Tag: o grande gatsby

  • O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann | Crítica

    O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann | Crítica

    ograndegatsby-posterCom um visu­al deslum­brante e um elen­co com vários nomes de peso, O Grande Gats­by (The Great Gats­by, EUA/Australia, 2013), dirigi­do por Baz Luhrmann, é com certeza um dos filmes mais esper­a­dos deste semestre.

    O lon­ga con­ta a história de Nick Car­raway (Tobey Maguire), um aspi­rante a escritor que ao se mudar para Nova York, deixa sua paixão pelas letras de lado por con­ta do tra­bal­ho na bol­sa de val­ores. Ele mora ao lado da man­são do mis­te­rioso Jay Gats­by (Leonar­do DiCaprio), que sem­pre está dan­do grandes e lux­u­osas fes­tas e, para sua sur­pre­sa, um dia é con­vi­da­do para uma delas. Do out­ro lado da ilha vive sua pri­ma Daisy (Carey Mul­li­gan) e seu mari­do Tom Buchanan (Joel Edger­ton), com o qual estu­dou jun­to na fac­ul­dade. O des­ti­no de todos aos poucos é entre­laça­do por con­ta de um grande seg­re­do que Gats­by esconde.

    O enre­do foi basea­do no famoso romance homôn­i­mo do escritor amer­i­cano F. Scott Fitzger­ald, pub­li­ca­do em 1925, que já foi adap­ta­do duas vezes para o cin­e­ma. A primeira em 1949, dirigi­da por Elliott Nugent, e a segun­da e mais con­heci­da adap­tação, dirigi­da por Jack Clay­ton em 1974, com Robert Red­ford e Mia Farrow.

    As luxuosas festas na mansão do Gatsby
    As lux­u­osas fes­tas na man­são do Gatsby

    Difí­cil não ficar mar­avil­ha­do com toda a recon­strução da época e seus fig­uri­nos estu­pen­dos ao assi­s­tir O Grande Gats­by. Moti­vo aliás que fez Luhrmann ficar con­heci­do tam­bém pelos lon­gas Moulin Rouge — Amor em Ver­mel­ho (2001) e Romeu + Juli­eta (1996). Nes­ta adap­tação, o dire­tor tam­bém decid­iu explo­rar exten­si­va­mente a téc­ni­ca trav­el­ling para mostrar a Nova York da déca­da de 20 e seus arredores. O resul­ta­do ficou visual­mente muito inter­es­sante, mas pelo seu uso muito repet­i­ti­vo logo ficou algo cansati­vo. Aliás, são só nes­tas cenas em que o 3D é real­mente perce­bido. Há out­ro recur­so visu­al que foi muito bem tra­bal­ha­do: as várias ani­mações cri­adas para retratar visual­mente o tex­to da história nar­ra­da pelo Nick, como se ele estivesse escreven­do naque­le momento.

    A Nova York da década de 20
    A Nova York da déca­da de 20
    Capa da trilha sonora
    Capa da tril­ha sonora

    A tril­ha sono­ra é out­ro aspec­to bem inter­es­sante do filme, pois con­trasta total­mente com o esti­lo e ima­gens da época, out­ra car­ac­terís­ti­ca pecu­liar do dire­tor. Var­ian­do bas­tante de esti­lo mas ten­do sem­pre algum ele­men­to mais eletrôni­co no meio, a tril­ha traz para o pre­sente todo aque­le ambi­ente fes­ti­vo, e tam­bém aumen­ta ain­da mais a sen­sação de arti­fi­cial­i­dade e vazio que todo este glam­our e mate­ri­al­is­mo trazem con­si­go. As músi­cas são com­postas por nomes famosos como Bey­on­cé, will.i.am, Flo­rence + The Machine, Lana del Rey e Jack White.

    Tobey Maguire, Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan e Joel Edgerton
    Tobey Maguire, Leonar­do DiCaprio, Carey Mul­li­gan e Joel Edgerton

    O maior defeito de O Grande Gats­by é não deixar espaço para que o espec­ta­dor pos­sa tirar suas próprias con­clusões e exerci­tar min­i­ma­mente sua imag­i­nação. O prin­ci­pal cul­pa­do dis­to é a pre­sença de uma nar­rador que está sem­pre pre­ocu­pa­do em explicar tudo que se está ven­do nos mín­i­mos detal­h­es, como se ele estivesse lit­eral­mente lendo um livro e as ima­gens da tela fos­sem ape­nas uma rep­re­sen­tação do tex­to. O uso da nar­ração é tão exces­si­vo que a atu­ação de profis­sion­ais tão tal­en­tosos como o Leonar­do DiCaprio (que recen­te­mente fez Djan­go Livre) e a Carey Mul­li­gan (do óti­mo Dri­ve), ficam em segun­do plano. O roteiro, escrito pelo próprio Luhrmann e por Craig Pearce, tam­bém não faz questão de man­ter qual­quer tipo de mis­tério ou pos­sív­el dúvi­da a respeito da inter­pre­tação de uma situ­ação, não per­den­do tem­po para logo explicar tudo, seja por flash­backs ou narração.

    Cena da adaptação de 1974 com Bruce Dern, Sam Waterston, Mia Farrow, Robert Redford e Lois Chiles
    Cena da adap­tação de 1974 com Bruce Dern, Sam Water­ston, Mia Far­row, Robert Red­ford e Lois Chiles

    Na adap­tação de 1974, dirigi­da por Clay­ton e rote­i­riza­da por Fran­cis Ford Cop­po­la, muitas coisas ficam suben­ten­di­das e o mis­tério sobre quem é real­mente esse mis­te­rioso Gab­sty e quais suas intenção, só é rev­e­la­do muito aos poucos. Com­para­n­do com a ver­são atu­al, é difí­cil não se sen­tir trata­do como alguém que não con­segue enten­der nada do que está acon­te­cen­do na tela, de tão exager­a­do que são as expli­cações ou então a demon­stração das inten­sões dos per­son­agens por movi­men­tos físi­cos exager­a­dos. Cer­tos momen­tos a impressão é de que este roteiro foi feito para sanar todas as dúvi­das que o out­ro criou, para não haver assim qual­quer sen­sação de confusão.

    Muitas flores e talento, mas pouco conteúdo
    Muitas flo­res e tal­en­to, mas pouco conteúdo

    O Grande Gats­by tin­ha grandes chances de ser um dos destaques do cin­e­ma deste ano, mas acabou sendo ape­nas uma exper­iên­cia visual­mente deslum­brante por con­ta da fra­ca adap­tação do roteiro, que não se pre­ocupou em insti­gar o inter­esse do espec­ta­dor para algo além de coisas boni­tas na tela. Nem o elen­co de peso con­seguiu tornar a história do filme razoavel­mente cativamente.

  • Livro: O Grande Gatsby — F. Scott Fitzgerald

    Livro: O Grande Gatsby — F. Scott Fitzgerald

    Eu quero escr­ev­er uma história sim­ples, bela e extraordinária”

    F. Scott Fitzger­ald em cor­re­spondên­cia para o seu edi­tor Maxwell Perkins em 1922. Três anos depois pub­li­caria O Grande Gats­by (Pen­guin-Com­pan­hia, tradução de Vanes­sa Bar­bara e intro­dução e notas de Tony Tan­ner), romance con­sid­er­a­do por muitos como um dos mel­hores do sécu­lo XX.

    Fitzger­ald nos con­cede uma jor­na­da através da obsessão de um homem que se entre­ga a um mun­do de val­ores duvi­dosos, movi­do ape­nas por um amor do pas­sa­do. Tam­bém é a história de pes­soas super­fi­ci­ais que vivem sobre a ilusão da eter­na juven­tude, beleza e riqueza; não se impor­tan­do com nada a não ser a si mesmos. 

    Nick Car­raway, jovem grad­u­a­do em New Haven e ex-com­bat­ente da Primeira Guer­ra Mundi­al, nar­ra sua mudança para West Egg e aca­ba se tor­nan­do viz­in­ho do mis­te­rioso Jay Gats­by que pro­move fes­tas extrav­a­gantes em sua man­são, atrain­do a alta sociedade local que espec­u­la sobre o seu pas­sa­do: ninguém con­hece Gats­by pes­soal­mente, mas todos já ouvi­ram algu­ma supos­ta história sobre suas ações, entre elas, que já teria cometi­do assassinato. 

    O que ninguém sabe é que Gats­by pre­tende repe­tir o pas­sa­do: reen­con­trar o seu amor per­di­do na juven­tude, Daisy, ago­ra casa­da com o agres­si­vo Tom Buchanan, que mora na parte opos­ta da baía, em East Egg (onde moram os ricos na ilha fic­tí­cia*, West Egg é a parte pobre). Ele ali­men­ta esper­anças de que um dia ela pos­sa vis­i­tar uma de suas fes­tas e assim reconquistá-la.

    Os anos 1920 foram os anos de pros­peri­dade econômi­ca na Améri­ca do Norte, prin­ci­pal­mente nos Esta­dos Unidos, após a Primeira Guer­ra Mundi­al — perío­do con­heci­do como Roar­ing Twen­ties. Após a recessão, a econo­mia amer­i­cana entra­va em uma nova fase. A indús­tria auto­mo­bilís­ti­ca pro­duzia em mas­sa, o cin­e­ma e o rádio eram as prin­ci­pais for­mas de entreten­i­men­to, o jazz se tor­na­va bas­tante pop­u­lar e a pro­pa­gan­da tin­ha um papel impor­tante na mídia. Tam­bém nes­ta déca­da foi insti­tuí­da, em 1923, a Lei Seca (que teve seu fim em 1933) – onde pro­duzir, vender, impor­tar e expor­tar bebidas alcoóli­cas era ile­gal. O crime orga­ni­za­do – a máfia, lid­er­a­da por Al Capone – pas­sou lucrar muito com a ven­da clan­des­ti­na. Nes­sa época, o mate­ri­al­is­mo e o egoís­mo se tornaram parte do son­ho amer­i­cano e isso ficou muito bem retrata­do em O Grande Gats­by.

    O livro tam­bém tra­ta dos prob­le­mas que acar­retam quan­do vive­mos do pas­sa­do e do fim das ilusões da juven­tude. A tris­teza está pre­sente do começo ao fim. A obra con­tin­ua atu­al e é vál­i­da para aque­les que ain­da não tiver­am con­ta­do com esse clás­si­co americano.

    *Acred­i­to que talvez fiquem con­fu­sos com min­ha expli­cação sobre East e West Egg, mas a tradu­to­ra fez uma car­tografia da região no blog da Com­pan­hia.

    ***

    Há seis adap­tações do romance para o cin­e­ma, mas recomen­do a ver­são de 1974 com Robert Red­ford (Gats­by) e Mia Far­row (Daisy) no papeis prin­ci­pais. O roteiro é de Fran­cis Ford Cop­po­la, em sub­sti­tu­ição a Tru­man Capote, demi­ti­do pelo estú­dio. A direção ficou por con­ta de Jack Clayton.

    Está em pós-pro­dução a adap­tação em 3D (não me per­gunte, eu tam­bém não sei o moti­vo) para o cin­e­ma de O Grande Gats­by estre­la­da por Tobey Maguire, na pele de Nick Car­raway, Leonar­do Di Caprio, como Jay Gats­by, Joel Edger­ton inter­pre­ta Tom Buchanan e o papel de Daisy ficou para Carey Mul­li­gan; com estreia pre­vista ain­da para este ano. É esper­ar para ver o resultado.

    ***

    E como pre­sente para o bra­vo e destemi­do leitor (a) que chegou até aqui, fique com o jogo de Super Nin­ten­do do livro mais famoso de F. Scott Fitzger­ald . Não pre­cisa agradecer.