Author: Francielle Costa

  • Fábulas Vol. 1 – Lendas no Exílio, de Bill Willingham, Lan Medina e Steve Leialoha

    Fábulas Vol. 1 – Lendas no Exílio, de Bill Willingham, Lan Medina e Steve Leialoha

    Os con­tos de fada estão em alta. As famosas histórias cri­adas orig­i­nal­mente pelos Irmãos Grimm, tão acla­madas na infân­cia, têm inspi­ra­do bas­tante autores e dire­tores de cin­e­ma. Só este ano, dois filmes influ­en­ci­a­dos no con­to Bran­ca de Neve e os Sete Anões chegaram às telonas. O primeiro Espel­ho, Espel­ho Meu (Mir­ror, Mir­ror), estre­la­do por Lily Collins (fil­ha de Phill Collins) e o mais recente Bran­ca de Neve e o Caçador (Snow White and the Hunts­man), com o belo papel desem­pen­hado por Char­l­ize Theron como Rain­ha Má. Ape­sar das adap­tações feitas aos roteiros e per­son­agens fugirem um pouco dos con­tos tradi­cionais, a ideia dos ambi­entes e a tra­ma prin­ci­pal con­tin­u­am os mes­mos. A série Once Upon a Time, famosa nos Esta­dos Unidos, tam­bém reúne os per­son­agens dos con­tos de fada, e ape­sar de dis­torcer um pouco a história orig­i­nal, pois os per­son­agens vivem na cidade e não se lem­bram quem real­mente são, eles ain­da pas­sam pelos mes­mos prob­le­mas e esti­mam pelos mes­mos son­hos, serem felizes e encon­trarem o seu ver­dadeiro amor. É aí que a HQ Fábu­las (Devir, 2004), apre­sen­ta o seu difer­en­cial. Nela não existe mais o mes­mo felizes para sem­pre.

    Em Fábu­las Vol. 1 – Lendas no Exílio, com roteiro de Bill Will­ing­ham e arte de Lan Med­i­na e Steve Leialo­ha, após a invasão de um adver­sário enig­máti­co de seu povo em sua ter­ra natal, os per­son­agens foram exi­la­dos e pas­saram a viv­er na cidade de Nova York, ao lado dos humanos, ou “mun­danos como são comu­mente chama­dos. Bran­ca de Neve ago­ra não mais vive para amar e dedicar-se ao seu príncipe, mas sim como uma vice-prefei­ta intol­er­ante, divor­ci­a­da e que não pode nem sequer ouvir falar nos sete anões. O Lobo Mau (Big­by Lobo), aque­le da Chapeuz­in­ho Ver­mel­ho, não é mais gov­er­na­do pela sua bar­ri­ga e sim pela sua mente. Como xerife da cidade, a sua prin­ci­pal ‘refe’ição é deli­ciar-se ao desven­dar os mis­térios que ron­dam os crimes da cidade das Fábu­las. O príncipe encan­ta­do, que aliás é o mes­mo para todas as prince­sas, é um nar­ci­sista aproveita­dor, que pos­sui um reina­do sem val­or no mun­do em que vive ago­ra. Cada per­son­agem apre­sen­ta uma per­son­al­i­dade úni­ca e dis­tor­ci­da dos con­tos orig­i­nais, o que con­tribuiu enorme­mente para faz­er de Fábu­las um quadrin­ho que con­ta algo anti­go, de for­ma total­mente inovadora.

    Um dos pon­tos fortes da orig­i­nal­i­dade de Fábu­las é a com­plex­i­dade dos prob­le­mas vivi­dos pelos per­son­agens. A difi­cul­dade ago­ra não é mais de a prince­sa con­seguir viv­er feliz para sem­pre ao lado de seu príncipe enquan­to a rain­ha má paga pelas suas mal­dades. O que era trági­co vira cômi­co. Dev­i­do aos prob­le­mas cotid­i­anos e finan­ceiros de um casal que perdeu sua for­tu­na, Fera não con­segue con­tro­lar a maldição que tor­na a sua aparên­cia feri­na, prin­ci­pal­mente com o mau humor e recla­mações de sua esposa Bela. Ou o Pinóquio que fica revolta­do com a fada que o trans­for­mou em um meni­no de ver­dade, mas que nun­ca chega à puberdade.

    Neste primeiro vol­ume de Fábu­las, a história prin­ci­pal se pas­sa no desa­parec­i­men­to de Rosa Ver­mel­ha, irmã de Bran­ca de Neve. O cli­ma de inves­ti­gação de romance poli­cial da tra­ma, semel­hante a quadrin­hos como Júlia Kendall: As Aven­turas de uma Crim­inólo­ga envolve o leitor do iní­cio ao fim, com diál­o­gos exce­lentes ricos em iro­nia e fran­queza. Bill Will­ing­ham obtém suces­so ao trans­for­mar os clás­si­cos per­son­agens antes inat­ingíveis, em pes­soas quase comuns que ape­nas procu­ram viv­er suas vidas, ten­tan­do não rev­e­lar sua aparên­cia mág­i­ca ao mun­do humano. No desen­ro­lar da tra­ma, o autor apre­sen­ta assun­tos que você difi­cil­mente pen­saria em ver entre os mocin­hos dos con­tos de fada, como traição, sex­u­al­i­dade e por aí afora.

    As 132 pági­nas de Fábu­las têm ilus­trações fan­tás­ti­cas, com teor mais real­ista e atu­al, mas que em alguns momen­tos são inter­cal­adas com desen­hos de per­son­agens recon­tan­do histórias anti­gas, com aque­le ar dos con­tos mais clás­si­cos. Ao final da história, tam­bém há um con­to ilustra­do pelo próprio roteirista Bill Will­ing­ham chama­do Um lobo entre cordeiros, que rev­ela detal­hada­mente como o lobo obteve sua for­ma humana.

    Pub­li­ca­dos pela Pani­ni Comics, os vol­umes no Brasil encon­tram-se na 11º edição. Para quem gos­ta de boas histórias com um quê de fan­ta­sia, Fábu­las é uma óti­ma opção.

  • Las Palmas

    Las Palmas

    Imag­ine um bebê que pilota uma moto, fuma e ado­ra encher a cara num bar servi­do por garçons mar­i­onetes. A mini-tur­ista arru­a­ceira que mal sabe andar e falar, chega à cidade ator­men­tan­do a vida dos empre­ga­dos e clientes do bar, toman­do con­ta do lugar, beben­do e comen­do tudo o que vê pela frente. Essa é a história do cur­ta-metragem Las Pal­mas (2011), do sue­co Johannes Nyholm.

    O cur­ta-metragem de 13 min­u­tos tem como per­son­agem prin­ci­pal a própria fil­ha de Nyholm de ape­nas um ano, mas que inter­pre­ta uma sen­ho­ra de meia-idade com espíri­to aven­tureiro, que chega à cidade em um feri­ado de sol em bus­ca de novas amizades para cur­tir um pouco o seu tempo.

    Com uma óti­ma tril­ha sono­ra com­pos­ta por Björn Ols­son e Goyo Ramos, Las Pal­mas é real­mente engraça­do. A saca­da de Nyholm em uti­lizar as car­ac­terís­ti­cas de um bebê, como a fal­ta de jeito para com­er, a espon­tanei­dade ou a difi­cul­dade em andar por estar em fase de cresci­men­to, dan­do-nos a ideia de uma sen­ho­ra bêba­da é sen­sa­cional. Aliás, os out­ros per­son­agens, inter­pre­ta­dos por mar­i­onetes, tam­bém são muito diver­tidos, pois pare­cem estar indig­na­dos e estáti­cos diante do com­por­ta­men­to da turista.

    Las Pal­mas foi exibido em Curiti­ba no ano pas­sa­do pelo 1º Kino­fo­rum, Fes­ti­val Inter­na­cional de Cur­tas-Metra­gens de São Paulo, que sele­cio­nou qua­tro cur­tas par­tic­i­pantes da Sem­ana da Críti­ca do Fes­ti­val de Cannes de 2011.

    O trail­er do cur­ta está disponív­el pelo nome Baby trash­es bar in Las Pal­mas, mas pode ser vis­to na ínte­gra pela pági­na do Face­book de Nyholm. Alguns o con­sid­er­am uma ideia de humor negro, já eu acho uma grande brin­cadeira que resul­tou em um óti­mo tra­bal­ho. Ah, e não se pre­ocupe o que ela bebe é ape­nas suco.

  • Mundo Fantasma, de Daniel Clowes

    Mundo Fantasma, de Daniel Clowes

    Con­sid­er­a­da uma das HQ’s mais acla­madas dos quadrin­hos alter­na­tivos norte-amer­i­canos, Mun­do Fan­tas­ma (Ghost World, Gal Edi­to­ra, 2011), cri­a­da em 1989 pelo quadrin­ista Daniel Clowes, rep­re­sen­ta de for­ma hilária e melancóli­ca as adver­si­dades da adolescência.

    As ami­gas Enid e Rebec­ca, recém saí­das do cole­gial, são duas ado­les­centes com­plexas que pos­suem uma maneira bem par­tic­u­lar de ver o mun­do. Entre per­son­agens esquizofrêni­cos como o ex-padre pedó­fi­lo, o casal de satanistas que ado­ra com­prar comi­da instan­tânea para cri­anças e o astról­o­go e médi­um Bob Skeets, as duas fazem obser­vações per­spi­cazes a respeito das pes­soas com quem con­vivem, enquan­to ten­tam adap­tar-se à sua fal­ta de práti­ca de viv­er em meio à sociedade.

    Os diál­o­gos des­ta HQ pos­suem um poten­cial incrív­el de sar­cas­mo e irreverên­cia, pois ambas as pro­tag­o­nistas, em espe­cial Enid, criti­cam a tudo e a todos de maneira cru­el mais ao mes­mo tem­po cômi­ca, expres­san­do sem rodeios, as suas opiniões. As refer­ên­cias que Enid usa em seus diál­o­gos com per­son­agens e episó­dios de seri­ados da déca­da de 60/70 como Mod Squad e Os mon­stros, além das letras de músi­ca para pon­tu­ar alguns momen­tos da nar­ra­ti­va, como o punk rock do Ramones (músi­cas que são traduzi­das ao final do livro), são alguns ele­men­tos que tor­nam Mun­do Fan­tas­ma uma HQ tão envol­vente que é capaz de mudar a nos­sa per­cepção sobre algu­mas situ­ações cotid­i­anas que vivemos. 

    A difer­ença entre as duas, é que enquan­to Enid, com suas tro­cas repenti­nas de visu­al, pen­sa em se mudar de sua cidade e viv­er de uma out­ra maneira, Becky só quer con­tin­uar com sua mes­ma condição, sem muitas expec­ta­ti­vas, isso aca­ba por con­tribuir para o inevitáv­el dis­tan­ci­a­men­to das ami­gas, que pare­cem estar se tor­nan­do mais “maduras”.

    Os oito capí­tu­los da obra que depois de reunidos em um úni­co vol­ume em 1997, resul­taram na HQ inde­pen­dente Mun­do Fan­tas­ma, relatam episó­dios comuns da vida ado­les­cente como a nar­ração da primeira vez de Enid com um hip­pie sério do últi­mo ano do colé­gio e a escol­ha dela pela fal­ta de opções de um par­tido com um bom gos­to musi­cal, Pelo menos ele não escu­ta­va Grate­ful Dead!. Difer­ente das grandes histórias de super heróis, em todos os capí­tu­los Daniel Clowes rela­ta com detal­h­es os con­fli­tos e com­plex­i­dades da vida real e desa fase cheia de insegurança.

    Depois dos inúmeros prêmios que lev­ou, Mun­do Fan­tas­ma foi adap­ta­da tam­bém para o cin­e­ma em Ghost World – Apren­den­do a Viv­er (2001) pelo cineas­ta Ter­ry Zwigoff, com roteiro próprio de Daniel Clowes. Ape­sar de algu­mas mudanças da história orig­i­nal, como de alguns per­son­agens, a atu­ação de Tho­ra Birch e Scar­lett Johans­son é bril­hante, além de con­tar com uma óti­ma tril­ha sonora.

    Mun­do Fan­tas­ma foi escol­hi­do como um dos dez mel­hores álbuns em quadrin­hos de todos os tem­pos pela Revista Time, sendo final­mente lança­do no Brasil ano pas­sa­do pela Gal Edi­to­ra. Um quadrin­ho real­ista rico em cin­is­mo e inteligên­cia que merece ser lido e reli­do. Como descreve o comen­tário pre­sente na biografia do autor ao final da obra, Mun­do Fan­tas­ma é uma pro­va de que Daniel Clowes não é só um vel­ho pervertido.

    Book­trail­er do quadrin­ho:

    httpv://youtu.be/qYwXlYa6Wmg

  • The Chase

    The Chase

    The Chase (2012) é um pro­je­to pes­soal do amante de cin­e­ma e pub­lic­itário chileno de 25 anos, Tomas Ver­gara. O cur­ta-metragem de ani­mação em 3D foi pro­duzi­do em uma cabana iso­la­da em uma flo­res­ta próx­i­ma a San­ti­a­go, no Chile, na qual Ver­gara per­maneceu durante seis meses. Como o cri­ador é um auto­di­da­ta, e a ani­mação foi o seu primeiro tra­bal­ho como dire­tor e edi­tor, as eta­pas de sua pro­dução, os livros e filmes que servi­ram de inspi­ração para a con­clusão da obra (um Top 250 filmes), o mak­ing-of, as ideias e con­ceitos, o ambi­ente em que ele foi pro­duzi­do, foram todas divul­gadas pas­so a pas­so em um blog cri­a­do exclu­si­va­mente para o curta.

    The Chase pos­sui 13 min­u­tos e con­ta a história de um assas­si­no profis­sion­al que tin­ha pela frente uma mis­são sim­ples para realizar, mas que, ines­per­ada­mente, aca­ba se tor­nan­do o alvo e tudo se trans­for­ma numa cor­ri­da pela sua própria sobrevivência.

    A tril­ha sono­ra, o aspec­to dos per­son­agens como bonecos de cera, as cores, a con­strução da nar­ra­ti­va e o proces­so de cri­ação, são alguns dos ele­men­tos que fazem de The Chase uma óti­ma ani­mação e um grande exem­p­lo de moti­vação para quem gos­ta do assun­to e pre­tende cri­ar a sua própria obra. Pois como diz Tomas Ver­gara em seu blog: “To make this thing hap­pen it will take hard work thought”*.

    *Para que isso acon­teça será necessário bas­tante trabalho.

  • Achados e Perdidos, de Eduardo Damasceno, Luís Felipe Garrocho e Bruno Ito

    Achados e Perdidos, de Eduardo Damasceno, Luís Felipe Garrocho e Bruno Ito

    Sem­pre achei que todas as histórias em quadrin­hos têm uma tril­ha sono­ra. Quan­do eu li pela primeira vez Gen pés descalços, por exem­p­lo, do Kei­ji Nakaza­wa, achei que com­bi­na­va com Beau­ti­ful Boys das irmãs Cocorosie. Mas isso varia muito de pes­soa para pes­soa, cada um tem um repertório e uma sen­sação ao ler algu­ma coisa. 

    Mas a HQ Acha­dos e Per­di­dos foi além dis­so. Eduar­do Dam­a­s­ceno e Luís Felipe Gar­ro­cho, nas suas habil­i­dades em inven­tar histórias para diver­tir as pes­soas, cri­aram cada pági­na do livro de for­ma autên­ti­ca e inspi­rado­ra, e ain­da, se não bas­tasse, uma músi­ca especí­fi­ca foi com­pos­ta para cada capí­tu­lo da tra­ma pelo ami­go de lon­ga data dos cri­adores, o músi­co Bruno Ito.

    Quan­do li o primeiro capí­tu­lo de Acha­dos e Per­di­dos, Vácuo, o qual os meni­nos disponi­bi­lizam no site do Quadrin­hos Rasos me apaixonei no mes­mo momen­to pela obra. Nun­ca havia lido algu­ma história com uma músi­ca pen­sa­da exata­mente para cada situ­ação dela, e só fiquei queren­do mais. O negó­cio é que o livro só iria ser pro­duzi­do por com­ple­to se os autores con­seguis­sem arrecadar o din­heiro total que pre­cisavam, pois o pro­je­to esta­va den­tro do Catarse.me, uma platafor­ma de finan­cia­men­to colab­o­ra­ti­vo. Cola­bor­ei e acom­pan­hei o site durante todo o proces­so, e eis que depois de dias esperan­do o resul­ta­do, graças às mais de 500 pes­soas que colab­o­raram, o Acha­dos e Per­di­dos foi o primeiro lança­men­to do selo Quadrin­hos Rasos.

    Mas afi­nal do que se tra­ta essa HQ tão espe­cial? Imag­ine algo que englo­ba quadrin­hos, músi­ca e bura­cos negros. Em um dia comum, Dev, um garo­to um tan­to triste e solitário, acor­da com um bura­co negro no estô­ma­go. Pipo, seu mel­hor ami­go, fica deslum­bra­do com o fenô­meno e esquema­ti­za vários planos para solu­cionar o prob­le­ma de Dev. No meio das bus­cas dos dois, acabam con­hecen­do Lau­ra, uma ado­les­cente que tam­bém pos­sui um bura­co negro embaixo de sua cama.

    Acha­dos e Per­di­dos uti­liza-se de uma situ­ação extra­ordinária para tratar de prob­le­mas e con­fli­tos comuns da vida cotid­i­ana, a qual todos esta­mos condi­ciona­dos. E faz isso com taman­ha sen­si­bil­i­dade, mas sem perder o humor, através de per­son­agens como Pipo, que con­segue trans­for­mar o mis­tério do bura­co negro de Dev em uma grande aventura.

    O livro é divi­di­do em sete capí­tu­los e um epíl­o­go. Cada faixa do CD cor­re­sponde a um capí­tu­lo de Acha­dos e Per­di­dos, e, por incrív­el que pareça, ao tér­mi­no de cada capí­tu­lo, uma músi­ca ter­mi­na e out­ra começa e você nem ao menos se dá con­ta. Como no capí­tu­lo seis: Hor­i­zonte de even­tos, quan­do começa a chover na história, o barul­ho de chu­va aparece tam­bém na músi­ca. Mágica.

    Acha­dos e Per­di­dos foi ini­cial­mente pro­duzi­do em quan­ti­dade lim­i­ta­da para as pes­soas que colab­o­raram para que ele viesse a exi­s­tir, mas a boa notí­cia é que a obra será relança­da ain­da esse mês pela edi­to­ra Migu­il­im. Se eu fos­se você não perde­ria a opor­tu­nidade de via­jar por essa história inten­sa e fasci­nante e desco­brir o sig­nifi­ca­do da peque­na afir­mação de Dam­a­s­ceno: Por uma boa vida.

  • Frango com Ameixas (Poulet aux Prunes) (2011), de Vincent Paronnaud & Marjane Satrapi

    Depois do suces­so da graph­ic nov­el Per­sépo­lis (2007), adap­ta­da para o cin­e­ma em uma fab­u­losa ani­mação, a quadrin­ista ira­ni­ana Mar­jane Satrapi, nova­mente em parce­ria com Vin­cent Paron­naud, deixa um pouco de lado a sua auto­bi­ografia, para res­gatar uma anti­ga história de família, ago­ra em Fran­go com Ameixas (Poulet aux Prunes,2011,França, Ale­man­ha, Bél­gi­ca).

    Fran­go com Ameixas, que tam­bém se tra­ta de uma adap­tação dos quadrin­hos para o cin­e­ma, con­ta a vida de Nass­er Ali (Math­ieu Amal­ric de O Escafan­dro e a Bor­bo­le­ta), um tal­en­toso músi­co, tocador do tar (uma espé­cie de vio­li­no, típi­co do Irã). Seu instru­men­to, além de ser a úni­ca coisa que ain­da lhe traz praz­er, traduz em cada nota o amor que man­tém por Irâne, uma anti­ga paixão da qual teve que abrir mão.

    Desilu­di­do, para sat­is­faz­er os dese­jos de sua mãe, Ali se casa com Nahid, com quem tem dois fil­hos. Um dia, cansa­da do iso­la­men­to e fal­ta de obri­gações do mari­do para com ela e as cri­anças, em um exces­so de rai­va que­bra o ado­ra­do instru­men­to de Ali. O músi­co decide então deitar em sua cama e esper­ar pela morte. A par­tir daí a espera de Ali é nar­ra­da em oito capí­tu­los, nos quais con­ta des­de o rela­ciona­men­to com seus fil­hos Farzaneh e Mozaf­far, até o dia em que se encon­tra com Azrael, o anjo da morte islâmico.

    Difer­ente das primeiras obras de Mar­jane Satrapi, como Per­sépo­lis e Bor­da­dos, Fran­go com Ameixas traz uma história pecu­liar de um homem, cuja melan­co­l­ia e desilusão com a vida que gostaria de ter tido e não teve, o faz optar por desi­s­tir. Mas ao mes­mo tem­po Satrapi não perde o humor para tratar de temas del­i­ca­dos como a vida e a morte. Fran­go com Ameixas em vários momen­tos apre­sen­ta cenas cômi­cas, como quan­do Ali em um de seus devaneios imag­i­na o futuro de seu fil­ho Mozaf­far: após sair do Irã e ir morar nos EUA, com­prar uma casa e um car­ro, vive um típi­co ‘son­ho amer­i­cano’ com sua mul­her e seus fil­hos obesos.

    Ape­sar de não ser mais uma auto­bi­ografia, Nass­er Ali foi um tio-avô queri­do de Satrapi, por isso Fran­go com Ameixas traz ain­da, alguns temas já abor­da­dos em suas anti­gas obras, como a arte, a mitolo­gia, a decadên­cia famil­iar e a feli­ci­dade. Para quem gos­ta da auto­ra, Fran­go com Ameixas é mais um belo tra­bal­ho que merece ser saboreado.

    Trail­er
    :

    httpv://www.youtube.com/watch?v=RwRyHTjzh2c

  • Entrevista: Pryscila Vieira

    Entrevista: Pryscila Vieira

    Neste Dia Inter­na­cional da Mul­her, nada mel­hor do que uma entre­vista com a curitibana, ilustrado­ra, design­er e car­tunista, Pryscila Vieira. Apaixon­a­da por humor grá­fi­co, Pryscila é cri­ado­ra da per­son­agem Ame­ly, a cati­vante boneca infláv­el que aparece toda terça-feira no jor­nal Fol­ha de São Paulo.

    Pryscila começou cedo sua car­reira pouco comum entre as mul­heres. Aos 14 anos já era char­gista de um jor­nal de Curiti­ba. Em 1996 ingres­sou na fac­ul­dade de Design da PUC-PR, con­cluin­do o cur­so em 1999.

    Gan­hou o primeiro lugar no Salão de Humor Uni­ver­sitário de Piraci­ca­ba, bem como nos dois anos seguintes. Em 1998 coor­de­nou a Bien­al de Humor do Mer­co­sul, com os prin­ci­pais nomes do humor grá­fi­co. Esta exposição itin­er­ante pas­sou pelas prin­ci­pais cidades do Brasil, Paraguai e Argenti­na. Na sequên­cia, ilus­trou as pági­nas da Gaze­ta do Povo, onde per­maneceu durante qua­tro anos. Atual­mente, torce para que os leitores não façam con­tas com datas citadas a fim de desco­brir sua idade, não rev­e­la­da nem com tor­tu­osas cóce­gas nos pés.

    Con­fi­ra abaixo a entre­vista com a car­tunista que com­ple­ta esse ano, duas décadas de carreira.

    Como e quan­do começou o seu envolvi­men­to com o desenho?

    Ten­ho uma história comum entre vários car­tunistas: desen­ho des­de cri­anc­in­ha. E con­tin­uo com idade men­tal de 10 anos. Só que eu desen­ha­va mel­hor aos dez anos… Eu acho. Meus famil­iares ado­ravam que eu desen­has­se quan­do cri­ança, porque assim fica­va “qui­eta”. Min­ha mãe olha­va para meus desen­hos e acha­va tudo lin­do. Meu pai ao con­trário, sem­pre acha­va um defeito. Por causa da min­ha mãe me acha­va o máx­i­mo, mas ia logo cair na real com a críti­ca con­tun­dente de meu pai.
    A par­tir do momen­to que quis seguir car­reira profis­sion­al, ficaram pre­ocu­pa­dos com meu futuro. Não tin­ham sequer ideia das infini­tas pos­si­bil­i­dades que um desen­hista pode optar ao lon­go de sua car­reira. Na ver­dade, nem eu tin­ha. Segui instintos.

    Gostaria que falasse um pouco do seu cotid­i­ano como car­tunista. Como fun­ciona o ”proces­so de cri­ação” das tir­in­has, ideias novas, inspiração,etc.

    Gos­to de saber sobre o com­por­ta­men­to humano. Faço isso com análise críti­ca e muitas vezes impiedosa. É dev­er do car­tunista ter um pon­to de vista difer­en­ci­a­do de qual­quer out­ra pes­soa e expressá-lo de maneira con­tun­dente, mas sutil. Difí­cil é encon­trar a dose exa­ta de impiedade e delicadeza.
    Já o tra­bal­ho de exe­cução não tem glam­our nen­hum. É a entre­ga de um pro­du­to todos os dias. Se eu ten­ho que man­dar uma tir­in­ha diária para um jor­nal até as seis da tarde, bas­ta pen­sar, desen­har e enviar. Não tem aque­la luz div­ina, não tem momen­to de inspi­ração, não tem estre­lin­has tilin­tan­do ao redor de quem cria.
    Faz­er tir­in­ha baseia-se em ter a per­son­al­i­dade de um amigu­in­ho imag­inário no seu con­t­role. A par­tir daí é só deitar por cin­co min­u­tos, fechar o tex­to e ir para o com­puta­dor. Às vezes esbar­ro na preguiça e fecho os olhos por mais umas horas. Mas juro que é sem querer.

    Na sua opinião, quais os prob­le­mas enfrenta­dos para pub­li­cação de quadrin­hos em Curitiba?

    Curiti­ba é um celeiro de novos tal­en­tos nos quadrin­hos, prin­ci­pal­mente os de humor. Mas mes­mo assim, ain­da é val­i­da a pre­mis­sa de que ‘san­to de casa não faz mila­gre’ então, deve-se pub­licar fora de Curiti­ba, para ser val­oriza­do em Curitiba.
    Mas os órgãos vitais de pro­dução cul­tur­al ain­da estão basea­d­os em São Paulo e no Rio de Janeiro. Qual­quer autor que queira pub­licar e faz­er suces­so deve avaliar a pos­si­bil­i­dade de pub­li­cação nesse eixo.
    Em 2011 Curiti­ba pas­sou a inve­stir mais nos quadrin­hos, orga­ni­zan­do um dos mel­hores even­tos da área, que foi a Gibi­con. Um suces­so! E em 2012 tem mais. Isso acabou um pouco com aque­la sen­sação de que a cidade pega­va carona no suces­so avali­a­do e garan­ti­do por ‘men­tores cul­tur­ais’ de SP e RJ. Temos novos tal­en­tos e com a Gibi­con, podemos projetá-los.

    O que você acha do repertório nacional de quadrinhos?

    Pos­so avaliar ape­nas os quadrin­hos de humor. E gos­to da pro­dução nacional deles. Só acho que os car­tunistas têm que fugir da for­ma enlata­da de desen­har. Para isso, devem procu­rar meios mais cria­tivos de exe­cução do desen­ho, que não seja ape­nas usar os mod­os bási­cos do Pho­to­shop. Acho que deve haver uma redescober­ta do tra­bal­ho grá­fi­co do car­tunista. Todos os desen­hos têm me pare­ci­do iguais. Com os adven­tos da inter­net, muitos procu­ram inspi­ração fácil, o que tor­na a pro­dução visual­mente repet­i­ti­va e entediante.
    Já os roteiros estão cada vez mel­hores, mais ágeis, talvez por con­ta tam­bém da inter­net e da dis­sem­i­nação do humor por pro­gra­mas de TV e pop­u­lar­iza­ção de shows stand up comedy. 

    Para você, qual a mar­ca do seu tra­bal­ho que a difer­en­cia de out­ros (as) car­tunistas?

    Acho que vem da cri­ação de um per­son­agem que deve man­ter um dis­cur­so uni­forme. O per­son­agem é inigualáv­el, úni­co. Eu cor­ro o risco de ter um dis­cur­so coin­ci­dente com out­ro profis­sion­al de humor, se não estiv­er anco­ra­da num per­son­agem. Se tiv­er, a pia­da pas­sa a ser dele e não mais de uso comum. O per­son­agem é que faz o car­tunista, não o contrário. 

    Quais as influên­cias (car­tunistas, quadrin­istas, char­gis­tas, etc) no seu tra­bal­ho? Tem admi­ração por algum profis­sion­al em especial?

    Gos­to da obra de muitos car­tunistas. Mas se for para ir para uma ilha deser­ta com um car­tunista (a obra!) seria o Ziral­do, dono do esti­lo de comu­ni­cação mais flu­i­do que con­heço. Fala com cri­ança, com adul­to, com idoso, com todo mun­do com a mes­ma maes­tria. Seus desen­hos estu­pen­dos são a per­son­ifi­cação de suas ideias fina­mente arquite­tadas com equi­líbrio cal­cu­la­do entre razão e a mais doce inteligên­cia emo­cional. Diz­er que Ziral­do é um car­tunista, um escritor, um artista… isso tudo seria lim­i­tar um dos maiores cri­adores de nos­so tem­po a um sim­ples desígnio do que insu­fi­cientes palavras alcançam. Amém. 

    Quan­do e como você começou a perce­ber a sua predileção pelo humor gráfico?

    É tão intrínseco ao meu ser, que sequer con­si­go pon­tu­ar o iní­cio. Talvez meu líqui­do amnióti­co ten­ha sido nanquim.

    Como surgiu a ideia de cri­ar a tir­in­ha Ame­ly? Fale um pouco da personagem.

    Ame­ly é uma boneca infláv­el que foi bati­za­da sob esta graça por con­ta do sam­ba de Mário Lago inti­t­u­la­do “Ai que saudades da Amélia”. A tal Amélia deix­a­va saudades por ser uma mul­her de ver­dade, ou seja, um exem­p­lo de res­ig­nação fem­i­ni­na. Só que Ame­ly destrói o mito de que a “mul­her de ver­dade” deve se anu­lar em prol do seu par­ceiro. Ame­ly chega por encomen­da à casa de seu com­prador com dois grandes e irre­ver­síveis “defeitos de fab­ri­cação” segun­do o pub­li­co mas­culi­no: o primeiro é que ela pen­sa. O segun­do defeito é que ela fala… e muito!Isto a transpõe do pata­mar de “mul­her infláv­el” para o de “mul­her infalível”.

    Ame­ly tor­na-se “a mul­her de ver­dade”. Adquire von­tade, ini­cia­ti­va e inde­pendên­cia ape­sar de seus “pro­pri­etários” não esper­arem nada dela além do que um obje­to sex­u­al pro­por­ciona. Os quadrin­hos da Ame­ly tratam dos sen­ti­men­tos e pen­sa­men­tos de alguém que não esper­amos que os ten­ha, muito menos que os expresse tão vee­mente­mente. Infe­liz­mente no mun­do machista que vive­mos, algu­mas mul­heres ain­da se deparam com situ­ações semel­hantes na sociedade e no mer­ca­do de trabalho.

    Além de Ame­ly, ain­da há out­ro per­son­agem nas tir­in­has, que inter­pre­ta o com­prador da boneca. Ele resolve adquirir uma mul­her infláv­el exata­mente porque desis­tiu de ten­tar com­preen­der as mul­heres de ver­dade. O com­prador tem a esper­ança de que Ame­ly será uma mul­her per­fei­ta, vis­to que não tem von­tade própria, logo não ten­tará jul­gá-lo. E tudo isso por um preço módi­co! Mas a solução per­fei­ta para sua crise dura pouco. Para seu deses­pero, Ame­ly recusa-se a ser um mero obje­to sex­u­al. Ela quer ser seduzi­da, quer pre­lim­inares, atenção, amor e car­in­ho como toda mul­her, afi­nal ela é uma mul­her de verdade.

    Ame­ly foi cri­a­da despre­ten­siosa­mente no natal de 2005, para ser pub­li­ca­da ape­nas no site de sua cri­ado­ra, a Pryscila. Mas a tal boneca agradou tan­to que começou a rece­ber con­vites, foi sele­ciona­da em con­cur­sos de humor grá­fi­co (Salão Car­i­o­ca, con­cur­so da Fol­ha de São Paulo) e hoje tam­bém é pub­li­ca­da diari­a­mente na maior rede de jor­nais do plan­e­ta, o grupo Metro Inter­na­cional. Tam­bém foi con­vi­da­da para várias exposições de quadrin­hos no mun­do todo (Peru, Espan­ha, Gré­cia, Colôm­bia) que tratam do uni­ver­so fem­i­ni­no e da luta pelos dire­itos iguais da mul­her, emb­o­ra Ame­ly defen­da exata­mente o con­trário: os dire­itos desiguais da mulher.

    Para quem está começan­do ago­ra a se envolver com o desen­ho, qual a dica que você daria?

    O primeiro con­sel­ho é: não dar con­sel­hos. Mas se for para sug­erir algo gener­i­ca­mente útil, acon­sel­ho que tra­bal­hem a estru­tu­ra bási­ca. Que leiam MUITO, que incansavel­mente aper­feiçoem-se na redação, no tex­to, no con­tex­to e que se esmerem na arte do desen­ho. Isso tudo nun­ca é demais. E quan­do sen­tir que o tra­bal­ho está com ess­es que­si­tos em equi­líbrio, exis­tem infini­tas pos­si­bil­i­dades de pro­jetá-lo. A inter­net é uma delas. Con­cur­sos de humor grá­fi­co, out­ra. Mas aí, o des­ti­no é uma fol­ha em bran­co que vai ser rabis­ca­da ou desen­ha­da com litros de nan­quim e suor.

  • Medianeras (2011), de Gustavo Taretto

    Medianeras (2011), de Gustavo Taretto

    Em tem­pos de amizades vir­tu­ais, rela­cionar-se pes­soal­mente com out­ras pes­soas tor­na-se uma tare­fa cada vez mais com­plexa para muitos. “Mas como encon­trar o amor se não sabes onde está?” este é o tema do filme argenti­no Medi­an­eras – Buenos Aires na Era do Amor Vir­tu­al (Medi­an­eras, Argenti­na, 2011), de Gus­ta­vo Taret­to.

    Medi­an­eras é nar­ra­do por Martín (Javier Dro­las), um jovem solitário cri­ador de sites que mora com seu cachor­ro em um pequeno aparta­men­to. O mun­do de Martín é a inter­net, ele com­pra sua comi­da, assiste filmes, estu­da, entra em sites de rela­ciona­men­to, se diverte, tudo vir­tual­mente para evi­tar o mun­do exter­no, por ser um fóbi­co em recu­per­ação. Quan­do é obri­ga­do a sair de casa, leva em uma mochi­la um número fixo de coisas que acred­i­ta que podem salvá-lo em algu­ma situ­ação de urgên­cia. Em frente ao seu edifí­cio, do out­ro lado da rua, vive Mar­i­ana (Pilar López de Ayala), arquite­ta, mas atual­mente dec­o­rado­ra de vit­rines, que ter­mi­nou recen­te­mente o seu rela­ciona­men­to de qua­tro anos e ago­ra vive entre seus manequins e caixas de papelão, com as coisas de sua anti­ga vida da qual ain­da não con­seguiu se recuperar.

    Os dois vivem na mes­ma cidade, pas­sam diver­sas vezes pelos mes­mos lugares, têm gos­tos e inter­ess­es em comum, mas ironi­ca­mente nun­ca percebem um ao out­ro. Essa relação de iso­la­men­to e solidão que os dois com­par­til­ham é rep­re­sen­ta­da metafori­ca­mente pela arquite­tu­ra de Buenos Aires. Os imen­sos pré­dios com as tais medi­an­eras, ou seja, as pare­des lat­erais, geral­mente esque­ci­das ou uti­lizadas para anún­cios pub­lic­itários (não sendo per­mi­ti­das janelas por questões de segu­rança), deix­am os ambi­entes escuros e muitas vezes melancóli­cos. Isso, de acor­do com Martín, é uma das prin­ci­pais causas dos prob­le­mas com os quais convive.

    Estou con­ven­ci­do de que as sep­a­rações, os divór­cios, a vio­lên­cia famil­iar, o exces­so de canais a cabo, a fal­ta de comu­ni­cação, a fal­ta de dese­jo, a apa­tia, a depressão, o suicí­dio, as neu­roses, os ataques de pâni­co, a obesi­dade, as con­trat­uras, a inse­guri­dade, a hipocon­dria, o estresse e o seden­taris­mo são respon­s­abil­i­dade dos arquite­tos e da con­strução civ­il. Destes males, sal­vo o suicí­dio, padeço de todos”

    Acom­pan­ha­da pela tril­ha sono­ra True Love Will Find You In The End de Daniel John­ston, a história de Martín e Mar­i­ana rep­re­sen­ta a solidão urbana, onde mes­mo rodea­d­os por mil­hares de pes­soas (mes­mo que vir­tu­ais), ain­da assim nos sen­ti­mos soz­in­hos. Mas Medi­an­eras não deixa de ser um filme otimista, pois seus per­son­agens não desistem do mun­do real e terão de super­ar bar­reiras inter­nas e exter­nas que os impe­dem de se encontrar.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=ntVyIw2n3jw&feature=related