Author: Daniel Kossmann Ferraz

  • Crítica: Como Treinar Seu Dragão

    Crítica: Como Treinar Seu Dragão

    como treinar seu dragão

    Soluço, assim como a per­son­agem Alice (de Alice no País das Mar­avil­has[bb]), não quer aceitar as regras de seu mun­do, um lugar onde o medo, o ran­cor e a vio­lên­cia pros­per­am. Ele então decide mudar, jun­to com seu ami­go dragão Banguela, todo o modo de viv­er da sua paca­ta cidadez­in­ha em Como Treinar O Seu Dragão (How to Train Your Drag­on, EUA, 2010), com roteiro e direção de Chris Sanders e Dean Deblois. A história foi basea­da na série literária, de mes­mo nome, da escrito­ra Cres­si­da Cow­ell.

    Assim como várias out­ras ani­mações, que foram lançadas nos últi­mos tem­pos, esta tam­bém é para todas as idades. Neste caso, um dos prin­ci­pais temas é o ques­tion­a­men­to a respeito da tradição. “Porque guer­reamos con­tra aque­le ‘povo estran­ho’? Pois des­de a época do meu bisavô foi assim e eles mataram muitos de nos­sa família, por isso vou me vin­gar deles!”, a vio­lên­cia geran­do mais vio­lên­cia. Não have­ria uma out­ra alter­na­ti­va para este mun­do onde guer­ras e armas são retrata­dos como um jogo de videogame? Pois cada vez mais, fal­ta o descon­hec­i­men­to tão necessário para elas existirem.

    A Dream­works[bb] parece ter acer­ta­do em cheio com Como Treinar O Seu Dragão, se igua­lan­do (ou até superan­do) a sua rival Pixar em que­si­to de qual­i­dade. E não é só da ani­mação que me refiro, mas tam­bém da história, piadas e de seus per­son­agens, muito caris­máti­cos por sinal. Mere­cen­do um espe­cial destaque à qual­i­dade da tex­tu­ra dos pêlos e cabe­los, assim como seus movi­men­tos, que ficaram com uma verossim­il­hança incrív­el. É impos­sív­el não ver o filme sem ficar apre­cian­do ess­es, e out­ros, detalhes.

    Em Como Treinar O Seu Dragão cada espé­cie foi tra­bal­ha­da para que, além de pos­suírem suas próprias car­ac­terís­ti­cas de com­por­ta­men­to, terem ataques e forças difer­entes, como em um jogo de RPG[bb]. Por exem­p­lo, um dos per­son­agens faz cer­ta refer­ên­cia ao jogo quan­do fica citan­do todas as habil­i­dades deles, que ele deco­rou do ‘man­u­al’ dos dragões. E de assus­ta­dor, os dragões viram amis­tosos e bonit­in­hos, muitas vezes até com car­ac­terís­ti­cas bem feli­nas. Já pen­sou como seria ter um “gat­in­ho” voador cus­pin­do fogo den­tro do seu apartamento?

    Como Treinar O Seu Dragão mostra que se ques­tion­ar­mos o porquê das motivações/causas de cer­tos even­tos, poderíamos voar bem mais alto, o que lit­eral­mente acon­tece no filme.

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  • Crítica: O Livro de Eli

    Crítica: O Livro de Eli

    o livro de eli
    Eli (Den­zel Wash­ing­ton[bb]) é um mochileiro solitário que per­corre sem­pre em direção leste, num mun­do pós-apoc­alíp­ti­co, pro­te­gen­do um livro sagra­do em O Livro de Eli (The Book of Eli, EUA, 2010), de Albert e Allen Hugh­es.

    Ao con­trário de Faren­heit 451, o vilão des­ta história, Carnegieo (Gary Old­man[bb]), está a procu­ra de livros , em especí­fi­co o que Eli car­rega con­si­go não para destruí-lo, mas para usá-lo como uma “arma” para obter mais poder, que por sinal é a úni­ca críti­ca que o filme propões a respeito deste tema. Sobre este assun­to, há tam­bém uma piad­in­ha (pra não diz­er uma críti­ca) onde Carnegieo man­da queimar o livro “O Códi­go da Vin­ci[bb]”, jun­to com out­ros livros, pois não pos­suem nen­hum valor.

    Assim como em vários out­ros filmes amer­i­canos, tudo acon­tece nos Esta­dos Unidos e é lá que tam­bém está a sal­vação para a humanidade, como se não exis­tisse mais nada, pelo menos sig­nif­i­cante, no mun­do inteiro. Não há quase nen­hu­ma expli­cação do que pode ter acon­te­ci­do para o plan­e­ta estar naque­la situ­ação ou algum apro­fun­da­men­to nos per­son­agens do filme, fican­do tudo muito supér­fluo demais. Sem falar nos atos/conhecimentos extra­ordinários (para não diz­er de super-heróis) dos per­son­agens prin­ci­pais, que faz você pen­sar “como é que ele(a) teve tem­po de faz­er aqui­lo se.…?” ou “quan­do que ele(a) apren­deu a faz­er isso?”, entre várias out­ras perguntas.

    Em O Livro de Eli a fé, entre out­ros aspec­tos reli­giosos, é bas­tante enfa­ti­za­da. Chegan­do até a se afir­mar que a humanidade está fada­da ao caos, destru­ição e ao não desen­volvi­men­to int­elec­tu­al dev­i­do à fal­ta deste livro sagra­do. Afir­mação, no mín­i­mo, forte, mas em um momen­to em que as religiões estão cada vez mais em “crise”, tudo parece ser váli­do para reafirmá-las.

    Ape­sar de haver uma grande sur­pre­sa no final de O Livro de Eli, fica uma sen­sação estran­ha de que aque­la rev­e­lação não con­venci­men­to dela. Aliás, este sen­ti­men­to fica pre­sente durante todo o filme. Por exem­p­lo, neste futuro pós-guer­ra quase não se vê mul­heres (con­tei seis), e as exis­tentes são escravas, total­mente sub­mis­sas. Como isto é pos­sív­el se quem vai para a guer­ra são os home­ns e é sabido que elas são a maio­r­ia pop­u­la­cional no mun­do? Uma visão bem machista deste cenário que, por quase não exi­s­tirem mul­heres, fica ain­da mais apocalíptico.

    O Livro de Eli, ape­sar de tudo, con­segue ser um entreten­i­men­to razoáv­el, sem muitas pre­ten­sões, com algu­mas cenas de ação muito bem feitas e as vezes até engraçadas.

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  • Crítica: Um Sonho Possível

    Crítica: Um Sonho Possível

    um sonho possível

    Michael Oher (Quin­ton Aaron) era um ado­les­cente negro, nasci­do em um bair­ro pobre, que provavel­mente pode­ria estar pre­so ou mor­to se não fos­se por Leigh Anne Touhy (San­dra Bul­lock[bb]), que o acol­heu para den­tro de sua família, em Um Son­ho Pos­sív­el (The Blind Side, EUA, 2009), o novo filme de John Lee Han­cock[bb], basea­do em fatos reais.

    Leigh é uma mul­her bas­tante deter­mi­na­da e tra­bal­hado­ra, tem como profis­são dec­o­rado­ra, mãe de dois fil­hos e casa­da com um ex-atle­ta, Sean Tuo­hy (Tim McGraw). Eles são uma família bem suce­di­da finan­ceira­mente, pos­suem uma rede de restau­rantes, e vivem uma vida ‘nor­mal’ até o dia que se deparam com Michael, de camise­ta e bermu­da andan­do pela rua em pleno inver­no, enquan­to estavam indo para casa. Leigh, subita­mente, toma a decisão de levá-lo jun­to e, o que ini­cial­mente seria ape­nas um gesto de bon­dade na noite antes do feri­ado de Ação de Graças, tornou-se uma exper­iên­cia que mudou a vida de todos.

    Basea­do no livro The Blind Side: Evo­lu­tion of a Game, de Michael Lewis, Um Son­ho Pos­sív­el foi lança­do, apro­pri­ada­mente, nos Esta­dos Unidos na época do feri­ado de Ação de Graças, uma data para reunir as famílias e, depen­den­do da crença, agrade­cer a Deus. Só que neste caso, a religião é apre­sen­ta­da de maneira bem explíci­ta. O cris­tian­is­mo está estam­pa­do em todo lugar, às vezes mais implici­ta­mente, out­ras não. Curioso perce­ber que ape­sar de alguns per­son­agens se uti­lizarem de intenções cristãs para jus­ti­ficar seus atos, surge a dúvi­da da sua veraci­dade (out­ras são con­fir­madas fal­sas) mas, ape­sar de tudo ter­mi­nam com a imagem de bom samar­i­tano. A estru­tu­ra famil­iar tam­bém é bas­tante reforça­da, só que des­ta vez, com a mul­her no coman­do e o mari­do fazen­do, às vezes, o  papel de mãe.

    Tec­ni­ca­mente o filme ape­nas repete a fór­mu­la amer­i­can way of life and hol­ly­wood style (jeito amer­i­cano de viv­er e esti­lo hol­ly­wood­i­ano), rec­hea­do com tril­ha sono­ra para reforçar as emoções e, com uma lin­eari­dade quase impecáv­el, sem grandes sur­pre­sas, para agradar o públi­co de todas as idades (“dos 8 aos 80 anos”, como diria um pro­du­tor amer­i­cano). Mes­mo poden­do ter abor­da­do cer­tos assun­tos (pre­con­ceito, pobreza, edu­cação, dro­gas e o próprio altruís­mo), eles são rap­i­da­mente “fecha­dos” assim que apare­cem, de for­ma a não ger­ar qual­quer incô­mo­do ou inqui­etação. Afi­nal, você está lá para se entreter e ser feliz.

    Um Son­ho Pos­sív­el é politi­ca­mente cor­re­to e inspi­rador para a pro­dução de atos altruís­tas, de prefer­ên­cia por aque­les finan­ceira­mente favorecidas.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=qacQrxVl0Xo
  • Crítica: Os inquilinos

    Crítica: Os inquilinos

    os inquilinos

    Val­ter (Marat Descartes) mora na per­ife­ria de São Paulo e é um tra­bal­hador braçal, sem carteira assi­na­da, durante o dia, e à noite estu­da em um cur­so suple­ti­vo, para ten­tar assim con­seguir um emprego mel­hor. Mora jun­to com sua esposa, Iara (Ana Car­bat­ti), e mais dois fil­hos pequenos, um meni­no e uma meni­na, em uma casa que seu próprio pai con­stru­iu “tijo­lo por tijo­lo”, segun­do o próprio. A roti­na de toda sua família é abal­a­da quan­do três novos inquili­nos se mudam para a casa ao lado. Pode­ria ser mais um filme sobre as difi­cul­dades do cotid­i­ano, não nec­es­sari­a­mente brasileiro, de uma família ten­tan­do sobre­viv­er “decen­te­mente”, mas Os inquili­nos (Os Inquili­nos – Os inco­moda­dos que se mudem, Brasil, 2009), de Sér­gio Bianchi, vai muito mais além.

    Assim como as out­ras obras do dire­tor, aqui há tam­bém a con­tradição entre o que é fal­a­do e feito, de uma maneira cada vez mais sutil, ou seja, com situ­ações que de tão comuns, não chamam mais muito a atenção. Soco no estô­ma­go é pouco para descr­ev­er este novo filme.

    A primeira toma­da do filme exibe uma mag­ní­fi­ca árvore, cheia de fol­has verdes, no meio de um enx­ame de casas sim­ples, com seus tijo­los á mostra, crian­do já aqui uma antag­o­nia gri­tante. Seguin­do a lin­ha de pen­sa­men­to do próprio sub­tí­tu­lo do filme (os inco­moda­dos que se mudem), vem a per­gun­ta: a natureza seria a inco­moda­da com os atu­ais “inquili­nos” viz­in­hos? Ela dev­e­ria então se mudar? Mas ela já não esta­va aqui bem antes deles chegarem? A mes­ma dúvi­da fica sobrevoan­do durante toda a tra­ma da família de Val­ter. Dev­e­ria então  se mudar, prin­ci­pal­mente se foi seu pai que con­stru­iu aque­la casa, ou seja, ele chegou antes. É aí que se ini­cia um, sutil, ques­tion­a­men­to sobre a pro­priedade em si, e até onde é o seu lim­ite, com óti­mas tomadas de Val­ter ten­tan­do afir­mar em seu imag­inário, ou não, sua posição de macho-alfa per­ante os vizinhos.

    Ape­sar da vio­lên­cia ser um tema recor­rente em Os inquili­nos, não há nen­hu­ma cena explíci­ta, tudo acon­tece nas entre­lin­has. O mais inter­es­sante é que todas aque­las situ­ações são inde­pen­dentes de classe social, mas na per­ife­ria, ela parece mais óbvia. Há todo um cli­ma de ten­são, que infe­liz­mente foi pobre­mente con­duzi­do (assim como o  sus­pense em ger­al). A vio­lên­cia, além de ger­ar o medo, tam­bém insti­ga a curiosi­dade per­ante ela, por exem­p­lo em pro­gra­mas de tele­visão assis­ti­dos à noite pela família, que durante o dia faz de tudo para fugir dela.

    A sex­u­al­iza­ção infan­til, ape­sar de estar em segun­do plano, é aos poucos con­duzi­da durante a história, que começa da noti­cia tele­vi­sion­a­da do estupro de uma meni­na encon­tra­da mor­ta per­to da região, até a chocante cena de sua fil­ha, uma meni­na pos­sivel­mente com menos de 12 anos, dançan­do um funk com roupas jus­tas, na rua jun­to com as ami­gas. O sexo onde não há sexo, que pode ser detur­pa­do depen­den­do de quem o vê.

    Sem ficar apon­tan­do dedos na cara e dan­do lições de moral, Os Inquili­nos inqui­eta e provo­ca. Se for assi­s­tir, vá prepara­do para um óti­mo cin­e­ma-denún­cia de Bianchi.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=EDPvBvnMlPo

    Entre­vista com Sér­gio Bianchi:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=QgIVpo1KJ9c

  • Crítica: Ilha do Medo

    Crítica: Ilha do Medo

    ilha do medo

    O ano é 1954, auge da Guer­ra Fria, onde novos e mais extremos trata­men­tos psiquiátri­cos, talvez influ­en­ci­a­dos pelos exper­i­men­tos nazis­tas, são ado­ta­dos. Ted­dy Daniels (Leonar­do DiCaprio[bb]) é um poli­cial fed­er­al e vet­er­a­no da 2ª Guer­ra Mundi­al, que em con­jun­to com Chuck Aule (Mark Ruf­fa­lo[bb]), vai a Shut­ter Island inves­ti­gar o desa­parec­i­men­to de uma inter­na­da no man­icômio judi­cial local. Esta é a tra­ma prin­ci­pal de Ilha do Medo (Shut­ter Island, EUA, 2009), o novo filme de Mar­tin Scors­ese, um thriller psi­cológi­co mis­tu­ra­do com esti­los como poli­cial e hor­ror gótico.

    O que ini­cial­mente pare­cia ser ape­nas mais uma inves­ti­gação, em um local macabro, trans­for­ma-se em uma imer­são à loucura/sanidade humana. Não ape­nas ques­tio­nan­do difer­entes méto­dos de trata­men­to, e suas eficá­cias, o filme tam­bém inci­ta a dúvi­da sobre o próprio con­ceito de lou­cu­ra e, como tudo pode se trans­for­mar de acor­do com o pon­to de vista. Ele foi basea­do no livro Ilha do Medo, de Den­nis Lehane, lança­do aqui no Brasil pela edi­to­ra Cia das Letras.

    Ini­cial­mente, Ilha do Medo ger­ou a impressão de ser meio exager­a­do e bas­tante ten­den­cioso, prin­ci­pal­mente dev­i­do à tril­ha sono­ra impac­tante (que de tan­to ser repeti­da, aca­ba-se acos­tu­man­do). Quase da metade do filme para o final, o cli­ma enga­ta mais, fican­do tudo mais nat­ur­al, e a tra­ma fica muito inter­es­sante. Mes­mo abor­dan­do um tema já meio bati­do, con­segue envolver bas­tante em toda a bus­ca pela ver­dade na inves­ti­gação de Ted­dy com o seu par­ceiro, trazen­do ape­nas em breves momen­tos a sen­sação de estar­mos acom­pan­han­do e anal­isan­do tudo de fora. Assim como, dev­i­do à óti­ma fotografia e edição, é pos­sív­el facil­mente imer­gir den­tro do cli­ma alu­cinógeno, e às vezes claus­trofóbi­co, cri­a­do por Scorsese.

    Ilha do Medo não é para quem está bus­can­do ação e tiros, mas sim para quem quer imer­gir em uma tra­ma cheia de ram­i­fi­cações ines­per­adas. Com um óti­mo elen­co, desta­can­do a atu­ação de DiCaprio, esta é uma exce­lente opor­tu­nidade para (re)pensar na sua própria sanidade.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=xruhUAK5mbo

  • Crítica: O amor segundo B. Schianberg

    Crítica: O amor segundo B. Schianberg

    Uma artista plás­ti­ca e video­mak­er, Mar­i­ana Pre­vi­a­to, e um ator, Gus­ta­vo Macha­do, são semi­con­fi­na­dos, durante 3 sem­anas, em um aparta­men­to de São Paulo, com câmeras estrate­gi­ca­mente local­izadas, receben­do ape­nas uma sinopse e algu­mas instruções do dire­tor. Parece um pro­je­to inter­es­sante, não? Este é O amor segun­do B. Schi­an­berg, o novo filme de Beto Brant.

    Basea­do num per­son­agem do livro Eu rece­be­ria as piores notí­cias dos seus lin­dos lábios, de Marçal Aquino, Ben­jamin Schi­an­berg é um psi­canal­ista e pro­fes­sor uni­ver­sitário, que tem como prin­ci­pal inter­esse, refle­tir sobre o com­por­ta­men­to amoroso a par­tir de obser­vações da real­i­dade, que está ape­nas pre­sente como nar­rador (Felipe Ehren­berg) em áudio no filme. Sua fil­ha Gala (Mar­i­ana Pre­vi­a­to), por dese­jo do pai, seduz Félix (Gus­ta­vo Macha­do) para seu aparta­men­to afim de aju­dar nas pesquisas dele.

    O amor segun­do B. Schi­an­berg cria uma sen­sação bem ínti­ma com os pseudop­er­son­agens, pois, usan­do prati­ca­mente só o som ambi­ente e oito câmeras “robo­t­i­zadas”, que foram insta­l­adas no aparta­men­to, acom­pan­hamos os momen­tos mais, e menos, ínti­mos do casal. Este não é mais um filme esti­lo real­i­ty show, ou até uma “casa (aparta­men­to) dos artis­tas”, pois o foco é a (des)construção de um amor e, não sim­ples­mente um Big Broth­er[bb]. Fica bas­tante a dúvi­da a respeito do real e do inter­pre­ta­do, e até mes­mo se há qual­quer tipo de direção. Tudo parece ser tão descom­pro­mis­sa­do e amador, crian­do a impressão de que ele pode­ria estar sendo exibido no Youtube, no canal de Schiamberg.

    Há um bur­bur­in­ho acon­te­cen­do, pois no mes­mo há cenas de nu frontal, mas­culi­no e fem­i­ni­no, sexo, e palavrões. Mas é pos­sív­el exibir, verossi­ma­mente, uma história de amor, des­de o começo ao fim, sem ess­es ele­men­tos? Acred­i­to que não! Chega a ser estran­ho ain­da se deparar com comen­tários do tipo em um tem­po onde tan­to se fala sobre a liber­dade sex­u­al e a bus­ca pela ‘ver­dade’.

    É necessário estar aber­to para uma exper­iên­cia difer­ente da nor­mal, ao se assi­s­tir O amor segun­do B. Schi­an­berg, mas para quem já viu algo do movi­men­to Dog­ma 95, não irá estran­har tan­to. Este é um filme bas­tante reflex­i­vo sobre o amor[bb], fal­so e ver­dadeiro, e, ape­sar de mais indi­re­ta­mente, a respeito de um modo mais pecu­liar de se viver.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Pata mais infor­mações infor­mações sobre o filme, acesse esta pági­na da TV Cul­tura.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=I1nB-jRZ8e4

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  • Crítica: Confissões de uma Garota de Programa

    Crítica: Confissões de uma Garota de Programa

    confissao de uma garota de programa

    Chelsea (Sasha Grey) é uma pros­ti­tu­ta de luxo em Con­fis­sões de uma Garo­ta de Pro­gra­ma (The Girl­friend Expe­ri­ence, EUA, 2009), de Steven Soder­bergh[bb], e assim como o títu­lo orig­i­nal sug­ere, ela ofer­ece uma exper­iên­cia mais difer­ente a seus clientes, a de uma namorada.

    Este não é mais um daque­les filmes que somente retra­ta a história de uma pros­ti­tu­ta que tem um namora­do, neste caso Chris (Chris San­tos[bb]), e todos os prob­le­mas que sua profis­são pode provo­car neste romance. O tema mais aparente é a crise finan­ceira, que afe­ta todas as profis­sões, inclu­sive a de Chelsea, que é con­sid­er­a­da a mais anti­ga de todas, e pes­soas ten­tan­do superá-la. O casal tam­bém está procu­ran­do maneiras de gan­har mais din­heiro, nos seus respec­tivos tra­bal­hos. Ele ten­tan­do vender planos mais caros, na acad­e­mia que tra­bal­ha, e ela queren­do inve­stir mais em seu site e obter mel­hores qual­i­fi­cações em fóruns on-line que anal­isam o seu tipo de serviço.

    Para quem não sabe, Sasha Grey é uma atriz pornô, e esta é a sua estreia como atriz. Soder­bergh ao escol­her ela, pro­duz­iu um resul­ta­do bem inter­es­sante não só no próprio per­son­agem, mas no filme inteiro tam­bém. Em uma toma­da, um repórter a per­gun­ta se é real­mente pos­sív­el um cliente con­hecer quem é a Chelsea de ver­dade e, ela responde que, se alguém quisesse que ela fos­se ela mes­ma, não estari­am pagan­do. Aí vem a per­gun­ta, é pos­sív­el real­mente saber quem é tam­bém, como pes­soa, a própria Sasha Grey? Todos que a “con­hecem”, tam­bém não estão de cer­ta for­ma pagan­do por uma personagem?

    A tra­ma ger­al em si é bem sim­ples, mas dev­i­do à edição bem fei­ta, que a exibe de for­ma total­mente não lin­ear, como se mon­tasse aos poucos um grande que­bra cabeça, esti­lo que reme­teu bas­tante ao já uti­liza­do em 21 Gra­mas, de Ale­jan­dro González-Iñár­ritu. A fil­magem de Con­fis­sões de uma Garo­ta de Pro­gra­ma, lem­bra muito um doc­u­men­tário, com movi­men­tos con­stantes na câmera que, as vezes, fica bas­tante cansati­vo. As falas dos per­son­agens, que foram semi-impro­visadas, tam­bém aju­daram a cri­ar esse aspec­to mais documental.

    Con­fis­sões de uma Garo­ta de Pro­gra­ma não é mais um caso de uma Bruna Sur­fistin­ha, em seu diário ela escreve que tipo de roupa esta­va usan­do e alguns detal­h­es do encon­tro, mas nada rela­ciona­do a sexo. O inter­es­sante é que sexo está em todo lugar no filme, exce­to que não há sexo. Uma óti­ma opor­tu­nidade para se (re)pensar sobre as relações, prin­ci­pal­mente a inco­mu­ni­ca­bil­i­dade den­tro delas.

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    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=ZgB2Qx2n4i0

  • Crítica: Preciosa – Uma História de Esperança

    Crítica: Preciosa – Uma História de Esperança

    Preciosa

    A edu­cação, tan­to em casa quan­to na esco­la, é um tema que nem sem­pre é abor­da­do de maneira realís­ti­ca e ger­ado­ra de dis­cussões pro­fun­das, em filmes mais com­er­ci­ais. Difer­ente de Pre­ciosa – Uma História de Esper­ança (Pre­cious: Based on the Book “Push” by Sap­phire, EUA, 2009), de Lee Daniels, que, de for­ma crua e indi­ges­ta, não só a enfa­ti­za, como fala tam­bém de out­ros assun­tos del­i­ca­dos como: amor, abu­so e homossexualismo.

    Claireece Pre­cious Jones (Gabourey Sidibe) é uma ado­les­cente de 16 anos, obe­sa e negra. Ela vive com a sua mãe, Mary (Mo’Nique), que pas­sa o dia inteiro em casa assistin­do TV e a tratan­do como uma serviçal. A relação entre as duas é bas­tante con­fusa e vio­len­ta. A mãe a agride físi­ca e psi­cológi­ca­mente, afir­man­do que Claireece é bur­ra e que nun­ca será mel­hor do que ela em nada. Um com­por­ta­men­to que aca­ba sendo incor­po­ra­do pela garota.

    Toda vez que Claireece encon­tra-se em um momen­to difí­cil, foge para um mun­do imag­inário onde é famosa e dese­ja­da por todos. Um lugar onde a sua pre­sença real­mente impor­ta. Tudo isso acom­pan­hado de uma tril­ha sono­ra “glam­ourosa”, reme­tendo á fama e ao suces­so, que tam­bém está pre­sente nas tomadas que mostram o que real­mente está acon­te­cen­do nes­sas situ­ações, enfa­ti­zan­do a con­fusão, de cer­ta for­ma esquizofrêni­ca, da sua per­cepção da real­i­dade. Acon­tec­i­men­tos que graças a óti­ma direção, con­seguem mes­mo mostran­do pouco, diz­er tudo.

    A importân­cia de uma edu­cação mais humana e menos genéri­ca, para a for­mação e evolução pes­soal, é retrata­da pela esco­la “Cada Um Ensi­na Um”, a qual Claireece é trans­feri­da após ser expul­sa da ante­ri­or, por estar grávi­da de seu segun­do fil­ho. Lá, pela primeira vez em sua vida, sente-se como uma pes­soa, graças à ded­i­cação e atenção da pro­fes­so­ra Mrs. Rain (Paula Pat­ton). Um dos méto­dos uti­liza­do, durante e fora das aulas, é que os alunos escrevam em um cader­no os seus pen­sa­men­tos, que é muito pare­ci­do com a téc­ni­ca usa­da pela per­son­agem de Hillary Swank em Escritores da Liber­dade, de Richard LaGrave­nese, para não só estim­ulá-los á escr­ev­er, mas tam­bém para refle­tirem sobre suas próprias vidas.

    O tipo de abor­dagem uti­liza­da para retratar ess­es temas, lem­bra bas­tante out­ros sur­preen­dentes filmes como: A pro­fes­so­ra de piano, de Michael Haneke, que retra­ta tam­bém uma relação muito doen­tia, e depen­dente, entre mãe e fil­ha e, Bad Boy Bub­by, de Rolf de Heer, a história de um homem que ficou prati­ca­mente metade da sua vida tran­ca­do em um quar­to, moran­do só com a mãe, descon­hecen­do tudo que exis­tia no mun­do. O enre­do, de Pre­ciosa, foi basea­do no livro Push, de Sap­phire, lança­do no Brasil como “Pre­ciosa”, pela edi­to­ra Record.

    Pre­ciosa, ape­sar de ser um filme sobre super­ação, não cai na mesmice de apre­sen­tar os fatos sem­pre de maneira açu­cara­da, pas­san­do a impressão de que ultra­pas­sar cer­tas bar­reiras é fácil, rápi­do e que geral­mente ter­mi­nam bem. Além dis­so, deixa claro que, não faz­er nada é escol­her um dos lados.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=bmp0Dlz0HwY

    Leonar­do Campos
  • Crítica: Um Olhar do Paraíso

    Crítica: Um Olhar do Paraíso

    um olhar do paraíso

    Susie Salmon (Saoirse Ronan[bb]) é uma meni­na estupra­da e assas­si­na­da, aos 14 anos, em uma época que, segun­do ela, isso ain­da não era nor­mal, não fazia parte do dia-a-dia da polí­cia, nem havia foto de cri­anças desa­pare­ci­das nos pacotes de leite.

    Um Olhar do Paraí­so (The Love­ly Bones, EUA/Nova Zelândia/Reino Unido, 2009), de Peter Jack­son[bb], retra­ta a vida de Susie antes e depois de mor­rer. Seu espíri­to fica pre­so em um “mun­do inter­mediário”, uma espé­cie de lim­bo, onde a obser­vação do mun­do dos vivos é pos­sív­el, até sen­tir que pode con­tin­uar adiante.

    Quan­do vi o trail­er, faz alguns meses, fiquei bem empol­ga­do com o que pode­ria ser o filme, mas, ape­sar de algu­mas coisas muito boas, o sal­do em ger­al foi mais neg­a­ti­vo que pos­i­ti­vo. A nar­ra­ti­va é muito ado­les­cente, com um romancez­in­ho exager­a­do, onde tudo é muito bonit­in­ho e com vários, e desnecessários, flash­backs. O pon­to forte são os efeitos espe­ci­ais, retratan­do esse “mun­do imag­inário”, que tam­bém traz várias refer­ên­cias à ele­men­tos da história, que são belis­si­ma­mente cri­a­dos dig­i­tal­mente, ape­sar da junção de cer­tos ele­men­tos ter fica­do extrema­mente brega.

    Nor­mal­mente, os psi­co­patas em filmes, são car­ac­ter­i­za­dos como per­son­agens que inci­tam a curiosi­dade pelo seu jeito mis­te­rioso e obses­si­vo, assim tam­bém como cer­tos per­son­agens loucos. Aqui, George Har­vey (Stan­ley Tuc­ci[bb]), é total­mente vazio e, bem estereoti­pa­do visual­mente e ges­tual­mente. Haven­do até a bati­da cena dele para­do atrás de uma janela, obser­van­do sua próx­i­ma víti­ma. Para falar a ver­dade, não foi só ele, mas todos os per­son­agens foram car­ac­ter­i­za­dos de maneira muito fra­ca e superficial.

    Um Olhar do Paraí­so é exten­so demais, cansan­do bas­tante, prin­ci­pal­mente dev­i­do a muitas tomadas que pare­cem ser com­ple­ta­mente desnecessárias, poden­do ape­nas faz­er parte dos extras do DVD, pois não acres­cen­tam nada à história, pare­cen­do às vezes até que são de out­ro filme.

    Fico em dúvi­das se o públi­co alvo, ado­les­centes prin­ci­pal­mente, irá mes­mo gostar do filme, e entre o públi­co mais vel­ho, a opinião tam­bém não está sendo nada boa. Mas, ape­sar de tudo, Um Olhar do Paraí­so vale ser vis­to, para quem tiv­er paciên­cia, pelas eston­teantes cenas pro­duzi­das digitalmente.

    Con­fi­ra tam­bém a críti­ca deste filme no blog Claque ou Cla­que­te, por Joba Tri­dente.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=wrfOO4PQ1FU

  • Crítica: Percy Jackson e o Ladrão de Raios

    Crítica: Percy Jackson e o Ladrão de Raios

    percy_jackson

    Per­cy Jack­son (Logan Ler­man[bb]) é um meni­no que tem difi­cul­dades na esco­la, por causa da sua dislex­ia e déficit de atenção, e de adap­tação em ger­al. Tem somente um ami­go e não con­segue enten­der porque sua mãe gos­ta do padras­to, mes­mo ele sendo um cara total­mente intol­eráv­el e repug­nante. Mas tudo muda em sua vida quan­do é ata­ca­do por sua pro­fes­so­ra sub­sti­tu­ta, Mrs Dodds (Maria Olsen), que na ver­dade é uma Fúria (tam­bém con­heci­da como Erí­nia), questionando‑o sobre o escon­der­i­jo dos Raios. Este inci­dente aca­ba rev­e­lando que ele é um semi­deus, fil­ho de Posei­don (Kevin McK­idd[bb]), e que as pes­soas mais próx­i­mas têm lig­ações com todo este mun­do de mitos e magias.

    Esta é a base do enre­do de Per­cy Jack­son e o Ladrão de Raios (Per­cy Jack­son and the Light­ning Thief, EUA, 2010), de Chris Colum­bus, inspi­ra­do na obra de Rick Rior­dan. As com­para­ções des­ta história com Har­ry Pot­ter são inevitáveis, ain­da mais pelo fato de Colum­bus ter dirigi­do os dois primeiros filmes da série. Como não li nen­hum dos livros, de ambas as séries, e só assisti ao ter­ceiro filme do Har­ry Pot­ter, fico bem lim­i­ta­do pra faz­er qual­quer tipo de com­para­ção, mas achei bem mais atraente o fato do filme ter como tema prin­ci­pal as mitolo­gias em vez de bruxaria.

    O filme mostra uma ver­são atu­al­iza­da das mitolo­gias, em con­jun­to com toda a mod­ernidade do mun­do atu­al, trazen­do alguns resul­ta­dos bem engraça­dos, como a uti­liza­ção da parte espel­ha­da de um iPod, para olhar a medusa, e um All Star com asas, para voar. O rit­mo mais acel­er­a­do, como os mitos foram abor­da­dos, seguin­do o fluxo das infor­mações de hoje em dia, sem ficar se pren­den­do a lon­gas expli­cações, tam­bém ficou bem inter­es­sante. Insti­gan­do mais facil­mente a curiosi­dade de quem vê o filme, prin­ci­pal­mente do públi­co mais novo, para depois pesquis­ar, as infor­mações, por si próprio.

    Entre­tan­to, há tam­bém uma acel­er­ação na evolução dos per­son­agens, que ficou, em cer­tos momen­tos, atro­pela­da. Não há, prati­ca­mente, aque­la fase de tran­sição que ocorre no con­hec­i­men­to e apren­diza­do de uma nova téc­ni­ca de luta, por exem­p­lo. As coisas sim­ples­mente vão acon­te­cen­do como se nada pre­cisas­se ser apren­di­do ou treina­do. Isto lem­bra bas­tante alguns jogos de videogames, onde bas­ta você ter o con­t­role em mãos que, sem nen­hu­ma ou quase nen­hu­ma instrução, é pos­sív­el faz­er coisas incríveis com o seu per­son­agem na tela. O que, de cer­ta for­ma, pode difi­cul­tar o proces­so de envolvi­men­to e pos­síveis iden­ti­fi­cações na jor­na­da do herói Per­cy Jack­son. Se a car­ac­ter­i­za­ção dos per­son­agens, prin­ci­pal­mente os deuses, e os cenários são pobre­mente elab­o­ra­dos, geran­do a impressão de que você esta assistin­do a uma mon­tagem mal fei­ta, da época gre­ga, em um teatro bara­to, os efeitos espe­ci­ais foram muito bem tra­bal­ha­dos, não haven­do aque­la sen­sação de que os seres mitológi­cos foram inseri­dos através da Chro­ma Key.

    Per­cy Jack­son e o Ladrão de Raios é um filme para quem está bus­can­do por diver­são e queren­do con­hecer, por alto, seres mitológi­cos viven­do no mun­do atu­al. Além de óti­mo, para insti­gar a curiosi­dade sobre este mun­do de mitos e con­hec­i­men­to, é per­feito para um entreten­i­men­to leve e engraçado.

    O hot­site cri­a­do para a série (e usa­do para o filme tam­bém) pos­sui infor­mações sobre vários per­son­agens, mas infe­liz­mente cria cer­ta con­fusão, pois vários detal­h­es não têm a ver com o que foi exibido no filme, mas sim com os livros. Ficou bem legal a ideia de cri­ar um “per­fil” de cada um dess­es per­son­agens, pare­ci­do com o do Orkut, só que com infor­mações adap­tadas ao mun­do atu­al, com uma lista de gos­tos para filmes, pro­gra­ma de TV, livros. Há até um espaço com comen­tário dos out­ros per­son­agens da história. Mas tiran­do esta parte, o resto do site ain­da pos­sui um con­teú­do e inter­a­tivi­dade muito fra­ca com os vis­i­tantes, uma pena. Para quem se inter­es­sar, a Fol­ha sele­cio­nou alguns per­son­agens míti­cos do filme e colo­cou uma descrição sobre eles, segun­do o Dicionário de Mitolo­gia Gre­ga e Romana (Jorge Zahar Edi­to­ra), que pode ser vista cli­can­do aqui.

    Con­fi­ra tam­bém a críti­ca deste filme no blog Claque ou Cla­que­te, por Joba Tri­dente.

    Trail­er:

  • Crítica: NINE

    Crítica: NINE

    filme nine

    Uma entre­vista, fil­ma­da em pre­to-e-bran­co, com um dire­tor de cin­e­ma falan­do sobre a sua própria visão do proces­so de pro­dução da arte cin­e­matográ­fi­ca, com fras­es que pare­cem ter saí­do de um livro de ano­tações (Notas sobre o Cin­e­matográ­fi­co) do dire­tor Robert Bres­son, dá iní­cio ao filme NINE (NINE, EUA, 2009), dirigi­do por Rob Mar­shall.

    Gui­do Con­ti­ni (Daniel Day-Lewis[bb]) é este dire­tor, que está prestes a começar a rodar seu nono filme, quan­do lhe ocorre uma crise de blo­queio de cria­tivi­dade. Ele não tem a mín­i­ma ideia de como começar o roteiro, nem sobre o que o filme vai ser, sabe ape­nas que o títu­lo será Itália e que será fil­ma­do naque­le país. Enquan­to ten­ta super­ar esta crise, está sem­pre cer­ca­do e fan­tasian­do com as mul­heres que mais têm importân­cia na sua vida: a amante sen­su­al, Car­la (Pené­lope Cruz[bb]), a esposa ded­i­ca­da, Luisa (Mar­i­on Cotil­lard[bb]), sua musa, Clau­dia (Nicole Kid­man[bb]), a fig­urin­ista e con­fi­dente, Lil­li (Judi Dench[bb]), a repórter sedu­to­ra e esfuziante da Vogue (Kate Hud­son[bb]), a pros­ti­tu­ta esclare­ce­do­ra da sua juven­tude (Sta­cy Fer­gu­son[bb]) e a sua queri­da mãe (Sophia Loren[bb]). Para Gui­do, o olhar do dire­tor deve ser de uma cri­ança, que vai brin­can­do e escol­hen­do o que mais lhe dá praz­er de assi­s­tir, e é o con­ta­to com sua própria cri­ança que ele está bus­can­do para poder nova­mente dirigir.

    Por ser basea­do no espetácu­lo teatral de suces­so da Broad­way com o mes­mo nome, que por sua vez, é uma releitu­ra do filme 8 ½, de Fed­eri­co Felli­ni[bb], criou-se mui­ta expec­ta­ti­va em torno dele, ain­da mais pelo fato de ser dirigi­do pelo mes­mo real­izador do suces­so Chica­go. Fica difí­cil clas­si­ficar NINE como um musi­cal, pois ele mais parece ser um amon­toa­do de tomadas com fil­ma­gens de um show de teatro cantado.

    Ain­da não vi 8 ½, então não me sin­to a von­tade de faz­er qual­quer tipo de com­para­ção com coisas que já li a respeito do filme, mas ape­sar dis­to já me sin­to con­cor­dan­do com a opinião da críti­ca fei­ta por Nel­son Hoin­eff.

    Fiquei com a sen­sação, nas partes musi­cal­izadas pelas atrizes fem­i­ni­nas, que pare­ci­am clipes de amado­ras onde, com muito esforço e din­heiro, ten­tavam pas­sar glam­our e sedução para as telas, mas no final acabavam por mostrar ape­nas gestos sin­croniza­dos e músi­cas vazias.

    Os cenários, prin­ci­pal­mente durante as músi­cas, apre­sen­taram um efeito inter­es­sante dev­i­do a maio­r­ia das vezes mostrar suas partes incom­ple­tas, crian­do a impressão de estar assistin­do a um show den­tro de um teatro. Pare­cia haver sem­pre um gigan­tesco cenário que era cuida­dosa­mente tro­ca­do a cada ato.

    Já os per­son­agens davam, na maio­r­ia das vezes, a sen­sação de estarem sem­pre atuan­do de uma maneira meio per­di­da diante da câmera, como se a própria crise de Gui­do, que não definia nen­hum papel para seus atores, estivesse fazen­do efeito sobre eles. Não foi nada agradáv­el ver Judi Dench em um papel tão vazio.

    NINE pode até ser um filme para quem dese­ja ver belas atrizes em roupas mín­i­mas, fazen­do pos­es e bocas, e Daniel (Gui­do) cor­ren­do de um lado para o out­ro enquan­to can­ta, mas não para alguém que anseia por algo sedu­tor e com conteúdo.

    Con­fi­ra tam­bém a críti­ca deste filme no blog Claque ou Cla­que­te, por Joba Tri­dente.

    Trail­er:

  • Crítica: O Lobisomem

    Crítica: O Lobisomem

    lobisomen

    Alguns per­son­agens, que já há muito tem­po fazem parte não só da cul­tura ger­al, mas dos medos mais prim­i­tivos, sem­pre estão sendo refilma­dos e adap­ta­dos. O Lobi­somem (The Wolf­man, Reino Unido/EUA, 2010), de Joe Johston, é mais um dess­es filmes.

    Difer­ente do clás­si­co orig­i­nal, dirigi­do por George Wag­gn­er, em 1941, este tem como cenário a Inglater­ra Vito­ri­ana. A história pos­sui cer­tas sim­i­lar­i­dades e, nes­ta ver­são, Lawrence Tal­bot (Beni­cio Del Toro[bb]) retor­na da Améri­ca para sua ter­ra natal, a fim de aju­dar na bus­ca de seu irmão, a pedi­do da noi­va dele, Gwen (Emi­ly Blunt[bb]). Na sua bus­ca por pis­tas, vai parar em um acam­pa­men­to cigano, que é ata­ca­do por um mon­stro “descon­heci­do”. Durante o ataque, Lawrence é mor­di­do quase que fatal­mente no pescoço, se recu­peran­do alguns dias depois, de uma maneira anor­mal­mente ráp­i­da, na man­são de seu pai (Antho­ny Hop­kins[bb]). Ele começa então a ser inves­ti­ga­do pelo Dete­tive Aber­line (Hugo Weav­ing[bb]), que aca­ba desco­brindo a sua maldição.

    Ape­sar do óti­mo elen­co, a atu­ação de cada um é muito fra­ca, mostran­do pou­ca veraci­dade nos per­son­agens, geran­do um sen­ti­men­to de mui­ta dis­tân­cia e pouco envolvi­men­to. A uti­liza­ção da tril­ha, para pro­duzir e manip­u­lar as emoções, é, de cer­ta maneira, bem exager­a­da. As cenas que dev­e­ri­am pro­duzir “sus­tos”, ape­nas o fazem dev­i­do a uma brus­ca mudança, ou aparição de um som muito alto, às vezes até antes da cena em si, de fato, real­mente acon­te­cer. Chegan­do até a tornar ridícu­lo alguns momen­tos de suspense.

    A car­ac­ter­i­za­ção do lobi­somem ficou bem no esti­lo da pelícu­la de 1941, com um ros­to mais “humanóide”, que me lem­brou muito o per­son­agem Chew­bac­ca, do Star Wars[bb], fican­do às vezes até mais engraça­do do que assus­ta­dor. Há tam­bém um per­son­agem no filme que é idên­ti­co ao Smeagol, do Sen­hor dos Anéis[bb], de Peter Jack­son[bb], só que mais pobre visual­mente. Assim como a trans­for­mação de homem para lobi­somem que, ape­sar dos avanços nas téc­ni­cas de efeitos espe­ci­ais, não sur­preen­deu nem um pouco. As tomadas do lobi­somem ata­can­do as pes­soas lem­braram aque­les filmes exploita­tion, com pedaços de cor­po voan­do para todo lado. Ape­sar de algu­mas cenas pare­cerem engraçadas, incluin­do algu­mas piad­in­has tam­bém, não eram tão boas a pon­to de provo­car risada.

    O Lobi­somem é bem sessão da tarde, para quem quer ver alguns órgãos voan­do e sus­pense, que graças aos efeitos sonoros usa­dos em dema­sia, não farão você dormir.

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    Trail­er:

  • Crítica: Invictus

    Crítica: Invictus

    invictus

    O apartheid chegou ao fim na África do Sul e cabe ao recém-eleito pres­i­dente Nel­son Man­dela unir um país cheio de seque­las do regime ante­ri­or. Para isto ele decide inve­stir em algo aparente­mente sem relevân­cia para a maio­r­ia de seus com­pan­heiros políti­cos, o rúg­bi. É a par­tir des­ta história que Invic­tus (Invic­tus, EUA, 2009), o novo filme de Clint East­wood, foi realizado.

    Ao con­cretizar o seu ide­al de cri­ar um país arco-íris, onde pes­soas de todas as cores pudessem con­viv­er paci­fi­ca­mente, Nel­son Man­dela (Mor­gan Free­man) fez, logo de iní­cio, mudanças den­tro da sua própria equipe. Para isso, mis­tur­ou anti­gos fun­cionários e agentes de segu­rança (bran­cos) do regime ante­ri­or com os novos fun­cionários (negros). Quan­to ao time nacional de rúg­bi, Spring­boks, esporte local preferi­do pelos bran­cos, é ain­da vis­to, pela pop­u­lação que sofreu com ele, como um sím­bo­lo do apartheid. Man­dela, ape­sar de tudo, percebe que esta pode ser uma óti­ma opor­tu­nidade para unir o país inteiro e, em parce­ria com o capitão da equipe, Fran­cois Pien­aar (Matt Damon), divul­ga o esporte por todo país, uti­lizan­do o lema: “um time, um país”.

    Invic­tus é o ter­ceiro tra­bal­ho de East­wood com Free­man e, foi basea­do na obra do jor­nal­ista e autor John Car­lin, inti­t­u­la­da aqui no Brasil de “Con­qui­s­tan­do o Inimi­go”. Free­man, que foi pro­du­tor exec­u­ti­vo em Invic­tus, já esta­va pro­duzin­do um filme sobre Man­dela, havia alguns anos, a par­tir da auto­bi­ografia de Man­dela (A Long Walk to Free­dom, ain­da inédi­to no Brasil). Mas esta­va ten­do difi­cul­dades para incluir toda a sua história e, quan­do esta­va a pon­to de desi­s­tir, rece­beu um resumo do livro de Car­lin e perce­beu que seria um bom modo de trans­mi­tir o espíri­to e o caráter de Man­dela, numa história que se pas­sa num perío­do de menos de um ano. Depois que o roteiro ficar pron­to, Free­man o envi­ou para East­wood que de ime­di­a­to se iden­ti­fi­cou com o mate­r­i­al e aceitou diri­gir o filme.

    Invic­tus é, prin­ci­pal­mente, sobre Nel­son Man­dela, focan­do não somente suas vir­tudes como políti­co e pes­soa, mas tam­bém suas lim­i­tações e fraque­zas. Ele pos­sui uma men­sagem muito pos­i­ti­va, deixan­do de lado aspec­tos e fatos neg­a­tivos ante­ri­ores, reafir­man­do a frase dita por Man­dela: “O que pas­sou, pas­sou. Ago­ra vamos olhar para o futuro”. No entan­to, em alguns momen­tos de ten­são, as tomadas muito lon­gas são bas­tante incô­modas. A uti­liza­ção de vários clos­es mostran­do os ros­tos das pes­soas, enquan­to Man­dela fala­va, ao invés de cri­ar um sen­ti­men­to de maior aprox­i­mação e com­preen­são dess­es per­son­agens, cri­a­va um afas­ta­men­to por pare­cer força­da demais essa prox­im­i­dade. Vale a pena destacar as tomadas de rúg­bi, muito bem fil­madas e edi­tadas, pare­cen­do que você esta­va den­tro da par­ti­da. O som dire­to, nes­sas horas, foi de grande aju­da, em vez de usar algu­ma músi­ca melosa, como a da tril­ha sono­ra, se ouvia somente o som da res­pi­ração dos jog­a­res e dos seus movi­men­tos. Esta foi uma pre­ocu­pação do próprio East­wood, onde os atores foram treina­dos pelo próprio Chester Williams, um dos jogadores do Springboks.

    Invic­tus é bas­tante moti­vador e leve. Ele nos faz pen­sar no quan­to podemos nos esforçar mais, para realizarmos nos­sos son­hos. Assim como, para nos lem­brar, que não podemos ser egoís­tas na nos­sa jor­na­da, pois todas as pes­soas a nos­sa vol­ta são impor­tantes, não impor­ta o tra­bal­ho que elas fazem.

    Con­fi­ra tam­bém a críti­ca deste filme no blog Claque ou Cla­que­te, por Joba Tri­dente.

    Trail­er:

  • Crítica: Hanami — Cerejeiras em Flor

    Crítica: Hanami — Cerejeiras em Flor

    Como dar amor e feli­ci­dade a alguém que você ama e está prestes a mor­rer, se ele é fecha­do para qual­quer aven­tu­ra e emoção? É com este desafio que começa o filme Hana­mi — Cere­jeiras em Flor (Kirschblüten, Ale­man­ha, 2008) da dire­to­ra Doris Dör­rie.

    Tru­di (Han­nelore Elsner) desco­bre que seu mari­do Rudi (Elmar Wep­per) está com uma doença ter­mi­nal e, seguin­do a sug­estão do médi­co, decide faz­er uma grande viagem de férias com ele. A questão é que Rudi gos­ta ape­nas de viv­er o con­ven­cional e de sua roti­na: casa, tra­bal­ho, cerve­ja no fim do expe­di­ente. Ape­sar da idéia de via­jar não lhe agradar muito, aca­ba con­cor­dan­do. Para ele não há grandes emoções nem von­tades e o ator Elmar Wep­per (Rudi) con­segue pas­sar muito bem essa situ­ação com sua expressão rígi­da e um olhar per­di­do den­tro de si. Tru­di sem­pre quis vis­i­tar seu fil­ho Karl (Max­i­m­il­ian Brück­n­er) que mora no Japão e con­hecer o Monte Fuji, mas Rudi nun­ca se inter­es­sou. Assim decide ir primeiro vis­i­tar seus out­ros fil­hos em Berlin para ver se seu mari­do se acos­tu­ma com a idéia de via­jar ao ori­ente. Nas suas ten­ta­ti­vas de faz­er o mari­do se sen­tir bem com a viagem, Tru­di aca­ba redesco­brindo pequenos praz­eres, como assi­s­tir a um espetácu­lo de Butoh, no teatro de Berlin, e dançar com seu mari­do, à noite. Tru­di morre subita­mente, quan­do estão vis­i­tan­do o litoral, e Rudi decide ir ao Japão para lhe prestar uma últi­ma hom­e­nagem. Lá é a época do Fes­ti­val das Cere­jeiras em Flor e, como o seu fil­ho é muito ocu­pa­do, decide con­hecer, por ele, mes­mo o país. Nes­sa sua jor­na­da encon­tra Yu (Aya Irizu­ki), uma garo­ta que dança Butoh em um par­que, com quem desco­bre o val­or da amizade, o amor no sen­ti­do mais puro e o praz­er de viver.

    Uma metá­fo­ra muito sig­ni­fica­ti­va no filme é o Butoh, onde o movi­men­to real­iza­do não é dita­do pelo que está fora, mas aparece na inter­ação entre exte­ri­or e inte­ri­or do mun­do. A essên­cia do Butoh baseia-se no mecan­is­mo em que os dançari­nos deix­am de ser eles mes­mos e tor­nam-se out­ra pes­soa ou coisa. O que pode ser rela­ciona­do com o rit­mo do filme que mostra uma face mais pro­fun­da de seus per­son­agens, assim como dos ambi­entes em que eles estão, dan­do, às vezes, a impressão de um rit­mo mais lento ou pesa­do.

    Hana­mi é um filme sobre a bre­v­i­dade da vida, assim como das flo­res de uma cere­jeira. Na cul­tura japone­sa a cere­jeira era asso­ci­a­da ao samu­rai[bb], cuja vida era tão efêmera quan­to a da flor que se despren­dia da árvore. Asso­cian­do esse sig­nifi­ca­do com o do Butoh, percebe­mos que con­hecer a nós mes­mos é tam­bém dar a chance do out­ro entrar em nos­sas vidas.

    Con­fi­ra tam­bém a críti­ca deste filme no blog Claque ou Cla­que­te, por Joba Tri­dente.

    Trail­er:

  • Entretendo-nos até a morte

    Entretendo-nos até a morte

    entretendo_nos_ate_a_morte

    Curiosi­dades:

    • O livro “Amus­ing our­selves to death” ain­da não pos­sui tradução para o nos­so idioma. Con­fi­ra out­ros títu­los de Neil Post­man.
    • O álbum musi­cal “Amused to Death”  de Roger Waters[bb] foi basea­do neste livro.  Existe um site bem inter­es­sante onde há  a tradução de todas as letras do álbum jun­to com uma inter­pre­tação das mesmas.