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  • Crítica: Elvis e Madona

    Crítica: Elvis e Madona

    crítica elvis e madonaSão poucos os filmes de comé­dia român­ti­ca que con­seguem sair um pouco do padrão do gênero. Elvis e Madona (Brasil, 2010), dirigi­do por Marce­lo Laf­fitte, faz da inver­são de opções sex­u­ais dos per­son­agens prin­ci­pais, o grande chama­riz para o seu lon­ga sair do lugar comum.

    Elvis (Simone Spo­ladore) é uma moto­ci­clista que son­ha em ser fotó­grafo e em uma de suas entre­gas como “moto­girl” de uma piz­zaria, con­hece Madona (Igor Cotrim), uma cabel­ereira que son­ha em pro­duzir um show de teatro. Deste encon­tro inusi­ta­do, entre uma lés­bi­ca e um trav­es­ti, nasce uma história de amor nada convencional.

    Em Elvis e Madona temos todos os clichês das comé­dias român­ti­cas, mas por traz­er essa roupagem difer­en­ci­a­da, con­segue des­per­tar o lado cômi­co deles. Ape­sar dis­so, não traz nada mais inusi­ta­do, ou inteligente, sobre o assun­to. Graças a uma tril­ha sono­ra bem pre­sente e agi­ta­da, muitas situ­ações do lon­ga se tor­nam menos cansativas do que real­mente seri­am se não hou­vesse esse recur­so. Inclu­sive, uma de suas músi­cas é “Reflexo” da ban­da Beep-Polares, que é lid­er­a­da pelo próprio Igor Cotrim.

    O foco do filme é mes­mo a con­strução e o desen­volvi­men­to do amor entre esse dois per­son­agens, sem faz­er qual­quer ques­tion­a­men­to ou apro­fun­da­men­to em relação a opção sex­u­al de cada um deles. Ape­sar de em pou­cas cenas de Elvis e Madona haver um pre­con­ceito de out­ros per­son­agens, des­de incom­preen­são á repul­sa ficar mais aparente, essas situ­ações são rap­i­da­mente igno­radas ou concluídas.

    Elvis e Madona é um filme mais para diver­são, bem cin­e­ma pipoca, que ques­tiona com o con­ceito de casal mais usu­al, além é claro de tam­bém mex­er na feri­da do pre­con­ceito de muitos. Se você esta­va esperan­do algo mais ques­tion­ador e pro­fun­do sobre a questão de gêneros, este não é o lon­ga que você esta­va procurando.

    Após a exibição do filme no 7º Fes­ti­val de Verão do RS de Cin­e­ma Inter­na­cional, hou­ve uma con­ver­sa com o ator Igor Cotrim, que falou um pouco sobre como foi sua preparação para o papel e tam­bém como hou­ve a pre­ocu­pação de não faz­er algo que ficas­se car­i­ca­to ou este­ri­oti­pa­do, além de out­ros detal­h­es sobre a pro­dução do longa.

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    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=SUqDKzzxzgM

  • Crítica: Olhos Azuis

    Crítica: Olhos Azuis

    olhos azuis

    Olhos Azuis (Brasil, 2010), de José Joffi­ly, é uma pro­dução bem difer­ente das out­ras já feitas no cin­e­ma nacional. Abor­dan­do temas como vio­lên­cia e pre­con­ceitos, mas sem o típi­co cenário (para não diz­er bati­do) favela/prisão, ele é um óti­mo thriller psi­cológi­co, gênero ain­da raro por aqui.

    Mar­shall (David Rasche) está no seu últi­mo dia de tra­bal­ho como chefe da imi­gração do Aero­por­to de JFK, de Nova Iorque, e pre­cisa escol­her um sub­sti­tu­to para seu car­go. Afim de pas­sar uma últi­ma lição a seus sub­or­di­na­dos, assim como testá-los para saber quem pode­ria estar mais apto a sua sub­sti­tu­ição, decide exager­ar um pouco mais no seu proces­so de seleção de quem vai poder ou não entrar no “paraí­so” amer­i­cano. Nona­to (Irand­hir San­tos), é um brasileiro rad­i­ca­do nos EUA, aca­ba sendo o alvo prin­ci­pal de Mar­shall, em uma luta entre “olhos azuis” e “olhos negros”, que não poderá acabar muito bem para um dos dois.

    É difí­cil não ficar inco­moda­do com as situ­ações apre­sen­tadas em Olhos Azuis. Quem já sofreu (alguém por aca­so não?) qual­quer tipo de dis­crim­i­nação pela ignorân­cia de uma pes­soa a respeito de algu­ma coisa, sabe muito bem do que se tra­ta. O inter­es­sante é que o filme abor­da o pre­con­ceito de ambos os lados, onde não há uma úni­ca ver­dade. Mas a grande per­gun­ta que fica é: estaria esse pre­con­ceito (o xeno­fo­bis­mo, neste caso em par­tic­u­lar) geran­do mais pre­con­ceito? Como seria pos­sív­el con­frontar argu­men­tos pura­mente irra­cionais de out­ra pes­soa? Como evi­tar que não ocor­ra esse proces­so de retroalimentação?

    O filme teve como inspi­ração o doc­u­men­tário Blue Eyes, de Jane Elliot, uma fil­magem de um exper­i­men­to feito por uma ped­a­goga amer­i­cana que con­duz situ­ações ger­ado­ras de pre­con­ceitos irra­cionais (algum não é?) entre seus par­tic­i­pantes. Só que des­ta vez inver­tendo os papéis, as víti­mas são os “olhos azuis” e não os “olhos negros”. Com isso ela pre­tende mostrar, tan­to para eles quan­to para quem assiste, como que com peque­nas atitudes/gestos somos pre­con­ceitu­osos em relação os out­ros, e que todo mun­do tem sua parcela de pre­con­ceitos, mes­mo sem perce­ber muitas vezes. É um mate­r­i­al muito inter­es­sante para qual­quer um que se inter­esse pelo assun­to, o recomen­do muito.

    Toda a mon­tagem de Olhos Azuis é muito bem fei­ta, alter­nan­do sem­pre entre momen­tos de ten­são e out­ros mais tran­qui­los, que ape­sar de darem um pouco de espaço para res­pi­rar ain­da assim não con­seguem aliviar em nada toda aque­la car­ga emo­cional que vai se acu­mu­lan­do cada vez mais, que con­tin­ua pre­sente até mes­mo depois do fim do filme. A história é exibi­da total­mente alter­na­da, por muito tem­po não se sabe o que é pas­sa­do ou pre­sente e ape­sar de já ter des­de o começo uma idéia de um final trági­co, é difí­cil saber exata­mente o que vai acon­te­cer até o últi­mo momen­to do filme.

    O elen­co tam­bém foi muito bem escol­hi­do, se pre­zou por encon­trar atores que tivessem a mes­ma nacional­i­dade do seu per­son­agem, resul­tan­do em uma grande sen­sação de real­is­mo per­ante as telas. O con­venci­men­to da tra­ma, e dos per­son­agens prin­ci­pal­mente, cos­tu­ma ser um dos maiores prob­le­mas no out­ros filmes do mes­mo gênero pro­duzi­dos nacional­mente. Nor­mal­mente fica algo ou exager­a­do demais, as vezes tan­to que fica até patéti­co, ou vazio demais, as coisas vão acon­te­cen­do e você não se envolve emo­cional­mente com nada. Por con­ta dess­es motivos acred­i­to que Olhos Azuis, é um grande difer­en­cial para a pro­dução brasileira.

    Em Hotel Ruan­da, de Ter­ry George, um per­son­agem reflete sobre as ima­gens de genocí­dio exibindo a guer­ra nos noti­ciários de out­ros país­es, onde as pes­soas ao ver as ima­gens ficavam chocadas por alguns segun­dos, mas depois con­tin­u­avam cal­ma­mente a com­er a sua jan­ta, como se nada tivesse acon­te­ci­do. Acred­i­to a mudança de ati­tude em relação à um assun­to cabe a cada pes­soa. Com Olhos Azuis, a mes­ma situ­ação pode se repe­tir após o final do mes­mo, se uma ver­dadeira mudança não for almejada.

    O filme, assim como o doc­u­men­tário no qual foi basea­do, pos­sui um mate­r­i­al muito rico para se abor­dar questões a respeito do pre­con­ceito, patri­o­tismo e tam­bém políti­ca, mas sem cair em moralizações.

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    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=ZybTJVGxF6Q