Tag: matemática

  • El Proyecto

    El Proyecto

    Acred­i­to que a maio­r­ia de nós dese­jaria que nos­sos instru­men­tos de tra­bal­ho tivessem vida própria e fizessem todo aque­le tra­bal­ho que já con­sid­er­amos chatos ou repet­i­tivos. Enquan­to isso não vira real­i­dade, nada mel­hor então do que trans­for­mar essa ideia em uma ani­mação, e foi jus­ta­mente isso que Cristóbal Vila fez em El Proyec­to (2000).

    A ideia de que cer­tos obje­tos inan­i­ma­dos gan­has­sem vida enquan­to ninguém esta­va por per­to já foi ampla­mente explo­ra­da por Toy Sto­ry quan­do se trata­va de brin­que­dos. Mas uti­lizar as fer­ra­men­tas de tra­bal­ho de um arquite­to — que de cer­ta for­ma tam­bém são seus brin­que­dos — neste mes­mo con­ceito abre toda uma nova var­iedade de pos­si­bil­i­dades! Já imag­i­nou se os seus obje­tos de tra­bal­ho do dia a dia fizessem o mes­mo? Como seria isso para você?

    Quem já acom­pan­ha o Cur­ta da Sem­ana viu que no out­ro tra­bal­ho já pub­li­ca­do do Cristóbal Vila, chama­do de Natureza em Números (Nature By Num­bers), ele explo­ra de maneira muito inter­es­sante a lig­ação — arti­fi­cial ou não — da matemáti­ca com a natureza. Em El Proyec­to, que foi pro­duzi­do muito antes, já é pos­sív­el notar vários ele­men­tos que apare­ce­ri­am nesse seu cur­ta mais recente, como a paixão pela matemáti­ca con­ceitu­al e práti­ca, além da, acred­i­to tam­bém, músi­ca instru­men­tal clás­si­ca. Car­ac­terís­ti­cas que se repetem na maio­r­ia de seus pro­je­tos. Para finalizar ain­da temos uma jor­na­da em espi­ral na tra­jetória dess­es pequenos tra­bal­hadores. Ou seria mais em for­ma de leminiscata?

  • Natureza em Números (Nature By Numbers)

    Natureza em Números (Nature By Numbers)

    1- A matemáti­ca é a lín­gua da natureza.
    2- Tudo o que existe pode ser rep­re­sen­ta­do e enten­di­do por números.
    3- Se você cri­ar grá­fi­cos dos números de qual­quer sis­tema, padrões surgirão
    4- Exis­tem padrões em todos os lugares da natureza.

    Max Cohen — Pi (EUA, 1998), dirigi­do por Dar­ren Aronofsky

    O que você lem­bra das suas aulas de matemáti­ca e geome­tria na esco­la? Provavel­mente não eram as matérias mais estim­u­lantes e grande parte do que foi apren­di­do não pare­cia faz­er nen­hum sen­ti­do nas coisas da vida real. Talvez teria sido difer­ente se tivessem lhe mostra­do quan­tas coisas ao seu redor pode­ri­am ser regi­das por todos aque­les número e fór­mu­las estra­nhas, não acha? É jus­ta­mente sobre isso que foi cri­a­do o cur­ta Natureza em Números (Nature By Num­bers, 2010), por Cristóbal Vila, um ani­mador 3D espan­hol que é afi­ciona­do por matemáti­ca, geo­met­ri­ca e arte.

    No cur­ta Natureza em Números, somos apre­sen­ta­dos a um mun­do regi­do pelas leis da matemáti­ca, onde fór­mu­las sim­ples con­seguem ger­ar um alto grau de com­plex­i­dade. Nele vemos de uma for­ma espetac­u­lar algu­mas fór­mu­las matemáti­cas se trans­for­man­do e crian­do ele­men­tos da natureza, onde nor­mal­mente não con­seguiríamos imag­i­nar uma ordem lógica.

    Esta ideia de que matemáti­ca pode explicar tudo no mun­do é bas­tante fasci­nante e ten­ta­dor, já ten­do sido muito explo­rado por vários matemáti­cos, livros, filmes e pen­sadores. Mas o próprio Cristóbal Vila admite que não é bem assim, a matemáti­ca serve ape­nas para cri­ar uma sim­u­lação bem próx­i­ma ao real, mas ain­da está longe de con­seguir copi­ar a real­i­dade. Esta mes­ma lóg­i­ca tam­bém é usa­da quan­do se uti­liza frac­tais na com­putação grá­fi­ca para cri­ar ani­mações de encher os olhos, como Rio, Ran­go e A Len­da dos Guardiões. Mas se todos eles se tratam ape­nas de sim­pli­fi­cações do mun­do real para poder dar mais veraci­dade a essas for­mas cri­adas pelo computador.

    Cristóbal Vila tam­bém disponi­bi­li­zou um mate­r­i­al extra muito legal em seu site expli­can­do toda a teo­ria por trás da cri­ação do Natureza em Números, além de ima­gens do cur­ta e screen­shots do proces­so de pro­dução. Para quem sabe inglês ou espan­hol e quer con­hecer um pouco mais de matemáti­ca, o site dele é um pra­to cheio de diver­são e conhecimento.

    Para quem quer saber mais sobre a dis­crepân­cia entre as teo­rias e fór­mu­las matemáti­cas, as quais algu­mas apren­demos inclu­sive na esco­la, com o mun­do real, recomen­do bas­tante a leitu­ra do tex­to “Nature By Num­bers”: Fibonac­ci e a matemáti­ca como descrição do mun­do, assim como os links pre­sentes nele, para enten­der como na ver­dade somos engana­dos por toda essa ideia de ordem per­fei­ta da natureza.

    Nature by Num­bers from Cristóbal Vila on Vimeo.

  • Dossiê Darren Aronofsky: Pi

    Dossiê Darren Aronofsky: Pi

    poster piVinte zero um. Aque­la capa pre­ta com um grande sím­bo­lo bran­co sem­pre me chama­va atenção na locado­ra, mas por algum moti­vo nun­ca loca­va ou chega­va muito per­to dele.

    Vinte zero três. Alguém aleatório em uma fes­ta de ano novo começa a con­ver­sar sobre filmes comi­go e comen­to da tal capa, ele então fala que ape­sar de mais difer­ente é um lon­ga fab­u­loso que eu dev­e­ria assi­s­tir. Acho inter­es­sante mas não dou mui­ta atenção, vou ali pegar um pouco mais de sal­a­da de batata.

    Vinte zero seis. Pare­cia perseguição, nova­mente aque­la imagem, deci­di final­mente ter cor­agem e ver a parte de trás da caixa, mas ao ver fotos em pre­to e bran­co, achei mel­hor ficar para a próx­i­ma vez, que não tin­ha ideia de quan­do era.

    Nota men­tal. Naque­la época ver filme ain­da era uma sim­ples fuga, as vezes até do filme em si.

    Vinte zero sete. Desafir­mo a suposição a respeito dos filmes na min­ha situ­ação atu­al. Algo havia muda­do den­tro de mim. Reafir­mo min­has novas suposições.

    Um. Filmes podem con­ter muito mais infor­mações do que imaginamos.

    Dois. A escol­ha por um tipo de lon­ga diz mui­ta coisa a respeito da situ­ação atu­al de uma pessoa.

    Três. Quase sem­pre é pos­sív­el decifrar infor­mações inter­es­santes ao assi­s­tir algo.

    Nota men­tal: escr­ev­er a respeito dessas coisas começa a pare­cer uma ideia interessante.

    Imagem filme PiVinte onze. O filme da capa estran­ha não é mais nada estran­ho. Já o assisti pelo menos umas seis vezes, seu títu­lo é Pi (EUA, 1998), dirigi­do por Dar­ren Aronof­sky, e o mes­mo está no topo da lista dos lon­gas que eu mais gos­to, assim como o dire­tor, que ocu­pa o segun­do lugar na min­ha lista de cineas­tas preferidos.

    Nota men­tal: é pos­sív­el cri­ar lis­tas para quase tudo.

    Pi foi a estréia de Aronof­sky no cin­e­ma, real­iza­do com um micro-orça­men­to de 60 mil dólares finan­cia­do pela família e ami­gos, mas já pos­suin­do todas as car­ac­terís­ti­cas bem par­ti­c­u­liares e muito pecu­liares do dire­tor. Max­imil­lian “Max” Cohen (Sean Gul­lette), o pro­tag­o­nista e nar­rador do filme, é um matemáti­co que acred­i­ta que tudo ao nos­so redor pode ser rep­re­sen­ta­do e enten­di­do através de números. Além dis­so, se rep­re­sen­tar­mos grafi­ca­mente os números de qual­quer sis­tema, padrões surgem. Por­tan­to, há padrões em toda a natureza.

    Poster Pi Thiago EsserApe­sar de trans­bor­dar em sim­bolis­mos, mitolo­gias, metá­foras e teo­rias, Pi pode ser vis­to de longe como um filme cha­to e maçante, mas ele não é nada dis­so, muito pelo con­trário. Assim como acon­tece em um tex­to do Jorge Luís Borges, após ser­mos quase que esma­ga­dos pela primeira avalanche de infor­mações, aparente­mente desconexas e sem muito sen­ti­do, a luz logo se tor­na tão inten­sa que chega a doer os olhos. Em con­tra­parti­da ao vol­ume de infor­mação, ao lon­go do filme há várias expli­cações feitas de for­ma muito com­preen­síveis para vários dos con­ceitos abor­da­dos, sem em nen­hum momen­to pare­cer aque­las aulas chatas ou total­mente fora do con­tex­to, como acon­te­ceu um pouco em uma cena de A Origem (2011) quan­do se vai explicar como fun­ciona o mecan­is­mo para entrar nos sonhos.
    Nota pes­soal: Torá, Cabala, Teo­ria do Caos, Euclides, Arquimedes, Pitá­go­ras, Fibonac­ci, Leonar­do da Vin­ci, Go, Pro­porção Áurea, Espi­ral Dourada.

    Tam­bém já é pos­sív­el notar um pouco do rit­mo frenéti­co e pico­ta­do, que mais tarde se con­sagrou em Réquiem para um Son­ho (2000), que muitas vezes cria uma ambi­en­tação de thriller no lon­ga. Além dis­so, o Pi tam­bém pos­sui alguns efeitos espe­ci­ais bem inter­es­santes, ape­sar do seu baixo orça­men­to, sendo um deles a cena em que é feito um zoom em cima de números, assim como o mem­o­ráv­el efeito do iní­cio do filme que Matrix (1999) fez no ano seguinte. Aliás, os filmes de Aronof­sky são bem con­heci­dos por resolverem várias questões de efeitos com­plex­os com solução sim­ples e baratas, mas que causam um efeito estonteante.

    Imagem filme PiA tril­ha sono­ra é out­ro pon­to alto de Pi, sendo o iní­cio de uma pro­lí­fi­ca parce­ria com Clint Mansell, que o acom­pan­hou de algu­ma maneira em todos os seus out­ros filmes. Para quem é fã deste tipo de músi­ca, envol­ven­do prin­ci­pal­mente som intru­men­tal, vai ado­rar escutá-la. Tam­bém recomen­do demasi­da­mente a tril­ha sono­ra do seu out­ro filme A Fonte da Vida, que para mim é a mel­hor de todas.

    A exper­iên­cia de assi­s­tir Pi pode ser um pouco difí­cil nos primeiro min­u­tos, mas uma vez super­a­da essa fase, é difí­cil não achá-lo no mín­i­mo per­tur­bador e cheio de pos­si­bil­i­dades de dis­cussões para quem acred­i­ta que através de números ou não, há muito o que ain­da con­hecer sobre as infini­tudes do novo uni­ver­so quântico.

    Out­ros tex­tos inter­es­santes sobre o filme Pi:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=xzAjzoNOaaU