Alguns livros você lê rapidamente, mas torce para que demorem para terminar, tamanha a qualidade. Só Garotos (Companhia das Letras, 2010) de Patti Smith é exatamente assim. Mais conhecida por causa da sua carreira na música, Smith sempre lidou com diversas áreas da arte. Começou escrevendo poesias e desenhando, a música veio mais tarde. Em meio a essa jornada, ela conheceu Robert Mapplethorpe. É justamente sobre a relação entre eles que Patti escreve.
Nascida em 1946, Patti Smith sempre soube que seu caminho seria pelas artes. Aos 21 anos ela se mudou para Nova Iorque para trabalhar com o que realmente gostava. Ali, conheceu Robert, que se tornaria sua alma gêmea até a morte dele, em 1989. Os dois começaram uma relação amorosa, mas de intenso afeto fraternal. Juntos, escreviam, fotografavam e desenhavam. Chegaram a conhecer grandes artistas da época, como Warhol e seus artistas da Factory, bem como músicos (Janis Joplin, Jimmy Hendrix, entre outros) e escritores (Allen Ginsberg e William S. Burroughs).
A escrita de Patti em Só Garotos beira o tom confessional, ela relata acontecimentos de sua vida, sempre citando a influência de Robert. Também sempre faz referência às seus poetas preferidos, como Rimbaud e William Blake. Por se tratar de uma autobiografia, podemos conhecer a artista por ela mesma. Apesar de ser um texto verídico, ele também é literário. A autora escolhe bem as palavras e torna a leitura bastante fluída.
Um livro bom é aquele que causa as mais diversas sensações no leitor. E nesse quesito Patti Smith escreve com maestria. No início de Só Garotos, ficamos amargurados com sua busca, depois ficamos felizes com suas conquistas, logo os sentimentos caem para uma nostalgia daquilo que não vivemos. Somos apenas espectadores daquela dor que ela sentiu ao perder sua alma gêmea. Robert diz que enquanto ela carregava a vida dentro dela, ele carregava a morte. Impossível não sentir uma pontada de tristeza, por causa de duas mentes iguais que foram separadas.
Este livro é recomendado não apenas para os fãs, mas para qualquer pessoa interessada em uma boa leitura. A trajetória de Patti e Robert, em que vivenciaram momentos de desespero e humilhação, até se tornarem grandes artistas, é muito bem descrita. Vale lembrar que Só Garotos ganhou o National Book Award de não ficção, merecidamente. Ao ler o livro, nos sentimos como se a própria Patti estivesse nos contando a história, o que torna seu livro tão íntimo e bem escrito.