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  • O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin

    O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin

    o grande ditador

    Em 1940 a Segun­da Guer­ra Mundi­al esta­va há 5 anos de ofi­cial­mente ter­mi­nar. Nesse ano o cineas­ta Char­lie Chap­lin lança­va O Grande Dita­dor (The Great Dic­ta­tor, USA, 1940), com um dos roteiros mais ousa­do, engraça­do e com forte críti­ca social sobre esse momen­to que real­mente mar­cou a história do cinema.

    Logo nos crédi­tos ini­ci­ais de O Grande Dita­dor somos avisa­dos que a semel­hança entre os per­son­agens do filme com a real­i­dade é uma mera coi­cidên­cia, o que sabe­mos não ser ver­dade. Chap­lin apre­sen­ta dois per­son­agens fisi­ca­mente idên­ti­cos, mas em situ­ações opostas. Ade­noid Hynkel é o grande dita­dor da Tomâ­nia, uma nação que afun­da­da numa crise pas­sa a crer em coisas como grandes líderes e raças supe­ri­ores. Já o out­ro, o inti­t­u­la­do bar­beiro de judeus (Car­l­i­tos), é o típi­co desajeita­do que perdeu a memória na guer­ra e não entende o que está acon­te­cen­do em Tomâ­nia e mais pre­cisa­mente no gue­to em que vive.

    O enre­do de O Grande Dita­dor é incrív­el, trazen­do o para­lelis­mo da vida dos dois per­son­agens, ambos inter­pre­ta­dos por Chap­lin, que fun­cionam como car­i­catos cômi­cos das fig­uras cen­trais da época. Hynkel e o Bar­beiro nun­ca se encon­tram, mas suas vidas estão interli­gadas, pois a vida de um sem­pre aca­ba estando em jogo com as decisões do outro.

    Nas primeiras cenas vemos o per­son­agem de Car­l­i­tos em meio a guer­ra, sem­pre per­di­do com cenas cômi­cas do front. Chap­lin deixa claro a banal­iza­ção com a seriedade da guer­ra e o mal uso das supos­tos poderes béli­cos. Logo isso fica ain­da mais níti­do com as cenas de dis­cussão, sobre acor­dos de “paz”, entre Hynkel e o nar­ci­sista Ben­zi­no Napaloni, dita­dor de Bac­téria, uma clara refer­ên­cia entre a relação de Hitler com Ben­i­to Mus­soli­ni da Itália.

    O Grande Dita­dor é cheio de cenas que reme­tem às situ­ações de ten­são que a Segun­da Guer­ra Mundi­al causa­va e, Chap­lin fez dis­so uma pelícu­la em que tudo parece mais cômi­co se vis­to desse ângu­lo inocente que a comé­dia traz. Para reforçar os gestos car­i­catos dos dois per­son­agens prin­ci­pais o dire­tor abusa das cenas lon­gas, e um pouco exager­adas, como os dis­cur­sos fer­vorosos de Hynkel numa lín­gua incom­preesív­el. O filme foi o primeiro do dire­tor usan­do o som das vozes. Chap­lin acred­i­ta­va que o som iria mudar o expres­sion­i­mo do cin­e­ma, o tor­nan­do mais banal.

    Na fil­mo­grafia do dire­tor havia o clás­si­co Tem­pos Mod­er­nos, de 1936, que já o mostra­va como pai das sáti­ras soci­ais. Dizen­do que a vida era uma comé­dia se vista de per­to, fez de seus filmes obras de arte, sem nen­hum tipo de gra­tu­idade, e muito rep­re­sen­tan­ti­vas sobre os fatos que estavam mudan­do o cur­so da humanidade. E mes­mo com toda essa “lev­eza” Chap­lin foi exi­la­do dos EUA, por con­ta desse filme.

    O Grande Dita­dor é um clás­si­co pela cria­tivi­dade e ousa­dia do dire­tor. Em um perío­do em que as artes pisavam em ovos e o cin­e­ma era lim­i­ta­do pelo cin­e­ma-pro­pa­gan­da-total­itário, ele produziu/dirigiu/atuou em um filme que até hoje parece ousa­do demais, porém com a sub­je­tivi­dade sufi­cien­te­mente sen­sív­el para a época.

    Enquan­to, nes­ta época, muitos filmes, livros e obras amer­i­canos prefe­ri­am vis­ar ape­nas o entreten­i­men­to, O Grande Dita­dor é mar­ca­do pela críti­ca social e fal­ta de sen­ti­do do futuro. A arte da época foi mar­ca­da pelas car­i­cat­uras do que pode­ria vir a ser o futuro, como fica claro em out­ras obras do dire­tor e em obras literárias visionárias que retratam o total­i­taris­mo como 1984, de George Orwell.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=3OmQDzIi3v0

  • Crítica: Ervas Daninhas

    Crítica: Ervas Daninhas

    ervas daninhas

    O fur­to quase que banal de uma bol­sa, um romance ao mel­hor esti­lo parisiense, e um humor alfine­tan­do o esti­lo hol­ly­wood­i­ano de faz­er filmes. Tudo isso jun­to, em Ervas Dan­in­has (Les herbes folles, França, 2009), últi­mo filme do vet­er­a­no, Alain Resnais.

    Mar­guerite (Sabine Azé­ma[bb]), não imag­i­na que o fur­to de sua bol­sa, pode­ria causar tan­tas con­tro­vér­sias em pouco tem­po. Georges (André Dus­sol­lier[bb]), um cinquen­tão que tem aparên­cia de um clás­si­co con­quis­ta­dor francês, é o homem que encon­tra a carteira per­di­da. Ele pas­sa a cri­ar mil situ­ações men­tais sobre seu pos­sív­el encon­tro com a dona, e não poupa esforços para desco­brir quem ela é de fato, crian­do uma espé­cie de obsessão por isso. Mar­guerite é uma den­tista apaixon­a­da por aviões, solteira e com cabe­los rebeldes e ver­mel­hos, o que lhe dá um ar de mul­her inde­pen­dente e livre.

    O primeiro plano do filme é uma erva dan­in­ha, cresci­da sem­pre nos lugares mais impróprios, sem mui­ta per­mis­são. Assim como a relação de Georges e Mar­guerite, uma tro­ca de con­fusões e surg­i­men­tos inesperados.

    Os dois vivem um flerte clás­si­co, deixan­do várias pis­tas suben­ten­di­das um para o out­ro no decor­rer da nar­ra­ti­va. Um pon­to forte na con­strução dos per­son­agens é como o pen­sa­men­to, numa espé­cie de nar­ração em Off, ori­en­ta a história, a deixan­do bem engraça­da em vários momen­tos. Mes­mo que o espec­ta­dor ten­ha con­sciên­cia do que o per­son­agem pen­sa, a sua ati­tude, assim como na vida real, nem sem­pre segue o pensamento.

    Inspi­ra­do no romance L’Incident, de Chris­t­ian Gail­ly[bb], Ervas Dan­in­has é um típi­co filme de um remanes­cente da Nou­velle Vague, um movi­men­to sessen­tista francês. Mar­ca­do prin­ci­pal­mente pela que­bra de nar­ra­ti­va, Resnais con­strói o enre­do de for­ma con­fusa aos não ini­ci­a­dos, man­ten­do suas próprias car­ac­terís­ti­cas. Boa parte dos even­tos se mostram, proposi­tal­mente, de for­ma exager­a­da, como o mane­jo de câmera com planos super clichês, do cin­e­ma norte-amer­i­cano, tril­ha sono­ra que beira a cafon­ice (porém dan­do um charme sar­cás­ti­co) e as várias oscilações típi­cas de tem­po e espaço.

    Alain Resnais não perdeu o charme, como muitos afir­mam. Creio estar em ple­na for­ma, aos 87 anos. Sem­pre foi car­ac­terís­ti­co na sua cria­tivi­dade e no seu ape­lo sen­so­r­i­al, mes­mo soan­do sem sen­ti­do às vezes. Não é difer­ente em Ervas Dan­in­has, que é um filme para dis­cu­tir a natureza humana, assim como uma críti­ca em relação ao cin­e­ma de puro entreten­i­men­to. Resnais con­tin­ua afir­man­do que o cin­e­ma, mes­mo sendo uma arte de ficção, traz à tona a exper­iên­cia do tele­spec­ta­dor, o con­frontan­do com ati­tudes (e pes­soas) muitos próx­i­mos da vida real.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=2c_8fXojHcA