A busca pela metade, pela completude. As utopias em torno do conceito contemporâneo do Amor são muitas. A solidão não cabe ao ser humano e ele insistentemente faz de tudo para que o outro lado corresponda a todo custo, como se houvesse uma obrigação, egoísta, na reciprocidade dos sentimentos. E é desse auto-engano sobre a existência de uma metade que o curta Harvey (2001) de Peter Mcdonald trata, de uma forma especialmente realista-fantástica.
Harvey é um homem incompleto, em todos os sentidos. Sozinho e pela metade ele observa a sua estranha vizinha pela porta, se apresentando como um voyeur apaixonado de olhar obcecado. Em busca de suprir e alimentar o seu ego partido ao meio, Harvey vai até ela e a obriga ser a sua metade. Mesmo a costurando ao seu corpo, Harvey não consegue obrigá-la a amá-lo na sua mesma profundidade. Ao contrário, a faz ter mais medo ainda daquela obsessão e fugindo ela o deixa numa solidão mais profunda ainda.
Peter Mcdonald poderia ter tornado Harvey em apenas um projeto ambicioso de ficção beirando ao estranhamento e ao terror. Mas, fez o curta funcionar pelas técnicas usadas que vão desde o chroma key até o 3D, em apenas nove minutos sintetiza em metáforas a significação de amores platônicos e os limites da possessão. Harvey representa uma infinidade de pessoas que vivem a incompletude da solidão e a obsessão pelo sentido utópico de amor eterno e obrigatório. Um curta antes de tudo, e paradoxalmente, sensível a ponto de doer os olhos.