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  • O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho

    O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho

    o_som_ao_redor-posterO Som Ao Redor (Brasil, 2012), de Kle­ber Men­donça Fil­ho, foi um dos lon­gas nacionais mais comen­ta­dos no ano de 2012, receben­do inclu­sive uma posição na famiger­a­da lista de A.O. Scott, o prin­ci­pal críti­co de cin­e­ma da jor­nal amer­i­cano New York Times. Trazen­do a assi­natu­ra de mais um promis­sor dire­tor e roteirista de Recife, o lon­ga tra­ta de for­ma sutil a vio­lên­cia e a sua relação com os prob­le­mas soci­ais da classe média.

    Um bair­ro de uma grande cidade, um lugar onde vive famílias típi­cas de classe média. Con­domínios e casas per­to da pra­ia mon­tam um con­tex­to. Ape­sar de haver con­domínios de luxo, há tam­bém casas mais sim­ples, do alto de um pré­dio se avista uma favela próx­i­ma. Essa região vem sofren­do um sur­to de assaltos e vio­lên­cia, e um grupo de segu­ranças inde­pen­dentes propõe faz­er uma espé­cie de ron­da diária para pro­te­ger os moradores do lugar. Com a chega­da dess­es ele­men­tos estran­hos aos padrões de vida do lugar, o lon­ga faz um recorte de um momen­to muito atu­al das cidades brasileiras.

    Uma viz­in­hança é um con­vívio cole­ti­vo mas que sem­pre haverão os que estão coor­de­nan­do no topo. Em Som ao Redor as hier­ar­quias são esta­b­ele­ci­das através da cor da pele, do poder aquis­i­ti­vo de com­pra de uma TV, de uma ameaça ou de tradi­cional­is­mos soci­ais. Kle­ber Men­donça reflete no lon­ga uma Recife que ain­da ecoa uma sociedade do sécu­lo XVIII, escrav­ocra­ta e feu­dal, mas que pode­ria ser em qual­quer lugar do Brasil. 

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    O som do lon­ga con­funde num primeiro momen­to o espec­ta­dor. As vozes saem baixas, em alguns momen­tos é inaudív­el o que os per­son­agens falam. O que parece ser um prob­le­ma de cap­tação de som fun­ciona mais como um recur­so bas­tante ousa­do de nar­ra­ti­va. O som exter­no é o que prevalece, o som ao redor que tor­na o cotid­i­ano dess­es moradores um só, inde­pen­dente do que acon­tece no inte­ri­or das residên­cias. São os lati­dos de cachor­ro, o viz­in­ho que liga o aspi­rador na janela para provo­car intri­gas ou mes­mo os ambu­lantes de CDs e DVDs que pas­sam com seus car­rin­hos de som que real­mente impor­tam no enredo.

    A for­ma e o con­teú­do do lon­ga andam muito bem jun­tos. Além do aspec­to de som, o lon­ga pas­seia pelos per­son­agens trazen­do sutilezas de cada um em peque­nas metá­foras de cenas cotid­i­anas. Muitos ângu­los trazem sen­ti­dos diver­sos e são ess­es pequenos cuida­dos com a câmera que uni­ver­sal­iza todo o enre­do do lon­ga em cenas car­regadas de sen­ti­do. As grades das casas com seus próprios cadea­d­os gan­ham um sen­ti­do difer­ente quan­do a câmera fil­ma de fora da por­ta um quadro católi­co de Jesus e Maria sep­a­ra­dos pela grade. São sutilezas poéti­cas facil­mente iden­ti­ficáveis no cotidiano.

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    Não que­ria diz­er nada, mas ten­ho rece­bido min­ha Veja fora do saco plás­ti­co” diz uma morado­ra de um con­domínio da região e a frase deixa clara uma vida mor­na, ente­di­ante e com­pet­i­ti­va de uma classe média que vive para provar que pode osten­tar um padrão de vida enquan­to muitos sub­or­di­na­dos – empre­ga­dos, porteiros e segu­ranças – são as ver­dadeiras bases para que essa classe con­si­ga se man­ter em pé. E enquan­to essa classe se pre­ocu­pa em osten­tar seu poder de din­heiro – gan­ho na for­ma de um regime de tra­bal­ho depri­mente – os que são nive­la­dos por baixo como sim­ples presta­dores de serviços dessa classe se orga­ni­zam para que eles pos­sam sobre­viv­er das para­noias dos que estão acima.

    O Som Ao Redor lem­bra de cer­ta for­ma o que o óti­mo Sér­gio Bianchi fez em Os Inquili­nos, além de out­ros lon­gas do dire­tor em que a real­i­dade é trata­da de for­ma cíni­ca quan­do vista do pon­to de vista fic­cional. Quan­do obser­va­mos como espec­ta­dores os pequenos detal­h­es de con­vivên­cia urbana e social, estes se tor­nam abom­ináveis. Por exem­p­lo, uma sim­ples chega­da de com­pra de uma TV causa a ira de um viz­in­ho que não pode tê-la ou um “não” dado ao cuidador de car­ros da rua pode levar ele riscar o car­ro num ato de vin­gança. Nes­sa pirâmide social os que estão aci­ma ou abaixo, até mes­mo os que vivem do out­ro lado da cer­ca acham seus meios de burlar os lim­ites impos­tos pelas regras ou per­pet­u­ar o seu espaço, sem­pre há os que se acham vitimiza­dos pelo meio e dis­pos­tos a se dar bem.

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    Um pon­to bas­tante inter­es­sante e próprio ao con­tex­to da cidade de Recife apre­sen­ta­do no lon­ga, é como a questão da escravidão negra no Brasil ain­da reflete de for­ma tão sutil na car­ac­ter­i­za­ção dessa classe média dos per­son­agens de O Som ao Redor . Des­de os empre­ga­dos até os segu­ranças da rua, a situ­ação social con­struí­da sobre os aspec­tos históri­cos do país é níti­da, forte e ao mes­mo tem­po sutil e metafóri­ca. Vive-se na som­bra de um prob­le­ma que foi con­struí­do ao lon­go de pelo menos cin­co séculos.

    O Som ao Redor é um exce­lente tra­bal­ho que surge no mar de pro­duções tão descar­ac­ter­i­zadas do cin­e­ma nacional atu­al exibidas no cir­cuito com­er­cial. Fler­tan­do com as críti­cas pro­postas no Cin­e­ma Novo, ele tam­bém apre­sen­ta os cenários urbanos atu­ais de um Cin­e­ma de Retoma­da. Vale a pena prestar atenção no tra­bal­ho de Kle­ber Men­donça Fil­ho, que além de cur­tas pre­mi­a­dos como O Vinil Verde, em seu primeiro lon­ga soube olhar criti­ca­mente ao seu próprio redor.

    Trail­er:

  • Crítica: Circular

    Crítica: Circular

    Os roteiros com múlti­plas nar­ra­ti­vas (mais con­heci­dos como mul­ti­plots) há algum tem­po tem espaço garan­ti­do no cin­e­ma con­tem­porâ­neo. Cineas­tas — ali­a­dos à grandes roteiris­tas — como Ale­jan­dro Gon­za­lez Iñár­ritu, Woody Allen e recen­te­mente Fer­nan­do Meirelles, mostraram inter­ess­es fortes em con­stru­ir essa car­ac­terís­ti­ca de conexão bem típi­cas dess­es tem­pos ditos pós-mod­er­nos. Vive­mos aglom­er­a­dos em cidades e mes­mo que não pense­mos muito sobre a nos­sa lig­ação com o out­ro, sem­pre haverão os momen­tos onde várias histórias se encon­tram em um úni­co lugar e um ônibus cole­ti­vo pode ser um inter­es­sante pon­to de con­vergên­cia para que essas vidas se relacionem.

    O lon­ga curitibano Cir­cu­lar (2012), dirigi­do a cin­co mãos pela Proces­so Mul­ti­artes de Curiti­ba, ten­ta usar como pro­pos­ta jus­ta­mente esse pon­to de con­vergên­cia de um ônibus que cir­cu­la na cap­i­tal. Cin­co pes­soas são as peças que podem cul­mi­nar em algum momen­to um cli­max onde as vidas, por mais dis­pares que sejam, invari­avel­mente irão se encontrar. 

    Cir­cu­lar ten­ta faz­er uma car­i­catu­ra das inúmeras iden­ti­dades que se encon­tram den­tro de um ônibus cole­ti­vo durante um dia comum, em um deter­mi­na­do itin­erário. O filme usa a cidade de Curiti­ba sem car­ac­ter­izá-la com os míti­cos slo­gans turís­ti­cos e reside aí um pon­to pos­i­ti­vo. Mas os cin­co roteiros jun­tos não trazem nen­hum tipo de nar­ra­ti­va sól­i­da, nen­hu­ma potên­cia no enre­do que pos­sa sus­ten­tar a história con­ta­da. Os roteiros se des­fazem através de vários sen­sos comuns expos­tos nos per­son­agens. As cin­co histórias ten­tam man­ter o rit­mo de vidas sobre o lim­ite do dia a dia. Um evangéli­co, uma artista plás­ti­ca, um grupo punk, um pai deses­per­a­do e um cobrador de ônibus com uma vida dual, ten­tam car­regar o roteiro de Cir­cu­lar, mas mal con­seguem sus­ten­tar as suas próprias iden­ti­dades paralelas.

    O filme con­ta com um elen­co de atores e artis­tas con­heci­dos do meio artís­ti­co na cidade, o que não quer diz­er que as atu­ações pos­sam repas­sar a solidez que os atores cos­tu­mam ter no pal­co. Levan­do muito do teatral para as cenas, as inter­pre­tações soam em boa parte dos momen­tos extrema­mente arti­fi­ci­ais, cheias de exageros na lin­guagem, fig­uri­no e fal­ta de entrosa­men­to entre si e com os próprios roteiros. O grupo punk Gen­gi­vas Podres por exem­p­lo, parece ter saí­do de um pas­tiche de algum filme dos anos 80 e já que Cir­cu­lar ten­ta ser um filme que foca um cer­to real­is­mo, o grupo nem se aprox­i­ma dos ban­dos que encon­tramos per­am­bu­lan­do pela rua XV de novem­bro, em Curiti­ba. Assim como os out­ros per­son­agens que pas­sam uma impressão de super­fi­cial­i­dade, inclu­sive a vetarana Letí­cia Sabatel­la ficou bas­tante mal aproveita­da, gan­han­do cer­to destaque ape­nas num dado momen­to em que ela é pro­tag­o­nista de um monól­o­go sobre arte con­tem­porânea e o sen­ti­do des­ta, que tam­bém cai num dis­cur­so exis­ten­cial e cla­ma em favor do artista Vik Muniz.

    Aliás, é durante esse monól­o­go pro­tag­on­i­za­do por Sabatel­la que nota-se alguns bons acer­tos na mon­tagem do filme tra­bal­han­do com algu­mas edições fast cut­ting, dan­do um rit­mo inter­es­sante para esse tre­cho. Alguns momen­tos entre as nar­ra­ti­vas são colo­ca­dos sobre ângu­los inter­es­santes, explo­ran­do a frag­ili­dade dos per­son­agens quan­to às suas iden­ti­dades, mas infe­liz­mente, o lon­ga em ger­al não con­segue solid­i­ficar um pon­to de encon­tro entre as histórias dos per­son­agens que pudesse ger­ar um argu­men­to mais sus­ten­táv­el que jus­ti­fi­cas­se o mul­ti­plot den­tro desse con­tex­to urbano.

    O cin­e­ma nacional tem vivi­do bons momen­tos, ape­sar dos reforços em cin­e­ma de entreten­i­men­to, e tem poten­cial para ousar e tra­bal­har em esti­los mais próprios e con­stru­ir uma iden­ti­dade forte. Fal­tou em Cir­cu­lar uma pega­da mais autoral, mais con­sistên­cia nos roteiros para que as pon­tas soltas entre as nar­ra­ti­vas pudessem se somar ao con­tex­to ger­al. E ain­da, vale lem­brar que mes­mo que cin­e­ma pos­sa dialog­ar com o teatro, quais­quer exageros em fig­uri­no e inter­pre­tação podem levar por ter­ra um roteiro com boas intenções. 

    Trail­er:

  • O Corvo, de Valêncio Xavier

    O Corvo, de Valêncio Xavier

    Valên­cio Xavier, pelo quadrin­ista Joe Bennet

    Quan­do se fala de Valên­cio Xavier é impos­sív­el não asso­ciar a figu­ra de exper­i­men­tal­is­mo em cin­e­ma e lit­er­atu­ra. O escritor/diretor/roteirista, e tan­tas out­ras denom­i­nações, mar­cou a cena con­tem­porânea brasileira se tor­nan­do um van­guardista no assun­to de tratar o cin­e­ma de for­ma mais literária e de traz­er a força da imagem para den­tro do tex­to. Pro­va dis­so é o clás­si­co livro Mez da Grippe, de 1981, em que para tratar da gripe espan­ho­la que assolou Curiti­ba, em 1918, o escritor cria sua ficção usan­do reporta­gens e fotos da época.

    No cin­e­ma, Valên­cio Xavier não fez difer­ente, suas pro­duções oscil­am entre o exper­i­men­tal­is­mo e o uso de ima­gens doc­u­men­tadas, ori­un­das de algu­ma situ­ação cotid­i­ana. Em O Cor­vo, Valên­cio vai além de uma livre adap­tação do clás­si­co poe­ma de Edgar Allan Poe, fazen­do refer­ên­cias total­mente desconec­tadas do tom som­brio e ater­ror­izante do clás­si­co. Nesse cur­ta de ape­nas 12 min­u­tos, ele trans­porta o liris­mo pelas ruas de uma Curiti­ba pre­ta e bran­ca onde o nev­er­more sai da boca de transe­untes que sim­bolizam o cor­vo mensageiro.

    Quem nar­ra O Cor­vo é a bela voz do ator Paulo Autran que con­figu­ra um tom por vezes irôni­co à tradução de Rey­nal­do Jardim. As ilus­trações que apare­cem no cur­ta são do Francês Gus­ta­vo Doré que se mis­tu­ram às fil­ma­gens de Valên­cio Xavier. Com certeza uma das ver­sões — ou seria mel­hor, inter­pre­tação? — mais inter­es­santes do poe­ma. Vale ressaltar que o cur­ta ficou por décadas em VHS até que o dono de um sebo curitibano con­seguiu, com a autor­iza­ção da família Xavier, colocá-lo online. Uma preciosidade.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VkGsBbvgofQ

  • Crítica: Não se pode viver sem Amor

    Crítica: Não se pode viver sem Amor

    Histórias e vidas que se entre­cruzam não são novi­dade no cin­e­ma e em Não se pode viv­er sem Amor (Brasil, 2011), o dire­tor Jorge Durán já joga as car­tas dizen­do que não pre­tende rein­ven­tar o esti­lo nar­ra­ti­vo e sim ver de out­ros ângu­los o entre­laça­men­to das relações humanas. O lon­ga, que parte de um esti­lo mais exper­i­men­tal, surge trazen­do tendên­cias bem difer­entes do cos­tumeiro cin­e­ma hiper­re­al­ista do país.

    Gabriel é um garo­to de 10 anos que vive com Roseli no inte­ri­or do Rio de Janeiro. Os dois, deci­di­dos a encon­trar o pai do meni­no, partem na véspera do Natal para a cap­i­tal numa saga de encon­tros e des­en­con­tros em bus­ca dele. A tra­jetória da dupla vai ser par­til­ha­da com out­ros per­son­agens em um Rio de Janeiro urbano e caóti­co onde todos estão em bus­ca de algo.

    Jorge Durán é con­heci­do pelos roteiros com con­teú­dos bem enga­ja­dos social­mente e con­sid­er­a­dos clás­si­cos do cin­e­ma nacional dos anos 80 como Pixote — a lei do mais fra­co e Lúcio Flávio, Pas­sageiro da Ago­nia. Mais tarde tra­bal­hou como dire­tor em lon­gas como o pre­mi­a­do Proibido Proibir onde já se con­tor­na­va um esti­lo de entre­laça­men­to de per­son­agens soci­ais. Em Não se pode viv­er sem Amor o dire­tor chile-brasileiro con­tin­ua no esti­lo do últi­mo lon­ga, mas dan­do um con­torno que beira mais para um real­is­mo-fan­tás­ti­co onde situ­ações cor­riqueiras e fan­ta­siosas fun­cionam como ele­men­tos fun­da­men­tais para que a real­i­dade se torne mais suportáv­el de se encarar.

    A fotografia, assim como as atu­ações e pro­dução em ger­al de Não se pode viv­er sem Amor, são muito inter­es­santes. O filme tem uma pega­da bem ao esti­lo lati­noamer­i­cano, não focan­do situ­ações soci­ais que nor­mal­mente caem no sen­sa­cional­is­mo como, por exem­p­lo, um assalto na per­ife­ria do Rio de Janeiro se tornar uma ação exis­ten­cial­ista e não mera­mente uma con­se­quên­cia crua e social.

    Aparente­mente, há uma fal­ta de lóg­i­ca na nar­ra­ti­va que não se pre­ocu­pa em nen­hum momen­to em cumprir lin­has de raciocínio. Segun­do o próprio dire­tor Jorge Durán, Não se pode viv­er sem Amor é um filme que tra­ta da sobra nos rela­ciona­men­tos e, prin­ci­pal­mente, da fal­ta do sen­ti­men­to que segue o títu­lo, o amor. Por­tan­to, partin­do desse pon­to de vista de que a pre­ocu­pação está nas fal­tas, o filme cumpre o papel fug­in­do da nar­ra­ti­va clás­si­ca e beiran­do para um cin­e­ma mais de sen­sação e experimentos.

    O elen­co de Não se pode viv­er sem Amor chama atenção por con­tar com nomes que vêm apare­cen­do con­stan­te­mente nas pro­duções como Simone Spo­ladore e Fabi­u­la Nasci­men­to. Mas, ao mes­mo tem­po, parece que nen­hum dos atores se desta­ca muito, não sendo isso um prob­le­ma mas ape­nas uma lacu­na na pro­pos­ta do lon­ga. O que inco­mo­da nas atu­ações é o meni­no inter­pre­ta­do por Vic­tor Nave­ga Mot­ta, em muitos momen­tos se apre­sen­ta num papel um pouco força­do e até típi­co de atu­ações de primeira viagem mas aca­ba não com­pro­m­e­tendo o longa.

    Não se pode viv­er sem Amor pode causar sen­sações adver­sas na plateia, mas vale o ingres­so para aque­les que pref­er­em exper­i­men­tar rumos difer­entes de dra­matur­gia fílmi­ca, se pro­pon­do a novos ques­tion­a­men­tos no entorno da ficção.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=-Xr8TuzuK1A

  • Crítica: Desenrola

    Crítica: Desenrola

    O públi­co ado­les­cente vem sendo um alvo inter­es­sante para a pro­dução do cin­e­ma nacional. Pre­ocu­pa­dos em tratar de assun­tos volta­dos a essa fase for­mado­ra de opinião, filmes como As mel­hores coisas do mun­do e Antes que o mun­do acabe fiz­er­am boa bil­hete­ria no ano pas­sa­do, tratan­do dos dile­mas da ado­lescên­cia, que vão des­de as novos for­matos de família até a sex­u­al­i­dade, tão em pau­ta desse perío­do. Desen­ro­la (Desen­ro­la, Brasil, 2011) de Rosane Svart­man é mais uma pro­dução volta­da ao entreten­i­men­to, porém pro­duzi­da através de um pro­je­to colab­o­ra­ti­vo com o públi­co e com tons pedagógi­cos, foca­do nos ado­les­centes e con­sum­i­dores de minis­séries como a já clás­si­ca Malhação.

    Priscila (Olivia Tor­res) é uma ado­les­cente do ensi­no médio que vive um dile­ma volta­do a sua vir­gin­dade. Moran­do no Rio de Janeiro ela se acha esquisi­ta por não gostar muito de pra­ia a não ser por gostar de um fre­quen­ta­dor assí­duo dela, o Rafa (Kayky Brito), o garo­to pop­u­lar, e mais vel­ho, que gos­ta de sur­far e anda com as garo­tas mais boni­tas. Ela vive se per­gun­tan­do: ¨Afi­nal, quan­tas garo­tas no ensi­no médio ain­da são vir­gens?¨. Para ela, todos ao seu redor já fiz­er­am sexo, ou pelo menos têm histórias para con­tar sobre exper­iên­cias sex­u­ais. Em uma aula de estatís­ti­ca o pro­fes­sor (Pedro Bial) propõe que os alunos escol­ham assun­tos próx­i­mos de suas real­i­dades para que pos­sam tra­bal­har com por­cent­a­gens e apre­sen­tar em sala. Eis que a situ­ação é per­fei­ta para o grupo de Priscila saber como foi e é a questão da vir­gin­dade nos alunos da escola.

    O lon­ga é um pro­je­to que envolveu a par­tic­i­pação do públi­co em vários momen­tos, des­de das idéias abor­dadas até a tril­ha sono­ra, e foi apre­sen­ta­do primeira­mente na tele­visão sendo mais uma empre­ita­da bem suce­di­da, pelo menos no que se propõe, da TV Cul­tura. O canal tem apos­ta­do, nos últi­mos anos, em exper­i­men­tações tele­dra­matúr­gi­cas que tomam cor­po no cin­e­ma, como acon­te­ceu com o Amor Segun­do B. Schi­amberg, do pro­je­to Direções. Em Desen­ro­la fica claro que a par­tic­i­pação do públi­co fun­cio­nou em muitos momen­tos, por exem­p­lo, há mesclas de depoi­men­tos reais de ado­les­centes com as vivên­cias dos per­son­agens do enredo.

    Infe­liz­mente em Desen­ro­la, vários assun­tos pas­sam por ten­ta­ti­vas de abor­dagem mas acabam se des­man­chan­do em algum momen­to. O foco do filme é a questão sex­u­al, mas vários pon­tos que envolvem o dia a dia do ado­les­cente tam­bém são trata­dos, como: rela­ciona­men­to com os pais, gravidez e bul­ly­ing, mas todos de for­mas super­fi­ci­ais. Por exem­p­lo, o uso da camis­in­ha é reforça­do pelos ado­les­centes em con­ver­sas, mas no momen­to em que a situ­ação real­mente acon­tece o assun­to desa­parece e se perde. Claro que para um adul­to de hoje, talvez, muitas situ­ações apre­sen­tadas não façam muito sen­ti­do e pareçam até forçadas, mas o filme real­mente aparenta se focar em estereóti­pos, o que se tor­na inques­tionáv­el já que foi pro­duzi­do com aju­da do público.

    Des­de a Retoma­da o Brasil bus­ca uma iden­ti­dade den­tro do cin­e­ma. As leis de incen­ti­vo mel­ho­raram con­sid­er­av­el­mente e grandes emis­so­ras, hoje, apos­tam bas­tante em filmes, prin­ci­pal­mente de entreten­i­men­to e/ou com tra­bal­hos pedagógi­cos. Isso com certeza não é ruim, afi­nal esse tipo de cin­e­ma tam­bém cria um per­fil do país no exte­ri­or, o que desagra­da bas­tante é o reforço do uso de atores de nov­e­las que apare­cem como que para ¨sal­var¨ as pro­duções. Em Desen­ro­la as aparições de Juliana Paes e até do Kayky Brit­to, que enten­do ser necessário para o públi­co ado­les­cente, pode­ri­am ser tro­ca­dos por atores menos arti­fi­ci­ais, como nos dois filmes que cita­dos no primeiro pará­grafo. Mas em ger­al o lon­ga cumpre o papel de man­ter um diál­o­go com o ado­les­cente e de for­mar públi­co para futuras pro­duções do gênero.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=5xW0-mzdZ8w

  • Crítica: Morgue Story — Sangue, Baiacu & Quadrinhos

    Crítica: Morgue Story — Sangue, Baiacu & Quadrinhos

    Morgue Story

    Ter­ror não é um gênero muito explo­rado pelo cin­e­ma brasileiro, e quan­do é geral­mente con­segue pouquís­si­ma divul­gação e suporte/fomento para a sua pro­dução, cain­do sem­pre no rótu­lo de cin­e­ma B. Morgue Sto­ry (Brasil, 2009), de Paulo Bis­ca­ia Fil­ho, com­pro­va que se é pos­sív­el pro­duzir um óti­mo filme, com ele­men­tos de ter­ror trash de qual­i­dade, sem pre­cis­ar de inves­ti­men­tos grandiosos (exatos cen­to e vinte e seis mil e qua­tro­cen­tos reais) e em pouquís­si­mo tem­po (onze dias).

    Ana Argen­to (Mar­i­ana Zanette), uma car­tunista (cujo nome é uma hom­e­nagem ao cineas­ta Dario Argen­to) de rel­a­ti­vo suces­so com suas HQs que tem como per­son­agem um zumbi caol­ho, Tom (Ander­son Faganel­lo), um catalép­ti­co que vende seguros, e Doutor Daniel Tor­res (Lean­dro Daniel Colom­bo), um médi­co legista com méto­dos e gos­tos bas­tante pecu­liares, são os per­son­agens prin­ci­pais que, pelo aca­so do des­ti­no (ou não), se encon­tram em um necrotério. Com um enre­do muito bem con­struí­da e mon­ta­da, com várias revi­ra­voltas e flash­backs, é pos­sív­el acom­pan­har cer­tos even­tos pela óti­ca de cada per­son­agem, que aca­ba tornando‑a ain­da mais diver­ti­da. Isso sem falar em algu­mas cenas de quadrin­hos ani­madas, que dão um toque espe­cial ao longa.

    Morgue Sto­ry foi basea­do em uma peça de teatro homôn­i­ma muito bem suces­si­da, pela Vig­or Mor­tis, que faz pesquisa em cima do teatro de hor­ror. Ape­sar da atu­ação dos per­son­agens beirar muitas vezes ain­da o teatral, ao exagero dos dial­o­gos, uma car­ac­terís­ti­ca típi­ca de filmes exploita­tion, a fil­magem con­seguiu romper a bar­reira dos pal­cos e o resul­ta­do ficou bem cin­e­matográ­fi­co. A qual­i­dade da imagem é óti­ma, o que não cos­tu­ma ser muito fre­quente em gravações dig­i­tais, mas por con­ta do abu­so de efeitos espe­ci­ais, para dar uma impressão de filme anti­go com câmera amado­ra, o resul­ta­do final foi um pouco prej­u­di­ca­do de tão over que ficou.

    Morgue Sto­ry é engraça­do não só pelas situações/personagens que beiram ao absur­do e efeitos pra lá de trash, mas prin­ci­pal­mente dev­i­do aos diál­o­gos, com um humor áci­do e sar­cás­ti­co, que lem­bram os filmes do Taran­ti­no. Resu­min­do: uma óti­ma exper­iên­cia, tan­to para quem pro­duz­iu quan­to para quem assiste, do cin­e­ma brasileiro.

    Con­fes­so que quan­do assisti ao trail­er de Morgue Sto­ry pen­sei que só con­seguiria vê-lo amar­ra­do com uma parafer­nália esti­lo a do Laran­ja Mecâni­ca, onde é impos­sív­el fugir e fechar os olhos. Mas eu esta­va com­ple­ta­mente engana­do. E se você teve a mes­ma sen­sação após o trail­er, não desista, vale a pena!

    Como o filme está com uma divul­gação lim­i­ta­da, a exibição do mes­mo em algu­mas cidades está sendo feito prin­ci­pal­mente pela con­ver­sa entre os exibidores e o públi­co, e o espec­ta­dor pode ser fun­da­men­tal nesse proces­so de divul­gação. Se con­hecer algu­ma exibido­ra local que pode­ria estar inter­es­sa­da no filme, entre em con­ta­to com a respon­sáv­el pela dis­tribuição do mes­mo, Diana Moro da Vig­or Mor­tis, para ver a pos­si­bil­i­dade de exibição.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=E4MrFkjc7Gs

  • O quintal dos guerrilheiros

    O quintal dos guerrilheiros

    O quintal dos guerrilheiros

    O que seria exata­mente o ter­mo sub­ver­si­vo? No dia da pub­li­cação do AI‑5, con­sid­er­a­do o ato insti­tu­cional que mais mostrou a face cru­el da ditadu­ra mil­i­tar no país, três ami­gos se reunem para decidir que mate­ri­ais seri­am sus­peitos de sub­ver­são pelo D.O.P.S — Depar­ta­men­to de Ordem Políti­ca e Social.

    O quin­tal dos guer­ril­heiros (2005), de João Mas­saro­lo, traz três jovens ide­al­is­tas de um país que vivia o momen­to mais caóti­co da sub­mis­são aos mil­itares. Um quin­tal é o pal­co para as decisões sobre que tipo de obras, filmes, músi­cas e que per­son­al­i­dades pode­ri­am ser con­sid­er­a­dos con­tra as leis vigentes no momen­to. O quin­tal dos guer­ril­heiros não é só sobre a repressão ao pen­sa­men­to, mas tam­bém sobre a dubiedade que qual­quer obra, seja ela músi­ca, cin­e­ma ou livros, pos­sa ter. Afi­nal, não existe um úni­co meio de se ver as coisas.

  • Crítica: Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

    Crítica: Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

    Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

    Um road movie pelo sertão ou uma poe­sia sobre a fuga. Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo (Brasil, 2009) de Karim Ain­ouz e Marce­lo Gomes, vai além da geografia dos espaços e do val­or de uma sim­ples frase de efeito surgi­da numa parede. Por ser poéti­co e fic­cional, sem deixar de doc­u­men­tar o real, pode-se diz­er que ain­da não se encaixa em um padrão do cin­e­ma brasileiro.

    Obri­ga­do a estar no ban­co do pas­sageiro, a primeira cena de Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo não esconde ao espec­ta­dor que embar­cará como carona ao lado do geól­o­go José Rena­to (Irand­hir San­tos). Ele tem 35 anos e é envi­a­do ao sertão nordes­ti­no a fim de pesquis­ar as condições para um pos­sív­el canal que será feito com o desvio de águas de um úni­co rio cau­daloso da região. Não vê-se o pro­tag­o­nista em momen­to algum, ele é ape­nas uma voz em off que ori­en­ta as cenas de um sertão que por horas é o mes­mo ári­do de sem­pre e por out­ros momen­tos é um descon­heci­do, um grande vazio com luzes noturnas.

    José Rena­to é um apaixon­a­do e ao mes­mo tem­po foge da decepção dessa paixão. Fazen­do refer­ên­cias inter­es­santes de momen­tos vivi­dos e pequenos detal­h­es entre ele e sua mul­her, o nar­rador con­strói o cenário que assis­ti­mos alian­do seus pen­sa­men­tos dia após dia que se afas­ta (ou se aprox­i­ma) de sua casa. Faze­mos parte desse diário de viagem.

    Durante a odis­séia encon­tra-se os mais estran­hos e incríveis per­son­agens que vão moldan­do os sen­ti­men­tos do nar­rador ao lon­go do cam­in­ho. Dess­es per­son­agens são as pros­ti­tu­tas que têm o dev­er de preencher o vazio de José Rena­to, não somente com o sexo, mas com suas histórias e tra­jetórias. Destaque para Pati que ao ser ques­tion­a­da sobre o que esper­a­va da vida, ela ape­nas resume quer­er ¨Uma vida-laz­er com sua fil­ha e um companheiro¨.

    Tratar o sertão nordes­ti­no sem mitolo­gias é um das car­ac­terís­ti­cas mais inter­es­santes dos dois dire­tores. Con­struíram, com as exper­iên­cias ante­ri­ores como em Cin­e­ma, Aspiri­nas e Urubus e O Céu de Sue­ly, um novo con­ceito sobre a região. Afi­nal, os ser­tane­jos tam­bém são afe­ta­dos pela mídia e pelas deses­per­anças do urbano, e fugir do imag­inário pop­u­lar sobre a região não é tare­fa fácil. Em entre­vista com o dire­tor Jean-Claude Bernardet, Karim Ain­ouz e Marce­lo Gomes, ambos nordes­ti­nos, falam sobre a neces­si­dade que sen­ti­am em expe­ri­en­ciar, viven­ciar de fato, tudo que ouvi­am e suposta­mente sabi­am da região. Um tra­bal­ho, aci­ma de tudo, sensorial.

    Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo foi grava­do num perío­do de aprox­i­mada­mente 10 anos, partin­do de um pro­je­to que ini­cial­mente seria sobre as feiras do inte­ri­or nordes­ti­no. Karim Ain­ouz e Marce­lo Gomes relatam que tin­ham uma lig­ação meio mís­ti­ca com as fil­ma­gens, mas até 2009 não tin­ham mui­ta certeza do que faz­er, até decidi­rem que seria um tra­bal­ho que envolve­ria as gravações do sertão mescladas a história de um per­son­agem, o José Rena­to, muito bem tra­bal­ha­do na voz de Irand­hir Santos.

    A fotografia do filme chama bas­tante a atenção por mesclar ima­gens de slides, de uma câmera super‑8, duas câmeras 16mm (Bolex), uma câmera tcheca (Minock­n­er) e uma mini-DV VX1000 (Sony). Essa mis­tu­ra resul­ta numa boni­ta colagem e visões sen­so­ri­ais inten­sas a quem assiste. Via­jo por que pre­ciso, volto por que te amo é sim­ples de con­cepções téc­ni­cas, porém se mostra car­rega­do de uma nar­ra­ti­va inten­sa. Um filme para ser lido, ou uma leitu­ra para ser vista.

    A sen­sação no fim do lon­ga, é a da neces­si­dade de mudança. Zé Rena­to encara a viagem como uma trans­mu­tação do seu sen­ti­men­to de per­da e vazio. Ao viven­ciar os 75 min­u­tos dessa tra­jetória, fica a von­tade de ir para qual­quer lugar, uma neces­si­dade de fuga que deixa o espec­ta­dor bus­can­do algo. Uma sen­sação de quer­er uma ¨vida-laz­er¨ e de aban­dono quan­do Zé Rena­to ces­sa a sua fala, afi­nal não ven­do o per­son­agem o espec­ta­dor se con­funde com as coisas ditas e vis­tas por ele. Impos­sív­el não sair do cin­e­ma não car­regan­do um pouco do geól­o­go den­tro de si. E mes­mo que pie­gas, o espec­ta­dor ao fim sabe que todos já via­jaram porque pre­cisavam e voltaram porque amavam algo ou alguém.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=wn4ZBttHVaU

  • Crítica: As Melhores Coisas do Mundo

    Crítica: As Melhores Coisas do Mundo

    crítica as melhores coisas do mundo

    Filmes sobre a ado­lescên­cia exis­tem muitos por aí, prin­ci­pal­mente para induzir ado­les­centes do que é legal faz­er e/ou con­sumir no momen­to. As Mel­hores Coisas do Mun­do (As Mel­hores Coisas do Mun­do, Brasil, 2010), de Laís Bodanzky, ini­cial­mente parece que pode ser clas­si­fi­ca­do como mais um destes, mas pas­sa bem longe des­ta classificação.

    Mano (Fran­cis­co Miguez) tem 15 anos e gos­ta de faz­er o que “todo ado­les­cente” faz. Ele pode ser con­sid­er­a­do como um ado­les­cente comum, não estando no grupo dos mais pop­u­lares nem dos mais “excluí­dos” (solitários). Tem vários ami­gos e uma mel­hor ami­ga, Car­ol (Gabriela Rocha), com os quais vive sain­do e fazen­do coisas jun­tas. Além dis­so, é apaixon­a­do por uma das garo­tas mais pop­u­lares da esco­la, mas não tem cor­agem de ir falar com ela. Até aí nada muito de difer­ente das história que já foi fei­ta em out­ros filmes. O seu difer­en­cial está na maneira de como vários temas como: homo­sex­u­al­is­mo e pre­con­ceitos em ger­al, bul­ly­ing, relação entre pais e fil­hos, sexo (e o uso de camis­in­ha), amor e vários out­ros assun­tos são abor­da­dos, que ficou muito pare­ci­do ao que acon­tece fora das telas.

    As Mel­hores Coisas do Mun­do, con­segue retratar com fidel­i­dade esta cer­ta fase da ado­lescên­cia (os casos mais leves, é claro), prin­ci­pal­mente por causa de seus atores, em alguns casos até estre­antes, sem cair em rep­re­sen­tações forçadas e car­i­cat­u­radas, algo rel­a­ti­va­mente comum em pro­je­tos educa­tivos. Há ape­nas uma excessão, a do “ator” Fiuk, que fra­ca­mente (para não usar out­ros adje­tivos) inter­pre­ta Pedro, o irmão de Mano. A impressão que fica é que ele foi escal­a­do para o papel mais como uma estraté­gia de mar­ket­ing do que qual­quer out­ro moti­vo. Para inten­si­ficar a rep­re­sen­tação dessa fase, o filme faz tam­bém várias refer­ên­cias à obje­tos (reais e vir­tu­ais), gírias e situ­ações vivi­das por eles. Não há nen­hu­ma glam­our­iza­ção dos momen­tos vivi­dos pelos per­son­agens, o que é um difer­en­cial bem inter­es­sante em relação a out­ros lon­ga do gênero.

    Ape­sar do filme ter propósi­tos educa­tivos, não foi um aspec­to que se sobres­saiu sobre os out­ros. Alguns dos temas foram abor­da­dos de maneira bem breve, as vezes até implíc­i­tos, não chegan­do a ficar em nen­hum momen­to aque­la coisa cha­ta de vídeo educa­ti­vo, algo que, na min­ha opinião, é um dos grande méri­tos de As Mel­hores Coisas do Mun­do. Além dis­so, ele foi tão bem dirigi­do que, parafrase­an­do vários out­ras opinião que li e ouvi, “não parece filme brasileiro”, prin­ci­pal­mente pela uti­liza­ção de vários ângu­los pouco con­ven­cionais e pela óti­ma edição e montagem.

    As Mel­hores Coisas do Mun­do é uma óti­ma real­iza­ção brasileira e, ape­sar de ficar só no âmbito ado­les­cente, vale a pena o ingresso.

    Além dos Projetores:
    O site ofi­cial tam­bém foi muito bem feito, vale a pena vis­i­tar. O esti­lo visu­al lousa/caderno do mate­r­i­al ficou legal para com­bi­nar com a temáti­ca pro­pos­ta. Além de algu­mas fer­ra­men­tas inter­a­ti­vas, tril­ha sono­ra do filme tocan­do no fun­do, exibição do que se está falan­do no twit­ter, está disponív­el para a vis­i­tação os blogs dos per­son­agens Pedro e Dri. Pena que o mate­r­i­al que foi apre­sen­ta­do no lon­ga não está disponív­el nos blogs como parte do históri­co (eu pelo menos não encon­trei), assim como não há nada de mui­ta relevân­cia. Acred­i­to que os pro­du­tores pode­ri­am ter se uti­liza­do muito mel­hor destas fer­ra­men­tas como um meio de expan­são da exper­iên­cia pro­por­ciona­da no filme, colo­can­do muito mais mate­r­i­al extra e infor­mações inter­es­santes a respeito do “dia-a-dia” dos per­son­agens. Não é uma coisa triv­ial de se faz­er, mas que se bem pro­duzi­do, seria um catal­izador de exper­iên­cia para os espec­ta­dores e, é claro, uma óti­ma fer­ra­men­ta de mar­ket­ing. Aliás, isto não é só uma defi­ciên­cia dos pro­du­tores brasileiros, mas dos out­ros país­es também.

    Há tam­bém um pro­je­to educa­ti­vo cri­a­do a par­tir das temáti­cas abor­dadas, com o fold­er pra down­load no site (e que foi dis­tribuí­do em algu­mas sessões), para pais e edu­cadores. Mas, infe­liz­mente, as infor­mações ain­da não foram disponi­bi­lizadas tex­tual­mente no site (está como: em breve), um erro que con­sidero muito grave, pois parece um desleixo da parte de quem pro­duz­iu o material.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=-jgSPH6zVEI