Um homem pode ser absolvido pelos seus vícios por conta de um grande ato de heroísmo, que salvou muitas vidas em uma situação onde provavelmente todos iriam morrer? Este é o grande questionamento em torno de O Voo (Flight, EUA, 2013), dirigido por Robert Zemeckis e com Denzel Washington no papel principal.
A história começa em uma manhã que parece ser como qualquer outra, depois de uma noitada de álcool, drogas e sexo, Whip Whitaker vai trabalhar como se nada tivesse acontecido. Só tem um pequeno detalhe, ele é piloto de aviões domésticos em uma grande companhia aérea. Para piorar a situação, o avião que estava pilotando sofre uma pane no meio do voo e começa a cair de ponta cabeça em direção ao chão. Esta era uma situação que dificilmente alguém poderia sair vivo, mas ele teve a genial ideia de virar o avião de cabeça para baixo e assim nivelá-lo novamente para poder pousar, salvado praticamente quase todos a bordo. Só que quando as investigações a respeito do que poderia ter acontecido com a aeronave começam a ser feitas, é descoberto que ele estava bêbado durante o acidente e o mesmo pode ser preso por conta disso.

Apesar do trailer dar uma impressão de ser um filme de comédia, ele é na verdade um drama bem intenso. Com vários outros filmes de peso no currículo como a trilogia De Volta para o Futuro, Forrest Gump, o Contador de Histórias e Náufrago, talvez este seja o longa mais pesado, ou o mais adulto, que o o diretor Robert Zemeckis já fez. Não só falando da temática, mas também da escolha de filmar cenas de maneiras que normalmente são evitadas. É inesquecível, por exemplo, o momento em que o avião está caindo e toda a aeronave simplesmente vira de cabeça para baixo e vemos detalhe por detalhe tudo que acontece dentro do avião. Depois dessa você vai pensar duas vezes antes de não querer usar o cinto de segurança na sua próxima viagem. Também não são poupadas as cenas de nudez, principalmente da atriz Nadine Velazquez que faz o papel de aeromoça e amante de Whip, não ficando naquele esconde esconde hollywoodiano ridículo.
Não é por menos que Denzel Washington está concorrendo ao Oscar de 2013 como Melhor Ator por conta deste filme, que segundo ele é um dos papéis mais complexos que já fez. Devido as suas várias facetas, é constante a alternância entre admiração e repulsa em relação ao comandante Whip. Você não sabe se adora ou se odeia aquele personagem. Bem diferente por exemplo do seu papel em O Livro de Eli (2010), dirigido por Albert e Allen Hughes, onde ele é simplesmente o herói bondoso de coração puro.

O Voo desenvolve bem toda essa questão do dualismo herói/vilão e do vício de Whitaker, assim como os de outros personagens secundários, sem entrar em todas aquelas cenas e argumentos clichês que estamos acostumados a ver em longas do gênero. Além disso, ele também aproveita para fazer algumas piadinhas e questionar algumas instituições, como as próprias companhias aéreas e o sistema legal, mas sem se perder nelas. Para a felicidade ou o desgosto de alguns, o filme acaba tendendo fortemente para a religião, mas totalmente plausível considerando as circunstâncias do acontecimento. Algumas pessoas talvez achem o filme cansativo por ter um pouco mais de duas horas de duração, mas isso acaba sendo importante para poder desenvolver sem pressa toda a sua trama.
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=LdpzTsqRSPw