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  • O Corvo, de Valêncio Xavier

    O Corvo, de Valêncio Xavier

    Valên­cio Xavier, pelo quadrin­ista Joe Bennet

    Quan­do se fala de Valên­cio Xavier é impos­sív­el não asso­ciar a figu­ra de exper­i­men­tal­is­mo em cin­e­ma e lit­er­atu­ra. O escritor/diretor/roteirista, e tan­tas out­ras denom­i­nações, mar­cou a cena con­tem­porânea brasileira se tor­nan­do um van­guardista no assun­to de tratar o cin­e­ma de for­ma mais literária e de traz­er a força da imagem para den­tro do tex­to. Pro­va dis­so é o clás­si­co livro Mez da Grippe, de 1981, em que para tratar da gripe espan­ho­la que assolou Curiti­ba, em 1918, o escritor cria sua ficção usan­do reporta­gens e fotos da época.

    No cin­e­ma, Valên­cio Xavier não fez difer­ente, suas pro­duções oscil­am entre o exper­i­men­tal­is­mo e o uso de ima­gens doc­u­men­tadas, ori­un­das de algu­ma situ­ação cotid­i­ana. Em O Cor­vo, Valên­cio vai além de uma livre adap­tação do clás­si­co poe­ma de Edgar Allan Poe, fazen­do refer­ên­cias total­mente desconec­tadas do tom som­brio e ater­ror­izante do clás­si­co. Nesse cur­ta de ape­nas 12 min­u­tos, ele trans­porta o liris­mo pelas ruas de uma Curiti­ba pre­ta e bran­ca onde o nev­er­more sai da boca de transe­untes que sim­bolizam o cor­vo mensageiro.

    Quem nar­ra O Cor­vo é a bela voz do ator Paulo Autran que con­figu­ra um tom por vezes irôni­co à tradução de Rey­nal­do Jardim. As ilus­trações que apare­cem no cur­ta são do Francês Gus­ta­vo Doré que se mis­tu­ram às fil­ma­gens de Valên­cio Xavier. Com certeza uma das ver­sões — ou seria mel­hor, inter­pre­tação? — mais inter­es­santes do poe­ma. Vale ressaltar que o cur­ta ficou por décadas em VHS até que o dono de um sebo curitibano con­seguiu, com a autor­iza­ção da família Xavier, colocá-lo online. Uma preciosidade.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=VkGsBbvgofQ

  • Vincent

    Vincent

    Tim Bur­ton é um dos maiores ani­madores da atu­al­i­dade, além de ser um cineas­ta que enche os olhos dos espec­ta­dores com filmes de real­is­mo-fan­tás­ti­co sen­sa­cionais. Declar­a­do fã de clás­si­cos ani­madores, como Jan Svankma­jer e Irmãos Quay, foi com Vin­cent (1982) que, com a téc­ni­ca stop-motion, deu iní­cio a um esti­lo úni­co que o mar­caria com o jeito ¨bur­tiano¨ de ani­mação.

    Vin­cent é a declar­ação fiel da admi­ração de Tim Bur­ton com o escritor amer­i­cano Edgar Allan Poe. O cur­ta con­ta a história do meni­no extra­ordinário Vin­cent que pref­ere trans­for­mar cães em zumbis e viv­er na escuridão do que brin­car lá fora. Parece que o próprio Tim Bur­ton rela­ta as suas exper­iên­cias com a obra de Poe trazen­do uma cri­ança anti­s­so­cial e fasci­na­da pelo bizarro. A nar­ra­ti­va em off é fei­ta pela clás­si­co ator Vin­cent Price, o ator que mais inter­pre­tou os per­son­agens do escritor amer­i­cano no cin­e­ma. E as coin­cidên­cias não param por aí, o ani­mador usou ain­da a métri­ca e rit­mo das poe­sias, trazen­do uma sonori­dade úni­ca, sem deixar de men­cionar a semel­hança físi­ca do pequeno Vin­cent com o escritor.

    Real­mente, com Vin­cent já se perce­bia o que viria pos­te­ri­or­mente nos tra­bal­hos do cineas­ta que traria a atmos­fera fan­tás­ti­ca, e muitas vezes assus­ta­do­ra, do cin­e­ma e da ani­mação, desta­can­do sem­pre a lit­er­atu­ra real­ista-fan­tás­ti­ca e ele­men­tos dos clás­si­cos filmes de hor­ror do íni­cio do sécu­lo. Tim Bur­ton é de auto­ria e fan­ta­sia indis­pen­sáveis na vida de qual­quer cinéfilo.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=QkmKhd_h3lk

  • Crítica: Instinto de Vingança

    Crítica: Instinto de Vingança

    Instin­to de Vin­gança (Tell Tale, EUA/Inglaterra, 2010), dirigi­do pelo estre­ante Michael Cues­ta, pos­sui uma pre­mis­sa pra lá de pecu­liar: o recep­tor de um coração doa­do é toma­do por cer­tos dese­jos do anti­go dono do órgão.

    Ter­ry Bernard (Josh Lucas) é um homem que, ape­sar de todas as difi­cul­dades, con­tin­ua seguin­do em frente na esper­ança de uma situ­ação mel­hor. Ele foi aban­don­a­do pela mul­her, é um fra­cas­sa­do profis­sion­al­mente, cui­da da fil­ha que pos­sui uma doença genéti­ca muito rara e seu próprio esta­do de saúde é bem vul­neráv­el. Recen­te­mente con­seguiu um trans­plante de coração, sub­sti­tuin­do seu anti­go que logo iria fal­har, mas parece que o seu cor­po está mostran­do sinais de rejeição ao órgão. Sua úni­ca feli­ci­dade são as idas à Dra. Eliz­a­beth (Lena Head­ey), médi­ca de sua fil­ha, pela qual tem uma cer­ta queda.

    Até aí pode­ria ser mais uma história de super­ação, mas Instin­to de Vin­gança foge do padrão com Ter­ry começan­do a sen­tir dese­jos incon­troláveis de matar algu­mas pes­soas, que desco­bre serem os assas­i­nos do dono orig­i­nal de seu novo coração. Toda vez que encon­tra um deles, o seu coração começa a bater muito forte e ele começa a ser doma­do pela von­tade de vingança.

    Ape­sar de Instin­to de Vin­gança pos­suir uma ideia inter­es­sante, basea­da no con­to “o coração dela­tor”, do escritor amer­i­cano Edgar Allan Poe, sua insistên­cia em quer­er dar expli­cações para todos os acon­tec­i­men­tos durante o decor­rer do filme, com o uso exces­si­vo de flash­backs e enfa­ti­za­ção de cer­tos ele­men­tos, acabam tornando‑o monótono demais. E para pio­rar, fica total­mente explíc­i­to, e força­do, cer­tos diál­o­gos onde a função é mera­mente dar expli­cações á questões ain­da con­fusas da história para quem está assistin­do. Por que tan­to esse medo de deixar o espec­ta­dor ir desen­vol­ven­do os que­bras-cabeças jun­to com o lon­ga? Se for para faz­er um sessão “desliga­men­to men­tal”, então já nem se dev­e­ria começar pen­san­do em uma tra­ma min­i­ma­mente com­pli­ca­da. As atu­ações tam­bém não aju­dam muito, beiran­do uma “leitu­ra” de diál­o­gos mecânica.

    Instin­to de Vin­gança tem os ele­men­tos cer­tos para ter sido um bom filme trash, mas dev­i­do a seriedade na qual os temas são abor­da­dos, aca­ba por ser pouco envol­vente. No final, o lon­ga dá uma revi­ra­vol­ta (total­mente pre­visív­el para alguns), fazen­do um fechamen­to mais inter­es­sante, mas que não con­segue mudar a sen­sação ger­al produzida.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=WQoBOu-Vfo4