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  • Crítica: A Garota da Capa Vermelha

    Crítica: A Garota da Capa Vermelha

    Depois de adap­tações voltadas à seres mitológi­cos do imag­inário cul­tur­al como vam­piros e lobi­somens, as novas pro­duções em série do cin­e­ma amer­i­cano apos­tam em releituras de clás­si­cas fábu­las infan­tis. Seguir um viés mais real­ista para essas fábu­las é uma pro­pos­ta inter­es­sante e em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha (Red Hid­ing Hood, USA, 2011) de Cather­ine Hard­wicke, basea­do no clás­si­co A Chapeuz­in­ho Ver­mel­ho, a pre­mis­sa da adap­tação acabou fican­do des­fo­ca­da diante de tan­tos ele­men­tos de entreten­i­men­to, volta­dos prin­ci­pal­mente ao públi­co jovem.

    O vilare­jo de Dag­ger­horn con­vive há várias ger­ações com a pre­sença mitológ­i­ca de um lobo. Tan­to que cri­aram uma espé­cie de pacto de paz que aca­ba de ser que­bra­do pela morte de uma jovem e com isso desco­brem que o lobo é na ver­dade um lobi­somem e que este pode ser qual­quer um da vila. Ao tentarem solu­cionar o prob­le­ma chamam o car­ras­co padre Salomon (Gary Old­man), que traz a questão sobre o mito ver­sus religião. Valérie (Aman­da Seyfried) é a irmã mais vel­ha da víti­ma e está fada­da a ter um des­ti­no infe­liz ao se casar com um rapaz que não ama e ao desco­brir que é a úni­ca com quem o lobo con­ver­sa, muito do des­ti­no da jovem irá mudar.

    A con­fig­u­ração históri­ca e a pre­sença do cenário na idade média, con­tan­do com todos os ele­men­tos reli­giosos da época ten­ta recri­ar, de for­ma bem inter­es­sante, o para­doxo de Deus e Dia­bo diante da len­da do Lobi­somen que ron­da o imag­inário do pequeno vilare­jo. A situ­ação de lidar com a religião e os mitos é bem pre­sente na intenção de A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha e pode­ria ter sido bem uti­liza­da se não fos­se o foco no obscu­ran­tismo — força­do! — da len­da e no romance fraquin­ho entre os pos­síveis per­son­agens principais.

    A per­son­agem de Valérie, inter­pre­ta­da por Aman­da Seyfried é bem pouco caris­máti­ca, sendo apre­sen­ta­da como uma pos­sív­el mul­her forte e difer­ente mas aca­ba não se sus­ten­tan­do de for­ma con­vin­cente durante o lon­ga. Aliás, A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha pos­sui todos os clichês do tra­bal­ho ante­ri­or da dire­to­ra, o primeiro filme da fran­quia Crepús­cu­lo, deixan­do claro que ela não se sus­ten­ta como boa real­izado­ra, repetindo as mes­mas jogadas. Ain­da, os per­son­agens que dev­e­ri­am sus­ten­tar o enre­do ficam per­di­dos em super­fi­cial­i­dade na atu­ação, se pren­den­do a jogadas de olhar para as câmeras e juras de amor eter­no, esque­cen­do da tra­ma em si.

    Os efeitos de CGI estão bem pre­sentes em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha, o lobi­somem é um mis­to de todos os seres cani­nos exis­tentes e trans­for­ma­do num enorme cão com olhos e dentes raivosos, mas niti­da­mente manip­u­la­do. Esse efeito e alguns exter­nos, prin­ci­pal­mente em cenas de visão aérea da vila, soam força­dos quan­do colo­ca­dos em con­traste com os ele­men­tos medievais apre­sen­ta­dos no lon­ga. Mas a fotografia, em cenas ambi­en­tadas den­tro da vila, é geral­mente muito boa e o fig­uri­no tam­bém é um pon­to pos­i­ti­vo e bem agradável.

    O prin­ci­pal prob­le­ma em A Garo­ta da Capa Ver­mel­ha é ten­tar pare­cer con­vin­cente — de for­ma con­sciente ou não — forçan­do a visão român­ti­ca entre humano e criatu­ra, algo já pro­pos­to des­de os tem­pos de Drácu­la, Franken­stein e atual­mente na lit­er­atu­ra pop infan­to-juve­nil. A dire­to­ra força as ati­tudes no decor­rer do lon­ga que acabam o levan­do para o rol de filmes-rótu­los e fór­mu­las que fun­cionam para o atu­al cin­e­ma-instân­ta­neo, facil­mente esque­ci­do em menos de 2 sem­anas em car­taz. Talvez o lon­ga val­ha o ingres­so pela curiosi­dade de se ver uma fábu­la revista para o cin­e­ma, ou ain­da para um grande públi­co que se inter­es­sa pelo esti­lo. Parece tam­bém que muitas out­ras ver­sões de fábu­las vem por ai, res­ta esperar…

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=rr6wiWSrJ48

  • Crítica: As Viagens de Gulliver

    Crítica: As Viagens de Gulliver

    2011 prom­ete ser o ano em que os EUA farão jus ao dita­do que fala ¨Nada se cria, tudo se copia¨ den­tro do cin­e­ma. Remakes e adap­tações literárias serão o grande trun­fo para a saí­da da dis­farça­da crise Holy­wood­i­ana. Apo­s­tan­do na comé­dia, a releitu­ra de As Via­gens de Gul­liv­er (Gul­liv­er’s Trav­els, EUA, 2010), de Rob Let­ter­man, traz o car­i­ca­to Jack Black no papel prin­ci­pal e ten­ta mod­ern­izar o clás­si­co da lit­er­atu­ra ingle­sa do sécu­lo XVIII.

    Lle­muel Gul­liv­er (Jack Black) é um fun­cionário da expe­dição de cor­re­spondên­cias de uma grande edi­to­ra. Ele é apaixon­a­do pela jor­nal­ista de via­gens Dar­cy e ao ten­tar escr­ev­er um arti­go para con­quista-la aca­ba por entrar numa mis­são jor­nalís­ti­ca inusi­ta­da: ir até o triân­gu­lo das Bermu­das e escr­ev­er sobre a exper­iên­cia do lugar míti­co. Não levan­do a sério às histórias sobre o lugar, Gul­liv­er enfrenta uma tem­pes­tade assus­ta­do­ra e acor­da pre­so no pequeno país de Lil­liput ten­do que con­vencer que não é nen­hum gigante inimigo.

    O filme brin­ca com os nomes e situ­ações que são citadas no livro os trazen­do para o atu­al, fazen­do refer­ên­cias ao mun­do pop que os amer­i­canos con­struíram. São cita­dos des­de filmes como Avatar e Wolver­ine até equipa­men­tos da Apple e apar­el­hos domés­ti­cos de uso atu­al. No ori­gial de Jonathan Swift, Gul­liv­er rep­re­sen­ta uma metá­fo­ra da situ­ação que a Inglater­ra sofria com a França nes­sa época, o que não difere com as brin­cadeiras pro­postas por Jack Black, afi­nal, os amer­i­canos, onde chegam, dom­i­nam e instituem seu modo de viv­er, e isso fica claro nes­sa nova ver­são de As via­gens de Gul­liv­er.

    Jack Black é o tipo de come­di­ante, assim como boa parte dos atores dessa classe, que ou é odi­a­do ou idol­a­tra­do. O ator man­tém o mes­mo esti­lo sem­pre, do roqueiro largadão que faz care­tas para toda e qual­quer situ­ação, e isso não difere em As via­gens de Gul­liv­er. O maior prob­le­ma grá­fi­co do filme são algu­mas cenas em que o grandão Gul­liv­er aparece no mes­mo plano que os pequeni­nos e as ima­gens não ficam cor­re­spon­dentes, fican­do níti­da a mon­tagem, talvez isso ten­ha fica­do mel­hor na ver­são 3D.

    Adap­tações cin­e­matográ­fi­cas de clás­si­cos da lit­er­atu­ra, e de qual­quer livro em ger­al, exigem muito cuida­do. A leitu­ra propõe out­ros tipos de sen­ti­dos e a cri­ação de ima­gens acon­tece de uma for­ma total­mente livre para o leitor que quan­do pas­sa a ser um espec­ta­dor pode dis­cor­dar total­mente da visão do roteirista e do dire­tor, dan­do surg­i­men­to a vel­ha polêmi­ca de livro ver­sus filme. Com As via­gens de Gul­liv­er não é difer­ente, a pro­pos­ta é colo­car em cena toda a situ­ação apre­sen­ta­da lá no sécu­lo XVIII vista nesse mun­do atu­al glob­al­iza­do e reple­to de refer­ên­cias. Afi­nal, existe algum pon­to no uni­ver­so que não con­heça os per­son­agens e situ­ações, con­ta­dos como novi­dade pelo Gul­liv­er aos habi­tantes de Lil­liput? E isso dá alguns crédi­tos para o filme, para que não seja mais um pastelão de comédia.

    As via­gens de Gul­liv­er é um filme medi­ano e sem maiores pre­ten­sões rela­cionadas à fidel­i­dade literária. É um filme para entreter, mes­mo que não con­vença tan­to com algu­mas piadas repet­i­ti­vas. Vale a pena pelas refer­ên­cias e trans­posição de situ­ações hilari­antes que no nos­so cotid­i­ano se repetem tan­to que nem pare­cem tão divertidas.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=5AKK50ijczo