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  • Achados e Perdidos, de Eduardo Damasceno, Luís Felipe Garrocho e Bruno Ito

    Achados e Perdidos, de Eduardo Damasceno, Luís Felipe Garrocho e Bruno Ito

    Sem­pre achei que todas as histórias em quadrin­hos têm uma tril­ha sono­ra. Quan­do eu li pela primeira vez Gen pés descalços, por exem­p­lo, do Kei­ji Nakaza­wa, achei que com­bi­na­va com Beau­ti­ful Boys das irmãs Cocorosie. Mas isso varia muito de pes­soa para pes­soa, cada um tem um repertório e uma sen­sação ao ler algu­ma coisa. 

    Mas a HQ Acha­dos e Per­di­dos foi além dis­so. Eduar­do Dam­a­s­ceno e Luís Felipe Gar­ro­cho, nas suas habil­i­dades em inven­tar histórias para diver­tir as pes­soas, cri­aram cada pági­na do livro de for­ma autên­ti­ca e inspi­rado­ra, e ain­da, se não bas­tasse, uma músi­ca especí­fi­ca foi com­pos­ta para cada capí­tu­lo da tra­ma pelo ami­go de lon­ga data dos cri­adores, o músi­co Bruno Ito.

    Quan­do li o primeiro capí­tu­lo de Acha­dos e Per­di­dos, Vácuo, o qual os meni­nos disponi­bi­lizam no site do Quadrin­hos Rasos me apaixonei no mes­mo momen­to pela obra. Nun­ca havia lido algu­ma história com uma músi­ca pen­sa­da exata­mente para cada situ­ação dela, e só fiquei queren­do mais. O negó­cio é que o livro só iria ser pro­duzi­do por com­ple­to se os autores con­seguis­sem arrecadar o din­heiro total que pre­cisavam, pois o pro­je­to esta­va den­tro do Catarse.me, uma platafor­ma de finan­cia­men­to colab­o­ra­ti­vo. Cola­bor­ei e acom­pan­hei o site durante todo o proces­so, e eis que depois de dias esperan­do o resul­ta­do, graças às mais de 500 pes­soas que colab­o­raram, o Acha­dos e Per­di­dos foi o primeiro lança­men­to do selo Quadrin­hos Rasos.

    Mas afi­nal do que se tra­ta essa HQ tão espe­cial? Imag­ine algo que englo­ba quadrin­hos, músi­ca e bura­cos negros. Em um dia comum, Dev, um garo­to um tan­to triste e solitário, acor­da com um bura­co negro no estô­ma­go. Pipo, seu mel­hor ami­go, fica deslum­bra­do com o fenô­meno e esquema­ti­za vários planos para solu­cionar o prob­le­ma de Dev. No meio das bus­cas dos dois, acabam con­hecen­do Lau­ra, uma ado­les­cente que tam­bém pos­sui um bura­co negro embaixo de sua cama.

    Acha­dos e Per­di­dos uti­liza-se de uma situ­ação extra­ordinária para tratar de prob­le­mas e con­fli­tos comuns da vida cotid­i­ana, a qual todos esta­mos condi­ciona­dos. E faz isso com taman­ha sen­si­bil­i­dade, mas sem perder o humor, através de per­son­agens como Pipo, que con­segue trans­for­mar o mis­tério do bura­co negro de Dev em uma grande aventura.

    O livro é divi­di­do em sete capí­tu­los e um epíl­o­go. Cada faixa do CD cor­re­sponde a um capí­tu­lo de Acha­dos e Per­di­dos, e, por incrív­el que pareça, ao tér­mi­no de cada capí­tu­lo, uma músi­ca ter­mi­na e out­ra começa e você nem ao menos se dá con­ta. Como no capí­tu­lo seis: Hor­i­zonte de even­tos, quan­do começa a chover na história, o barul­ho de chu­va aparece tam­bém na músi­ca. Mágica.

    Acha­dos e Per­di­dos foi ini­cial­mente pro­duzi­do em quan­ti­dade lim­i­ta­da para as pes­soas que colab­o­raram para que ele viesse a exi­s­tir, mas a boa notí­cia é que a obra será relança­da ain­da esse mês pela edi­to­ra Migu­il­im. Se eu fos­se você não perde­ria a opor­tu­nidade de via­jar por essa história inten­sa e fasci­nante e desco­brir o sig­nifi­ca­do da peque­na afir­mação de Dam­a­s­ceno: Por uma boa vida.