Tag: violência

  • Crítica: 400 Contra 1

    Crítica: 400 Contra 1

    400 contra 1

    O cin­e­ma vio­lên­cia-favela acabou viran­do uma refer­ên­cia fora do país para o cin­e­ma brasileiro. 400 con­tra 1 — A história do Coman­do Ver­mel­ho (Brasil, 2010), de Caco Souza, é mais um filme para entrar nes­ta lista, só que provavel­mente para o final dela.

    Basea­do na auto­bi­ografia de William da Sil­va Lima, um dos artic­u­ladores do Coman­do Ver­mel­ho, que é con­sid­er­a­do a maior facção crim­i­nosa do país, 400 con­tra 1 ten­ta relatar os acon­tec­i­men­tos que levaram a cri­ação do grupo. A locação prin­ci­pal é a prisão de Ilha Grande, onde William (Daniel de Oliveira) é lev­a­do pre­so pela segun­da vez. Ao chegar lá percebe que mui­ta coisa esta­va difer­ente, a prin­ci­pal mudança era que pre­sos nor­mais estavam sep­a­ra­dos dos pre­sos políti­cos. O Coman­do Ver­mel­ho era ini­cial­mente uma ten­ta­ti­va de mel­ho­rar as condições entre os pre­sidiários, con­stru­in­do prin­ci­pal­mente uma união entre eles.

    A história é con­ta­da de for­ma total­mente não lin­ear, na maio­r­ia das vezes com tro­cas ráp­i­das entre tomadas muito cur­tas rep­re­sen­tan­do anos difer­entes, que geral­mente tem a data anun­ci­a­da (mel­hor seria se não tivesse, pois aca­ba fican­do uma con­fusão para rela­cioná-las). 400 con­tra 1 tam­bém pos­sui uma nar­ração em off bem fra­ca, que se limi­ta a repe­tir o que está sendo exibido nas telas, tor­nan­do ela muito monó­tona e desnecessária. Aliás, este é o sen­ti­men­to que impera durante o filme inteiro, dev­i­do prin­ci­pal­mente a fal­ta de rit­mo dele. Out­ro ele­men­to que con­tribuiu para esse sen­ti­men­to foram os dial­o­gos pobres e dis­tantes do que seria dito em uma con­ver­sa colo­quial entre ess­es personagens.

    Em algu­mas tomadas de 400 con­tra 1, foi uti­liza­do vários ele­men­tos, como roupas e tril­has sono­ras mais “desco­ladas”, para se cri­ar um cli­ma cult, esti­lo Quentin Taran­ti­no, mas o resul­ta­do acabou fican­do uma imi­tação bara­ta e total­mente deslo­ca­da da maneira como o resto do filme foi pro­duzi­do. Isso sem falar que as cenas de assalto, perseguição e até as de vio­lên­cia den­tro da cadeia são tão vazias (mecâni­cas) que é difí­cil pro­duzirem algu­ma emoção mais forte.

    400 con­tra 1 aca­ba sendo muito cansati­vo e com difí­cil envolvi­men­to. É uma pena que, de tão con­fu­so, nem como apoio de um momen­to históri­co ele pode­ria servir.

    Para quem se inter­es­sa em filmes do gênero, recomen­do O Grupo Baad­er Mein­hof, de Uli Edel, que con­ta a história (basea­da em fatos reais) do grupo “ter­ror­ista” RAF, que bal­ançou toda a estru­tu­ra da Ale­man­ha. Inclu­sive eles tam­bém uti­lizaram o livro do Car­los Marighel­la, Man­u­al do Guer­ril­heiro Urbano, mostra­do em 400 con­tra 1, como um ele­men­to impor­tante para a orga­ni­za­ção do grupo.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=QBiURRHZcTY&feature=related

  • Crítica: Kick-Ass — Quebrando Tudo

    Crítica: Kick-Ass — Quebrando Tudo

    Kick-Ass - Quebrando Tudo

    Muito se está falan­do que Kick-Ass — Que­bran­do Tudo (Kick-Ass, EUA/Reino Unido, 2010), Matthew Vaughn, é a grande novi­dade, o últi­mo “como é que eu nun­ca pen­sei nis­so antes?”, mas infe­liz­mente ele está longe de ser isso. Ape­sar de abor­dar vários temas bem inter­es­santes, o faz de maneira bem super­fi­cial e, de cer­ta for­ma, ado­les­cente demais.

    Dave Lizews­ki (Aaron John­son) é um típi­co nerd: sem grandes aptidões físi­cas, nada pop­u­lar na esco­la e vici­a­do em pornografia (para os “politi­ca­mente incor­re­tos”: pun­heteiro) e quadrin­hos. Um dia, con­ver­san­do com seus ami­gos diz: “Por que é nor­mal as pes­soas quer­erem ser uma Paris Hilton e não um Homem Aran­ha? Por que nun­ca ninguém pen­sou em vestir um uni­forme e sair pelas ruas ten­tan­do sal­var o mun­do?”.

    Ini­cial­mente a jor­na­da é muito pare­ci­da, às vezes até idên­ti­ca, com a de Peter Park­er em Homem Aran­ha, do heroi ini­ciante que vai apren­den­do em cima de seus fra­cas­sos e lim­i­tações, com dire­ito até de uma “Mary Jane” para impres­sion­ar. Só que des­ta vez sem a mor­di­da da aran­ha mutante. Tam­bém é impos­sív­el não com­pará-lo com Watch­men, de Zack Sny­der, que pos­sui a mes­ma pre­mis­sa de super heróis sem poderes espe­ci­ais, mas com uma com­plex­i­dade de per­son­agens e um ques­tion­a­men­to pro­fun­do da moral e da sociedade que são abor­da­dos aqui muito super­fi­cial­mente. Assim como os dois casos aci­ma, Kick-Ass — Que­bran­do Tudo tam­bém foi basea­do em uma HQ, neste caso de Mark Mil­lar e John Romi­ta Jr. que foi lança­da aqui no Brasil pela Edi­to­ra Panini.

    Kick-Ass — Que­bran­do Tudo vai por uma ver­tente muito mais de entreten­i­men­to do que pela bus­ca da real­i­dade. Se você procu­ra algo mais real, sugiro assi­s­tir Mirage­man, de Ernesto Díaz Espinoza, que retra­ta um super herói lati­no, que tam­bém não pos­sui nen­hum poder e luta ape­nas com seus con­hec­i­men­tos, e muito treino, de artes mar­ci­ais. Não sei se é coin­cidên­cia, mas ambos os filmes têm vários ele­men­tos em comum e alguns tão pare­ci­dos que chega até a inco­modar. Aliás, dá para falar um monte de várias coisas que estão sendo vis­tas como novi­dades aqui, mas que já foram usadas (e muito) em vários out­ros longas.

    Ain­da não li o quadrin­ho, mas pelo que eu pude acom­pan­har de out­ras pes­soas que já ler­am, várias momen­tos que trazi­am grandes ápices na história foram total­mente reti­ra­dos no filme. Além de trans­for­má-lo em algo muito mais cool, e con­sumív­el, do que real­mente é. Mas uma impressão que ficou é que muitas tomadas de Kick-Ass — Que­bran­do Tudo pare­ci­am que se fos­sem vis­tas em uma HQ iri­am fun­cionar per­feita­mente, mas que no lon­ga acabaram fican­do vazias.

    Difer­ente­mente de vários out­ros filmes do mes­mo gênero, Kick-Ass — Que­bran­do Tudo não se intim­i­da em mostrar toda sua vio­lên­cia e palavrões que tem como per­son­agem mais san­guinário, e que acabou gan­han­do o maior destaque é Hit Girl (Chloe Moretz), uma meni­na de ape­nas 11 anos. Acom­pan­ha­da sem­pre pelo seu pai Big Dad­dy (Nico­las Cage), que de cer­ta for­ma é uma sáti­ra do Bat­man, que já são dois super hero­is ini­ci­a­dos, que acabam aju­dan­do Kick-ass em sua jor­na­da. Dev­i­do prin­ci­pal­mente à ess­es ele­men­tos mais fortes Matthew Vaughn teve que ban­car todo o orça­men­to pois nen­hum grande estú­dio quis inve­stir no filme.

    Kick-Ass — Que­bran­do Tudo é um óti­mo cin­e­ma pipoca para quem gos­ta de mui­ta ação e vio­lên­cia explíci­ta, não se pre­ocu­pan­do com o que é ou não é politi­ca­mente cor­re­to. Mas para quem quer algo a mais, ele deixa a desejar.

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=dLvheMk0Rc8

  • Crítica: Os inquilinos

    Crítica: Os inquilinos

    os inquilinos

    Val­ter (Marat Descartes) mora na per­ife­ria de São Paulo e é um tra­bal­hador braçal, sem carteira assi­na­da, durante o dia, e à noite estu­da em um cur­so suple­ti­vo, para ten­tar assim con­seguir um emprego mel­hor. Mora jun­to com sua esposa, Iara (Ana Car­bat­ti), e mais dois fil­hos pequenos, um meni­no e uma meni­na, em uma casa que seu próprio pai con­stru­iu “tijo­lo por tijo­lo”, segun­do o próprio. A roti­na de toda sua família é abal­a­da quan­do três novos inquili­nos se mudam para a casa ao lado. Pode­ria ser mais um filme sobre as difi­cul­dades do cotid­i­ano, não nec­es­sari­a­mente brasileiro, de uma família ten­tan­do sobre­viv­er “decen­te­mente”, mas Os inquili­nos (Os Inquili­nos – Os inco­moda­dos que se mudem, Brasil, 2009), de Sér­gio Bianchi, vai muito mais além.

    Assim como as out­ras obras do dire­tor, aqui há tam­bém a con­tradição entre o que é fal­a­do e feito, de uma maneira cada vez mais sutil, ou seja, com situ­ações que de tão comuns, não chamam mais muito a atenção. Soco no estô­ma­go é pouco para descr­ev­er este novo filme.

    A primeira toma­da do filme exibe uma mag­ní­fi­ca árvore, cheia de fol­has verdes, no meio de um enx­ame de casas sim­ples, com seus tijo­los á mostra, crian­do já aqui uma antag­o­nia gri­tante. Seguin­do a lin­ha de pen­sa­men­to do próprio sub­tí­tu­lo do filme (os inco­moda­dos que se mudem), vem a per­gun­ta: a natureza seria a inco­moda­da com os atu­ais “inquili­nos” viz­in­hos? Ela dev­e­ria então se mudar? Mas ela já não esta­va aqui bem antes deles chegarem? A mes­ma dúvi­da fica sobrevoan­do durante toda a tra­ma da família de Val­ter. Dev­e­ria então  se mudar, prin­ci­pal­mente se foi seu pai que con­stru­iu aque­la casa, ou seja, ele chegou antes. É aí que se ini­cia um, sutil, ques­tion­a­men­to sobre a pro­priedade em si, e até onde é o seu lim­ite, com óti­mas tomadas de Val­ter ten­tan­do afir­mar em seu imag­inário, ou não, sua posição de macho-alfa per­ante os vizinhos.

    Ape­sar da vio­lên­cia ser um tema recor­rente em Os inquili­nos, não há nen­hu­ma cena explíci­ta, tudo acon­tece nas entre­lin­has. O mais inter­es­sante é que todas aque­las situ­ações são inde­pen­dentes de classe social, mas na per­ife­ria, ela parece mais óbvia. Há todo um cli­ma de ten­são, que infe­liz­mente foi pobre­mente con­duzi­do (assim como o  sus­pense em ger­al). A vio­lên­cia, além de ger­ar o medo, tam­bém insti­ga a curiosi­dade per­ante ela, por exem­p­lo em pro­gra­mas de tele­visão assis­ti­dos à noite pela família, que durante o dia faz de tudo para fugir dela.

    A sex­u­al­iza­ção infan­til, ape­sar de estar em segun­do plano, é aos poucos con­duzi­da durante a história, que começa da noti­cia tele­vi­sion­a­da do estupro de uma meni­na encon­tra­da mor­ta per­to da região, até a chocante cena de sua fil­ha, uma meni­na pos­sivel­mente com menos de 12 anos, dançan­do um funk com roupas jus­tas, na rua jun­to com as ami­gas. O sexo onde não há sexo, que pode ser detur­pa­do depen­den­do de quem o vê.

    Sem ficar apon­tan­do dedos na cara e dan­do lições de moral, Os Inquili­nos inqui­eta e provo­ca. Se for assi­s­tir, vá prepara­do para um óti­mo cin­e­ma-denún­cia de Bianchi.

    Out­ra críti­cas interessantes:

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=EDPvBvnMlPo

    Entre­vista com Sér­gio Bianchi:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=QgIVpo1KJ9c