“A única imagem verdadeira é de um fóbico diante da sua fobia”, frase sussurrada e dita inúmeras vezes, por Jean Claude Bernardet, durante FilmeFobia (FilmeFobia, Brasil, 2008), o último trabalho de Kiko Goifman.
Goifman em parceria com uma modesta equipe (que inclui o teórico/crítico e cineasta Jean-Claude Bernardet), se aventurou num filme que trata da fobia, apresentado‑a, em certos momentos, de forma sádica e exibicionista. Nele são exibidos alguns medos, aparentemente banais, de borboletas, celulares, botões, penetração sexual, entre outros que se tornaram características comuns ao homem moderno.
Foram utilizados atores, fóbicos reais e atores fóbicos como personagens. O tom documental tem como proposta que eles participem de experimentos, genialmente elaborados pela fotógrafa, diretora de arte e atriz Cris Bierrenbach. Na maioria das tomadas o estúdio se mostra como um pequeno laboratório de horrores. São usados instrumentos de ¨tortura¨ como cadeiras com amarras, vendas e parafernálias, que instigam os participantes. Os experimentos são comandados pelo próprio Bernardet que, faz de si mesmo, um objeto ficcional. Inclusive, em uma das situações, é chamado de sádico por um dos participantes.
Bernardet dialoga com os fóbicos sobre a origem de suas fobias e expõe também as suas (como o sangue, por ser soropositivo) e seus problemas de visão. Kiko Goifman também participa com seu medo (real) de sangue e brinca com cartas de poker, com fotos de partes de um corpo cortadas. Este é exatamente um dos pontos interessantes do FilmeFobia. A equipe age como um grupo de produção real em busca de fobias discutindo também, em algumas cenas, se estão no caminho certo e até que ponto devem chegar.
O filme se destaca, no cinema brasileiro, justamente por não se encaixar numa categoria especifica, oscilando entre a ficção e o documental. Por vezes, se mostra também como uma videoarte, valorizando o ponto de vista do espectador/observador. Afinal, ver as cenas dos fóbicos atuando é inquietante, portando, artístico. A estética do FilmeFobia por si só é angustiante, escura e cheia de brinquedos/experimentos adaptados. Os instrumentos lembram muito as técnicas Ludovico utilizadas no filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (e no livro de Anthony Burgess). Ainda, somente duas câmeras foram usadas, uma na mão de Kiko Goifman e outra na cadeira de rodas com Jean-Claude Bernardet.
Kiko Goifman já é um veterano em cinema documentário, e exatamente por isso a discussão sobre qual é a característica limítrofe entre o ficcional e o documentário fica explícita. Afinal, em que momento a realidade se torna tão ficcional a ponto de ser passível de tornar película? FilmeFobia é um ótimo filme para se discutir tabus e praticar um pouco de Relativismo em relação ao “outro”.
Leia o diário de filmagem do filme neste blog, muito legal!
Outra críticas interessantes:
- Daniel Schenker Wajnberg, na BRAVO.
- Silvana Arantes, na FolhaIlustrada.
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=_yjbS8Y-BQI
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