O que você faria se não pudesse ouvir? Como se comunicar sem o uso da palavra falada? Garanto que aprenderia a lidar com os gestos, prestaria mais atenção nas expressões das pessoas e enxergaria a palavra de outro modo, sem o som, mas com mais significação na forma e no sentido. E é dessas percepções que o curta O Resto é Silêncio (2003), de Paulo Halm, trata.
Lucas é um garoto surdo que vive atentamente em prestar atenção nos gestos das pessoas, várias vezes ele vai até a loja de discos somente para observar as expressões. Mas além disso, Lucas gosta mesmo é das palavras e é na poesia que o jovem tem suas maiores sensações e consegue expressá-las através da língua de Libras. Ao conhecer Clara, a nova colega do colégio para deficientes auditivos, ele descobre que existem muitos outros meios de entender os sons que o mundo possui e isso muda aos poucos a vida de Lucas.
O Resto é Silêncio é filmado todo em língua de Libras e os atores são todos surdos. O diretor faz uso intenso do silêncio e das sensações de um deficiente auditivo comum como as transições entre som e silêncio que muitos sentem. Ainda, mostra um pouco do cotidiano desses jovens, que tem uma vida completamente adaptada porém em nada diferente dos outros.
É a poesia, não somente das palavras que o garoto encontra, mas nos gestos e nas formas que os personagens reais de O Resto é Silêncio encontram para explicar o mundo. Para Lucas as palavras são sinestésicas, elas possuem formas, cheiros e valores diferentes do som. Elas se tornam poesia para ele e assim pode transformá-las em mágica nas suas mãos.