tran­do as refer­ên­cias e alusões às histórias em quadrin­hos orig­i­nais, mas não há neces­si­dade de ser um leitor famil­iar­iza­do com os quadrin­hos para apre­ciar os filmes.

    Um exem­p­lo é o Coringa. A ver­são dos quadrin­hos tem a pele bran­ca e cabe­los verdes alter­ados por um aci­dente quími­co, comete crimes visan­do din­heiro, é um boca­do histriôni­ca e está con­stan­te­mente rindo e tagare­lando piadas. Já no filme, o per­son­agem inter­pre­ta­do por Heath Ledger usa maquiagem, tem cica­trizes em for­ma de um sor­riso, mas não ri o tem­po todo. Comete crimes, mas não pelo din­heiro. Sua ver­dadeira intenção é ten­tar cor­romper as pes­soas, fazê-las pas­sar por cima de seus princí­pios e lim­ites morais.

    Nolan vai trans­for­man­do o mate­r­i­al dos quadrin­hos e adaptando‑o para um sis­tema nar­ra­ti­vo onde os per­son­agens gan­ham out­ras dimen­sões e sig­nifi­ca­dos. A intenção é cri­ar uma história de super-herói de uma per­spec­ti­va “real­ista”, mas ain­da assim encon­tramos alguns absur­dos, típi­cos das histórias de super-heróis. Por exem­p­lo, a arma de micro-ondas do primeiro filme ou a recon­sti­tu­ição da bala com impressão dig­i­tal do segundo.

    Esse ter­ceiro filme tam­bém apre­sen­ta uma cer­ta quan­ti­dade de absur­do. Entre­tan­to, talvez com a exper­iên­cia adquiri­da no filme A Origem, Nolan trans­for­ma esse absur­do em algo como uma atmos­fera oníri­ca. Em muitos momen­tos Bat­man: O Cav­aleiro das Trevas Ressurge tem um jeito de son­ho. Há uma série de ele­men­tos que acabam gan­han­do um aspec­to sim­bóli­co. São lap­sos de tem­po, cenários e situ­ações que pas­sam um estran­ho cli­ma de irre­al­i­dade ao mes­mo tem­po em que o roteiro despe­ja uma enorme quan­ti­dade de infor­mações e per­son­agens sobre o espectador.

    Entre­tan­to, essa sen­sação de irre­al­i­dade é entremea­da por even­tos desagra­dav­el­mente verossímeis. À luz da tragé­dia ocor­ri­da durante a exibição do filme em Den­ver, é muito per­tur­bador ver uma cena em que os vilões tomam de assalto pes­soas em seu local de tra­bal­ho. A rep­re­sen­tação da vio­lên­cia que­bran­do o cotid­i­ano é bru­tal e assustadora.

    São diver­sos per­son­agens que vão con­duzin­do a tra­ma, mas sem dúvi­da o grande pro­tag­o­nista é Bruce Wayne (Chris­t­ian Bale). Através dele Nolan tece uma série de con­sid­er­ações sobre cul­pa, respon­s­abil­i­dade, apa­tia, revol­ta, deter­mi­nação e fracasso.

    A exem­p­lo do que fez com o Coringa, Nolan tam­bém trans­for­ma Bane (Tom Hardy) em algo muito mais impac­tante na tela do cin­e­ma do que era nas pági­nas de quadrin­hos. Emb­o­ra muito mais ameaçador e poderoso que o Coringa, Bane não tem o mes­mo caris­ma que seu ante­ces­sor. Ain­da assim, isso não com­pro­m­ete o resul­ta­do do filme.

    Seli­na Kyle (Anne Hath­away), a Mul­her-Gato, talvez seja a per­son­agem mais fiel à sua ver­são em quadrin­hos: uma ladra esper­ta, caris­máti­ca e com­ple­ta­mente imprevisível.

    E ain­da encon­tramos os vel­hos con­heci­dos Lucius Fox (Mor­gan Free­man), Alfred Pen­ny­worth (Michael Kane) e James Gor­don (Gary Old­man), além de novos ros­tos como Miri­am Tate (Mar­i­on Cotil­lard) e o dete­tive John Blake (Joseph Gordon-Levitt).

    Christo­pher Nolan orques­tra todo esse pes­soal em meio a um roteiro intrin­ca­do, con­stru­in­do o capí­tu­lo final de sua obra e dan­do a impressão de que tudo tin­ha sido plane­ja­do des­de seu iní­cio, em 2005, com Bat­man Begins.

    Por isso é difí­cil com­parar Bat­man: O Cav­aleiro das Trevas Ressurge com os out­ros dois grandes filmes de super-heróis do ano: Os Vin­gadores e O Espetac­u­lar Homem-Aran­ha. Os dois apre­sen­tam um uni­ver­so fic­tí­cio mais leve e sim­ples, cheio de cor e de pos­si­bil­i­dades fab­u­losas, como trans­for­mações físi­cas, voos, super-força. Mas, além dis­so, ess­es filmes são clara­mente pro­je­ta­dos visan­do mer­ca­do e envolvem uma série de profis­sion­ais. O con­t­role que a Warn­er deu a Nolan sobre os rumos da sua trilo­gia de Bat­man con­fer­em aos filmes uma car­ac­terís­ti­ca quase que de tra­bal­ho autoral.

    E assim o Bat­man ter­mi­na, mas de uma maneira muito inter­es­sante. Quan­do o filme aca­ba, o que se tem é o fim de um ciclo e a aber­tu­ra de diver­sas pos­si­bil­i­dades que podem ser seguidas. Inclu­sive a de deixar as som­bras para trás e ten­tar aproveitar um pouco a luz que res­ta do dia.

    Trail­er: