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  • Livro: Fugalaça — Mayra Dias Gomes

    Livro: Fugalaça — Mayra Dias Gomes

    Há qua­tro anos Mayra Dias Gomes lançou seu primeiro livro Fugalaça. Ela chamou mui­ta atenção da mídia, pois tin­ha ape­nas 17 anos na época. Sua idade ali­a­da ao fato de ser fil­ha do dra­matur­go Dias Gomes fiz­er­am com que seu ros­to estam­passe diver­sos jor­nais e sites de notícias.

    Seria injus­to diz­er que Mayra escreve mal. Ela con­segue pren­der a atenção do leitor logo nas primeiras pági­nas e cria algu­mas metá­foras inter­es­santes, mas infe­liz­mente é só isso. Deu-se muito crédi­to a sua obra pelo fato de ela ser tão nova, mas isso acabou se tor­nan­do um prob­le­ma. Não há iden­ti­dade e maturi­dade na obra, o tom con­fes­sion­al do livro se assemel­ha a um diário, não a uma obra literária.

    Em diver­sas entre­vis­tas Mayra disse que Fugalaça era parte auto­bi­ográ­fi­co e parte fic­cional. Seu alterego, Satine, nos con­ta sua relação com sexo, dro­gas, músi­ca e rela­ciona­men­tos. Satine é a típi­ca “pobre meni­na rica”, aque­la que pos­sui din­heiro e diver­sas opor­tu­nidades boas, mas pref­ere rene­gar tudo e se afun­dar cada vez mais em suas ati­tudes autodestrutivas.

    Assim como Mayra, Satine perdeu seu pai aos 11 anos de idade num aci­dente de car­ro. Ela diz: “Min­ha alma gêmea esta­va mor­ta antes de chegar min­ha ado­lescên­cia, quan­do eu mais pre­cis­aria de sua pre­sença e des­fru­taria seu con­hec­i­men­to. Quan­do eu nun­ca teria me envolvi­do em rela­ciona­men­tos autode­stru­tivos, larga­do os estu­dos e me tor­na­do uma víti­ma da noite”. É injus­to usar a morte de seu pai como des­cul­pa para seus erros. Assim, Satine é uma jovem rica e ente­di­a­da, e ten­ta ensi­nar ao leitor o que é um straight edge e o que pre­ga o espiritismo. A escrito­ra se con­funde entre ensi­na­men­tos e aca­ba insul­tan­do a inteligên­cia do leitor.

    Impos­sív­el não lem­brar da escri­ta de Loli­ta Pille, auto­ra de Hell e Bub­ble Gum, ao ler Fugalaça. Mayra descreve a elite do Rio de Janeiro, que usa o din­heiro de sua família para com­prar dro­gas e faz­er via­gens. Pille fez a mes­ma coisa, mas com a juven­tude de Paris. Mayra con­ta a relação de Satine com as dro­gas num tom à la Chris­tiane F. São muitas refer­ên­cias e pou­ca identidade.

    Em algu­mas entre­vis­tas Mayra fala de seu pai como um rebelde e figu­ra polêmi­ca, e que ele se sen­tiria orgul­hoso da escri­ta dela. Mas quais a semel­hanças de sua escri­ta com a do pai? Dias Gomes escreveu nov­e­las de imen­so suces­so, inclu­sive Roque San­teiro que foi cen­sura­da. O que é ser polêmi­co nos dias de hoje? A escri­ta de Mayra não rev­ela nen­hum tabu, tra­ta de assun­tos já dis­cu­ti­dos exaus­ti­va­mente na lit­er­atu­ra. Ela fala de sexo, dro­gas e amores efêmeros e vale lem­brar que Bukows­ki já fez isso de for­ma magistral.

    Recen­te­mente Mayra voltou a ser destaque na mídia, pois posou nua para a revista Sexy. Ela mes­ma disse que o ensaio foi basea­do no lema On the road e que o mes­mo era de muito bom gos­to. Ironi­ca­mente, em seu livro Fugalaça ela nos diz: “Era um pal­co baixo e pequeno e em cima dele havia stand-ups de muito mau gos­to de popozu­das da revista Sexy”. Quem diria que um dia seria ela uma popozu­da da Sexy?