O Festival 42 aconteceu no último dia 25 de maio, data reconhecida como o dia do Nerd, ou o dia internacional da toalha, o que dá na mesma… Na verdade, o nome do evento e a comemoração em torno dessa peça de banho é uma homenagem ao livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, de Douglas Adams. Na obra (e na vida real), a toalha é um objeto indispensável para que você possa se aventurar pelo espaço sideral. E o “42”, bem, seria melhor você ler o livro para saber do que se trata (sou contra spoillers).
Essa primeira edição do evento teve como sede e base secreta a Casa da Cultura de Teresina, e contou com um dia inteiro de diversões “nérdicas” e “geeks”: oficinas de RPG e quadrinhos, palestra sobre Tolkien, cinema, quadrinhos e sobre o mundo tecnológico livre (open source), além de bate-papos com matadores de dragões, caçadores do sobrenatural e especialistas em teorias da conspiração.
A ideia dos organizadores, o grupo Polígono (formado pela livraria Quinta Capa Quadrinhos e lojas Arcádia e Idee), é que o evento aconteça, pelo menos, anualmente, procurando atrair esse público grande, que, normalmente fica dentro de casa, debruçado sobre suas leituras e computadores, e criar um espaço de interação entre eles. Para isso foi pensando um dos momentos mais divertidos e esperados do evento: a gincana. Todos os presentes no evento foram convidados a participarem de um sorteio de equipe digna do Chapéu Seletor de Harry Porter (o Chapéu, inclusive, esteve lá e decidia onde cada pessoa estaria). As equipes eram as seguintes (leia em voz alta e tente sacar a referência): água, terra, fogo, vento… CORAÇÃO!
Durante o evento ainda aconteceram vários campeonatos: desenho, melhor toalha, pior cospobre, Mortal Kombat 9, Tekken, Yu Gi Oh e Summoner Wars. Cada campeão dava pontos para sua equipe e para se definir a equipe vencedora, ainda aconteceu um Quiz com perguntas que apenas o público que compareceu ao evento poderia responder. Todos os campeões ganharam cupons de descontos e pacotes de brindes. “Coração” foi a primeira equipe vencedora. Qual será a próxima?
Será que temos de ser loucos para sermos heróis? Será que todos não usamos máscaras?
Não, aqui você não encontra ninguém vestido com roupas super-coloridas, poderes daqueles que soltam fogo pela boca, raios pelos olhos, muito menos lutas coreografadas. O trabalho do quadrinista e articulador cultural — isso, articulador: produtor de ambientes culturais na área das HQs em Teresina, o que falta a muitos criadores hoje em dia — Bernardo Aurélio passa longe das explosões gratuitas dos nossos amados heróis imperialistas, mas com uma influência fundamental no seu processo criativo.
Antes de falar de “Por Dentro do Máscara de Ferro”, vale a pena situar a importância do autor na cena das HQs na cidade. Autor de “Foices e Facões – A Batalha do Jenipapo” (junto com Caio Oliveira, seu irmão e artista dos bons, que participa do livro como desenhista convidado), Bernardo faz parte do Núcleo de Quadrinhos do Piauí, onde organiza (ao lado de uma equipe muito coerente) feiras temáticas em Teresina desde 2001 até então, movimentando o circuito dos quadrinhos independentes por aqui com muita responsabilidade.
O culpo diariamente por me tornar um apaixonado pelos quadrinhos há quase um ano. Depois da indicação de “Batman: Ano Um” não consigo parar de ler HQs. Enfim, vamos voltar ao que interessa!
“Por Dentro do Máscara de Ferro” é um livro que te atrai fisicamente. Grande, vermelho, com uma capa impossível de resistir à leitura, gostoso de segurar e carregar por aí. Um diferencial que gostei foi o cruzamento com outras linguagens, marcados pela inserção do texto em prosa no início da história, seguindo com seus traços em p&b, bem como a preocupação com a paisagem sonora nos momentos mais importantes da saga. Música e HQ transitam no mesmo espaço.
Já no índice, Bernardo lança para o leitor uma trilha indicada, prescrição sonora que desobedeci — quando comecei a ler, veio outro barulho na minha cabeça, já que na minha construção sonora do personagem couberam outros sons, como Ten Years After e alguns momentos de Neil Young — para experimentar outras possibilidades de leitura e exercícios particulares de imaginação.
A cada situação valiosa na trama, Bernardo faz as indicações sonoras aparecerem ao leitor, como podemos visualizar em Acelerando em marcha ré, com a trilha “Foi tudo culpa do amor”, de Odair José ou “As rosas não falam”, de Cartola, e outras sequências musicais articuladas ao enredo. Assim, Bernardo abre espaço para ampliar as sensações do público, tornando seu trabalho mais sonoro-visual-pop-experimental. Um jogo de mixagem que deve ser feito tanto com as músicas sugeridas e as que compõem o universo do leitor, sacudindo as experiências do personagem.
Numa oficina de carros, o jovem mecânico tenta recuperar o motor de um Maverick (entra o som de Alvin Lee e Ten Years After… viu? Não pude evitar). Neste cenário é que a história do Máscara inicia em texto-prosa. Sua mente está dividida entre o fim de um relacionamento e o trabalho que o consome, a rotina, a repetição, a vontade de mudar o percurso: “tenho pensado em tentar coisa nova (…). O problema é esse: não sei o que quero. Só sei que preciso sair dessa oficina vez ou outra (…)”.
Uma inquietação move aquele mecânico, algo estava fora do lugar. A operação de reviver o Maverick foi um fracasso. Fecham-se as portas da oficina. A paisagem fica cada vez mais noturna e úmida. Um leve chuvisco, daqueles leves e demorados, com relâmpagos e trovões ao fundo. Nosso olho está do lado de fora da garagem aparentemente vazia e triste, esperando algo acontecer, pois dá pra ver lá dentro que a luz está acesa.
“A garagem abre. Dois faróis acendem (…). A Kombi ganha a rua. Dentro dele, pela primeira vez, a alma de um aventureiro encontra aquele botão de adrenalina escondido, que injeta batidas fortes no peito”. Eis que explode o Máscara de Ferro.
Caracterizado por uma máscara típica dos soldadores, carregando no seu “cinto de utilidades” um maçarico, umas chaves de boca e roda, martelo, pregos, porcas, um cano e o “antigo 38 do meu velho pai”, o Máscara de Ferro sai em busca de aventuras nas noites de Teresina.
Entre ações frustradas como “super-herói” da noite e explorações das suas habilidades, o Máscara abre para nós uma reflexão que move sua caminhada: “Será que temos de ser loucos para sermos heróis? Será que todos não usamos máscaras?”
E assim, vamos acompanhando o processo de autodescoberta do Máscara. Após a cômica “carga dramática” que movimenta a performance do nosso herói, ele salta pelo ar e vivencia um conjunto de experiências fundamentais para reorganizar seus sentimentos, mesmo em conflito com seu melhor amigo: “Alguma vez, da altura desses teus vinte e poucos anos, tu já sentiu uma maldita certeza de que queria fazer alguma coisa na vida e que só o que te impedia era tu mesmo?”
Caminhando por Teresina (já escura), ele vai em direção aos seus fantasmas, pois a sua máscara é o instrumento que potencializa todas as suas vontades mais secretas, agora compartilhadas entre nós. É aí que fui imaginando os traços autobiográficos em convergência entre Máscara e seu autor, que o toma como elemento para explorar paisagens talvez inabitadas, se não houvesse a armadura construída para tal.
A busca por justiça, ameaçada por um desejo mal compreendido? A angústia e a vontade de invadir os olhos da antiga amada? Uma curiosidade insistente pela felicidade dela? Por que tomar os olhos dos outros? “Você ainda não conseguiu colocar uma pedra por cima disso”? Estaria o Máscara, (como todos nós) buscando uma armadura para resolver seus conflitos mais íntimos? Quantas Kássias precisamos (diariamente) para exorcizar nossos demônios, a fim de reinventar a noção de desejo e todo aquele pó que cobre nossas taras? Aqui entra Marina Lima (na minha trilha sonora), situando o amor dos dois: “Os dois cansados, de tanto amar, empapuçados, pra poder fugir, os dois cansados, de viajar, maravilhados, pra poder fugir, enquanto você se afasta me desenterro…”.
Nada como a água para purificar os conflitos internos, mesmo com Deus cuspindo verdades que a gente não quer ouvir. Às vezes a gente toma o aprendizado como algo doloroso e é dessa forma que vejo o Máscara, um personagem que carrega a vontade de desbravar todos os seus limites e de conhecer esferas que fogem das convenções estabelecidas. Como invadir sem proteção? Como não sentir dor se algumas explorações podem nos custar um preço alto?
Todos os desbravadores da vida, seja por meio lícito ou não, guardam nas mochilas suas máscaras de ferro, pois o corpo não suporta todas as pressões: “somos tão falíveis”!
Sentado na calçada, conversando com uma garota perto da Ponte Metálica, talvez o Máscara tenha encontrado algum estilhaço que possa ser útil para aliviar seus conflitos. “Sabe o que acontece quando se pede algo a Deus? Ele te dá a oportunidade de provar para si mesmo se você merece o que quer… depende mais de você e das suas escolhas do que da vontade dele”.
Os demônios que o cercam são expulsos para que um Amor possa entrar. O Máscara enfrenta todos os seus inimigos interiores, amplia todos os seus horizontes de experiência, para finalmente completar seu objetivo mais importante: se reencontrar a partir do outro.
Bernardo é o Máscara de Ferro? E você? Aonde você esconde a sua? Já explodiu em si mesmo para arrancar as armaduras que o impedem de viver um grande amor? Não seria a nossa máscara um artefato moralista-conservador diante da maravilhosa possibilidade de transitar pelo Inferno e por vários corpos oferecidos por Dino Buzzati? A diferença entre Máscara e Orfi é que aquele não usa violão para lutar contra seus maus espíritos, mas convergem no mesmo “inventário de ‘baixezas’ e de ‘nobrezas’, aquelas que se abrigam no coração de todos” (TOSCANI, Cláudio).
Orfi sofre o luto de não capturar Eura e o Máscara vive feliz, jogando fora sua armadura para poder (finalmente) olhar sem medo para a mulher que ama, encerrando uma saga interior, pois “poucas coisas no mundo devem ser como estar no fundo da rede com quem você quer”. A vida segue.
O Bandido da Luz Vermelha (1968), de SganzerlaCenas marcadas por anti-heróis, personagens marginalizados circulando em pequenas jangadas à deriva dos padrões sociais. Ideias libertárias, onde a trama acontece nos bastidores, e não em cima dos holofotes e pirotecnias dos palcos. Nascido no Brasil logo depois do golpe militar (1964 – 1985), o Cinema Marginal veio ao mundo para transgredir, para falar e mostrar coisas que as pessoas não queriam ouvir, já que o “cinema do submundo” não tinha como missão confundir alegria com delírio; ideologia com jabás. O Bandido da Luz Vermelha(1968 — direção de Rogério Sganzerla) veio ousar, inovar, transformar a linguagem cinematográfica. Quase cinquenta anos – e muitas mudanças — depois do surgimento do Cinema Marginal, o Brasil enfrenta o dilema de fazer o público buscar e conhecer, por vontade própria, mais iniciativas que surgem fora das purpurinas e confetes das grandes produções cinematográficas. Com uma câmera e tripé, ou até mesmo só com o aparelho celular, muitos videomakers estão fazendo do amadorismo um espaço de renovação e descoberta de talentos. Na capital do Piauí, estado que circula fora do eixo da indústria cinematográfica do país, o projeto Coletivo Diagonal, encabeçado pelo casal Aristides Oliveira e Meire Fernandes, vem ganhando espaço e traçando novas rotas para a produção audiovisual. Ao invés de queixas e súplicas aos órgãos governamentais, uma ação conjunta que procura superar lacunas e pular abismos. O interrogAção conversou com o historiador e videomaker Aristides Oliveira e adentrou um pouco no terreno da produção independente dos poetas visuais.
Quais os primeiros passos para inaugurar um circuito alternativo de audiovisual em um lugar sem uma rota definida, sem tradição?
Meire Fernandes e Aristides Oliveira, por Dalyne BarbosaAtravés de um breve panorama histórico em Teresina, podemos dizer que já aconteceram circuitos audiovisuais por aqui, mas de forma fragmentária, a partir de vagos incentivos da esfera pública municipal e estadual, desde os festivais de super‑8 que rolaram nos anos 80 até a criação do FESTVIDEO, na década de 90, que ficou parado por dois anos, mas, aos poucos, recupera a confiança do público. Não temos produção audiovisual sólida, apenas alguns pontos isolados, trabalhando em espaços fechados, que nos dificultam tomar conhecimento sobre onde assistir tais filmes.
O que predomina na cidade — em termos de filmes locais — são produções institucionais, amadoras, experimentais, mas isso não significa que “amador” seja algo de “baixa qualidade”. Mesmo sabendo que a maioria dos filmes perde um pouco na técnica, esse exercício já é um bom começo. Errando aqui e ali, a gente vai amadurecendo, criando e fazendo, já que os “cineastas profissionais” não dão as caras para fortalecer e incentivar os “iniciantes”. Enquanto isso, independente de qualquer titulação, vamos sendo ‘cineachas’, em busca de espaço em salas pequenas, mas com estilhaços de uma minoria valiosa.
Não acredito na perspectiva de estamos inaugurando circuito alternativo, apenas dando continuidade as ausências, a falta de interesse dos gestores culturais, lembrando que eles são pagos para isso, em dar fôlego à política de formação e plateia para o cinema brasileiro. Estamos apenas exibindo — na medida do possível — filmes de artistas sem “diploma”, fora da canonização e estrelismo do cinema oficial, apenas alimentando os espaços que deveriam ter filmes exibidos. Vale lembrar que não estamos sozinhos nisso, pois temos o Cineclube “Olho Mágico”, que vem fazendo um belo trabalho na formação de plateia, lá na Universidade Federal do Piauí.
Considerando o ‘pancadão’ de audácia e coragem que é necessário para manter um projeto de produção e divulgação de audiovisual em Teresina, o Coletivo Diagonal é uma proposta de movimentação, transgressão ou subversão?
Total movimentação, para chamar a galera e juntos, assistirmos a bons filmes.
No seu surgimento, o cinema marginal é marcado por contestação, ideias libertárias, figura do anti-herói e submundo. O que caracteriza o cinema marginal hoje? A propósito, o termo ‘marginal’ ainda é válido?
Debate na I Mostra de Cinema Marginal, em 2007Acredito que existe um cinema marginalizado, por opção. Quem quiser ficar escondido na sua excentricidade, autoexclusão poética, também tem vaga. Ora, na conjuntura em que nos encontramos, com tantos youtubes, vimeos, redes sociais pulsando nossos olhos, porque tornar-se um marginal? Com tantas plataformas de exibição gratuitas, espaços de divulgação, fóruns online, não faz sentido afirmar que exista um “cinema marginal” (a não ser se a perspectiva do artista estiver ligada a temáticas e estéticas inspiradas no underground americano ou no udigrudi brasileiro, aí é outro papo). Talvez não façamos parte do altar da Globo Filmes, mas se existe TV Brasil (com a abertura estabelecida entre curtametragistas e o programa Curta TV), Mostra do Filme Livre, no RJ, que possibilita uma ampla divulgação dos filmes não-comerciais a nível nacional, entre outras mostras maravilhosas pelo país, bem como a possibilidade de criação dos coletivos audiovisuais, marginalizar o quê? Para quê?
Aristides, você sempre critica a postura da academia e dos pesquisadores por “sequestrarem” grande parte do acervo cinematográfico produzido na década de 1970 e “engavetarem em departamentos”. Por que você acha que isso acontece, se o DEVER da universidade é (ou seria, em tese) democratizar o conhecimento e possibilitar acesso livre?
A crítica que faço a respeito desse ponto é porque precisamos democratizar o acesso dos filmes levantados em pesquisas acadêmicas para um público mais amplo, que se encontra distanciado dos debates realizados por trás dos muros da universidade. Filmes raros ficam presos nas páginas de artigos lidos entre os próprios pesquisadores, e o que venho tentando fazer pelo Coletivo Diagonal é algo simples: que os filmes brasileiros não-comerciais sejam vistos pela comunidade não-acadêmica, através da realização de mostras de cinema, cine-debates, encontros, entre outros.
Vestir nossas crianças de Super-Man, ou pintá-las de verde igual ao Hulk? Ensinar nossos filhos a usar a televisão aproveitando seus potenciais de criticidade, ou entupir os olhos de filmes pirotécnicos? Por que não investir no cinema plural? Assim, teremos a oportunidade de escolher os anzóis pelos quais desejamos ser capturados.
No último ano, o Coletivo Diagonal trouxe para Teresina importantes parcerias com mineiros (Pajé Filmes) e pernambucanos. Hoje, o cinema marginal precisa chegar ao público ou é o público que precisa descobrir o cinema fora dos grandes circuitos?
Retomo e insisto no termo “marginalizado”. Acredito que o trabalho de grupos como a “Pajé Filmes”, bem como dos novos pernambucanos que aparecem na cena audiovisual brasileira, não se encontram afastados do público. É o público, na sua maioria, que não apresenta o mínimo interesse em conhecer essas produções. Saiu na “Folha de São Paulo” hoje (20/12/12) o resultado de uma pesquisa que afirma o seguinte: “Enquanto mais de 60 filmes brasileiros aguardam para estrear nos cinemas, 61% das salas do país exibem hoje estrangeiros como “O Hobbit” ou a última parte da saga “Crepúsculo”. Já a produção nacional que estreou neste ano viu sua fatia de público cair 31,8% —de 13,5% para 9,2% — em relação a 2011”. E aí? Dados como esse se repetem desde a fase da retomada, lá nos idos de 1992 (já dizia Hugo Carvana, em diálogo crucial com Nagib), onde nossos filmes – longas -, mesmo com o boom das leis de incentivo, cochicham, enquanto os filmes ianques gritam nas salas de cinema. O espectador brasileiro não foi educado a assistir seus filmes.
Mostra Pajé Filmes, na Casa da Cultura — PI, por Meire FernandesRetomando as provocações de Glauber Rocha no “Abertura”, imagino que sua voz ainda ecoa neste debate. Vestir nossas crianças de Super-Man, ou pintá-las de verde igual ao Hulk? Ensinar nossos filhos a usar a televisão aproveitando seus potenciais de criticidade, ou entupir os olhos de filmes pirotécnicos? Por que não investir no cinema plural? Assim, teremos a oportunidade de escolher os anzóis pelos quais desejamos ser capturados. Enquanto não houver uma séria coordenada política em torno da distribuição de filmes nacionais nas salas de cinema, estaremos longe de uma mudança. Leopoldo Nunes (Secretaria do Audiovisual do MinC) está tramando coisa boa por aí, referente ao acesso dessas obras. O público precisa sair do sedentarismo e procurar novos circuitos, assim como os circuitos precisam trabalhar para conquistar esse público, é um jogo, um jogo duro, a ser conquistado em longo prazo.
Que tipo de produções vocês recebem e divulgam? O trabalho do Coletivo tem uma postura política e ideológica?
Recebemos todos os tipos de filmes, nos mais variados formatos (web-cam, máquina fotográfica, handcam), onde buscamos dialogar com videoartistas do Brasil interessados em expor seus trabalhos livremente, para quem quiser ver. Não sei se “levantamos bandeira”, mas como não agir no cotidiano sem senso político não é?
As novas mídias transformaram a linguagem cinematográfica e “sopram vento na calmaria”, modificando o consumo de arte contemporânea e desmistificando o cinema hollywoodiano, onde se procura a venda, o marketing e a prática de vasculhar o fundo dos bolsos do público, que vira mero consumidor. Quais as principais mudanças você tem observado no comportamento do público produtor e consumidor da sétima arte?
Acho que uma pequena parcela do público está buscando novidades, mesmo que sejam as “velhas novidades”. Essa ação micro pode gerar algo macro, que é a exigência por filmes mais inteligentes nas salas de cinema convencionais.
Em Teresina, o Coletivo Diagonal é um projeto pioneiro. A ideia de ser exemplo é desconfortável?
Primeira formação do Coletivo Diagonal, 2007–2008Realmente não sei se existe por aqui algum grupo com esse tipo de ação (o Cine Clube Olho Mágico pensa parecido com a gente), mas o que importa é fazer, sem marcos, delimitações ou troféus. O que queremos é um data-show, tela de projeção, aparelho de DVD e gente… Gente para compartilhar de paisagens não exploradas. Queremos articular novos meios de exibição audiovisual, confortavelmente, é claro.
Você se considera um videomaker à deriva ou existe suporte suficiente? A prática do ‘faça você mesmo’, conhecido mundo à fora como ‘do it yourself’, virando até palavra de ordem para o sistema anárquico-revolucionário, é o único motor do audiovisual independente?
Sou amador, um professor que acredita no poder do cinema. Sou amador, ou aquele que ama a liberdade de expressão, mesmo capenga, com ruídos, mas que acontece, na pulsão da urgência e da autocrítica. Quem nos deixa à deriva ou em terra firme é o público. Somos independentes na medida em que ninguém limita seu processo criativo. Faça, crie, deixe a crítica falar, traçar uma diagonal nas paralelas é o melhor motor inventivo que temos.
Que outros projetos semelhantes ao Coletivo Diagonal existem no Brasil?
Pela pluralidade e democratização das mídias eu chamo a Pajé Filmes (MG) e Angu TV (RJ) para a roda.
Aristides, encerramos a entrevista mostrando seu habitat:
Um filme para ser assistido em nascimentos: Subconscius Cruelty. Um filme para ser assistido em funerais: Jackass. Um livro: Ao Farol, Virginia Woolf. Uma música: Qualquer uma de Neil Young. Uma imagem: Atualmente, a última cena de Red Belt.
No tumblr do Coletivo Diagonal você encontra mais informações, textos, artigos e outros trabalhos de videomakers.