Nada de novidade com filmes que flertam com a realidade, parece que o selo ¨baseado em fatos reais¨ tem levado um grande número de pessoas para os cinemas nas últimas temporadas. O Discurso do Rei (The King’s Speech, Inglaterra/E.U.A/Austrália, 2010), de Tom Hooper, é um longa que vem com essa premissa, mas trabalhado de uma forma tão primorosa que a figura pública do Rei George VI, pai da atual Rainha Elizabeth, é a que menos importa.
Albert (Colin Firth), conhecido como Rei George VI em homenagem ao seu pai, junto com seu irmão, são os sucessores ao trono da Inglaterra. O cenário mundial vive o caos com o auge do Nazismo na Alemanha e a Inglaterra acaba de perder o seu rei. Albert enfrenta problemas em aceitar a sucessão pelo seu irmão mais velho e ainda lida com uma disfemia na fala, esta sendo um fator fundamental para um rei e seus discursos. Juntamente com sua mulher Liz (Helena Boham Carter), estão a procura de meios para que possa tratar e esse problema e acabam por encontrar o excêntrico Dr. Lionel Logue (Geofrey Rush), que usa os meios menos convencionais de tratamento.
O Discurso do Rei poderia ser mais um longa histórico sobre um momento difícil do reinado na Inglaterra moderna, mas o foco do enredo se mantém sempre em Albert, uma figura pública tentando lidar com seus problemas como um homem comum, caricatura pouco atribuída a um rei. George VI e o o doutor Logue formam uma dupla excêntrica, têm uma amizade que vai se firmando com o passar das situações e ambos desenvolvem uma veia cômica muito interessante durante o longa. O espectador oscila sua atenção nos dois personagens principais interpretados por Colin Firth, como o rei pouco à vontade nessa posição e reprimido perante seu trauma de fala, ou ainda, em Geofrey Rush, um homem simples e bastante divertido apesar da seriedade inglesa/australiana, que toca fundo em várias questões particulares para tratar de George.
Ainda, a presença da Sra. Tim Burton — Helen Boham Carter — não traz nada de pompas, como já costumeiro quando ela está no elenco. E isso é um fator que causa interesse, a atriz como esposa de Albert — ou Berttie, como ela chama — é uma figura singular e amorosa, como uma boa esposa da época, mas isso sem generalizações e sim tratado de forma simples.
A fotografia de O Discurso do Rei retrata muito bem todo o charme da clássica e gélida Londres dos anos 20 e 30. Muito cinza e cores derivadas, cenários com design de interior minimalista e de época são os pontos altos aliados com os planos ora focados nas expressões das personagens, ora com a câmera em posições ousadas nos cantos do cenário. O duo de interpretação e trabalho técnico dão ao longa boa parte da diferenciação necessária para que não se torne mais um filme de época simplista e sim sobre pessoas, suas relações e superações.
Para efeitos de premiações, O Discurso do Rei é um prato cheio principalmente pelo fato de ser biográfico e com atuações certeiras. Não é mais um longa comum, é ousado na medida certa para atrair aos poucos um público mais desacostumado com filmes minimalistas, e principalmente, pela identificação de uma figura pública como um homem comum em busca de superação, fator inegável que vem atraindo cada vez mais pessoas ao cinema.
Outras críticas interessantes:
- André Mirando, no Blog do Bonequinho
- Diogo Alçada Tavares, no Omelete
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=3_6GnqyO1Y8k