Tag: música

  • Olhai para o céu | Crônica

    Olhai para o céu | Crônica

    Imagem do telescópio Hubble, da NASA
    Imagem do telescó­pio Hub­ble, da NASA

    Nestes dias de super­lua e pôr-de-sol alaran­ja­do todos olham para o céu. Diante de fenô­menos astronômi­cos e geofísi­cos extra­ordinários volta­mos a ser mul­heres e home­ns pale­olíti­cos, embas­ba­ca­dos pelo poder das forças nat­u­rais, Pas­samos a girar em torno de satélites, astros e estre­las do zodía­co. Não como sim­ples con­sulentes de horós­co­pos, mas como seres deslum­bra­dos sob o cos­mo desconcertante.

    Não por aca­so há uma cor­re­spondên­cia entre os sig­nos celestes e os sig­nos lin­guís­ti­cos. “As estre­las no céu lem­bram as letras no papel”, can­tou o poeta. Nos primór­dios, a lua e as estre­las eram fonte de inspi­ração para os aedos. Can­ta­va-se para uma noite român­ti­ca, que ocul­ta­va em seu man­to negro galáx­i­as a serem descober­tas por cien­tis­tas e astrônomos, sécu­los adi­ante. Munidos de lune­tas e telescó­pios potentes, os cien­tis­tas desmisti­ficaram a abóba­da celeste. Ape­sar de hoje saber­mos que as estre­las que vemos no céu são cor­pos moven­do-se a anos-luz da Ter­ra, o encan­to não se diluiu.

    Falan­do em roman­tismo, emb­o­ra para a maio­r­ia dos oci­den­tais esta face não seja a mais visív­el, o japonês tem sua porção sen­ti­men­tal­ista bem acen­tu­a­da. Evo­can­do o mote “olhar para o céu”, lem­bro uma canção que fez suces­so nos anos 60: Ue wo muite aruk­ou. Na voz de Kyu Sakamo­to, a canção japone­sa, cuja tradução do títu­lo é Ande olhan­do para o céu, cru­zou os mares e ecoou nas Améri­c­as, reba­ti­za­da nos Esta­dos Unidos como Sukiya­ki.

    A letra aparente­mente abor­da um fra­cas­so amoroso e inci­ta o amante rejeita­do a seguir em frente, de cabeça ergui­da. A canção, que em 1963 atingiu o topo das paradas de suces­so amer­i­canas, tornou-se um hino para os japone­ses. Não se tra­ta de uma sim­ples canção român­ti­ca. Seu autor, Rokusuke Ei, escreveu a letra enquan­to ia para casa, voltan­do de protesto estu­dantes japone­ses con­tra a pre­sença mil­i­tar dos amer­i­canos no Japão. Des­de a der­ro­ta na 2a. Guer­ra Mundi­al, o Japão se tornou uma nação ocu­pa­da e até hoje a ilha de Oki­nawa man­tém uma base mil­i­tar amer­i­cana, tor­nan­do-se um pon­to estratégi­co dos EUA no mapa geopolíti­co da Ásia. Vários can­tores do mun­do todo gravaram a canção, inclu­sive brasileiros. Há uma ver­são da canção em que Daniela Mer­cury a can­ta, em japonês, com sotaque e rit­mos brasileiros. Para lev­an­tar os âni­mos dos japone­ses desabri­ga­dos pelo tsunâ­mi de 2011, vários músi­cos japone­ses gravaram a canção, com arran­jos que vão do pop ao jazz.

    Isto eu escrevi porque hoje faz 6 meses com­ple­tos de luto pela morte de meu com­pan­heiro. Durante 6 meses a ale­gria muitas vezes bateu à min­ha por­ta e eu a ignor­ei. Hoje à noite, olhan­do para céu, perce­bi que não pos­so mais deixar a por­ta tran­ca­da. Não pos­so chorar pelo ama­do que se foi pelo restante da vida. Ten­ho ami­gos que se enlu­taram e até hoje con­tin­u­am choran­do suas per­das. Mas não con­si­go mais resi­s­tir ao clam­or do céu.

    O céu que se alaran­jou na últi­ma sem­ana de out­ubro é a con­fir­mação de uma nova pri­mav­era. Pri­mav­era que per­gun­ta, em sus­sur­ro: “você perdeu seu com­pan­heiro e tem 51 anos. E ago­ra?” Ago­ra só pos­so con­tin­uar ouvin­do Ue wo muite aruk­ou e andar olhan­do para o céu.

  • Aeon Spoke — Above the Buried Cry (2004) | Crítica

    Aeon Spoke — Above the Buried Cry (2004) | Crítica

    aeon-spoke-above-the-buried-cry-2004-critica-1Boas ener­gias, luz, calor humano e esper­ança inte­gram o com­pos­to do álbum Above the Buried Cry, da ban­da de alternative/atmospheric rock Aeon Spoke. Falan­do assim até pode pare­cer clichê, mas o tra­bal­ho cap­i­tanea­do pelo tal­en­tosís­si­mo gui­tar­rista, com­pos­i­tor e vocal­ista Paul Masvi­dal, ao lado do seu fiel com­pan­heiro, o bater­ista Sean Rein­ert, não pode­ria ser diferente.

    Os dois músi­cos em questão foram mem­bros da ban­da Death durante a exe­cução e turnê do álbum Human (1991), con­sid­er­a­do um divi­sor de águas na car­reira de uma das maiores ban­das de Heavy Met­al que já exi­s­ti­ram em todos os tem­pos. Con­ta-se que Chuck Schuldin­er, líder do Death, ten­tou dis­suadir Paul Masvi­dal a não deixar o grupo, pois considerava‑o um gui­tar­rista excep­cional. Mas o fato acon­te­ceu, levan­do Masvi­dal e Rein­ert a retomarem suas ativi­dades com o Cyn­ic, tra­bal­ho perene dos músicos.

    Para­le­lo ao Cyn­ic, o ano de 2000 fez emer­gir a primeira demo do Aeon Spoke, com­pos­ta por seis faixas, cul­mi­nan­do depois em um EP lança­do em 2002 e radio ses­sions em 2003. No ano seguinte, o primeiro álbum da ban­da vem à tona com sete faixas (o mate­r­i­al foi regrava­do em 2007). Above the Buried Cry intro­duz men­sagens pos­i­ti­vas e reflexões acer­ca do com­por­ta­men­to humano, o que vem a cal­har com as crenças do por­to-riqueno Paul Masvidal.

    Sean Reinert e Paul Masvidal
    Sean Rein­ert e Paul Masvidal

    Nasci­do Pablo Alber­to Masvi­dal, o músi­co cresceu em Mia­mi, Flóri­da, e estu­dou músi­ca clás­si­ca e jazz des­de os primeiros anos. Paul é envolvi­do com a filosofia Ori­en­tal e com tudo o que diz respeito à espir­i­tu­al­i­dade. Ele tam­bém é ini­ci­a­do na práti­ca do Kriya Yoga, expon­do suas ideias/experiências nas letras de suas com­posições, que abar­cam Cyn­ic, Aeon Spoke, Por­tal e out­ros pro­je­tos paralelos.

    Sean Rein­ert tem acom­pan­hado Masvi­dal des­de a déca­da de 1980 e é con­sid­er­a­do um proem­i­nente bater­ista, escreven­do e apre­sen­tan­do per­for­mances em pro­gra­mas de tele­visão e filmes. Rein­ert parece ter a mes­ma filosofia de vida do seu ami­go Paul, o que resul­tou em faixas como:

    No Answers

    A feli­ci­dade não está em respostas e deve ser procu­ra­da com otimismo.

    Grace

    Um pedi­do de fé bem ao esti­lo da dout­ri­na ori­en­tal, onde paz e amor devem ser persegui­dos constantemente.

    Silence

    Crença, dese­jo, amor, esper­ança e alusão, uma vez mais, ao sol como fonte de renovação/renascimento.

    Emmanuel

    Belís­si­ma intro, é uma das faixas mais intro­spec­ti­vas do álbum. A músi­ca lança o ouvinte para uma irremediáv­el conexão com uma natureza oníri­ca, que se perde em cada nova nota. Min­ha faixa preferida!

    https://www.youtube.com/watch?v=vWeXxBGzKe0&ob=av2e

    Above the Buried Cry tam­bém traz Pablo at the Park, Sui­cide Boy, Face the Wind, For Good, Noth­ing e Yel­low­man, tudo den­tro da lin­ha “des­cubra-se e entregue-se”. De fato, pen­sa­men­to pra lá de alter­na­ti­vo para um mun­do cada vez mais egói­co, manip­u­lador e obceca­do pela sede de poder. Mas a arte existe para isso: abrir, cati­var e estim­u­lar consciências.

  • Ferreira Gullar e Paulo Leminski, dois rivais em exílio | Ensaio

    Ferreira Gullar e Paulo Leminski, dois rivais em exílio | Ensaio

    poema-sujo-ferreira-gullar-livro-capaCatarse (do grego: kathar­sis) é o proces­so de depu­ração dos sen­ti­men­tos, purifi­cação ou pur­gação do espíri­to sen­sív­el. No teatro grego, o herói dramáti­co pre­cisa sofr­er para purificar o espíri­to. Em psi­canálise, é a lib­er­tação de um trau­ma. A gênese da mais famosa obra dos últi­mos 40 anos da poe­sia brasileira, o Poe­ma sujo, é catár­ti­ca, segun­do seu autor, Fer­reira Gullar.

    Gullar esta­va no exílio, em Buenos Aires, em 1975, quan­do escreveu o poe­ma. Depois de pas­sar anos moran­do em diver­sas cidades do mun­do (Moscou, San­ti­a­go do Chile e Lima), viu ditaduras mil­itares se insta­larem nos país­es sul-amer­i­canos. Com o fra­cas­so da utopia comu­nista no Brasil, depois de um tem­po na Rús­sia, emi­grou para o Chile e assis­tiu à que­da de Allende. Mudou para a Argenti­na em 1974 e reviveu o pesade­lo de ver os ami­gos ao redor serem pre­sos ou fugir. Saben­do que os agentes da repressão brasileiros fechavam o cer­co no país viz­in­ho, decid­iu escr­ev­er um poe­ma que fos­se um teste­munho final.

    O Poe­ma sujo, escrito em cin­co meses, em esta­do de transe ver­tig­i­noso, foi aca­len­ta­do por anos. Tem como fio con­du­tor a ideia de res­gatar memórias de sua cidade natal, São Luís do Maran­hão. As condições de penúria no exílio e a eminên­cia de calar-se para sem­pre o forçaram a ultra­pas­sar o tom memo­ri­alís­ti­co. O Poe­ma sujo dá voz ao deses­pero do poeta. Deses­pero que, para­doxal­mente, englo­ba grande esper­ança, por situ­ar-se na infân­cia, como demon­stra seu tre­cho mais con­heci­do, trans­for­ma­do na letra da canção O tren­z­in­ho caipi­ra, a toca­ta da Bachi­ana no. 2, de Vil­la-Lobos:

    Lá vai o trem com o menino
    Lá vai a vida a rodar
    Lá vai ciran­da e destino
    Cidade e noite a girar
    Lá vai o trem sem destino
    Pro dia novo encontrar
    Cor­ren­do vai pela terra
    Vai pela serra
    Vai pelo mar
    Can­tan­do pela ser­ra o luar
    Cor­ren­do entre as estre­las a voar
    No ar, no ar…

    A evo­cação da memória da infân­cia em rede­moin­ho é o pon­to de par­ti­da para com­por um poe­ma em vários tons, com momen­tos de inten­si­dade e de banal­i­dade, como cita o poeta, con­struí­dos por frag­men­tos de lem­branças “das pes­soas às coisas, das plan­tas aos bichos, tudo, água, lama, noite estre­la­da, fome, esper­ma, son­ho, humil­hações, tudo era gora matéria poéti­ca”. Antítese entre o claro do pre­sente e o tur­vo da infân­cia, mais que res­gate, é a recom­posição do pas­sa­do no presente.

    A memória da infân­cia é um reg­istro infiel, sujo, recom­pos­ta por destroços: tel­has encar­di­das, gar­fos e facas que se que­braram, e se perder­am nas fal­has do assoal­ho para con­viv­er com baratas e ratos no quin­tal esque­ci­dos entre os pés de erva cidreira. Des­or­dem que é ordem “per­feita­mente fora do rig­or cronológi­co”, do labir­in­to do tem­po inte­ri­or. A casa per­di­da no tem­po, com tal­heres enfer­ru­ja­dos, facas cegas, cadeiras furadas, mesas gas­tas, armários obso­le­tos raste­jam “pelos túneis das noites clan­des­ti­nas” esperan­do “que o dia ven­ha”. A infân­cia é o úni­co refú­gio para quem perdeu tudo. O cor­po, a úni­ca casa, o úni­co ter­ritório, a pos­si­bil­i­dade de êxtase quan­do já não se per­tence a lugar nenhum.

    A iden­ti­dade são-luisense se con­cretiza no cor­po do poeta, o pas­sa­do se esmiúça, como cita Alcides Vil­laça: o “sujo do poe­ma ref­ere-se tan­to ao impuro quan­to pela com­posição das difer­enças, pelas águas revolvi­das, pelo esti­lo que vai da mão sol­ta no papel à cadên­cia rig­orosa de uma avali­ação […] Mas sujo tam­bém porque par­tic­i­pa de uma história não ofi­cial, sec­re­ta, que soma a con­sciên­cia abafa­da e o cor­po pri­sioneiro de von­tades cal­adas.” Sujo porque a vida é suja: toda matéria se perde, apo­drece lentamente.

    A canção de exílio dos anos de chum­bo é Sabiá, de Chico Buar­que e Tom Jobim, com­pos­ta em 1968 para um fes­ti­val. A canção traz refer­ên­cias claras ao “dia que virá”, dia em que os exi­la­dos retornar­i­am à pátria. Gullar ante­ci­pa a pátria destruí­da, memória dev­as­ta­da e ilu­mi­na­da ape­nas pelo facho das lem­branças da cidade de infân­cia. Os obje­tos da casa pri­mor­dial gas­taram-se no tem­po e por isso sua lem­brança é de sujeira, ou algo que foi sujo.

    O teste­munho do poeta é mais uma canção do exílio, que se desvia do nacional­is­mo insu­fla­do por Gonçalves Dias. A canção de Gullar é tan­to mais comovente quan­to bus­ca negar qual­quer resquí­cio român­ti­co ou pan­fletário. Em nem um momen­to rev­ela tex­tual­mente a dor pela per­da dos ami­gos, o esface­la­men­to famil­iar e a melan­co­l­ia da desterritorialização.

    Depois de con­cluir o poe­ma, Gullar o leu a Viní­cius de Morais, que lev­ou uma gravação da leitu­ra para o Brasil. Gru­pos se for­mavam para ouvir a voz do poeta exi­la­do. O edi­tor Ênio Sil­veira pediu cópia para pub­licá-lo. Com a pub­li­cação, ami­gos, jor­nal­is­tas e escritores cla­ma­ram ao gov­er­no mil­i­tar o fim do exílio de Gullar. O gov­er­no não aten­deu. O poeta, porém cansa­do, resolveu voltar por con­ta própria. Quan­do chegou, foi lev­a­do ao DOI-Codi e inter­ro­ga­do, acarea­do e ameaça­do. Mas graças ao poe­ma, pôde ficar no Brasil.

    A catarse do ago­ra con­tra o futuro marginal

    A repub­li­cação do Poe­ma sujo, em 2013, pela José Olym­pio, o cel­e­bra como mar­co na luta con­tra a repressão mil­i­tar. Mas antes de se tor­na per­sona non gra­ta no país, Gullar já guer­rea­va, e muito, mas por razões estéti­cas, con­tra out­ros adver­sários. Con­trapôs-se ao movi­men­to de van­guar­da da poe­sia conc­re­ta, com­pos­ta pelos irmãos Augus­to e Harol­do de Cam­pos e Décio Pig­natari, defend­en­do o nacional­is­mo da arte brasileira e crian­do a poe­sia neo­conc­re­ta. A prin­ci­pal críti­ca de Gullar aos con­cre­tos era de que com­par­a­vam a poe­sia à matemáti­ca e pre­tendi­am atu­ar em todos os cam­pos, jor­nais, pub­li­ci­dade, da músi­ca (canção pop­u­lar), tevê, rádio, cinema.

    Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, a Tríade Concretista.
    Augus­to de Cam­pos, Décio Pig­natari e Harol­do de Cam­pos, a Tríade Concretista.

    Provo­cador, polêmi­co, jamais pací­fi­co, o poeta Paulo Lemins­ki é herdeiro de uma tradição poéti­ca de van­guar­da (ou tradição de rup­tura, como quer Octávio Paz) que no Brasil ren­deu movi­men­tos como o Mod­ernismo, a Poe­sia Conc­re­ta e o Trop­i­cal­is­mo. Por causa do tem­po históri­co de sua eclosão (anos 70 e 80), por vezes é erronea­mente situ­a­do den­tro da Poe­sia Mar­gin­al, movi­men­to ao qual nun­ca se fil­iou (não gos­to da poe­sia de Caca­so, um dos líderes da poe­sia mar­gin­al car­i­o­ca dos 70/80, afir­mou, em entre­vista ao jor­nal­ista Aramis Mil­larch, em 1986) e con­tra o qual escreveu uma série de ensaios no livro “Anseios Críp­ti­cos” (1986).

    Lemins­ki her­dou a briga com os neo­con­cre­tos. Ape­sar de propa­gar a teo­ria da arte como  inuten­sílio, nun­ca fez ape­nas arte pela arte. É o que se com­pro­va na canção Ver­du­ra, veta­da pela cen­sura em 1978.

    De repente
    me lem­bro do verde
    da cor verde
    a mais verde que existe
    a cor mais alegre
    a cor mais triste
    o verde que vestes
    o verde que vestiste
    o dia em que te vi
    o dia em que me viste
    De repente
    ven­di meus filhos
    a uma família americana
    eles têm carro
    eles têm grana
    eles têm casa
    a gra­ma é bacana
    só assim eles podem voltar
    e pegar um sol em Copacabana

    O poeta Fab­rí­cio Mar­ques asso­cia o ver­so de repente me lem­bro do verde ao Trop­i­cal­is­mo, conectan­do o verde cita­do com uma das cores-sím­bo­lo do Brasil:

    todas as suas nuances e con­tradições (a cor mais alegre/ a cor mais triste). Desse modo, o poe­ma atinge um tom quase lisér­gi­co, no qual ressaltam ecos do trop­i­cal­is­mo: super­ba­cana, de Cae­tano Veloso, e ai de ti, Copaca­bana, de Torqua­to. Ocorre então uma inver­são paródi­ca do nacional­is­mo, prin­ci­pal­mente na segun­da estrofe, que fun­ciona como uma espé­cie de críti­ca políti­ca avant la let­tre à emi­gração de brasileiros em bus­ca de mel­hores condições de vida, numa pro­gressão desen­f­rea­da, prin­ci­pal­mente para os Esta­dos Unidos, nos anos que se seguiram à primeira pub­li­cação do tex­to em livro (1981).

    A asso­ci­ação com o verde trop­i­cal­ista não é a úni­ca pos­sív­el. A cor verde e triste é a ”grana” que seduz a família a vender o fil­ho para os amer­i­canos. O verde triste trans­for­ma tudo em mer­cado­ria, até as relações afe­ti­vas. Triste ain­da o verde do uni­forme dos mil­itares, cujos cen­sores enten­der­am a iro­nia. A canção só pas­sou pelo cri­vo em 1981, quan­do foi grava­da por Cae­tano Veloso. Mas a refer­ên­cia aos poe­mas trop­i­cal­is­tas é inex­a­ta. Em vez de Super­ba­cana e Ai de mim, Copaca­bana, a asso­ci­ação mais ine­bri­ante pode­ria ser Quan­do o san­to guer­reiro entre­ga as pon­tas, de Torqua­to Neto:

    nada de mais:
    o muro pin­ta­do de verde
    e ninguém que pre­cise dizer-me
    que esse verde que não quero verde
    lírico
    mais planos e mais planos
    se desfaz:
    nada demais
    aqui de den­tro eu pego e furo a fogo
    e luz
    (é movimento)
    vos­so sis­tema pro­te­tor de incêndios
    e pin­to a tela o muro diferente
    porque uso como quero min­ha lentes
    e fil­mo o verde,
    que eu não temo o verde,
    de out­ra cor:
    diari­a­mente encaro bem de perto
    e escar­ro sobre o muro:
    nada demais

    Lemins­ki deg­lute antropofagi­ca­mente o Bis­po Sardinha, como que­ria Oswald, can­tan­do, com dó de peito o momen­to históri­co do iní­cio da diás­po­ra glob­al. O sen­ti­men­to de dor (por ver seu igual par­tir e se par­tir) não fratu­ra o poeta, que final­iza: só assim eles podem voltar e pegar um sol em Copaca­bana, com a con­sciên­cia de que a Ale­gria é a Pro­va dos Nove, como can­ta­va Oswald, ou seja, a úni­ca for­ma de resistên­cia a um regime desigual que estim­ula­va o despa­tri­a­men­to só pode­ria ser a iro­nia, trazen­do a capa de um fal­so con­formis­mo. Desse modo, mes­mo nun­ca ten­do se desli­ga­do de sua ter­ra natal, Lemisn­ki par­tic­i­pa dass ago­nias da vida nacional em seu insilio1.

    O críti­co Sil­viano San­ti­a­go esclarece que o bor­dão antropofági­co vin­cu­la-se com a catarse do ago­ra: “o ressurg­i­men­to de um cor­po que não estaria mais com­pro­meti­do com a éti­ca protes­tante do tra­bal­ho, um cor­po que recusa, inclu­sive, […] a col­o­niza­ção do futuro. Esse cor­po, então, estaria fin­can­do mais e mais o pé no ago­ra: nesse sen­ti­do, um cor­po que é fruição.” Esta ideia estaria lig­a­da à emergên­cia das mino­rias sex­u­ais nos anos 70: “De cer­ta for­ma, na nos­sa sociedade oci­den­tal, em par­tic­u­lar, o praz­er esteve muito vin­cu­la­do a uma cer­ta nor­mal­iza­ção de con­du­ta sex­u­al, e quan­do essa con­du­ta não era nor­mal­iza­da as pes­soas se sen­ti­am enorme­mente infelizes.”

    Paulo Leminski
    Paulo Lemins­ki

    O críti­co fala de um cor­po não reprim­i­do, de pura ale­gria, em con­trapon­to com a tradição críti­ca que colo­ca o pre­sente como esta­do de martírio. O sofri­men­to cul­tua­do pelos gru­pos políti­cos de esquer­da no Brasil tin­ha como pro­je­to de redenção a pos­si­bil­i­dade de uma utopia social. San­ti­a­go se posi­ciona con­tra este esta­do de pobreza: “Inver­tendo os ter­mos, dizen­do que o pre­sente pode ser vivi­do, pode ser vivi­do ale­gre­mente, sem as amar­ras da repressão, estaríamos descondi­cio­nan­do a pos­si­bil­i­dade de um pen­sa­men­to dito utópi­co.” Nos ver­sos de Leminski:

    praz­er
    da pura percepção
    os sentidos
    sejam a crítica
    da razão
    (Dis­traí­dos Vencer­e­mos, 1987)

    Esta ide­olo­gia está em coal­izão com a microp­olíti­ca do dese­jo de Felix Guat­tari e o com­por­ta­men­to aqui-ago­ra do movi­men­to hip­pie dos anos 70, que vul­gar­iza con­ceitos de filosofias ori­en­tais, como o hin­duís­mo e o zen-bud­is­mo. Os hip­pies trazem a ideia do praz­er na real­i­dade do pre­sente, em que a utopia não se adia, em que o esta­do par­adis­ía­co é vivi­do todos os dias. A poe­sia de Lemins­ki con­strói a catarse do ago­ra con­tra a repressão do pre­sente – no con­tex­to históri­co, a saí­da da ditadu­ra mil­i­tar para a ditadu­ra da econo­mia glob­al. Con­tra um sis­tema no qual a poe­sia é ape­nas o dese­jo, os artefatos de Lemins­ki tor­nam-se instru­men­to críti­co que cor­roem con­ceitos e faz­eres mumi­fi­ca­dos, como na genial inver­são dis­traí­dos vencer­e­mos do títu­lo de livro pub­li­ca­do em 1987, que car­naval­iza o bor­dão Unidos, vencer­e­mos.

    Um dos recur­sos usa­dos pelos poet­as para com­bat­er o regime repres­sor foi o humor. San­ti­a­go difer­en­cia dois proces­sos usa­dos nos movi­men­tos de poe­sia de protesto. O primeiro, a paró­dia, é um recur­so val­oriza­do como instru­men­to poten­cial de irrisão con­tra o poder insti­tuí­do, uma rup­tura. O segun­do, o pas­tiche, é uma der­risão que enfraque­ce o poder da críti­ca: A paró­dia sig­nifi­ca uma rup­tura, um escárnio com relação àquela estéti­ca que é dada como neg­a­ti­va. O pas­tiche não rechaça o pas­sa­do, num gesto de escárnio, de despre­zo, de iro­nia, escreve Santiago.

    A paró­dia tem o mes­mo grau de irrisão do insti­tuí­do pelo mote Tupy or Not Tupy, inscrito no Man­i­festo Antropofági­co de Oswald, em 1922. A lição mod­ernista foi incor­po­ra­da por Lemins­ki, que des­de sua aparição públi­ca nos jor­nais em Curiti­ba, achin­cal­ha o cul­to ao con­to e a figu­ra mon­u­men­tal­iza­da de Dal­ton Tre­visan, nos anos 70 e 80. Neste momen­to, seu embate não é con­tra as ino­vações de Dal­ton (a lin­guagem sin­téti­ca, a opção pela “cor local”, ado­tadas por Lemins­ki) e sim con­tra a insti­tu­cional­iza­ção de Dalton.

    Ferreira Gullar.
    Fer­reira Gullar

    A dor tão ele­va­da que é capaz de faz­er rir, evo­ca­da por Alice Ruiz no pre­fá­cio do livro La Vie en Close foi a táti­ca de uma guer­ril­ha que tem no riso, no chiste, no witz, na descon­strução de clichês e no aproveita­men­to de palavras de ordem seu núcleo. Este tipo de guer­ril­ha cul­tur­al seria her­ança do Trop­i­cal­is­mo. Para Ana Cristi­na César, a Trop­icália é a expressão de uma crise, uma opção estéti­ca que inclui um pro­je­to de vida, em que o com­por­ta­men­to pas­sa a ser ele­men­to críti­co, sub­ver­tendo a ordem mes­ma do cotid­i­ano. A ideia de enfrentar o sufo­co políti­co com as armas do cotid­i­ano foi legit­i­ma­da em Leminski.

    Dois adver­sários no cam­po da estéti­ca da poe­sia lutam con­tra um inimi­go comum. E fil­iam-se à tradição literária brasileira inserindo mais uma paró­dia da Canção do Exílio, descon­stru­in­do o nacional­is­mo orig­i­nal. Enquan­to a nação desa­parece, a infân­cia tor­na-se ter­ritório míti­co e o cor­po, o úni­co sacra­men­to, para Gullar. Já Lemins­ki percebe que até a infân­cia será ven­di­da, restando, para a poe­sia, sua úni­ca arma de luta: o praz­er de provo­car sentidos.

    Insílio: De acor­do com Paul Ilie, inner exilie são os que vivem o exílio em seu próprio país. O con­ceito nasce basea­do em sociedades autoritárias. Os insi­la­dos ficam pre­sos no país sofren­do os des­man­dos do regime. Ilie dis­cute o inner exilie da sociedade espan­ho­la sob o regime fran­quista, não exi­ladas de acor­do com o mod­e­lo clás­si­co, mas tiver­am a liber­dade restri­ta, sofren­do com a negação, dom­i­nação, anu­lação, intolerância.

    BIBLIOGRAFIA

    Livros

    • GULLAR, Fer­reira
      • Inda­gações de hoje. Rio de Janeiro: José Olym­pio Edi­to­ra, 1989.
      • Poe­ma sujo. Rio de Janeiro: José Olym­pio Edi­to­ra, 2013.
    • LEMINSKI, Paulo
      •  Capri­chos e Relax­os. São Paulo: Brasiliense, 1983.
      • Dis­traí­dos Vencer­e­mos. São Paulo: Brasiliense, 1987. (5ª edição 1995).
      • Anseios Críp­ti­cos, Curiti­ba: Cri­ar Edições, 1985.
      • Um Escritor na Bib­liote­ca, Curiti­ba: Bib­liote­ca Públi­ca do Paraná, 1985.
      • La vie en close. São Paulo: Brasiliense, 1991.
      • Poe­sia, paixão da lin­guagem. In: Novaes, Adau­to (Org.) Os sen­ti­dos da paixão. São Paulo: Cia das Letras, 1986.
      • Uma car­ta uma brasa através – car­tas a Régis Bon­vi­ci­no. 1976–1981 São Paulo: Ilu­min­uras, 1992.
    • SANTIAGO, Sil­viano
      • Nas Mal­has da Letra. São Paulo: Com­pan­hia das Letras, 1989.

    Doc­u­men­tos eletrônicos

  • Amantes Eternos (2013), de Jim Jarmusch | Crítica

    Amantes Eternos (2013), de Jim Jarmusch | Crítica

    amantes-eternos-2013-de-jim-jarmusch-critica-posterSer imor­tal, ou pelo menos algo próx­i­mo a isso, é um dese­jo que inspi­ra muitas histórias e pesquisas, pas­san­do des­de abor­da­gens mais mís­ti­cas às mais tec­nológ­i­cas. Essa condição, além de ofer­e­cer várias pos­si­bil­i­dades, tam­bém lev­an­ta várias questões que são muitas vezes difí­ceis de se imag­i­nar dada a bre­v­i­dade de nos­so tem­po de vida. Como será que uma criatu­ra per­pé­tua se sen­tiria em relação ao cam­in­har da história da humanidade? E uma relação amorosa que durasse sécu­los? Estes são os dois fios con­du­tores da tra­ma de “Amantes Eter­nos” (“Only Lovers Left Alive”, Inglaterra/Alemanha/Grécia, 2013), dirigi­do e escrito por Jim Jar­musch.

    Pas­san­do longe da ficção cien­tí­fi­ca para cri­ar tal condição, Jar­musch traz um novo olhar a criatu­ra imor­tal­iza­da (nos dois sen­ti­dos) por Bram Stok­er: o vam­piro. Antes que alguns torçam o nar­iz, não se tra­ta de mais uma adap­tação pueril ou uma des­cul­pa para colo­car pes­soas em colantes pre­tos lutan­do entre si ou com mon­stros em câmera lenta. “Amantes Eter­nos traz nova­mente os vam­piros para o seu auge nas telonas, assim como fez “Entre­vista com o Vam­piro” (1994), de Neil Jor­dan, basea­do na obra da escrito­ra Anne Rice. Só que des­ta vez, o con­fli­to prin­ci­pal não é uma crise exis­ten­cial con­si­go mes­mo, mas sim com a espé­cie humana em ger­al, aqui apel­i­da­da car­in­hosa­mente de zumbis.

    Tal crise tem seus motivos mais que óbvios. Afi­nal, deve ser depri­mente ver, e as vezes tam­bém con­viv­er, com várias mentes bril­hantes que são igno­radas e até mor­tas por con­ta de suas ideias rev­olu­cionárias, para somente depois de décadas, serem final­mente escu­tadas, mes­mo que ape­nas par­cial­mente. Jun­tan­do isso a todo o con­hec­i­men­to que esta pes­soa iria acu­mu­lar durante sécu­los, cria-se uma situ­ação no mín­i­mo desan­i­mado­ra. Os dois per­son­agens prin­ci­pais de “Amantes Eter­nos são extrema­mente cul­tos, sem­pre lem­bran­do de seus ami­gos do pas­sa­do (Schu­bert, Gus­tave Flaubert, Shake­speare…) como se ontem hou­vessem con­ver­sa­do. Por con­ta dis­so, se tor­nam até meios esnobes, mas nun­ca sendo pedantes e sem­pre com um óti­mo sen­so de humor nas suas refer­ên­cias e brincadeiras.

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    Para sobre­viv­er todo esse tem­po, além da con­stante mudança de local, há algo ain­da mais impor­tante a ser preza­do: o anon­i­ma­to. Afi­nal, seria difí­cil, para não diz­er impos­sív­el, escon­der a “imor­tal­i­dade” sob qual­quer tipo de holo­fote. Ou seja, nada de virar astros de rock ou vig­i­lantes noturnos. Faz­er isso seria como se inti­t­u­lar “agente secre­to” quan­do todos sabem que seu nome é James Bond e que você é o 007. Mas voltan­do ao assun­to do lon­ga em questão… Adam vive em Detroit, uma cidade nos Esta­dos Unidos que atual­mente está prati­ca­mente aban­don­a­da, ten­do declar­a­do con­cor­da­ta no ano pas­sa­do. Com certeza um dos mel­hores lugares para alguém se escon­der atual­mente no EUA.

    Em “Amantes Eter­nos, acom­pan­hamos o casal Adam (Tom Hid­dle­ston, o óti­mo Loki de “Thor”), um músi­co ávi­do e genial, e Eve (Til­da Swin­ton, a imor­tal “Orlan­do”), uma amante da lit­er­atu­ra, ten­tan­do sobre­viv­er no mun­do atu­al. Mas a com­posição de músi­cas já não con­segue mais mas­carar a insat­is­fação de Adam em relação a vida e a humanidade e Eve vai vis­itá-lo para ajudá-lo nes­ta crise. Falan­do em músi­ca, a tril­ha sono­ra é um dos grandes destaques do lon­ga, sendo bas­tante som­bria mas ao mes­mo tem­po sedu­to­ra, um ver­dadeiro post-rock vampiresco.

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    Com uma fotografia bem som­bria, o filme se pas­sa quase todo em ambi­entes fecha­dos e mal ilu­mi­na­dos, sem­pre a noite é claro. Este foi o primeiro lon­ga fil­ma­do dig­i­tal­mente por Jar­musch, que tem sérias restrições a respeito desse for­ma­to por não pos­suir, segun­do ele, uma qual­i­dade boa para áreas aber­tas e com mui­ta ilu­mi­nação. Mas como neste lon­ga não há nada dis­so, acabou se adap­tan­do per­feita­mente a estas lim­i­tações. Out­ra curiosi­dade inter­es­sante é que den­tro do set de fil­ma­gens, não era toca­da nen­hu­ma músi­ca, foi ape­nas dis­tribuí­do um mix­tape entre a equipe.

    Para con­diz­er com todo o dis­cur­so da anon­im­i­dade e con­hec­i­men­to sec­u­lar dos per­son­agens, ess­es vam­piros não pos­suem visual­mente nada de extra­vante, ten­do ape­nas como difer­en­cial um cabe­lo bem ani­male­sco (que foi cri­a­do mis­tu­ran­do a par­tir da mis­tu­ra de cabe­lo humano com pêlo de cabra e iaque). O lon­ga tam­bém brin­ca com várias das con­cepções a respeito dess­es seres da noite, prin­ci­pal­mente com a maneira que eles se ali­men­tam, que é sen­sa­cional. Out­ro detal­he inter­es­sante está rela­ciona­do com a intro­dução de um novo, con­ce­bido pelo próprio dire­tor, para car­ac­ter­izá-los. Vamos ver se você percebe ou perce­beu qual é ele.

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    Resu­min­do em pou­cas palavras: se você gos­ta de filmes inteligentes e fica intri­ga­do com as pos­si­bil­i­dades de per­pé­tu­os sug­adores de sangue, é bem prováv­el que fique com­ple­ta­mente seduzi­do por “Amantes Eter­nos.

  • Elton John nos cinemas UCI em Curitiba

    Elton John nos cinemas UCI em Curitiba

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    A músi­ca gan­ha destaque nas salas da UCI a par­tir des­ta quin­ta-feira (20). É que a rede exibe nesse dia e tam­bém na sex­ta (21) e no sába­do (22), às 20h30, “Elton John – O Piano de Um Mil­hão de Dólares”, reg­istro de um show no qual o can­tor inter­pre­ta seus maiores suces­sos. Em Curiti­ba (PR), os fãs do astro podem acom­pan­har a exibição na sala 4 do cin­e­ma UCI Estação.

    Elton John – O Piano de Um Mil­hão de Dólares” é a gravação do show de mes­mo nome real­iza­do em Las Vegas (EUA). Em um piano futur­ista com mais de 68 telas de LED, o can­tor inter­pre­ta alguns de seus maiores suces­sos, como “Rock­et Man”, “Tiny Dancer”, “Sat­ur­day Night’s Alright for Fight­ing”, “I’m Still Stand­ing”, “Good­bye Yel­low Brick Road”, “Croc­o­dile Rock” e “Your Song”.

    As entradas já estão à ven­da e cus­tam R$ 40 (inteira). Para mais infor­mações sobre os filmes, os cin­e­mas UCI e a pro­gra­mação com­ple­ta, acesse o site da UCI e/ou as redes soci­ais da UCI. Os ingres­sos poderão ser adquiri­dos nas bil­hete­rias, nos ter­mi­nais de autoa­tendi­men­to ou tam­bém pelo site da rede.

    Serviço:
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

  • Por Dentro do Máscara de Ferro, de Bernardo Aurélio | HQ

    Por Dentro do Máscara de Ferro, de Bernardo Aurélio | HQ

    Será que temos de ser loucos para ser­mos heróis? Será que todos não usamos máscaras?

    Não, aqui você não encon­tra ninguém vesti­do com roupas super-col­ori­das, poderes daque­les que soltam fogo pela boca, raios pelos olhos, muito menos lutas core­ografadas. O tra­bal­ho do quadrin­ista e artic­u­lador cul­tur­al — isso, artic­u­lador: pro­du­tor de ambi­entes cul­tur­ais na área das HQs em Teresina, o que fal­ta a muitos cri­adores hoje em dia — Bernar­do Aurélio pas­sa longe das explosões gra­tu­itas dos nos­sos ama­dos heróis impe­ri­al­is­tas, mas com uma influên­cia fun­da­men­tal no seu proces­so criativo.

    por-dentro-do-mascara-de-ferro-de-bernardo-aurelio-hq-capaAntes de falar de “Por Den­tro do Más­cara de Fer­ro”, vale a pena situ­ar a importân­cia do autor na cena das HQs na cidade. Autor de “Foic­es e Facões – A Batal­ha do Jeni­pa­po” (jun­to com Caio Oliveira, seu irmão e artista dos bons, que par­tic­i­pa do livro como desen­hista con­vi­da­do), Bernar­do faz parte do Núcleo de Quadrin­hos do Piauí, onde orga­ni­za (ao lado de uma equipe muito coer­ente) feiras temáti­cas em Teresina des­de 2001 até então, movi­men­tan­do o cir­cuito dos quadrin­hos inde­pen­dentes por aqui com mui­ta responsabilidade.

    O culpo diari­a­mente por me tornar um apaixon­a­do pelos quadrin­hos há quase um ano. Depois da indi­cação de “Bat­man: Ano Um” não con­si­go parar de ler HQs. Enfim, vamos voltar ao que interessa!

    Por Den­tro do Más­cara de Fer­ro” é um livro que te atrai fisi­ca­mente. Grande, ver­mel­ho, com uma capa impos­sív­el de resi­s­tir à leitu­ra, gos­toso de segu­rar e car­regar por aí. Um difer­en­cial que gostei foi o cruza­men­to com out­ras lin­gua­gens, mar­ca­dos pela inserção do tex­to em prosa no iní­cio da história, seguin­do com seus traços em p&b, bem como a pre­ocu­pação com a pais­agem sono­ra nos momen­tos mais impor­tantes da saga. Músi­ca e HQ tran­si­tam no mes­mo espaço.

    Já no índice, Bernar­do lança para o leitor uma tril­ha indi­ca­da, pre­scrição sono­ra que des­obe­de­ci — quan­do come­cei a ler, veio out­ro barul­ho na min­ha cabeça, já que na min­ha con­strução sono­ra do per­son­agem cou­ber­am out­ros sons, como Ten Years After e alguns momen­tos de Neil Young — para exper­i­men­tar out­ras pos­si­bil­i­dades de leitu­ra e exer­cí­cios par­tic­u­lares de imaginação.

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    A cada situ­ação valiosa na tra­ma, Bernar­do faz as indi­cações sono­ras apare­cerem ao leitor, como podemos visu­alizar em Aceleran­do em mar­cha ré, com a tril­ha “Foi tudo cul­pa do amor”, de Odair José ou “As rosas não falam”, de Car­to­la, e out­ras sequên­cias musi­cais artic­u­ladas ao enre­do. Assim, Bernar­do abre espaço para ampli­ar as sen­sações do públi­co, tor­nan­do seu tra­bal­ho mais sonoro-visu­al-pop-exper­i­men­tal. Um jogo de mix­agem que deve ser feito tan­to com as músi­cas sug­eri­das e as que com­põem o uni­ver­so do leitor, sacud­in­do as exper­iên­cias do personagem.

    Numa ofic­i­na de car­ros, o jovem mecâni­co ten­ta recu­per­ar o motor de um Mav­er­ick (entra o som de Alvin Lee e Ten Years After… viu? Não pude evi­tar). Neste cenário é que a história do Más­cara ini­cia em tex­to-prosa. Sua mente está divi­di­da entre o fim de um rela­ciona­men­to e o tra­bal­ho que o con­some, a roti­na, a repetição, a von­tade de mudar o per­cur­so: “ten­ho pen­sa­do em ten­tar coisa nova (…). O prob­le­ma é esse: não sei o que quero. Só sei que pre­ciso sair dessa ofic­i­na vez ou out­ra (…)”.

    Uma inqui­etação move aque­le mecâni­co, algo esta­va fora do lugar. A oper­ação de reviv­er o Mav­er­ick foi um fra­cas­so. Fecham-se as por­tas da ofic­i­na. A pais­agem fica cada vez mais notur­na e úmi­da. Um leve chu­vis­co, daque­les leves e demor­a­dos, com relâm­pa­gos e tro­vões ao fun­do. Nos­so olho está do lado de fora da garagem aparente­mente vazia e triste, esperan­do algo acon­te­cer, pois dá pra ver lá den­tro que a luz está acesa.

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    A garagem abre. Dois faróis acen­dem (…). A Kom­bi gan­ha a rua. Den­tro dele, pela primeira vez, a alma de um aven­tureiro encon­tra aque­le botão de adren­a­li­na escon­di­do, que inje­ta bati­das fortes no peito”. Eis que explode o Más­cara de Fer­ro.

    Car­ac­ter­i­za­do por uma más­cara típi­ca dos sol­dadores, car­regan­do no seu “cin­to de util­i­dades” um maçari­co, umas chaves de boca e roda, marte­lo, pre­gos, por­cas, um cano e o “anti­go 38 do meu vel­ho pai”, o Más­cara de Fer­ro sai em bus­ca de aven­turas nas noites de Teresina.

    Entre ações frustradas como “super-herói” da noite e explo­rações das suas habil­i­dades, o Más­cara abre para nós uma reflexão que move sua cam­in­ha­da: “Será que temos de ser loucos para ser­mos heróis? Será que todos não usamos más­caras?

    por-dentro-do-mascara-de-ferro-de-bernardo-aurelio-hq-3E assim, vamos acom­pan­han­do o proces­so de autode­scober­ta do Más­cara. Após a cômi­ca “car­ga dramáti­ca” que movi­men­ta a per­for­mance do nos­so herói, ele salta pelo ar e viven­cia um con­jun­to de exper­iên­cias fun­da­men­tais para reor­ga­ni­zar seus sen­ti­men­tos, mes­mo em con­fli­to com seu mel­hor ami­go: “Algu­ma vez, da altura dess­es teus vinte e poucos anos, tu já sen­tiu uma maldita certeza de que que­ria faz­er algu­ma coisa na vida e que só o que te impe­dia era tu mes­mo?

    Cam­in­han­do por Teresina (já escu­ra), ele vai em direção aos seus fan­tas­mas, pois a sua más­cara é o instru­men­to que poten­cial­iza todas as suas von­tades mais sec­re­tas, ago­ra com­par­til­hadas entre nós. É aí que fui imag­i­nan­do os traços auto­bi­ográ­fi­cos em con­vergên­cia entre Más­cara e seu autor, que o toma como ele­men­to para explo­rar pais­agens talvez inabitadas, se não hou­vesse a armadu­ra con­struí­da para tal.

    A bus­ca por justiça, ameaça­da por um dese­jo mal com­preen­di­do? A angús­tia e a von­tade de invadir os olhos da anti­ga ama­da? Uma curiosi­dade insis­tente pela feli­ci­dade dela? Por que tomar os olhos dos out­ros? “Você ain­da não con­seguiu colo­car uma pedra por cima dis­so”? Estaria o Más­cara, (como todos nós) bus­can­do uma armadu­ra para resolver seus con­fli­tos mais ínti­mos? Quan­tas Kás­sias pre­cisamos (diari­a­mente) para exor­cizar nos­sos demônios, a fim de rein­ven­tar a noção de dese­jo e todo aque­le pó que cobre nos­sas taras? Aqui entra Mari­na Lima (na min­ha tril­ha sono­ra), situan­do o amor dos dois: “Os dois cansa­dos, de tan­to amar, empapuça­dos, pra poder fugir, os dois cansa­dos, de via­jar, mar­avil­ha­dos, pra poder fugir, enquan­to você se afas­ta me desen­ter­ro…”.

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    Nada como a água para purificar os con­fli­tos inter­nos, mes­mo com Deus cus­pin­do ver­dades que a gente não quer ouvir. Às vezes a gente toma o apren­diza­do como algo doloroso e é dessa for­ma que vejo o Más­cara, um per­son­agem que car­rega a von­tade de des­bravar todos os seus lim­ites e de con­hecer esferas que fogem das con­venções esta­b­ele­ci­das. Como invadir sem pro­teção? Como não sen­tir dor se algu­mas explo­rações podem nos cus­tar um preço alto?

    Todos os des­bravadores da vida, seja por meio líc­i­to ou não, guardam nas mochi­las suas más­caras de fer­ro, pois o cor­po não supor­ta todas as pressões: “somos tão falíveis”!

    Sen­ta­do na calça­da, con­ver­san­do com uma garo­ta per­to da Ponte Metáli­ca, talvez o Más­cara ten­ha encon­tra­do algum estil­haço que pos­sa ser útil para aliviar seus con­fli­tos. “Sabe o que acon­tece quan­do se pede algo a Deus? Ele te dá a opor­tu­nidade de provar para si mes­mo se você merece o que quer… depende mais de você e das suas escol­has do que da von­tade dele”.

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    Os demônios que o cer­cam são expul­sos para que um Amor pos­sa entrar. O Más­cara enfrenta todos os seus inimi­gos inte­ri­ores, amplia todos os seus hor­i­zontes de exper­iên­cia, para final­mente com­ple­tar seu obje­ti­vo mais impor­tante: se reen­con­trar a par­tir do outro.

    Bernar­do é o Más­cara de Fer­ro? E você? Aonde você esconde a sua? Já explodiu em si mes­mo para arran­car as armaduras que o impe­dem de viv­er um grande amor? Não seria a nos­sa más­cara um artefa­to moral­ista-con­ser­vador diante da mar­avil­hosa pos­si­bil­i­dade de tran­si­tar pelo Infer­no e por vários cor­pos ofer­e­ci­dos por Dino Buz­za­ti? A difer­ença entre Más­cara e Orfi é que aque­le não usa vio­lão para lutar con­tra seus maus espíri­tos, mas con­vergem no mes­mo “inven­tário de ‘baix­ezas’ e de ‘nobrezas’, aque­las que se abrigam no coração de todos” (TOSCANI, Cláudio).

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    Orfi sofre o luto de não cap­turar Eura e o Más­cara vive feliz, jogan­do fora sua armadu­ra para poder (final­mente) olhar sem medo para a mul­her que ama, encer­ran­do uma saga inte­ri­or, pois “pou­cas coisas no mun­do devem ser como estar no fun­do da rede com quem você quer”. A vida segue.

  • Banda Def Leppard é a atração desta quinta-feira (10) no “Quintas de Rock” na UCI

    Banda Def Leppard é a atração desta quinta-feira (10) no “Quintas de Rock” na UCI

     

    Neste mês, nas telas da UCI, será pos­sív­el rev­er o even­to da ban­da Def Lep­pard, “Viva! Hys­te­ria”, fil­ma­do durante nove noites de show dos ingle­ses, em março deste ano. O grupo de rock for­ma­do em 1977 tocou as músi­cas de um dos seus dis­cos mais ven­di­dos, o “Hys­te­ria”, além de out­ros suces­sos como “Rock Of Ages” e “Pho­to­graph”, no Hard Rock Hotel, em Las Vegas. Com 100 mil­hões de dis­cos ven­di­dos, a ban­da se hospe­dou bem per­to de seus fãs durante todo o even­to, pro­por­cio­nan­do-lhes uma exper­iên­cia úni­ca, que será revivi­da nas telas da rede UCI nes­ta quin­ta-feira, dia 10.

    As exibições acon­te­cem sem­pre às 20h30, em 14 cin­e­mas da Rede, e os ingres­sos cus­tam R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira). Em Curiti­ba (PR), a exibição será no cin­e­ma UCI Estação, do Shop­ping Estação.

    Quem quis­er con­ferir as mar­cantes apre­sen­tações já pode adquirir os bil­hetes no site da rede UCI, nas bil­hete­rias e nos ter­mi­nais de autoa­tendi­men­to dos cinemas.

    Serviço:
    UCI Estação
    Rua Sete de Setem­bro, 2775/ loja C‑01
    Rebouças – Curiti­ba – Paraná
    CEP: 80230–010
    Tele­fones: (41) 3595–5555/ (41) 3595–5550

  • Xampu | HQ da Semana

    Xampu | HQ da Semana

    xampu-capaRoger Cruz tra­bal­hou muito tem­po como desen­hista de gibis de super-heróis. X‑men, Hulk, Moto­queiro Fan­tas­ma. Mas em 2009, entre um tra­bal­ho e out­ro, Cruz arran­jou tem­po pra faz­er uma série de histórias com um esti­lo de desen­ho, enre­do e espíri­to com­ple­ta­mente difer­entes do mod­e­lo do super-herói.

    O álbum Xam­pu reúne essas histórias que falam sobre pes­soas comuns, jovens e ado­les­centes, em São Paulo no final da déca­da de 1980. Pra quem viveu essa época, o álbum tem um sabor de nos­tal­gia deli­cioso. São detal­h­es nos desen­hos: car­tazes, capas de LP, livros…

    Mas o méri­to maior do livro não está na nos­tal­gia e sim na maneira envol­vente como são nar­radas as desven­turas de seus pro­tag­o­nistas. Difí­cil não se iden­ti­ficar com as incertezas e paixões que movem essa tur­ma. Cruz con­segue cri­ar per­son­agens que cati­vam o leitor, que se tor­nam impor­tantes e que per­manecem na memória.

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    As histórias são rel­a­ti­va­mente inde­pen­dentes umas das out­ras, emb­o­ra pos­suam cronolo­gia e um elen­co prin­ci­pal estáv­el, todos jovens, de uma per­ife­ria. Tudo gira em torno do aparta­men­to do edifí­cio número 78, onde o Som­bra, Max, Nicole, Pedrão e mais uma galera se “mocosavam” pra cur­tir um som, dro­gas e amassos.

    xampu-2O esti­lo rock&roll, cabe­lo com­pri­do, calças jeans, jaque­ta de couro, tat­u­a­gens, bebidas, sexo… A vida dos per­son­agens vai se con­stru­in­do em torno dis­so e acom­pan­hamos tra­jetórias que nem sem­pre ter­mi­nam em finais felizes.

    A capa do álbum mostra um dis­co de vinil e brin­ca com a ideia de que não apre­sen­ta histórias, mas sim “faixas”, “canções” que recebem nomes como “Xam­pu Gen­er­a­tion”, “O Som­bra”, “Raquel”, “Max & Nicole” e out­ras. Há tam­bém uma “faixa bônus: UnPlugged”: uma sessão cheia de esboços e testes de esti­los de desenho.

    É um tra­bal­ho exce­lente, com uma nar­ra­ti­va cati­vante, óti­mos desen­hos e histórias.

    Lança­do em 2010, o álbum ain­da pode ser encon­tra­do nas livrarias e com­ic shops. O autor fez um post em seu blog com várias fotos de orig­i­nais e tam­bém  criou um blog ofi­cial da HQ.

    xampu-3
    Desen­hos orig­i­nais e fer­ra­men­tas de tra­bal­ho do autor

    Xam­pu
    Autor: Roger Cruz
    Edi­to­ra: Devir
    Preço esti­ma­do: R$ 29,50

  • Vinil Verde

    Vinil Verde

    Mãe dá a Fil­ha uma caixa cheia de vel­hos dis­quin­hos col­ori­dos com músi­cas infan­tis. Fil­ha pode­ria ouvir os dis­quin­hos, mas nun­ca, o dis­co verde.

    vinil-verde-posterÉ com essa nar­ração pecu­liar e sin­is­tra que começa o cur­ta Vinil Verde (2004), dirigi­do por Kle­ber Men­donça Fil­ho, um sus­pense brasileiro bem fora do comum.

    A história toda se desen­volve em vol­ta des­ta proibição e como já era de se esper­ar, Fil­ha não con­segue resi­s­tir por muito tem­po à ten­tação de escu­tar o Vinil Verde (ape­sar de todos os dias Mãe lem­brar de que não pode­ria). Cada vez que toca o dis­quin­ho, algo ruim acon­tece. Mes­mo assim, con­tin­ua fazen­do isso todos os dias até as con­se­quên­cias chegarem ao seu ápice.

    O fato dos per­son­agens serem chama­dos de “Mãe” e “Fil­ha”, já cria um tom meio sin­istro no cur­ta, que fica ain­da mais macabro por con­ta da nar­ração com sotaque alemão car­rega­do. A história é uma livre adap­tação da fábu­la rus­sa “Luvas Verdes”. Seu esti­lo lem­bra bas­tante o livro infan­til “Juca e Chico — História de Dois Meni­nos em Sete Trav­es­sur­as”, do autor alemão Wil­helm Busch, traduzi­do por Ola­vo Bilac, onde as trav­es­sur­as são tão cruéis quan­to suas consequências.

    O diretor Kleber Mendonça Filho
    O dire­tor Kle­ber Men­donça Filho

    Este é o segun­do tra­bal­ho de Kle­ber Men­donça Fil­ho, que está chaman­do mui­ta atenção na mídia nacional e inter­na­cional, por con­ta do seu últi­mo lon­ga O Som ao Redor. O cur­ta foi todo feito com fotografias (total­izan­do 500 fotogra­mas) e jun­to com a nar­ração, faz com que gan­he um ar fan­ta­sioso e assustador.

    Para quem ficou curioso, a músi­ca do tão perigoso Vinil Verde, foi fei­ta por Sil­vério Pes­soa e Ton­ca. Ela foi toca­da por uma ban­da de Ribeirão Pre­to que fazia basi­ca­mente só cov­er dos Los Her­manos, sendo este um de seus exper­i­men­tos mais autorais.

    Se você ficou inter­es­sa­do em assi­s­tir out­ros tra­bal­hos do dire­tor, alguns deles podem ser assis­ti­dos na sua con­ta ofi­cial do Vimeo.

  • Cloudy

    Cloudy

    As nuvens são um grande poço de imag­i­nação para as cri­anças. Quem não lem­bra quan­do era pequeno e fica­va se ques­tio­nan­do como eram feitas as nuvens, se elas tin­ham algu­ma tex­tu­ra, como seria tocá-las e o que será que fazi­am elas terem aque­las for­mas no mín­i­mo curiosas?

    O cur­ta Cloudy, cri­a­do pelos artis­tas Samuel Bork­son e Arturo San­doval III, é uma explo­ração den­tro do uni­ver­so das nuvens onde elas, de um jeito muito fofin­ho e com musi­cas ale­gres, fazem as suas tare­fas diárias para man­ter o céu fun­cio­nan­do. A ideia prin­ci­pal foi mostrar de uma maneira diver­ti­da que tudo em nos­so mun­do tem um papel e um propósito.

    Este é o primeiro cur­ta da FriendsWith­Y­ou, um cole­ti­vo artís­ti­co que cria prin­ci­pal­mente design­er toys e tem seu esti­lo basea­do forte­mente em artis­tas como Muraka­mi, Arturo Her­rera e Yay­oi Kusama. Já a ani­mação foi fei­ta pelo argenti­no Matías Fer­nán­dez, que pos­sui um port­fólio que vale a pena ser con­heci­do pelo seu site ofi­cial. Seus tra­bal­hos vão des­de vin­hetas para canais como FOX e MTV, como out­ras ani­mações fofinhas.

    Cloudy é um vídeo para você sen­tar e relaxar enquan­to ouve uma musiquin­ha feliz e se diverte com os per­son­agens bonit­in­hos e engraça­dos. O úni­co peri­go aqui é a músi­ca ficar gru­da­da na sua cabeça.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=kySziocrOmU

  • Tudo é Remix — Parte 2

    Tudo é Remix — Parte 2

    A críti­ca em cima dos mashups, remix­es e cola­gens em ger­al dos canais de vídeo como Youtube e Vimeo é fer­ren­ha. O ques­tion­a­men­to em torno dos dire­itos autorais sobre as pro­duções de ima­gens é até supe­ri­or à pro­dução musi­cal, como é vis­to em Tudo é Remix — Parte 1.

    A sen­sação mais recor­rente ao sair de uma sala de cin­e­ma nos últi­mos tem­pos é de que aqui­lo já foi vis­to antes, que há muitas refer­ên­cias pre­sentes e as vezes, elas se apre­sen­tam em dema­sia. Não por aca­so, Tudo é Remix — Parte 2 ini­cia com o foco no enorme número atu­al de sequên­cias, remakes, adap­tações e etc., mostran­do que mes­mo sem quer­er a indús­tria cin­e­matográ­fi­ca é o seg­men­to que mais ali­men­ta o con­ceito de remix.

    O pon­to mais bacana abor­da­do em Tudo é Remix — Parte 2 é jus­ta­mente os argu­men­tos uti­liza­dos em favor do uso de refer­ên­cias na qual­i­dade das pro­duções. Quentin Taran­ti­no talvez seja hoje o dire­tor que mais abusa da téc­ni­ca de jun­tar suas próprias prefer­ên­cias e orga­ni­za-las em um argu­men­to. Exem­p­lo dis­so são os tra­bal­hos com Robert Rodriguez, sem­pre fazen­do refer­ên­cia ao cin­e­ma exploita­tion dos anos 70, e o duo Kill Bill com car­ac­terís­ti­cas que vão des­de as artes mar­ci­ais e Bruce Lee até os filmes west­erns americanos.

    O ide­al­izador do pro­je­to Tudo é Remix, o canadense Kir­by Fer­gu­son, disponi­bi­liza todas as refer­ên­cias uti­lizadas — vídeos, ima­gens, sons e etc — no site do pro­je­to. Ele está no proces­so de cri­ação de uma ter­ceira parte que irá se focar de como um tra­bal­ho orig­i­nal depende da com­bi­nação de refer­ên­cias. O pro­je­to é ali­men­ta­do de doações e mes­mo não sendo nen­hu­ma grande rev­olução é mais um doc­u­men­tário que reforça a vel­ha pre­mis­sa de que nada se cria, tudo se copia.

    Every­thing is a Remix [leg­en­da­do] from Marce­lo De Franceschi on Vimeo.

  • Crítica: Rango

    Crítica: Rango

    A qual­i­dade das ani­mações feitas por com­puta­dor atual­mente estão cada vez mais per­feitas, fazen­do com que a bus­ca por enre­dos mais elab­o­ra­dos e inteligentes seja, cada vez mais, um grande difer­en­cial neste tipo de pro­dução. Ran­go (EUA, 2011), dirigi­do por Gore Verbin­s­ki e pro­duzi­do pela Indus­tri­al Light & Mag­ic (ILM), é um lon­ga ani­ma­do que por pos­suir estas car­ac­ter­is­ti­cas, dev­erá agradar prin­ci­pal­mente o públi­co adulto.

    Ran­go (John­ny Depp) é um camaleão solitário que vive em um aquário e son­ha ser o pro­tag­o­nista de uma grande história. Após um aci­dente, ele fica per­di­do no meio do deser­to e a procu­ra de água, aca­ba entran­do em uma ver­dadeira jor­na­da para desco­brir sua real iden­ti­dade e propósi­to de vida.

    Ape­sar da saga do herói — elab­o­ra­da por Joseph Camp­bell em O poder do mito — já ter sido ampla­mente uti­liza­do em vários filmes, Ran­go vai por um viés mais mís­ti­co, engloban­do ele­men­tos mais oníri­cos e espir­i­tu­ais, que lem­bram muitas vezes o lon­ga El Topo, de Ale­jan­dro Jodor­owsky. O sur­re­al é um ele­men­to tão pre­sente na ani­mação, que aca­ba viran­do algo muito nat­ur­al durante o longa.

    Difer­ente das téc­ni­cas de cap­tura de movi­men­to, onde nor­mal­mente se usam sen­sores no cor­po dos atores, na pro­dução de Ran­go, os atores foram primeira­mente fil­ma­dos inter­agin­do entre si, para depois este mate­r­i­al ser usa­do como refer­ên­cia para a cri­ação da ani­mação. Esta téc­ni­ca em si não é nen­hu­ma novi­dade, até então, ela nun­ca havia sido usa­da tão inten­sa­mente. Logo abaixo do trail­er, há um vídeo muito legal com um breve mak­ing off (tam­bém con­heci­do como fea­turette) do lon­ga, onde é mostra­do algu­mas destas cenas.

    Ani­mações com mui­ta músi­ca nun­ca foi algo que me agradou, quan­do começa­va a parte can­ta­da, nor­mal­mente já ia me con­torcendo na cadeira queren­do que ela ter­mi­nasse logo. Mas em Ran­go, a musi­cal­i­dade não me inco­mod­ou em nen­hum momen­to, aliás foi uma das coisas que me agradou muito, sendo um dos pon­tos altos do filme. A tril­ha sono­ra da ani­mação, pro­duzi­da por Hans Zim­mer, tam­bém é fan­tás­ti­ca, lem­bran­do em cer­tos momen­tos a belís­si­ma tril­ha do filme Diários de Moto­ci­cle­ta, com­pos­ta por Gus­ta­vo San­tao­lal­la. Além dis­so, os dubladores brasileiros de Ran­go defin­i­ti­va­mente fiz­er­am um óti­mo tra­bal­ho. É a difer­ença entre escol­her profis­sion­ais em vez de “famosos” para ten­tar ala­van­car a audiên­cia — vide Enro­la­dos- e aumen­tar assim o lucro.

    Ran­go pos­sui uma duração maior do que as ani­mações nor­mal­mente lançadas, poden­do ser um pouco cansati­vo em cer­tos momen­tos — prin­ci­pal­mente para o públi­co infan­to-juve­nil — mas logo depois con­segue retomar ao rit­mo. Com um roteiro e per­son­agens muito bem elab­o­ra­dos, com certeza é um pra­to cheio para o públi­co mais adul­to, prin­ci­pal­mente aos fãs de animação.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=m5BaDD84Xho

    Mak­ing off (infe­liz­mente sem legendas):

    httpv://www.youtube.com/watch?v=r‑Bc43WVoL0

  • Tudo é Remix

    Tudo é Remix

    A orig­i­nal­i­dade no meio artís­ti­co — seja em lit­er­atu­ra, músi­ca, cin­e­ma e artes plás­ti­cas — está em dis­cussão há muito tem­po, talvez des­de que o homem ten­ha se ini­ci­a­do nes­sas ativi­dades. É inegáv­el que sem­pre há uma influên­cia, um esti­lo pré-esta­b­ele­ci­do, ou qual­quer sim­ples detal­he que já ten­ha sido feito ante­ri­or­mente por out­ros. Tudo é Remix (Every­thing is a Remix, 2010), do amer­i­cano Kir­by Fer­gu­son, é um doc­u­men­tário divi­di­do em qua­tro partes, que se propõe em evi­den­ciar a cul­tura pop como um grande remix das fór­mu­las que fun­cionaram ante­ri­or­mente em várias modal­i­dades culturais.

    Nes­sa primeira parte Tudo é Remix se foca no proces­so musi­cal, que é um dos mais evi­dentes quan­do se tra­ta da reuti­liza­ção de sequên­cias. Fer­gu­son usa exem­p­los que vão des­de o hip-hop — o esti­lo que prati­ca­mente trouxe o remix a tona — até os riffs mais famosos da ban­da Led Zep­pelin. Ao se tratar de dire­itos autorais — assun­to del­i­ca­do nos últi­mos tem­pos — o meio musi­cal é o mais polêmi­co, pois há uma indús­tria mil­ionária por trás de artis­tas reivin­di­can­do os seus direitos.

    O maior prob­le­ma do uso da palavra Remix vem jus­ta­mente da cono­tação social cri­a­da em torno da supos­ta fal­ta de orig­i­nal­i­dade que o proces­so cria. Remixar algo sig­nifi­ca dar uma nova roupagem ao proces­so orig­i­nal, deixan­do algu­mas bases, mas mudan­do inclu­sive o resul­ta­do final. É um proces­so extrema­mente cria­ti­vo, inclu­sive um dos mais polêmi­cos artis­tas da atu­al­i­dade é o Girl Talk que remixa faixas inteiras de músi­cas con­heci­das e sam­plers crian­do novas e diver­tidas músicas.

    Tudo é Remix pode não ser nen­hu­ma grande novi­dade em se tratan­do de meio de divul­gação do copy­left, remix­es, mashups e todo o ques­tion­a­men­to em torno de direiros autorais, mas vem para fun­da­men­tar mais a polêmi­ca. Um dos doc­u­men­tários que mais vale a pena em torno do assun­to é o Rip! A Remix Man­i­festo, do canadense Brett Gay­lor que inclu­sive esteve no Brasil ano pas­sa­do, no FISL.

    Every­thing is a Remix [leg­en­da­do] from Marce­lo De Franceschi on Vimeo.

  • Eu gosto de música

    Eu gosto de música

    eu gosto de musica

    O inter­ro­gAção tem per­mis­são exclu­si­va do autor, Stu­art McMillen, para traduzir as suas HQs.

    Leia aqui a ver­são orig­i­nal des­ta história em quadrinho.