Crítica: Pecado da Carne

pecado da carne

O que você faria se para se sen­tir vivo, tivesse que que­brar um, ou mais, dos maiores tabus da sua religião? Peca­do da Carne (Einaym Pkuhot/ Eyes Wide Open, França/Alemanha/Israel, 2009), o primeiro lon­ga metragem de Haim Tabak­man, tra­ta jus­ta­mente des­ta questão.

Aaron Fleish­man (Zohar Shtrauss) é pai de qua­tro fil­hos e vive em Meah Shearim, um bair­ro ultra-orto­doxo de Jerusalém. Ten­do her­da­do o açougue Kosher, após a morte de seu pai, ele con­tra­ta Ezri (Ran Danker), um estu­dante que ele con­heceu recen­te­mente por aca­so, para lhe aju­dar no tra­bal­ho e a relação entre os dois vai muito além do que eles pode­ri­am ter imaginado.

Peca­do da Carne é um con­vite à intro­specção, sendo ao mes­mo tem­po poéti­co e inten­so, no sen­ti­do mais animal/carnal da palavra, sem ser apel­a­ti­vo. Mes­mo ten­do poucos diál­o­gos, muito é comu­ni­ca­do se uti­lizan­do somente dos olhares e de pequenos gestos de cada per­son­agem. É inter­es­sante notar tam­bém o rit­mo em ger­al. Nada é frenéti­co, e mes­mo os entre­laça­men­tos que neces­si­tam de uma respos­ta mais ráp­i­da, são todos resolvi­dos em um tem­po muito próprio. Assim como o cin­e­ma do ori­ente médio em ger­al, Peca­do da Carne sabe tra­bal­har muito bem com o silên­cio e com um desen­volvi­men­to mais grad­ual dos acon­tec­i­men­tos. Não se uti­lizan­do quase de nen­hu­ma músi­ca como tril­ha sono­ra, ouvi­mos prati­ca­mente só os sons do próprio ambi­ente, que são bem tran­qui­los. Tiran­do algu­mas tomadas den­tro do car­ro no trân­si­to que enfa­ti­zam o choque entre esta cul­tura mais anti­ga e a modernidade.

Ape­sar de mostrar bas­tante a religião, assim como a cul­tura e os cos­tumes, não se tra­ta de quer­er ques­tioná-la e apon­tar as suas pos­síveis “fal­has”. São apre­sen­tadas algu­ma questões, de for­mas bem del­i­cadas e sutis, em relação á não pri­vação de dese­jos, como poder beber vin­ho, e a out­ros são com­ple­ta­mente igno­ra­dos (de cer­ta for­ma até tidos como inex­is­tentes), como a homos­sex­u­al­i­dade. O fato de um dos cenários prin­ci­pais ser um açougue, onde o tra­bal­ho é a manip­u­lação da carne, não pode ser con­sid­er­a­do um mero detal­he. Tam­bém há toda uma pre­ocu­pação na manutenção do dis­tan­ci­a­men­to cor­po­ral, entre homem e mul­her, onde por exem­p­lo: o momen­to em que Aaron jun­ta toda noite a sua cama de solteiro jun­to com a da sua mul­her, para que pos­sam dormir jun­tos, que de man­hã deve ser nova­mente separada.

Rotu­lar Peca­do da Carne sim­ples­mente como um “dra­ma gay” (ou qual­quer out­ra clas­si­fi­cação do gênero) pode­ria ter sido algo cabív­el anós atrás, quan­do essa temáti­ca ain­da era extrema­mente rara. Mas faz­er isto hoje em dia é reduzí-lo a banal­i­dade, seria como ape­nas vis­lum­brar a pon­ta de um ice­berg e descar­tar todo seu con­teú­do aparente­mente escon­di­do. Recomen­do o filme a todos que querem faz­er uma viagem por den­tro de seus próprios dese­jos, pre­con­ceitos e cos­tumes para em segui­da ques­tioná-los e se per­guntarem se dese­jam con­tin­uar ou não com eles.

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Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=rYhtwvfZxxg


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