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  • Crítica: Meia Noite em Paris

    Crítica: Meia Noite em Paris

    A real­i­dade ali­men­ta a ficção e vice-ver­sa e para um escritor a relação das duas pode, inclu­sive, ser ter­apêu­ti­ca. Em Meia Noite em Paris (Mid­night In Paris, Espanha/E.U.A., 2011), Woody Allen colo­ca um escritor — sem­pre uma per­son­ifi­cação de si mes­mo — cara a cara com seus ído­los, dan­do a ele uma chance para ali­men­tar ain­da mais sua paixão pelo passado.

    Gil Pen­der (Owen Wil­son) é um escritor frustra­do que tra­bal­ha com roteiros hol­ly­wood­i­anos e está noi­vo de Inez (Rachel McAdams). Ele e a noi­va deci­dem acom­pan­har os pais dela numa viagem de negó­cios até Paris, a cidade, que segun­do Gil, man­tém os espíri­to dos anos áure­os da Lit­er­atu­ra e que o inspi­ra pro­fun­da­mente. Além de nos­tál­gi­co, o escritor está con­fu­so em ter que lidar com sua vida super­fi­cial de roteirista e noi­vo de uma mul­her que em pouco con­diz com suas ideias. E é passe­an­do pela mág­i­ca Paris que Gil Pen­der vai ali­men­tar sua real­i­dade com boas dos­es de uma diver­ti­da mág­i­ca literária onde seus ído­los o aju­dam a dar rumos para sua vida.

    Woody Allen é sem­pre o mes­mo e de for­ma nen­hu­ma essa afir­mação é ruim. O dire­tor apos­ta no seu esti­lo para sem­pre tratar assun­tos diver­tidos e com boas dos­es de inteligên­cia e sar­cas­mo. Em Meia Noite em Paris é a magia de suas próprias paixões que mesclam o son­ho e o real em situ­ações que não são absur­das e sim total­mente dese­jáveis. O lon­ga tem um cli­ma que lem­bra bas­tante A Rosa Púr­pu­ra do Cairo (1985) em que a per­son­agem de Mia Far­row dese­ja muito a ficção mas não sabe lidar com ela quan­do esta se tor­na a sua realidade. 

    Talvez na atu­al­i­dade, a român­ti­ca Paris não ofer­eça mui­ta inspi­ração literária, mas no ini­cio do sécu­lo a cap­i­tal france­sa era o des­ti­no de boa parte dos grandes escritores — que vivi­am seu auge — em bus­ca de inspi­ração na van­guardista cap­i­tal cul­tur­al e fug­in­do da fal­ta de recon­hec­i­men­to à lit­er­atu­ra na Améri­ca. A cap­i­tal france­sa da época, habita­da pela arte e cul­tura, é a que se apre­sen­ta em Meia Noite em Paris. Ao invés de ape­nas um enre­do como des­cul­pa para exibir os pon­tos turís­ti­cos da cidade, o lon­ga traz um uni­ver­so oníri­co e deli­cioso para o espec­ta­dor, seja ele um nova­to ou um vel­ho con­heci­do dos filmes do americano.

    Um dos pon­tos mais inter­es­santes no elen­co de Meia Noite em Paris é jus­ta­mente a escol­ha de atores que cos­tumeira­mente atu­am em filmes mais com­er­ci­ais estarem em exce­lentes atu­ações. Owen Wil­son real­mente impres­siona no papel de Gil Pen­der, um Woody Allen mais alto e loiro, mas que em nen­hum momen­to deixa de ter o sar­cas­mo, a gagueira e a neu­rose típi­cas dos per­son­agens alter-ego do cineas­ta. Já Mar­i­on Cot­ti­lard empres­ta seu charme francês para uma per­son­agem de época incrív­el, sem citar tam­bém os out­ros atores que inter­pre­tam as fig­uras cânones da Lit­er­atu­ra e Artes Pás­ti­cas memoravelmente.

    Mas Meia Noite em Paris não se des­ti­na a ser ape­nas um filme sobre paixões literárias com ares de hom­e­nagem. O lon­ga traz à tona muito das cos­tumeiras críti­cas — e ao mes­mo tem­po paixões — do dire­tor sobre o pas­sa­do e a val­oriza­ção dele,superando a pre­mis­sa do que o anti­go é supe­ri­or ao atu­al. Ele pro­va que de for­ma nen­hu­ma desiste do seu próprio estilo.

    Ain­da, Allen colo­ca à pro­va e faz pia­da — e boas piadas — do int­elec­tu­al­is­mo acadêmi­co. O dire­tor pro­va que a ver­dadeira arte é aque­la em que a vida exper­i­men­ta a arte e vice-ver­sa, deixan­do mais claro o esti­lo que mar­cou a fil­mo­grafia do diretor. 

    Sim, Woody Allen é sem­pre o mes­mo e isso nun­ca será prob­le­ma. Com Meia Noite em Paris — vale ressaltar que é o filme com maior número de cópias de filmes do dire­tor no Brasil até hoje — deixa claro que seus filmes não são para uma mino­ria e muito menos de cun­ho int­elec­tu­al. O lon­ga vale para qual­quer tipo de expec­ta­dor que vá em bus­ca de risos ou em bus­ca de genial­i­dade. Com certeza o filme vale o ingres­so e inúmeras vezes se possível.

    Um úni­co porém é o car­taz de divul­gação no Brasil ser tão pouco con­dizente com o filme em si. Vale a pena con­ferir o belís­si­mo tra­bal­ho do car­taz inter­na­cional, um mix entre a figu­ra do escritor Gil Pen­der e o quadro A Noite Estre­la­da de Van Gogh.

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    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=kdgdX2Sra5Y

  • Crítica: Sexo Sem Compromisso

    Crítica: Sexo Sem Compromisso

    critica sexo sem compromissoOs vel­hos, e puri­tanos, clichês român­ti­cos já não fun­cionam mais com o públi­co mais jovem — duvi­do que no adul­to tam­bém — e na ten­ta­ti­va de não perder bil­hete­ria, Holy­wood ten­ta se man­ter atu­al­iza­do com as novas tendên­cias. Sexo Sem Com­pro­mis­so (No Strings Attached, EUA, 2011), dirigi­do por Ivan Reit­man e com duas grandes estre­las do cin­e­ma amer­i­cano, ten­ta ser mais um dos filmes para mar­car essa nova ger­ação de relacionamentos.

    Adam (Ash­ton Kutch­er) é um homem que não tem mui­ta sorte com mul­heres. Emma (Natal­ie Port­man) tra­bal­ha em um hos­pi­tal e não tem muito tem­po para out­ras coisas, prin­ci­pal­mente quan­do se tra­ta de rela­ciona­men­tos. Os dois são grandes ami­gos até que um dia deci­dem adi­cionar um out­ro ele­men­to na amizade: sexo.

    Sexo Sem Com­pro­mis­so ape­sar de não pos­suir nada de muito orig­i­nal no roteiro, con­segue desen­volver bem a história, sendo a duração do filme um pouco maior que a usu­al, mas sem ser cansati­vo. Ape­sar de pos­suir algu­mas situ­ações legais, não chega a ser muito engraça­do — prin­ci­pal­mente se você já viu o trail­er que entre­ga várias delas — mas tam­bém não são forçadas, prin­ci­pal­mente porque o lon­ga explo­ra muito o jogo de aparên­cias que muitas pes­soas uti­lizam nes­sas situações.

    Os per­son­agens do lon­ga, ten­taram, mas não con­seguiram sair do usu­al chichê român­ti­co, como acon­te­ceu por exem­p­lo em Amor e Out­ras Dro­gas, ape­sar de haver um grande poten­cial para isto. Quan­do pare­cia que as coisas pode­ri­am fugir do usu­al, a opor­tu­nidade era logo joga­da fora. Além dis­so, quem já assis­tiu Você vai Con­hecer o Homem dos seus Son­hos do Woody Allen vai perce­ber que Alvin, o pai de Adam em Sexo Sem Com­pro­mis­so, ficou idên­ti­co ao Alfie, inter­pre­ta­do por Antho­ny Hop­kins, incluin­do a sua relação com uma mul­her muito mais jovem.

    Para quem gos­ta de comé­dias român­ti­cas, vai ado­rar Sexo Sem Com­pro­mis­so — sem dup­los sen­ti­dos — pois é um filme bem despre­ten­sioso, ape­sar de não ser orig­i­nal. Já aque­les que gostam de algo mais difer­ente, não irão se sen­tir muito inco­moda­dos com este, mas se pud­erem, recomen­do tam­bém assi­s­tirem Tudo Pode dar Cer­to, do Woody Allen — assim como o out­ro que recomendei mais aci­ma — que ambos são muito engraça­dos e inteligentes.

    Par­ticipe tam­bém da Pro­moção Sexo Sem Com­pro­mis­so e con­cor­ra a con­vites para ver o filme de graça.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=RwZXhumAH0M

  • Crítica: Tudo Pode dar Certo

    Crítica: Tudo Pode dar Certo

    Nem somente de Hol­ly­wood e block­busters que sobre­vive o cin­e­ma amer­i­cano, e é de um típi­co Nova Iorquino que o cin­e­ma autoral dos EUA se afir­ma hoje: Woody Allen. Em Tudo Pode Dar Cer­to (What­ev­er Works, EUA, 2009) o esti­lo sar­cás­ti­co e pes­soal do dire­tor se man­tém firme, mostran­do o por quê ele ain­da está longe de se aposentar.

    Boris (Lar­ry David) é um nar­ci­sista frustra­do e um físi­co aposen­ta­do que não se con­for­ma de não ter gan­ho prêmio Nobel. Ele faz total­mente jus de ser um per­son­agem de Woody Allen: mal humora­do, niilista nato, vive uma descrença total na humanidade e nar­ra tudo em primeira pes­soa. A rabug­ice de Boris parece estar a pon­to de ser ameniza­da com o surg­i­men­to da jovem inte­ri­o­rana Melody (Evan Rachel Wood), uma garo­ta cheia de son­hos que vai a Nova Iorque para colocá-los em práti­ca. Ela aca­ba sendo o par per­feito do vel­ho Boris, uma garo­ta sim­ples que não recla­ma em ser trata­da como bur­ra e que aca­ta tudo que ele diz. Tudo vai bem até o momen­to em que a mãe da garo­ta aparece e muda a boa roti­na de Boris e Melody.

    Tudo Pode Dar Cer­to aparente­mente se apre­sen­ta ape­nas como uma comé­dia para man­ter o vel­ho sor­riso no ros­to, mas a críti­ca vai muito além. O dire­tor, já há muito des­gos­toso com os cole­gas hol­ly­wood­i­anos, crit­i­ca logo no íni­cio a neces­si­dade de entreter o espec­ta­dor que no fim das con­tas está ali colab­o­ran­do para a boa-vida de quem pro­duz­iu o filme.

    Woody Allen não poupa nem a si mes­mo como per­son­agem prin­ci­pal e acabou crian­do um estereótipo que quase sem­pre fun­ciona. Boris é uma ver­são fisi­ca­mente mais alin­ha­da de Allen, mas em tem­pera­men­to cor­re­sponde a todos os boatos sobre ele. Para quem con­hece um pouco mais da vida do dire­tor, Tudo Pode Dar Cer­to parece um rela­to de como andam as coisas para ele: vel­ho, ranz­in­za, hipocon­dría­co, exces­si­vo em rep­re­sen­tar suas opiniões e inclu­sive, brin­ca com a sua fama de pedófilo.

    O dire­tor nova-iorquino repete o esti­lo de A Rosa Pur­pu­ra do Cairo cor­tan­do a lin­ha tênue entre o cin­e­matográ­fi­co e o espec­ta­dor. Em Tudo Pode Dar Cer­to, Boris dialo­ga com o além-tela de for­ma muito inti­ma, tor­nan­do o espec­ta­dor cúm­plice da ficção. A nar­ra­ti­va cômi­ca, áci­da e ínti­ma de Allen lem­bra os tex­tos de Macha­do de Assis onde o nar­rador man­tém laços com o leitor, inclu­sive fazen­do piad­in­has irôni­cas sobre os per­son­agens do enre­do. Não á toa que cer­ta vez ques­tion­a­do sobre o que con­hecia do Brasil, o dire­tor disse que havia lido livros do autor de Dom Cas­mur­ro.
    O cin­e­ma de Woody Allen é basi­ca­mente roteiro e boas atu­ações, afi­nal não deve ser muito fácil encar­nar os per­son­agens cri­a­dos por ele. Tudo Pode Dar Cer­to não foge dis­so, até diria que ele retor­na ao esti­lo de diál­o­gos cotid­i­anos exis­tentes em Noi­vo Neuróti­co, Noi­va Ner­vosa. Tam­bém, a escol­ha de um come­di­ante para o papel prin­ci­pal foi óti­ma. Lar­ry David é polêmi­co e inter­pre­ta um alter ego sen­sa­cional do dire­tor, real­mente faz o filme funcionar.

    Mes­mo que Em Tudo Pode Dar Cer­to ven­ha dis­farça­do de polêmi­cas e piadas autorais não deixa de ser uma bela saca­da do dire­tor para se sobres­sair ao meio dos enlata­dos, que hoje mais do que nun­ca, a indús­tria audio­vi­su­al amer­i­cana vem pro­duzin­do. Woody Allen gan­ha por chamar o espec­ta­dor pela comi­ci­dade dos fatos cotid­i­anos e prin­ci­pal­mente na sin­ceri­dade con­si­go mes­mo, mostran­do que mes­mo as coisas estando estra­nhas, no fim tudo pode cer­to. Depen­den­do, é claro, da for­ma que se vê.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=F7jk1LKqGRY