Foi em um lampejo de sabedoria artística, digna somente dos maiores trambiqueiros de Hollywood, que alguns produtores da década 50 ( alguns dizem década de 40) tiveram a belíssima ideia de explorar todo o absurdo e violência da ocupação nazista alemã durante a segunda guerra mundial.Tudo isso em produções baratas que se diziam realista.
A intenção era literalmente explorar esse tema, ganhar dinheiro em cima de algo que até hoje fascina e repudia qualquer pessoa que já tenha ouvido falar como os prisioneiros eram tratados nos campos de concentração. Nasceu assim o Nazi-xplotation, um subgênero bem famoso do cinema X‑plotation.
Quando a década de 60 chegou, os jovens queriam mais era saber de sexo e violência, então não demorou para que os mesmos produtores trambiqueiros começassem a pensar numa maneira mais persuasiva de fazer essa jovem plateia, com hormônios a flor da pele, irem ao cinema. Nessa época também surgiram mais subgêneros dentro do X‑plotation e quase toda produção barata tinha que ter peitinho e sangue a cada minuto.
Com o sucesso do filme Love Camp 7 de Lee Frost em 1969, o produtor David F. Friedman’s decidiu investir na mesma ideia de violência, putaria e… nazistas, mais uma vez. Assim surgiu Ilsa — a Guardiã Perversa da SS (Ilsa — She Wolf of the SS), que seria dirigido por Don Edmonds (1937–2009), em 1975. Edmonds era um ator de pequenos papéis e diretor de filmes eróticos de baixo orçamento. Da noite pro dia se tornou um diretor cultuado por esse filme que é o maior representante do Nazi-xplotation de todos os tempos.
Até entrar para a historia do cinema como Ilsa, Dianne já fazia sucesso em revistas masculinas como modelo pin-up e também como stripper em Las Vegas. Começou no cinema em 1964, fazendo produções eróticas baratas e chegou a ter uma pequena participação em um episódio na clássica série Star Trek.
Em 1975 ela encontra seu papel mais marcante interpretando a comandante Ilsa. Ela reprisa o papel mais três vezes em Ilsa, Harem Keeper of the Oil Sheiks (1976), Ilsa, the Tigress of Siberia (1977) e também em uma produção dirigida pelo diretor espanhol recém falecido, Jess Franco mestre do cinema sexplotation.
Existe uma pequena confusão em relação a este filme: alguns sites colocam o nome da personagem interpretada por Dianne como Ilsa, outros como Greta e mais outros como Wanda. O nome original do filme é Greta — Haus ohne Männer (1979) então imagino que devamos ficar com Greta mesmo. Basicamente só o primeiro filme desta tetralogia entra no gênero Nazi, os outros usam a mesma ideia, mas vão mais pro lado de outra ramificação do gênero x‑plotation que é o gênero W.I.P (Womans In Prison), onde mulheres são torturadas e abusadas em prisões, para o prazer de um diretor sádico.
Dianne, tem ao todo 28 papéis em sua carreiras, mas somente os filme em que ela interpretou Ilsa são dignos de nota. Ela fez seu ultimo papel 1989, interpretando o transex Sr. Pirandello, pai do personagem interpretado por James Beluchi no filme Real Men. Desde então começou a cuidar de uma capela de casamentos em las Vegas com seu marido. Mas, no site do IMDB aparecem duas produções com o nome da atriz cotado no elenco com estreia marcada para 2013. Resta esperar para saber se é oficial.
Vamos ao filme… Ilsa é uma comandante de um campo de concentração nazista, que usa seus prisioneiros em “experimentos médicos” pessoais. Ela tenta provar para o alto escalão da SS, que mulheres são mais resistentes a dor do que os homens. Como ela faz isso? Simples, ela tortura homens e mulheres das maneiras mais cruéis e absurdas possíveis e vê qual morre primeiro! Legal né?
Fora esse seu interesse acadêmico pela medicina, Ilsa também é dona de um apetite sexual voraz e, sempre que pode, manda um prisioneiro sortudo para sua cama para satisfazê-la. Infelizmente a alegria do escolhido dura muito pouco, pois ela fica muito, mas muito irritada quando o mané do prisioneiro goza antes dela. E como ela resolve essa situação? Simples, como qualquer comandante da SS nazista de um filme x‑plotation do meio da década de 70 que se preze faria! Castrando o infeliz!
Tudo está as mil maravilhas com a comandante até que um certo prisioneiro, com uma espécie de “superpoder” digamos assim, é chamado para a cama da comandante. Não é que finalmente ela encontra alguém digno de sua atenção sexual? O cara consegue controlar a ereção pela noite inteira se quiser, e assim consegue a simpatia da loba SS e o jogo se inverte, pois agora é um prisioneiro que tem o comandante sob seu comando!
Dá pra notar que o filme é só isso mesmo, sexo, violência, tortura, mais sexo e depois mais tortura! Não é atoa que ele foi proibido na Alemanha na época de seu lançamento e também em outros diversos países.
Por mais absurdo a obra pareça, é inegável dizer que ela influenciou diversos gêneros do cinema além do x‑plotation. Fora dos telões do cinema, Ilsa inspirou também alguns personagens de videogame como a The Butcheress do game Bloodrayne, e também influenciou no design de um grupo de elite feminina que aparece no game Return To Castle Wolfenstein.
A mais óbvia das influências de Ilsa no cinema, foi quando Quentin Tarantino e Robert Rodriguez dividiram a direção no projeto Grindhouse com os filmes Planeta Terror (2007) e À Prova de Morte (2007), tendo como intenção homenagear essas produções x‑plotation da década de setenta. Entre um filme e outro, a platéia que assistia teve a chance de ver alguns trailers falsos de outras supostas produções. Entre esses falsos filmes, um deles foi batizado de: Werewolf Women of SS, onde podemos ver Sheri Moon, a esposa do diretor e músico Rob Zombie, como uma oficial nazista que comanda um projeto científico com a intenção de transformar mulheres em lobisomens para lutar na guerra! Veja o video abaixo.
httpv://www.youtube.com/watch?v=pv_aefnKf‑E
Esses trailers falsos deram origem a três filmes, um deles foi o fraquíssimo Machete dirigido por Robert Rodriguez em 2010, outro foi Hobo With A Shotgun (em alguns sites este filme é traduzido com o belo titulo de “Mendigo com Escopeta!”) dirigido por Jason Eisener em 2011. Então podemos dizer que existe a possibilidade de vermos um dia Werewolf women of SS em versão longa metragem.
Embora Ilsa — a Guardiã Perversa da SS seja um filme situado em uma época bem clara e baseado em acontecimentos reais, o caráter realista da obra sobra mesmo para aquilo que parece mais absurdo. Os únicos acontecimentos que realmente existiram durante a ocupação nazista são os experimentos mostrados no filme, todos verdadeiros. Diversos prisioneiros judeus foram realmente usados como cobaias pelas tropas nazistas em campos de concentração.
No longa são mostradas as já citadas castrações e os testes de resistência a dor, numa cena vemos até uma prisioneira sendo fervida viva! Algumas mulheres são propositalmente infectadas com doenças como tifu, sífilis, lepra, etc.
Existem diversos filmes e muitos textos na internet que tratam sobre ciência nazista de uma maneira muito mais abrangente do que aqui. É tudo muito interessante e ao mesmo tempo revoltante. Recomendo que pesquisem!
A personagem de Ilsa obviamente nunca existiu, nem nunca existiu nenhuma mulher que chegou ao alto comando do exército alemão a ponto de dirigir um campo de concentração. Mas a comandante sadomaso foi baseada em alguém que existiu de verdade, não uma oficial, mas a esposa de um. Estou falando de Ilse Koch, esposa de Karl-Otto Koch, um alto comandante do exército nazista que entre os anos 1937 a 1943, comandou dois campos de concentração em território alemão, os campo de Bunchenwald e Majdanek.
A senhora Koch (mais conhecida como “A bruxa de Bunchewald”) ficou famosa pelos estranhos souvenirs que gostava de guardar, entre eles, pedaços de couro tatuado dos prisioneiros e abajures feitos de pele humana, eram o mais básicos da coleção. Ele foi presa e julgada diversas vezes, aos sessenta anos cometeu suicídio enquanto cumpria um sentença de prisão perpetua.
De volta ao filme… O campo de concentração onde toda a ação acontece não lembra muito os temíveis campos que vemos em documentários ou em filmes com a mesma temática que se levam mais a sério. Ele mais parece uma prisão de segurança mínima, e os prisioneiros até certo ponto são bem gordinhos, comparado aos que vemos em fotos reais da época, e também possuem uma certa liberdade, que provavelmente não existia, pra falar com os oficiais nazistas.
Eu gosto de Ilsa — a Guardiã Perversa da SS por ser um puta filmaço que me marcou bastante, foi o primeiro do gênero nazi-xplotation que vi. Não imaginava que alguém poderia fazer uma comédia falando de temas tão tensos… ou melhor: Não imaginava que algum estúdio DEIXARIA um diretor fazer um filme sobre temas tão delicados.
Vivendo em tempos politicamente corretos até demais, onde a maioria das pessoas está disposta a se ofender tão calorosamente e lutar por causas banais, é quase impossível acreditar que um filme assim seria lançado nos dias de hoje sem sofrer grandes críticas e resistência dos sofativistas de plantão. Afinal, todo mundo está disposto a lutar por algo desde que isso não obrigue ninguém a sair da frente do Facebook ou tirar a bunda do sofá…
Na minha pré-adultecência me interessei muito por filmes gore, trash, slashers e mondo. Todos esses podem ser considerados sub-gêneros do cinema x‑plotation. A década de setenta foram os anos em que esses filmes pipocavam nos cinemas norte americanos aos montes, era natural que em meio a tantos lançamentos baratos, uns fossem melhores que outros, em meio a muita (muita mesmo!) porcaria que assisti durante esses anos de “auto estudo cinefilitico”, Ilsa — a Guardiã Perversa da SS se tornou um dos meus filmes preferidos, é mais um daqueles longas que faço questão de assistir uma vez a cada dois ou três anos, pra ter certeza que ainda é foda!
Fora tudo isso, há um caráter psicológico que me faz pensar um pouco… por que diabos a violência é tão fascinante?
Não uma simples violência ficcional, mas uma violência baseada em fatos. Antes mesmo dos créditos iniciais, vemos um texto atribuído ao produtor Herman Traeger (pseudônimo de David F. Friedman, o verdadeiro produtor) avisando que os experimentos presentes na trama do filme são reais e que foram classificadas como “experiências médicas”. Por último diz que o filme fora realizado com a esperança de que essas mesmas experiências médicas não se repitam novamente. Ou seja, mesmo avisado disso, a maioria das pessoas prefere ver o filme até final, ou até mesmo esse pré aviso instigue o espectador a assistir.
O que mais me fascina nisso tudo é o teor sexual da bagaça toda, como algo tão desumano consegue se associar tão facilmente com sexo? Por que existe tanta audiência do público (incluindo eu!) em cima de um tema tão específico, a ponto de se criar um nome exclusivo para esse tipo de filme?
Enfim, a intenção aqui não é desmerecer a obra, mas sim discutí-la.
Pra terminar deixo o vídeo da música Ilsa que a banda brasileira Zumbis do Espaço gravou para homenagear a loba alemã. Agora, clique no play e leia tudo de novo cantando essa linda e singela poesia do horror punk nacional.
httpv://www.youtube.com/watch?v=i‑I1Rl2Eml4
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=cWaChi_OOvQ
Leave a Reply