Category: Curta do Mês

  • O Natal do Burrinho (1984), de Otto Guerra | Curta

    O Natal do Burrinho (1984), de Otto Guerra | Curta

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    O mês de dezem­bro dá às caras trazen­do em sua cos­tumeira bagagem a época do ano em que histórias de amor, redenção e mis­er­icór­dia pipocam por todos os lados. Ninguém con­segue ficar imune – e duvi­do que, depois da cap­i­tal­iza­ção do nasci­men­to de Jesus Cristo, alguém ten­ha con­segui­do. Em mea­d­os de 1843, o escritor inglês Charles Dick­ens apre­sen­ta a jor­na­da espir­i­tu­al do avar­en­to Ebenez­er Scrooge em “Um Con­to de Natal” (orig­i­nal “A Christ­mas Car­ol”). O con­to foi suces­so instan­tâ­neo e eterni­zou a mág­i­ca trans­for­mação pes­soal de um sujeito desprezív­el – mudança aux­il­i­a­da dire­ta­mente pelos encan­tos natal­i­nos. É tam­bém fru­to do mês de dezem­bro a comovente história da “Peque­na Vende­do­ra de Fós­foros”, escri­ta pelo con­heci­do Hans Chris­t­ian Ander­sen. O con­to nar­ra a desven­tu­ra de uma pobre meni­na que padece de frio, fome e solidão, enquan­to o mun­do ter­reno se refestela nas ceias de pas­sagem do ano. A história serve para lem­brar home­ns e mul­heres da fal­ta de empa­tia, sol­i­dariedade e cari­dade, princí­pios bási­cos do Natal. No uni­ver­so artís­ti­co, muitos são os exem­p­los de odes natali­nas, incluin­do pin­turas (a exem­p­lo das obras de Di Cav­al­can­ti, Anit­ta Mal­fat­ti, Goya, Rem­brandt, Ben­jamin West) e músi­cas (como o CD25 de dezem­bro”, da can­to­ra brasileira Simone, que toca em loop­ing eter­no por todo o país).

    Até mes­mo esta col­u­na cul­tur­al foi arrebata­da pelo “espíri­to de natal” ao adi­ar as impressões sobre um cur­ta-metragem com temáti­ca de suspense/terror psi­cológi­co para falar da ani­mação “O Natal do Bur­rin­ho”, pro­duzi­da há 31 anos atrás pelo dire­tor gaú­cho Otto Guer­ra e com co-direção de José Maia e Lan­cast Mota.

    Otto Guerra (Foto: Maurício Capelarri)
    Otto Guer­ra (Foto: Mau­rí­cio Capelarri)

    São rápi­dos cin­co min­u­tos para acom­pan­har a triste história de um bur­rin­ho solitário que vaga por ter­ras desér­ti­cas. Logo nos primeiros segun­dos, uma melancóli­ca tril­ha sono­ra acom­pan­ha a sorum­báti­ca cam­in­ha­da do bur­rin­ho noite aden­tro. O ani­mal guar­da cer­ta semel­hança com Bison­ho, per­son­agem da tur­ma do Ursin­ho Puff cujas feições cansadas pare­cem rev­e­lar tor­por e um “âni­mo exaus­to” – por mais que essa afir­ma­ti­va soe uma con­tradição em termos.

    Soz­in­ho, o bur­rin­ho bebe água, cho­ra no lago e dorme embaixo de uma árvore. A vida seguiria seu cur­so depres­si­vo se não fos­se por uma família que aparece no meio do deser­to. Pai, mãe e bebê chamam a atenção do bur­ro, que decide seguí-los e ajudá-los. Os ros­tos dessas pes­soas não são visíveis, mas é pos­sív­el dis­tin­guir os traços de José, Maria e Jesus em sua fuga para o Egi­to. Esse episó­dio é ampla­mente ilustra­do nas artes e pode ser inferi­do no cur­ta-metragem tan­to pela indu­men­tária das per­son­agens quan­to pela pas­sagem de sol­da­dos romanos – rep­re­sen­ta­dos pelos seus olhos raivosos e pelo estandarte com o acrôn­i­mo SPQR, frase lati­na que pode ser traduzi­da como “O Sena­do e o Povo Romano”.

    Pintura "The Nativity of Christ", de Vladimir Borovikovsky
    Pin­tu­ra “The Nativ­i­ty of Christ”, de Vladimir Borovikovsky

    Depois de enfrentar lon­gas dis­tân­cias, tem­pes­tades de areia e frio, a família e o bur­rin­ho con­seguem chegar ao des­ti­no final. Esse acon­tec­i­men­to trans­for­ma a vida do ani­mal, lançando‑o para o encan­ta­men­to dos finais felizes. No entan­to, Otto Guer­ra nos sur­preende com um des­fe­cho inusi­ta­do que, em um áti­mo de segun­do, lev­an­ta out­ro pon­to impor­tante: o quan­to as “mudanças mág­i­cas” são ver­dadeiras? Elas exis­tem ou são obje­tos da neces­si­dade fic­cional, tão comum em épocas de fim de ciclo? A pre­sença do bur­rin­ho soa como uma fábu­la dis­farça­da ou sem intenção. Mas está lá, oculta.

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    O Natal do Bur­rin­ho foi sele­ciona­do para os fes­ti­vais de Bil­bao (Espan­ha) e Ober­hausen (Ale­man­ha). Tam­bém con­quis­tou o prêmio de mel­hor cur­ta gaú­cho no Fes­ti­val de Gra­ma­do de 1984. Em uma época em que o estí­mu­lo à pro­dução e cir­cu­lação de obras nacionais não provo­ca­va inve­ja a ninguém, esbar­ran­do na fal­ta de incen­ti­vo, inter­esse e espaço – fato que, ape­sar de notáveis mel­ho­rias, per­manece até hoje -, Otto Guer­ra e sua equipe apos­taram na ani­mação. Se a crença em fábu­las for capaz de mudar a con­cepção dos finan­ciadores e do públi­co do cin­e­ma nacional, cabe uma dica: a história “O Cav­a­lo e o Bur­ro”, de Mon­teiro Lobato.

    Assista ao cur­ta com­ple­to abaixo:

  • A Pequena Sereia (2011), de Nicholas Humphries | Curta

    A Pequena Sereia (2011), de Nicholas Humphries | Curta

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    No con­to “O pescador e sua alma”, o escritor irlandês Oscar Wilde nar­ra a dramáti­ca história de amor entre seres de dois mun­dos dis­tin­tos: de um lado, o homem da ter­ra que, con­sum­i­do pela paixão, é capaz de abdicar da própria alma. Do out­ro, a encan­ta­do­ra sereia, figu­ra mitológ­i­ca que per­tence ao mar. Depois de infini­tos per­calços e dores, o apaixon­a­do pescador encon­tra a redenção através do amor.

    Hans Chris­t­ian Ander­sen, famoso cri­ador de con­tos de fadas, tam­bém abor­dou a figu­ra da sereia, apresentando‑a como uma criatu­ra que ama e sofre em dos­es cav­alares. Anos depois, adoçan­do con­sid­er­av­el­mente a história, os estú­dios Dis­ney imor­talizaram – e recri­aram — a per­son­agem de Ander­sen com o filme “A Peque­na Sereia”, em que a jovem prince­sa Ariel, rui­va, espir­i­tu­osa e trav­es­sa, vive queren­do desco­brir como é a vida fora do mar. Ela se apaixona per­di­da­mente por um príncipe humano e seus prob­le­mas começam.

    pequena-sereia-nicholas-humphries-posterEm 2011, a peque­na sereia ressurge sem enre­dos de amor; pelo con­trário, ela é a atração macabra de um freak show circense coman­da­do por um sujeito com aparên­cia de Mági­co de Oz. Esse é o pano de fun­do de “A Peque­na Sereia” (orig­i­nal The Lit­tle Mer­maid), cur­ta-metragem do dire­tor Nicholas Humphries em parce­ria com a roteirista Mea­gan Hotz, auto­ra da versão.

    As cenas ini­ci­ais do cur­ta car­regam nos­so imag­inário para den­tro de um pân­tano aban­don­a­do, salpic­a­do por luzes que bal­ançam como pên­du­los em meio à névoa. Uma sen­sação mias­máti­ca de hor­ror e podridão começa a per­cor­rer os olhos e descer até à gar­gan­ta. Pás­saros sobrevoam o lugar, pas­san­do como bólide pela ten­da do cir­co de hor­rores ergui­da no meio do nada.

    Den­tro do anfiteatro em ruí­nas, uma dúzia de almas curiosas obser­vam os movi­men­tos de uma sereia den­tro da dimin­u­ta ban­heira em que se encon­tra. Ao con­trário da beleza eston­teante imor­tal­iza­da pelos con­tos de fadas, a sereia do cir­co é uma criatu­ra híbri­da: car­ac­terís­ti­cas humanas se mis­tu­ram a ele­men­tos mar­in­hos, como cau­da e esca­mas. No lugar do ros­to par­nasiano, uma sequên­cia de cortes que lem­bram guelras.

    Diante da peque­na plateia, con­sti­tuí­da essen­cial­mente de tra­bal­hadores e pes­soas sim­ples, o sádi­co dire­tor do cir­co lança a semente da vio­lên­cia, bru­tal­izan­do e ridic­u­lar­izan­do a sereia. Um dos ele­men­tos mais inter­es­santes do cur­ta é a ausên­cia com­ple­ta de falas: todos os “diál­o­gos” são real­iza­dos por meio de ima­gens visuais e comu­ni­cação cor­po­ral — no caso da sereia, o olhar sig­ni­fica­ti­vo gri­ta sozinho.

    Diante da fal­ta de com­paixão do homem que a man­tém pri­sioneira e da dor de ter seu coração esma­ga­do pela indifer­ença, a sereia pre­cisa desco­brir uma for­ma de livrar-se dos con­stantes abu­sos, agar­ran­do-se à ideia de liberdade.

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    No filme, o tom sépia enfa­ti­za a nos­tal­gia quente, refleti­da em um ambi­ente arru­ina­do, mas que con­tin­ua des­per­tan­do inter­esse por con­ta da ten­tação humana em absorv­er o bizarro. Out­ro pon­to que merece destaque – tam­bém pelo uso do sépia — é a aura de sen­su­al­i­dade que bro­ta do descon­heci­do. A len­da do hip­nóti­co can­to da sereia tam­bém está pre­sente no cur­ta e tem sua primeira aparição escon­di­da em uma cena. No momen­to em que o espec­ta­dor a encon­tra, ele con­segue dialog­ar com a criatu­ra do mar.

    Dire­cio­nan­do o olhar para o ter­ror fan­tás­ti­co, Nicholas Humphries investe em efeitos visuais (luz, maquiagem e edição são pri­morosos) e na cri­ação de uma atmos­fera imag­i­na­ti­va e neb­u­losa. Para os fãs do escritor Stephen King e de séries como Amer­i­can Hor­ror Sto­ry, o cur­ta “A Peque­na Sereia” é um ver­dadeiro banquete.

    Assista o cur­ta “A Peque­na Sereia” abaixo:

    http://vimeo.com/27233664

     

  • O Dia M (2008), de Paulo Leierer | Curta

    O Dia M (2008), de Paulo Leierer | Curta

    o-dia-m-paulo-leierer-curta-1Esta grande infe­li­ci­dade, a de não estar só”, rev­e­lado­ra sen­tença do ensaís­ta francês La Bruyère (1645 ‑1696), foi escol­hi­da pelo con­tista e poeta Edgar Allan Poe, mestre da “beleza mór­bi­da” literária, para ilus­trar o con­to “O Homem da Mul­ti­dão”. Pub­li­ca­da em 1840, a história nar­ra as per­cepções feitas por um homem que obser­va o trân­si­to de pes­soas na rua. A par­tir das car­ac­terís­ti­cas físi­cas, indu­men­tárias e ges­tu­ais, o obser­vador vai desnudan­do a iden­ti­dade de per­son­agens anôn­i­mos. Em dado momen­to, quan­do avista um sujeito idoso, com roupas que escon­dem requinte atrás da sujeira e movi­men­tos ansiosos para se mis­tu­rar à mul­ti­dão das ruas, o nar­rador ini­cia uma lou­ca perseguição. A cada novo pas­so, ele percebe que o “homem das mul­ti­dões” recusa-se a estar só; seu maior dese­jo é per­am­bu­lar anon­i­ma­mente entre a tur­ba londrina.

    Ser alguém sem nome e sem ros­to no furacão cole­ti­vo, aca­len­ta a con­sciên­cia humana com uma fal­sa sen­sação de segu­rança, con­stru­in­do um caste­lo de areia con­tra o medo da morte. A solidão e a morte andam de braços dados, tor­nan­do o indi­ví­duo ape­nas uma partícu­la inex­is­tente entre tan­tos organ­is­mos vivos. Esse é o sen­ti­men­to de Almei­da, per­son­agem do cur­ta-metragem O Dia M, dirigi­do por Paulo Leier­er. Inter­pre­ta­do pelo ator Caco Cio­cler, Almei­da é um homem na casa dos trin­ta anos que desco­bre, através de exam­es lab­o­ra­to­ri­ais, que seus dias de vida estão con­ta­dos. Soz­in­ho em sua casa, ele decide que pre­cisa lidar com a situ­ação e infor­mar às pes­soas próx­i­mas que está cam­in­han­do para a estra­da do sono eterno.

    No entan­to, a notí­cia de sua morte não parece afe­tar abso­lu­ta­mente ninguém ao seu redor. Assim como o ‘homem da mul­ti­dão’ de Poe, Almei­da vai per­am­bu­lan­do entre casas, ruas, pes­soas e cemitérios, mis­tu­ran­do-se ao cotid­i­ano de ros­tos egoís­tas, cansa­dos, amar­gu­ra­dos e indifer­entes. Lem­bran­do a nov­ela rus­sa “A morte de Ivan Ilitch”, de Liev Tol­stói, mas sem sequer ter a pre­sença con­for­t­ante de um Geras­sim, o solitário mori­bun­do Almei­da se vê às voltas com as más­caras humanas. Per­to do leito de morte, ele está só. Com­ple­ta­mente só.

    Sunday, 1926 por Edward Hopper
    Sun­day, 1926 por Edward Hopper

    Duas das cenas mais assom­brosas do dra­ma são espremi­das na cara do espec­ta­dor logo no começo do cur­ta, quan­do Almei­da vai à casa dos pais para anun­ciar sua morte e, em segui­da, procu­ra con­tratar os serviços de um despachante funerário. No meio da incredul­i­dade furiosa do pai e do deboche sar­cás­ti­co do despachante, Almei­da encara silen­ciosa­mente a frag­ili­dade de tudo o que imag­i­na­va ser e ter.

    On the Stream of Life - Hugo Simberg
    On the Stream of Life — Hugo Simberg

    Vence­dor de Mel­hor Cur­ta no Hol­ly­wood Brazil­ian Film Fes­ti­val – HBRFEST em 2009 e do Troféu Shoe­string no Rochester Inter­na­cional Film Fes­ti­val, tam­bém em 2009, O Dia M foi sele­ciona­do em inúmeros fes­ti­vais nacionais e estrangeiros. A anôn­i­ma tra­jetória de um homem que per­corre a mul­ti­dão e que dese­ja deses­per­ada­mente ser nota­do, pois o dia de seu adeus defin­i­ti­vo galopa a pas­sos lar­gos e ele estará mais solitário do que a própria morte, con­fronta o indi­ví­duo com sua existên­cia: Será que sig­nifi­camos algu­ma coisa? Alguém sen­tirá nos­sa ausên­cia? Atrav­es­sare­mos soz­in­hos o abis­mo da morte? Até que pon­to a atom­iza­ção do homem o faz quer­er ser partícipe do cole­ti­vo, para depois empurrá-lo para a condição real de solidão e esquecimento?

    Essas são algu­mas das questões com as quais o cur­ta-metragem inda­ga o espec­ta­dor, dan­do firmeza à pro­pos­ta do dire­tor Paulo Leier­er e de toda a equipe. Destaque para a tril­ha sono­ra do filme, com a faixa “First Breath After Coma” (álbum The Earth is not a cold dead place), da ban­da amer­i­cana de post rock Explo­sions in the Sky.

    Visual­mente, O Dia M lem­bra uma mis­tu­ra das pin­turas solitárias de Edward Hop­per com as lúgubres visões da morte retratadas pelo nórdi­co Hugo Sim­berg. Ou, nas palavras do poeta Rain­er Maria Rilke: “A solidão é como uma chu­va. Ergue-se do mar ao encon­tro das noites; de planí­cies dis­tantes e remo­tas sobe ao céu, que sem­pre a aguar­da. E do céu tom­ba sobre a cidade. (…) Então, a solidão vai com os rios…”.

    Assista o cur­ta-metragem aqui:

  • Desejo (2005), de Anne Pinheiro Guimarães | Curta

    Desejo (2005), de Anne Pinheiro Guimarães | Curta

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    Um cor­ta­dor de gra­ma atrav­es­sa em rit­mo monocór­dio os imen­sos espaços de um gra­ma­do que bril­ha como móv­el novo. Ao fun­do, uma canção que nos faz lem­brar dias boni­tos e fras­es do tipo “a esper­ança nun­ca morre”. Ima­gens idíli­cas começam a se mis­tu­rar até serem sumari­a­mente que­bradas pelo barul­ho do ven­ti­lador imer­so em fumaça. Deita­do em uma cama estre­i­ta, um homem fuma e tran­spi­ra, tran­spi­ra e fuma. Ao deixar seu san­tuário pes­soal, ele vai de encon­tro à vida nor­mal de cada dia. Uma vida de tra­bal­ho, de tédio, de cansaço, de madames lamen­tosas e son­hos que se per­dem na fumaça do cig­a­r­ro. No entan­to, algu­mas ideias podem ser o começo de ver­dadeiras epi­fa­nias. É assim que o cur­ta-metragem “Dese­jo” (2005) lança baforadas no ros­to do espec­ta­dor ao apre­sen­tar a história de um homem comum e suas cobiças con­struí­das a par­tir do olhar fixo para o teto.

    No cur­ta, o porteiro Ataná­sio José (Wag­n­er Moura) faz uma descober­ta sur­preen­dente em uma tarde tór­ri­da e estim­u­lante de glân­du­las sudorí­paras. Deita­do em sua cama, ele se deu con­ta da rev­e­lação que mudaria os rumos de sua vida, transformando‑o em um indi­ví­duo real­iza­do. Ataná­sio tin­ha ago­ra uma obsessão: aden­trar o Jock­ey Club Brasileiro (local­iza­do na Gávea, bair­ro do Rio de Janeiro), con­sid­er­a­do por ele o “san­tuário dos end­in­heira­dos”. Depois de con­seguir a façan­ha, Ataná­sio saberia o que faz­er – mas isso pou­ca impor­ta­va. Para chegar ao pon­to final da jor­na­da, ele pre­cis­aria da aju­da do cun­hado, Edmil­son André (Lázaro Ramos), respon­sáv­el pelos cuida­dos com o gra­ma­do do Jock­ey e con­sid­er­a­do por Ataná­sio como um homem “dire­ito, qui­eto, hon­esto e tra­bal­hador – tudo isso até demais”. Pre­so nes­sa relação de causa e efeito, o porteiro faz a trav­es­sia dos seus dias sem esque­cer por um momen­to da obsessão com o cun­hado, o cor­ta­dor de gra­ma e o Jock­ey Club.

    Com roteiro e direção de Anne Pin­heiro Guimarães, “Dese­jo” remon­ta aos tex­tos do cita­do Charles Bukows­ki e traz à beira da pra­ia nomes como Hen­ry Miller e Nel­son Rodrigues, conectan­do a vida do sujeito ordinário aos devaneios que o fazem resi­s­tir, sobre­viv­er e elab­o­rar de um modo menos lim­i­ta­do a sua existên­cia. A nar­ra­ti­va em off é uti­liza­da durante todo o cur­ta e abre espaço para a mis­tu­ra entre a lin­guagem fílmi­ca e literária, sopran­do no ar fig­uras irôni­cas, sar­cás­ti­cas, áci­das e humanas.

    Da clás­si­ca músi­ca “What a Won­der­ful World” — per­pet­u­a­da na voz de Louis Arm­strong – até o afama­do “Melô do Piri Piri”, da pop­u­lar can­to­ra e casadoura Gretchen, “Dese­jo” vai além das epi­fa­nias do porteiro Ataná­sio e mostra que o mun­do pode ter lá suas mar­avil­has – se a desco­brir­mos do nos­so jeito.

    Assista ao curta:

  • Décimo Segundo (2007), de Leonardo Lacca | Curta

    Décimo Segundo (2007), de Leonardo Lacca | Curta

    curta-decimo-segundo-2007-leonardo-lacca-cartazO silên­cio que pesa, arras­ta e guar­da, trans­for­man­do a ausên­cia de palavras em uma cur­va mís­ti­ca, enevoa­da. Essa descrição é uma das pos­si­bil­i­dades de “Déci­mo Segun­do” (2007), tra­bal­ho do dire­tor per­nam­bu­cano Leonar­do Lac­ca. Pre­mi­a­do em ter­ritório nacional e inter­na­cional, o cur­ta-metragem traz um recur­so ain­da pouco uti­liza­do na lin­guagem cin­e­matográ­fi­ca brasileira: o silêncio.

    As cenas avançam em direção a dois pro­tag­o­nistas, um homem e uma mul­her, que pare­cem estar em um pal­co cer­ca­do por corti­nas que abrem e fecham simul­tane­a­mente. Acom­pan­hamos a chega­da do homem e de suas malas a um deter­mi­na­do aparta­men­to, e logo somos sur­preen­di­dos por uma refer­ên­cia clara ao filme “Estra­da Per­di­da” (Lost High­way), do cineas­ta David Lynch. A clás­si­ca voz sotur­na que sol­ta no inter­fone “Dick Lau­rent is dead” (Dick Lau­rent está mor­to), pre­sente no filme de Lynch, tam­bém está no cur­ta, acom­pan­han­do até mes­mo o número exa­to de toques na cam­painha. Essa alusão é perce­bi­da como um jogo pes­soal entre o casal, já que a mul­her tam­bém faz uma brin­cadeira com seu vis­i­tante, ao escon­der as malas que ele deixa no elevador.

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    O reen­con­tro do casal, com o abraço do homem em sua anfitriã feito de for­ma inten­sa e ao mes­mo tem­po con­strangi­da, é um dos frag­men­tos do não-dito, da ponte que vai nos pos­si­bil­i­tan­do entrar na mente dos per­son­agens. Os close-ups, o plano-sequên­cia, a câmera na mão — tremen­do cal­a­da como a própria história – e o efeito intimista de todo o enre­do per­mitem cri­ar canais de prox­im­i­dade entre per­son­agem e espec­ta­dor. Por meio das fras­es engas­gadas, surgem inda­gações curiosas sobre o casal que se encara de olhos baixos. Como teste­munhas onipresentes, pas­samos a nos per­gun­tar: “quem são essas pes­soas?”, “elas foram amantes?”, “como e quan­do tudo ter­mi­nou?”, além de notar que a importân­cia do que acon­tece ali reside, na ver­dade, no ambi­ente fora-de-cena.

    Alphonse Osbert, o pintor do silêncio (La Riviére, 1890)
    Alphonse Osbert, o pin­tor do silên­cio (La Riv­iére, 1890)

    Déci­mo Segun­do cria con­strang­i­men­tos, dis­tân­cias e expressões abafadas. Vivi­da pela atriz e dire­to­ra teatral Rita Carel­li, a anfitriã do cur­ta parece con­seguir super­ar mel­hor a invasão do pas­sa­do, per­son­ifi­ca­da pela pre­sença do homem que está ali na sua frente, com o olhar per­di­do. Na pele do vis­i­tante tími­do, o ator per­nam­bu­cano Irand­hir San­tos gan­ha força e bril­ho ao con­seguir repro­duzir todo o embaraço do reen­con­tro. Pre­mi­a­do por sua atu­ação no lon­ga “Tat­u­agem” (2013), Irand­hir reforçou o elen­co de várias pro­duções nacionais, como as con­heci­das “Tropa de Elite 2” (2010) e “O som ao redor” (2012). O ator inte­grou o elen­co da Rede Globo nas minis­séries “A Pedra do Reino” (2007) e “Amores Rou­ba­dos” (2014), e atual­mente dá vida ao per­son­agem Zelão, o cap­ataz anal­fa­beto que se apaixon­a­da pela bela e meiga pro­fes­so­ra na nov­ela “Meu Pedac­in­ho de Chão”.

    Assim como as enig­máti­cas pin­turas do francês Alphonse Osbert (1857–1939), dis­solvi­das no iso­la­men­to de luzes e névoas mis­te­riosas, Déci­mo Segun­do vai descorti­nan­do a anato­mia do silên­cio, suas pos­si­bil­i­dades e dimen­sões, e deixa a car­go do expec­ta­dor a trav­es­sia – ou não – para o inte­ri­or dos per­son­agens, suas rev­oluções, emoções e sensações.

    Assista o curta:

  • O Duplo (2012), de Juliana Rojas | Curta

    O Duplo (2012), de Juliana Rojas | Curta

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    A cineas­ta paulista Juliana Rojas tem con­quis­ta­do destaque no cenário cin­e­matográ­fi­co brasileiro com o cur­ta-metragem “O Dup­lo” (2012), tra­bal­ho pre­mi­a­do em Cannes e em diver­sos fes­ti­vais nacionais e estrangeiros. Na tra­ma, a pro­fes­so­ra Sil­via (Sab­ri­na Greve) é con­fronta­da com a imagem de seu dup­lo, uma espé­cie de clone soturno e neg­a­ti­vo, e entra em colap­so. A história toma por base o mito europeu con­heci­do como Dop­pel­gänger, que é con­sid­er­a­do um sinal nada aus­pi­cioso. Segun­do a len­da, quem vê seu dup­lo enfrenta o risco de maus pressá­gios e morte iminente.

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    A história do cur­ta foi basea­da em um depoi­men­to real sobre a aparição do Dop­pel­gänger, fato reg­istra­do no começo do filme e que dá o pon­tapé ini­cial para abrir as com­por­tas do uni­ver­so fan­tás­ti­co e das fábu­las de hor­ror, assi­natu­ra de Juliana. Assim como em “Lençol Bran­co” (2004) e “Um Ramo” (2007), tra­bal­hos pro­duzi­dos em parce­ria com o dire­tor Mar­co Dutra, a cineas­ta con­cil­ia com pre­cisão a triv­i­al­i­dade da vida de mul­heres que, abrup­ta­mente deses­ta­bi­lizadas, pre­cisam lidar de for­ma pavorosa com ele­men­tos sur­reais lig­a­dos ao macabro e à trans­for­mação físi­ca ou mental.

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    As ima­gens envel­he­ci­das e com tonal­i­dade mar­rom de “O Dup­lo” for­t­ale­cem a aura silen­ciosa e sin­is­tra que cer­ca a esco­la, espaço prin­ci­pal dos acon­tec­i­men­tos. Ao encar­ar o seu clone malig­no, os olhos da pro­fes­so­ra Sil­via gan­ham um bril­ho novo, algo que se move com a fero­ci­dade e carnific­i­na de um tubarão-bran­co. Há ele­men­tos de hor­ror e ten­são espal­ha­dos do começo ao fim dos vinte e cin­co min­u­tos do cur­ta, com destaque para a apoc­alíp­ti­ca cena em que a per­son­agem da atriz Gil­da Nomac­ce, pre­sença mar­cante nas pro­duções de Rojas, esti­ca e puxa o elás­ti­co de uma pas­ta de for­ma frenéti­ca e per­tur­bado­ra. Nestes poucos segun­dos que pare­cem durar uma eternidade, há a certeza abso­lu­ta do des­fe­cho trági­co. Sim­ples­mente fenomenal!

    O Dup­lo” faz emer­gir a qual­i­dade de um tra­bal­ho que explo­ra o ter­ror e o fan­tás­ti­co de for­ma con­sis­tente, dan­do força a um gênero ain­da pouco difun­di­do entre as pro­duções nacionais.

    Assista abaixo ao curta:

  • Wind

    Wind

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    Não estar mor­to não é estar vivo”. O aforis­mo de E.E Cum­mings, poeta e ensaís­ta norte-amer­i­cano, traduz em palavras o véu que cobre home­ns e mul­heres for­ma­dos pelo mosaico de roti­nas, per­feita­mente adap­ta­dos e esta­bi­liza­dos em situ­ações que sequer con­hecem ou enten­dem. Quan­do acon­tece uma rup­tura no modo de vida já pet­ri­fi­ca­do, a comu­nidade entra em catatonia.

    A ani­mação “Wind” (2012), cri­a­da pelo design­er e ilustrador Robert Löbel, emerge essa panorâmi­ca. O cur­ta traz o dia-a-dia de uma pop­u­lação que vive em um local inóspi­to, asso­la­do por uma ven­ta­nia infind­áv­el. Todas as ativi­dades, ações e com­por­ta­men­tos do grupo cir­cu­lam em torno dos ven­tos fortes. Como a condição climáti­ca é acei­ta sem ques­tion­a­men­tos, a roti­na é lança­da ao ar, feito fol­ha seca guia­da sem direção.

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    No entan­to, repenti­na­mente o ven­daval ces­sa e a pop­u­lação, atôni­ta, é descar­ac­ter­i­za­da. Como o bar­man vai servir os clientes sem o auxílio do ven­to? Sobre­viverão os cortes de cabe­lo padroniza­dos sem a tem­pes­tade de ar? Ao que a ani­mação indi­ca, parece que não.

    Wind” é o resul­ta­do do pro­je­to final de grad­u­ação de Robert Löbel na Uni­ver­si­dade de Ciên­cias Apli­cadas de Ham­bur­go, con­qui­s­tan­do mais de 18 prêmios inter­na­cionais. Além dis­so, a pro­dução leva na bagagem indi­cações em fes­ti­vais de várias partes do mun­do. A ani­mação é fei­ta sem diál­o­gos, com traços limpos e deli­ciosa­mente irôni­cos e lúdi­cos, deixan­do como men­sagem uma per­gun­ta sem rodeios: Se a humanidade é fei­ta de comod­is­mo e res­ig­nação, somos ou não guia­dos pela mão fatal­ista do destino?

    Con­fi­ra a animação:

  • Lapsus

    Lapsus

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    Com um desen­ho min­i­mal­ista e um óti­mo sen­so de humor, a ani­mação Lap­sus (2007), do argenti­no Juan Pablo Zaramel­la, con­ta a diver­ti­da história de uma freira que decide se aven­tu­rar no seu lado negro.

    Uti­lizan­do somente o con­traste do bran­co com o pre­to, Zaramel­la explo­ra não só as ideias e con­ceitos por trás dessas cores, mas tam­bém brin­ca com as várias posi­bil­i­dades grá­fi­cas das for­mas uti­lizadas no desen­ho quan­do a cor do fun­do é inver­ti­da. O cur­ta fica ain­da mais engraça­da pois as úni­cas pal­abras que a freira con­segue falar são “Oh my God!”, que em por­tuguês seria algo como “Ai meu Deus!”, inde­pen­dente da situ­ação em que ela está.

    O animador Juan Pablo Zaramella
    O ani­mador Juan Pablo Zaramella

    A ani­mação Lap­sus foi vence­do­ra de mel­hor cur­ta do Ani­ma Mun­di São Paulo 2007 e gan­hou prêmios nos fes­ti­vais de Hiroshi­ma, Annecy e Sun­dance. O dire­tor tam­bém foi pre­mi­a­do em vários out­ros fes­ti­vais, com ani­mações como a “El Desafio a la Muerte“, “Via­je a Marte”, “Sex­teens” e “Lumi­naris”. Além dis­so, ele pos­sui em seu port­fo­lio exce­lentes cur­tas para com­er­ci­ais de mar­cas como: Pepi­tos, Plan Rom­bo, Knorr e Amer­i­can Express.

    Juan Pablo Zaramel­la é for­ma­do pelo Insti­tu­to de Arte Cin­e­matografi­co de Avel­lane­da, na Argenti­na, como Dire­tor de Ani­mação, tra­bal­ha atual­mente como ani­mador inde­pen­dente, escreven­do, dirigin­do e ani­man­do cur­tas. Começou a desen­har quan­do tin­ha somente três anos de idade e aos oito já estu­da­va desen­ho e fazia flip­books. Este ano, tam­bém foi o respon­sáv­el pela cri­ação da iden­ti­dade visu­al do Ani­ma Mun­di 2013, fes­ti­val que par­tic­i­pa com seus cur­tas des­de 2002 e através do qual seu tra­bal­ho é muito divul­ga­do aqui no Brasil.

    Assista o cur­ta com­ple­to abaixo:

    O dire­tor tam­bém fez um diver­tido “Por trás das cam­eras”, com cenas exclu­si­vas, ima­gens dos basti­dores e uma entre­vista polêmica.

  • A Recompensa (The Reward)

    A Recompensa (The Reward)

    TheReward_PosterEm um pequeno vilare­jo de Tohan, dois jovens vivem seus dias ape­nas seguin­do suas roti­nas comuns e sem graça. Mas um dia, um glo­rioso herói surge repenti­na­mente. E enquan­to os dois o obser­vam com grande admi­ração, ele deixa cair aci­den­tal­mente um mapa do tesouro. Após uma peque­na briga sobre quem vai ficar com o mapa, deci­dem encon­trar jun­tos o mis­te­rioso tesouro. Na ani­mação A Rec­om­pen­sa (The Reward, 2013), dirigi­do por Mikkel Mainz e Ken­neth Ladekjær, acom­pan­hamos durante nove min­u­tos, a jor­na­da dess­es per­son­agens para con­seguirem gan­har a tão dese­ja­da recompensa.

    O cur­ta foi pro­duzi­do durante sete meses em um work­shop, por estu­dantes da esco­la de ani­mação dina­mar­que­sa The Ani­ma­tion Work­shop. Boa parte do proces­so de cri­ação foi doc­u­men­ta­do no blog ofi­cial do pro­je­to, assim como as artes de cada um dos per­son­agens, cenários e armas uti­lizadas. Um ver­dadeiro tesouro para qual­quer fã de desen­ho ou ani­mação! A tril­ha sono­ra, cri­a­da por Math­ias Winum, tam­bém está disponív­el e pode ser escu­ta­da abaixo.

    Uma dica antes assi­s­tir: veja o cur­ta até o final. Tem uma peque­na cena após os crédi­tos, que é rel­e­vante para a tra­ma apresentada.

    Assista a ani­mação A Rec­om­pen­sa (The Reward) abaixo:

    Mak­ing Of da animação:

    Após o tér­mi­no do work­shop e do lança­men­to do cur­ta, os dois dire­tores se jun­taram a Bo Juhl (out­ro ex-estu­dante da esco­la), para cri­ar o estú­dio de ani­mação Sun Crea­ture, cujo propósi­to é explo­rar o mun­do da ani­mação 2D e ten­tar ultra­pas­sar as bar­reiras e lim­ites das ani­mações atu­ais. Como seu primeiro pro­je­to, a equipe decid­iu cri­ar uma cam­pan­ha no Kick­starter para faz­er uma série ani­ma­da basea­da no mun­do de A Rec­om­pen­sa (The Reward), se apro­fun­dan­do em alguns aspec­tos da história orig­i­nal, como o con­to da len­da por trás do espel­ho e porque o mapa e foi cri­a­do. Eles tam­bém fiz­er­am um pequeno jogo basea­do no cur­ta, para ser joga­do em duas pes­soas, que está disponív­el gra­tuita­mente na inter­net. A boa notí­cia é que o pro­je­to con­seguiu ser bem suce­di­do no dia 6 de abril, ago­ra só res­ta esper­ar o resultado!

  • Le Taxidermiste

    Le Taxidermiste

    LeTaxidermiste-1
    Os ani­mais prepara­dos pelo taxi­der­mista estão pre­sentes em todo lugar da casa

    A esposa em sua sua últi­ma hom­e­nagem ao fale­ci­do mari­do — um exímio taxi­der­mista — con­tra­ta uma agên­cia funerár­i­al à domicílio. Esta é a história do cur­ta Le Taxi­der­miste (França, 2011), dirigi­do por Paulin Coin­tot, Dori­anne Fibleuil, Antoine Robert e Maud Ser­tour, alunos da uni­ver­si­dade france­sa de com­putação grá­fi­ca Supin­fo­com Arles.

    Ape­sar do tema mór­bido, a ani­mação é reple­ta de humor negro, cheia de peque­nas brin­cadeiras e piadas, sendo difí­cil não esboçar nem que seja um pequeno sor­riso durante a duração do cur­ta. Além dos per­son­agens prin­ci­pais (que são no mín­i­mo excên­tri­cos), não podemos esque­cer de out­ro sem­pre pre­sente: a mosca.

    LeTaxidermiste-2
    A ofic­i­na de tra­bal­ho do taxidermista

    Através dos vários tra­bal­hos espal­ha­dos pela casa, desco­b­ri­mos um pouco mais sobre a vida deste pecu­liar taxi­der­mista, que em seu velório só teve a pre­sença da esposa e dos ani­mais empal­ha­dos. Vemos alguns dos que pare­cem serem seus primeiros tra­bal­hos, ain­da bem tor­tos e sem muito cuida­do. Out­ros que estavam em pro­gres­so e tam­bém todas as fer­ra­men­tas uti­lizadas em seu ofí­cio. Além dis­so, é pos­sív­el ver rap­i­da­mente algu­mas fotos suas e de sua mul­her, espal­hadas pelos cômo­d­os, rev­e­lando um pouco mais da vida dos dois.

    Desenho com as proporções dos personagens
    Desen­ho com as pro­porções dos personagens

    Por con­ta da enorme quan­ti­dade de obje­tos pre­sentes em cada um dos ambi­entes da casa, vários detal­h­es podem pas­sar desaperce­bidos na primeira vez, tor­nan­do uma segun­da assis­ti­da ain­da mais inter­es­sante e divertida.

    No site ofi­cial da ani­mação é pos­sív­el ver várias ima­gens do proces­so de cri­ação do cur­ta e dos per­son­agens. Ape­sar do mak­ing of ain­da não estar disponív­el, vale a pena a visita.

  • Vinil Verde

    Vinil Verde

    Mãe dá a Fil­ha uma caixa cheia de vel­hos dis­quin­hos col­ori­dos com músi­cas infan­tis. Fil­ha pode­ria ouvir os dis­quin­hos, mas nun­ca, o dis­co verde.

    vinil-verde-posterÉ com essa nar­ração pecu­liar e sin­is­tra que começa o cur­ta Vinil Verde (2004), dirigi­do por Kle­ber Men­donça Fil­ho, um sus­pense brasileiro bem fora do comum.

    A história toda se desen­volve em vol­ta des­ta proibição e como já era de se esper­ar, Fil­ha não con­segue resi­s­tir por muito tem­po à ten­tação de escu­tar o Vinil Verde (ape­sar de todos os dias Mãe lem­brar de que não pode­ria). Cada vez que toca o dis­quin­ho, algo ruim acon­tece. Mes­mo assim, con­tin­ua fazen­do isso todos os dias até as con­se­quên­cias chegarem ao seu ápice.

    O fato dos per­son­agens serem chama­dos de “Mãe” e “Fil­ha”, já cria um tom meio sin­istro no cur­ta, que fica ain­da mais macabro por con­ta da nar­ração com sotaque alemão car­rega­do. A história é uma livre adap­tação da fábu­la rus­sa “Luvas Verdes”. Seu esti­lo lem­bra bas­tante o livro infan­til “Juca e Chico — História de Dois Meni­nos em Sete Trav­es­sur­as”, do autor alemão Wil­helm Busch, traduzi­do por Ola­vo Bilac, onde as trav­es­sur­as são tão cruéis quan­to suas consequências.

    O diretor Kleber Mendonça Filho
    O dire­tor Kle­ber Men­donça Filho

    Este é o segun­do tra­bal­ho de Kle­ber Men­donça Fil­ho, que está chaman­do mui­ta atenção na mídia nacional e inter­na­cional, por con­ta do seu últi­mo lon­ga O Som ao Redor. O cur­ta foi todo feito com fotografias (total­izan­do 500 fotogra­mas) e jun­to com a nar­ração, faz com que gan­he um ar fan­ta­sioso e assustador.

    Para quem ficou curioso, a músi­ca do tão perigoso Vinil Verde, foi fei­ta por Sil­vério Pes­soa e Ton­ca. Ela foi toca­da por uma ban­da de Ribeirão Pre­to que fazia basi­ca­mente só cov­er dos Los Her­manos, sendo este um de seus exper­i­men­tos mais autorais.

    Se você ficou inter­es­sa­do em assi­s­tir out­ros tra­bal­hos do dire­tor, alguns deles podem ser assis­ti­dos na sua con­ta ofi­cial do Vimeo.

  • The Passenger

    The Passenger

    curta da semana: the passenger

    O aus­traliano Chris Jones é um artista, ani­mador e músi­co que se for­mou em Design Indus­tri­al na Uni­ver­si­ty of Tech­nol­o­gy em Mel­bourne e depois foi tra­bal­har como game artist na Beam Soft­ware (que depois virou Info­grames, Atari, ago­ra Krome). Em 1998 começou a tra­bal­har nos horários livres em um cur­ta, para servir de port­fólio do seu tra­bal­ho, mas pouco sabia que este pro­je­to iria mudar total­mente a sua vida. O tem­po foi pas­san­do e a ani­mação foi gan­han­do taman­ha pro­porção que, para poder ter­miná-la, decid­iu largar o emprego em maio de 2000 e viv­er somente do din­heiro que tin­ha economizado.

    Depois de seis lon­gos anos em um quar­to com seu com­puta­dor, final­mente con­seguiu ter­mi­nar o cur­ta The Pas­sen­ger (2006), que tem 7 min­u­tos de duração. Ele foi o respon­sáv­el por cri­ar tudo no pro­je­to: os sons, a músi­ca, a direção, os per­son­agens, a ani­mação, … finan­cian­do todo o equipa­men­to necessário e seu sus­ten­to através daque­las econo­mias que tin­ha feito, talvez uma das pou­cas opções em uma época onde nem se imag­i­na­va sites de crowdfunding.

    A ideia ini­cial de The Pas­sen­ger era que algo estran­ho acon­te­cesse den­tro de um ônibus e que fos­se meio assus­ta­dor. Assim surgiu o enre­do de um vici­a­do em livros que, para fugir de uma tremen­da chu­va e um cachor­ro louco que encon­tra, enquan­to está andan­do tran­quil­a­mente lendo o seu livro, resolve entrar em um ônibus. Nele aca­ba encon­tran­do um peix­in­ho nada comum den­tro de uma sacol­in­ha de plástico.

    curta da semana: the passenger

    Chris doc­u­men­tou todo o proces­so de cri­ação do seu pro­je­to em um blog, que tem o diver­tido sub­tí­tu­lo “como faz­er um filme de sete min­u­tos em ape­nas oito anos”, onde ele con­ta vários detal­h­es muito inter­es­santes da pro­dução, como a pés­si­ma escol­ha que foi cri­ar o per­son­agem com mãos e pés grandes, que com­pli­ca muito a vida na hora de ani­má-lo. Ess­es relatos são defin­i­ti­va­mente uma con­sul­ta obri­gatória para quem pen­sa ou já se aven­tu­ra no mun­do da ani­mação digital.

    No site tam­bém tem uma área de infor­mações inúteis, onde ele com­pi­lou vários dados da cri­ação do mes­mo como: o cur­ta con­tém 10.056 frames e o tem­po médio de ren­der foi 3 horas por frame, 192 tril­has de efeitos sonoros e que durante a pro­dução do mes­mo, as trilo­gias Star Wars, O Sen­hor do Anéis e Har­ry Pot­ter foram feitas (não por ele).

    Saben­do de tudo isso ago­ra, você com certeza vai apre­ciar e se diver­tir ain­da mais o curta!

    httpv://www.youtube.com/watch?v=OGW0aQSgyxQ

    Se você gos­tou do pro­je­to e quis­er apoiá-lo, o autor está venden­do o DVD com vários mate­ri­ais extras no site.

  • Bluebird

    Bluebird

    bluebird1

    Charles Bukows­ki não era ape­nas o vel­ho Buk, o vel­ho safa­do, con­sagra­do pela lit­er­atu­ra mar­gin­al amer­i­cana. O escritor era um grande poeta e essa seja talvez a sua fac­eta mais inter­es­sante, mais do que que suas épi­cas bebe­deiras, com mul­heres e cig­a­r­ros relatadas pelo seu alter ego Hen­ry Chi­nas­ki. O filó­so­fo Jean Paul-Sartre con­sid­er­a­va ele “o mel­hor poeta da Améri­ca” e, exagero ou não, os ver­sos abaixo de Pás­saro Azul mostram uma fac­eta sen­sív­el de Bukowski.

    Se você não con­hece a poe­sia do Vel­ho Buk, “O Passáro Azul” é um bom começo. A poe­sia do escritor retra­ta muitas das suas angús­tias exis­ten­ci­ais, sen­ti­men­tos sobre o amor e até críti­cas ao sis­tema literário.

    Já sur­gi­ram várias adap­tações nar­radas e ani­madas para esse poe­ma, mas uma das mais inter­es­santes é Blue­bird (2010), dos design­ers canadens­es Jen­nifer Griffthis e Cameron McK­ague, pro­duzi­do em con­jun­to com a Emi­ly Carr, uma Uni­ver­si­dade de Arte e Design do Canadá. O cur­ta é fil­ma­do em um úni­co plano sequên­cia, com vários ele­men­tos que uti­lizam a tipografia de maneira muito cria­ti­va para reme­ter à cul­tura cri­a­da em torno da figu­ra do escritor.

    há um pás­saro azul em meu peito que
    quer sair
    mas sou duro demais com ele,
    eu digo, fique aí, não deixarei
    que ninguém o veja.

    há um pás­saro azul em meu peito que
    quer sair
    mas eu despe­jo uísque sobre ele e inalo
    fumaça de cigarro
    e as putas e os aten­dentes dos bares
    e das mercearias
    nun­ca saberão que
    ele está
    lá dentro.

    há um pás­saro azul em meu peito que
    quer sair
    mas sou duro demais com ele,
    eu digo,
    fique aí, quer acabar
    comigo?
    quer foder com minha
    escrita?
    quer arru­inar a ven­da dos meus livros na
    Europa?

    há um pás­saro azul em meu peito que
    quer sair
    mas sou bas­tante esper­to, deixo que ele saia
    somente em algu­mas noites
    quan­do todos estão dormindo.
    eu digo, sei que você está aí,
    então não fique
    triste.

    depois o colo­co de vol­ta em seu lugar,
    mas ele ain­da can­ta um pouquinho
    lá den­tro, não deixo que morra
    completamente
    e nós dormi­mos juntos
    assim
    com nos­so pacto secreto
    e isto é bom o sufi­ciente para
    faz­er um homem
    chorar, mas eu não
    choro, e
    você?

    in Tex­tos auto­bi­ográ­fi­cos, de Charles Bukows­ki, pági­nas 478/9. Tradução de Pedro Gon­za­ga. Por­to Ale­gre, L&PM Edi­tores, 2009.

  • Zero

    Zero


    Ape­sar de todos nós nascer­mos da mes­ma matéria, não somos iguais. Nos­sas difer­enças vão des­de coisas mais gerais como época, país e religião, a coisas mais especí­fi­cas como família, casa e esco­la. Tudo isso nos tor­na úni­cos e depen­den­do das nos­sas aspi­rações, opor­tu­nidades e per­se­ver­ança, podemos trans­por várias dessas var­iáveis que de cer­ta for­ma nos clas­si­fi­cam e limi­tam. Mas e se as nos­sas opor­tu­nidades fos­sem lim­i­tadas a uma car­ac­terís­ti­ca de nascença? Esta é a pre­mis­sa do cur­ta ani­ma­do Zero (Aus­tralia, 2010), escrito e dirigi­do por Christo­pher Keze­los e pro­duzi­do pela Zeal­ous Cre­ative.

    Em cer­ca de 11 min­u­tos de duração, acom­pan­hamos a história de Zero, que nasceu com o número 0 crava­do em seu peito e por con­ta dis­so tem qual­quer pos­si­bil­i­dade de crescer nega­do em uma sociedade divi­di­da por ess­es números. Ao con­hecer uma mul­her que tam­bém é um zero, o número que tan­to o perseguia acabou não sendo tão impor­tante. Mas o amor entre eles era proibido e logo as autori­dades dari­am um jeito para sep­a­rá-los. Então que uma grande sur­pre­sa surge…

    O cur­ta já gan­hou mais de 15 prêmios ao redor do mun­do e pos­sui leg­en­da para mais de 40 idiomas. No site ofi­cial é pos­sív­el encon­trar várias infor­mações inter­es­santes não só dos prêmios e críti­cas escritas a seu respeito, incluin­do uma do Matt Groen­ing cri­ador dos Os Simp­sons, mas tam­bém de como foi todo o proces­so de cri­ação da ani­mação, além de vários vídeos com dire­ito a ver­são comen­ta­da. O estú­dio tam­bém criou o lin­do cur­ta The Mak­er, que já pub­li­camos aqui no site.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=LOMbySJTKpg

  • El Vendedor de humo

    El Vendedor de humo

    Um jovem vende­dor ambu­lante chega em uma cidade paca­ta para com­er­cializar um pro­du­to bem inco­mum. No começo ninguém dá atenção por não enten­der o que ele está ten­tan­do vender. Uma vez que desco­brem, seu baú começa a ficar cheio de moedas e filas se for­mam, mas ninguém imag­i­na que ele pos­sui um grande segredo.

    El Vende­dor de Humo (2010), dirigi­do por Jaime Mae­stro, é uma ani­mação com visu­al muito bem pro­duzi­do, ten­do um cuida­do espe­cial nas tex­turas, ape­sar do cenário em ger­al ser mais sim­ples e com poucos ele­men­tos. Tam­bém é curioso notar que a espi­ral é um sím­bo­lo pre­dom­i­nante na estéti­ca do mes­mo. O grande destaque do cur­ta é seu óti­mo enre­do, além de uma diver­ti­da tril­ha sono­ra, pro­duzi­da pela ban­da Twelve Dolls.

    O cur­ta foi inteira­mente cri­a­do pelos alunos da esco­la de ani­mação Primer­Frame, que ficou bas­tante con­heci­da por causa do cur­ta Friend­Sheep, onde um lobo vai tra­bal­har em um escritório onde todos os fun­cionários são ovel­has e pre­cisa con­tro­lar seus instin­tos para não com­er nen­hum dos seus cole­gas de trabalho.

  • Le Miroir

    Le Miroir

    Como você sabe que o tem­po pas­sa, que está envel­he­cen­do? Os seus olhos não se deix­am enga­nar e o espel­ho é uma das fer­ra­men­tas de apoio nes­sa jor­na­da chama­da Vida. Aque­les momen­tos sim­ples, e muitas vezes efêmeros, de se olhar na frente do espel­ho, esco­var os dentes, se pen­tear, maquiar ou faz­er a bar­ba, se fos­sem fil­ma­dos, cola­dos dia após dia, dari­am uma sequên­cia de uma vida toda e foi com essa ideia que os irmãos sue­cos Ramon e Pedro cri­aram Le Miroir (2010), “O espel­ho” em francês.

    Fil­ma­do num fan­ta­sioso plano sequên­cia Le Miroir mostra des­de uma esco­v­a­da de dentes de um garo­to de seis anos até o últi­mo desli­gar de luzes do ban­heiro do mes­mo, só que idoso. Todas as fas­es da vida, a bar­ba, as espin­has, o amor, a fil­ha, o cansaço e afins são trata­dos num úni­co ambi­ente como se o tem­po cor­resse somente no cor­po do protagonista.

    Para ficar ain­da mais impres­sio­n­ante, os dire­tores con­vi­daram o ator Pier­rick Destraz, seu pai e fil­ho reais para pro­tag­oni­zar o homem que vê sua vida através do espel­ho. A câmera sem­pre na posição dos olhos dá a ideia de lem­brança, pas­san­do uma del­i­ca­da intim­i­dade ao espec­ta­dor numa sin­to­nia bas­tante poéti­ca. Provavel­mente você não irá encar­ar o espel­ho toda man­hã da mes­ma forma.

    Você pode ver o mak­ing of do cur­ta aqui.

  • Le Royaume

    Le Royaume

    O que é pre­ciso para ser um rei de ver­dade? Ter somente uma coroa e capa ver­mel­ha não é o sufi­ciente. É pre­ciso primeiro ter súdi­tos, nem que seja somente um, e tam­bém o mais impor­tante: um caste­lo! Com essa pre­mis­sa, acom­pan­hamos a jor­na­da de um pequeno rei no cur­ta Le Roy­aume (2010), tam­bém con­heci­do como “The king and the beaver”, foi escrito, dirigi­do e ani­ma­do por Nuno Alves Rodrigues, Ous­sama Bouachéria, Julien Chheng, Sébastien Hary, Aymer­ic Kevin, Ulysse Malas­sagne e Franck Monier, estu­dantes de grad­u­ação da famosa e son­ha­da esco­la de cin­e­ma de Gob­elins, na France.

    A história do cur­ta é bem sim­ples, mas muito bem desen­volvi­da, pos­suin­do um humor úni­co e sen­sa­cional, sem pre­cis­ar de qual­quer tipo de diál­o­go. O esti­lo lem­bra um pouco desen­hos ani­ma­dos feito a mão, com um toque francês a la O Pequeno Príncipe, mas com detal­h­es mais refi­na­dos no cenário. Aos poucos vamos con­hecen­do mais a história do reiz­in­ho e tam­bém imag­i­nan­do o que pode­ria ter acon­te­ci­do ante­ri­or­mente com ele, pois ele car­rega con­si­go uma pista do passado.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=Qw1wY6O7_x8

  • The Maker

    The Maker

    A ampul­heta do tem­po escoan­do e a neces­si­dade de cri­ar a obra per­fei­ta para que a vida ten­ha vali­do a pena, que algu­ma coisa per­maneça e con­tin­ue o que já foi feito. The Mak­er (2011), é um pre­mi­a­do cur­ta do estú­dio amer­i­cano Zeal­ous, tra­ta do tem­po como ele é, uma sucessão de even­tos e cri­ações que são con­tínuas, o eter­no retorno de for­ma positiva.

    O pequeno enre­do é pro­tag­on­i­za­do por uma criatu­ra bem ao esti­lo Tim Bur­ton, som­bria e ao mes­mo tem­po sim­páti­ca, um músi­co com o sím­bo­lo do Stradi­var­ius (famosa mar­ca de instru­men­tos de cor­da) na tes­ta. Ele corre con­tra o tem­po para dar vida a uma criatu­ra per­fei­ta, pelo menos aos seu olhos, alguém que con­tin­ue a músi­ca e a sua linhagem.

    A ani­mação é em stop-motion e cada detal­he de câmera colab­o­ra na con­strução do dra­ma que se dá através dos pequenos gestos do boneco e sua del­i­cadeza em manip­u­lar os obje­tos que darão vida à sua cri­ação além do vio­li­no, que é o instru­men­to mági­co da vida e é muito bem exe­cu­ta­do no cur­ta com a músi­ca “The Win­ter” de Paul Hal­ley. Neste vídeo você pode acom­pan­har um pouco do proces­so dos cri­adores na manip­u­lação da câmera e a magia que é fil­mar um stop-motion.

  • Alarm

    Alarm

    Não sei para vocês, mas para mim acor­dar de man­hã é sem­pre um grande desafio. Colo­co mais do que um alarme no celu­lar em inter­va­l­os difer­entes de tem­po, porque sei que vou desligá-lo e não vou acabar não acor­dan­do. O per­son­agem prin­ci­pal do cur­ta ani­ma­do Alarm (Cor­eia do Sul, 2009), cri­a­do pelo estú­dio de ani­mação MESAI, sofre croni­ca­mente desse mes­mo prob­le­ma de não con­seguir acor­dar e para isso criou todo o tipo de arti­man­has no seu apartamento.

    Ape­sar do enre­do ser bem sim­ples, o cur­ta con­segue pren­der bas­tante a atenção, não só pelo seu humor, mas tam­bém pela qual­i­dade da ani­mação, que é real­mente incrív­el, mis­tu­ran­do o esti­lo hiper­re­al­ista com mangá, uma mis­tu­ra bem inter­es­sante. Ele tam­bém faz uso de vários efeitos, como o bul­let-time, e sua úni­ca tril­ha sono­ra são os sons dos difer­entes tipos de alarmes.

    Para quem quis­er saber mais sobre a ani­mação, é pos­sív­el faz­er o down­load do cur­ta em alta qual­i­dade (720p HD) e tam­bém ter aces­so a algu­mas ima­gens do mak­ing off no site do MESAI. Ape­sar do con­teú­do dele ser prati­ca­mente todo em core­ano, o menu está em inglês, então dá pra nave­g­ar sem muitos prob­le­mas (ape­sar dele ser todo em flash aarrrggghhhhhh!).

    httpv://www.youtube.com/watch?v=vN83DfmH9Tw

  • Brutal Relax

    Brutal Relax

    Sen­hor Oli­vares é um cara bem pecu­liar, para não diz­er out­ras coisas, que sofre de algu­ma sín­drome ner­vosa e por con­ta dis­so recebe instruções do seu psiquia­tra para tirar férias em um lugar bem cal­mo e par­adis­ía­co, onde pudesse relaxar com­ple­ta­mente. O mais impor­tante, não impor­ta onde ele vá, é que fique sem­pre cal­mo e relaxado!

    Esta é a intro­dução de Bru­tal Relax (Espan­ha, 2010), dirigi­do por Adrián Car­dona, Rafa Den­grá e David Muñoz, um cur­ta que não é nada do que você pos­sa imag­i­nar ini­cial­mente. Afi­nal, o que pode­ria acon­te­cer de tão bizarro? Que tal: mon­stros sur­girem do mar e começarem a matar todo mun­do? Mas enquan­to Sr. Oli­vares está tran­qui­lo curtin­do a sua músi­ca, nada dis­so parece lhe afe­tar, até que algo o faz perder a paciên­cia e tudo a sua vol­ta muda.

    Durante os primeiros min­u­tos já é pos­sív­el perce­ber um cer­to humor, prin­ci­pal­mente pelo per­son­agem prin­ci­pal lem­brar um pouco o excên­tri­co Borat (EUA, 2006), com seu sor­riso exager­a­do, bigode saliente e cos­tumes pra lá de exóti­cos. E esse humor con­tin­ua após a aparição dos zumbis marí­ti­mos, mas puxan­do mais para o lado negro. Ape­sar de muitas situ­ações serem para lá de bizarras, é muito difí­cil não soltar algu­mas gar­gal­hadas de tão exager­adas que elas são. Aliás, o cur­ta merece um grande destaque por con­ta dos óti­mos efeitos espe­ci­ais pro­duzi­dos pela equipe, é lit­eral­mente de arran­car os olhos.

    Quase ia esque­cen­do de diz­er, Bru­tal Relax não é recomen­da­do para pes­soas com coração fra­co, aver­sas a cenas extrema­mente vio­len­tas e pro­te­toras dos dire­itos dos zumbis marinhos.

    O cur­ta foi exibido no FANTASPOA 2011 (Fes­ti­val Inter­na­cional de Cin­e­ma Fan­tás­ti­co de Por­to Ale­gre), even­to imperdív­el para quem gos­ta de cur­tas e filmes do gênero.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=f‑6znWUbWWw