Zé do Caixão é uma das figuras mitológicas do cinema de horror, B, Trash — ou a designação que você preferir — do mundo. A figura de José Mojica Marins ou do seu personagem caricato de Zé do Caixão sempre foram perturbadores pelo ator/diretor/roteirista encarar, por muito tempo, o personagem como estilo de vida. Em 1964, com o clássico À meia-noite levarei sua alma era dado o ínicio da trilogia que só terminaria em 2008 com Encarnação do Demônio. O personagem Zé do Caixão, após o segundo longa Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver, é preso durante 40 anos pelos experimentos que fez com pessoas e mulheres em busca do filho perfeito.
Em Prontuário 666 — Os anos de cárcere de Zé do Caixão (Conrad, 2008), com ilustrações e roteiro de Samuel Casal e argumento e co-roteiro de Adriana Brunstein é mostrado o que houve com Josefel Zanatas desde que foi finalmente pego e jogado em um presídio que o mesmo intitulou como zoológico humano. As ilustrações de Casal são muito interessantes, ele traz um novo estilo de quadrinho de horror que mostra o macabro Josefel de uma forma muito mais obscura, quase que como uma sombra que anda pelas celas, sem muitos rastros. Já o roteiro de Adriana faz jus às histórias de José Mojica, sem poupar o humor negro, muitas vezes exageradamente sórdido.
O estilo expressionista de Samuel Casal com um toque noir não deve em nada com as películas de Zé do Caixão. As expressões dos homens sem nome, que se perdem na escuridão das celas e nas mãos de Zanatas, são vazias e distantes, impossível não ler os quadrinhos e não ficar perturbado pela figura do homem com unhas enormes e capa preta. Prontuário 666 — Os anos de cárcere de Zé do Caixão é bem ao estilo do japonês Panorama do Inferno, ou seja, é um prato cheio para fãs de horror e quadrinhos que não poupam o leitor de uma noite mal dormida.