Crítica: Não se pode viver sem Amor

Histórias e vidas que se entre­cruzam não são novi­dade no cin­e­ma e em Não se pode viv­er sem Amor (Brasil, 2011), o dire­tor Jorge Durán já joga as car­tas dizen­do que não pre­tende rein­ven­tar o esti­lo nar­ra­ti­vo e sim ver de out­ros ângu­los o entre­laça­men­to das relações humanas. O lon­ga, que parte de um esti­lo mais exper­i­men­tal, surge trazen­do tendên­cias bem difer­entes do cos­tumeiro cin­e­ma hiper­re­al­ista do país.

Gabriel é um garo­to de 10 anos que vive com Roseli no inte­ri­or do Rio de Janeiro. Os dois, deci­di­dos a encon­trar o pai do meni­no, partem na véspera do Natal para a cap­i­tal numa saga de encon­tros e des­en­con­tros em bus­ca dele. A tra­jetória da dupla vai ser par­til­ha­da com out­ros per­son­agens em um Rio de Janeiro urbano e caóti­co onde todos estão em bus­ca de algo.

Jorge Durán é con­heci­do pelos roteiros com con­teú­dos bem enga­ja­dos social­mente e con­sid­er­a­dos clás­si­cos do cin­e­ma nacional dos anos 80 como Pixote — a lei do mais fra­co e Lúcio Flávio, Pas­sageiro da Ago­nia. Mais tarde tra­bal­hou como dire­tor em lon­gas como o pre­mi­a­do Proibido Proibir onde já se con­tor­na­va um esti­lo de entre­laça­men­to de per­son­agens soci­ais. Em Não se pode viv­er sem Amor o dire­tor chile-brasileiro con­tin­ua no esti­lo do últi­mo lon­ga, mas dan­do um con­torno que beira mais para um real­is­mo-fan­tás­ti­co onde situ­ações cor­riqueiras e fan­ta­siosas fun­cionam como ele­men­tos fun­da­men­tais para que a real­i­dade se torne mais suportáv­el de se encarar.

A fotografia, assim como as atu­ações e pro­dução em ger­al de Não se pode viv­er sem Amor, são muito inter­es­santes. O filme tem uma pega­da bem ao esti­lo lati­noamer­i­cano, não focan­do situ­ações soci­ais que nor­mal­mente caem no sen­sa­cional­is­mo como, por exem­p­lo, um assalto na per­ife­ria do Rio de Janeiro se tornar uma ação exis­ten­cial­ista e não mera­mente uma con­se­quên­cia crua e social.

Aparente­mente, há uma fal­ta de lóg­i­ca na nar­ra­ti­va que não se pre­ocu­pa em nen­hum momen­to em cumprir lin­has de raciocínio. Segun­do o próprio dire­tor Jorge Durán, Não se pode viv­er sem Amor é um filme que tra­ta da sobra nos rela­ciona­men­tos e, prin­ci­pal­mente, da fal­ta do sen­ti­men­to que segue o títu­lo, o amor. Por­tan­to, partin­do desse pon­to de vista de que a pre­ocu­pação está nas fal­tas, o filme cumpre o papel fug­in­do da nar­ra­ti­va clás­si­ca e beiran­do para um cin­e­ma mais de sen­sação e experimentos.

O elen­co de Não se pode viv­er sem Amor chama atenção por con­tar com nomes que vêm apare­cen­do con­stan­te­mente nas pro­duções como Simone Spo­ladore e Fabi­u­la Nasci­men­to. Mas, ao mes­mo tem­po, parece que nen­hum dos atores se desta­ca muito, não sendo isso um prob­le­ma mas ape­nas uma lacu­na na pro­pos­ta do lon­ga. O que inco­mo­da nas atu­ações é o meni­no inter­pre­ta­do por Vic­tor Nave­ga Mot­ta, em muitos momen­tos se apre­sen­ta num papel um pouco força­do e até típi­co de atu­ações de primeira viagem mas aca­ba não com­pro­m­e­tendo o longa.

Não se pode viv­er sem Amor pode causar sen­sações adver­sas na plateia, mas vale o ingres­so para aque­les que pref­er­em exper­i­men­tar rumos difer­entes de dra­matur­gia fílmi­ca, se pro­pon­do a novos ques­tion­a­men­tos no entorno da ficção.

Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=-Xr8TuzuK1A


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Dossiê Daniel Piza
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