“Não estar morto não é estar vivo”. O aforismo de E.E Cummings, poeta e ensaísta norte-americano, traduz em palavras o véu que cobre homens e mulheres formados pelo mosaico de rotinas, perfeitamente adaptados e estabilizados em situações que sequer conhecem ou entendem. Quando acontece uma ruptura no modo de vida já petrificado, a comunidade entra em catatonia.
A animação “Wind” (2012), criada pelo designer e ilustrador Robert Löbel, emerge essa panorâmica. O curta traz o dia-a-dia de uma população que vive em um local inóspito, assolado por uma ventania infindável. Todas as atividades, ações e comportamentos do grupo circulam em torno dos ventos fortes. Como a condição climática é aceita sem questionamentos, a rotina é lançada ao ar, feito folha seca guiada sem direção.
No entanto, repentinamente o vendaval cessa e a população, atônita, é descaracterizada. Como o barman vai servir os clientes sem o auxílio do vento? Sobreviverão os cortes de cabelo padronizados sem a tempestade de ar? Ao que a animação indica, parece que não.
“Wind” é o resultado do projeto final de graduação de Robert Löbel na Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo, conquistando mais de 18 prêmios internacionais. Além disso, a produção leva na bagagem indicações em festivais de várias partes do mundo. A animação é feita sem diálogos, com traços limpos e deliciosamente irônicos e lúdicos, deixando como mensagem uma pergunta sem rodeios: Se a humanidade é feita de comodismo e resignação, somos ou não guiados pela mão fatalista do destino?
Confira a animação: