Mãe dá a Filha uma caixa cheia de velhos disquinhos coloridos com músicas infantis. Filha poderia ouvir os disquinhos, mas nunca, o disco verde.
É com essa narração peculiar e sinistra que começa o curta Vinil Verde (2004), dirigido por Kleber Mendonça Filho, um suspense brasileiro bem fora do comum.
A história toda se desenvolve em volta desta proibição e como já era de se esperar, Filha não consegue resistir por muito tempo à tentação de escutar o Vinil Verde (apesar de todos os dias Mãe lembrar de que não poderia). Cada vez que toca o disquinho, algo ruim acontece. Mesmo assim, continua fazendo isso todos os dias até as consequências chegarem ao seu ápice.
O fato dos personagens serem chamados de “Mãe” e “Filha”, já cria um tom meio sinistro no curta, que fica ainda mais macabro por conta da narração com sotaque alemão carregado. A história é uma livre adaptação da fábula russa “Luvas Verdes”. Seu estilo lembra bastante o livro infantil “Juca e Chico — História de Dois Meninos em Sete Travessuras”, do autor alemão Wilhelm Busch, traduzido por Olavo Bilac, onde as travessuras são tão cruéis quanto suas consequências.
Este é o segundo trabalho de Kleber Mendonça Filho, que está chamando muita atenção na mídia nacional e internacional, por conta do seu último longa O Som ao Redor. O curta foi todo feito com fotografias (totalizando 500 fotogramas) e junto com a narração, faz com que ganhe um ar fantasioso e assustador.
Para quem ficou curioso, a música do tão perigoso Vinil Verde, foi feita por Silvério Pessoa e Tonca. Ela foi tocada por uma banda de Ribeirão Preto que fazia basicamente só cover dos Los Hermanos, sendo este um de seus experimentos mais autorais.
Se você ficou interessado em assistir outros trabalhos do diretor, alguns deles podem ser assistidos na sua conta oficial do Vimeo.
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