Tag: Luiz Ruffato

  • Zoona: Encontro Literário de Curitiba

    Zoona: Encontro Literário de Curitiba

    Nas últi­mas sem­anas vem se espal­ha­do uma inqui­etação em torno da Lit­er­atu­ra con­tem­porânea no Brasil. Os críti­cos e pro­fes­sores Alcir Péco­ra e Beat­riz Rezende tiver­am uma dis­cussão per­ti­nente em torno do assun­to, na pro­pos­ta de pro­gra­ma Desente­d­i­men­to do blog do Insti­tu­to Mor­eira Salles. Alguns dos pon­tos mais ques­tion­adores foi a que Lit­er­atu­ra pro­duzi­da atual­mente é estran­hamente con­t­a­m­i­na­da por out­ras artes se tor­nan­do sem iden­ti­dade, sem muitas novi­dades, como afir­ma com algu­mas palavras o pro­fes­sor da Unicamp.

    Tor­nan­do a dis­cussão uma falá­cia, para­le­la­mente ao caos via web que a dis­cussão causa­va, acon­te­ceu na mes­ma sem­ana, em Curiti­ba, o even­to Zoona Literária, jus­ta­mente trazen­do muitas das vozes con­tem­porâneas con­t­a­m­i­nadas, segun­do a acad­e­mia. O even­to acon­te­ceu nos dias 15,16 e 17 de abril, com a curado­ria do poeta e pro­fes­sor Clau­dio Daniel e da artista e escrito­ra Joana Coro­na. O even­to — como me disse por alto o mul­ti-artista Ricar­do Coro­na — tin­ha a intenção de faz­er uma real zona, no sen­ti­do colo­quial de bagunça e diver­são, tiran­do do eixo a atu­al cena literária de Curitiba. 

    Hom­e­nage­an­do os escritores Valên­cio Xavier e Wil­son Bueno, o Zoona Literária con­tou com escritores e artis­tas que têm suas obras tam­bém pon­tu­adas por um deli­cioso exper­i­men­tal­is­mo e uma relação inti­ma — e necessária — de Lit­er­atu­ra, Artes Plás­ti­cas, Teatro, Cin­e­ma e uma boa lista de out­ras pos­si­bil­i­dades. Um dos aspec­tos mais inter­es­santes das mesas-redondas foi jus­ta­mente os assun­to que cir­cu­lou em cada uma delas, mes­mo que o tema vari­asse: a for­ma leviana como a acad­e­mia con­ser­vado­ra do país e, inclu­sive, a mídia tratam as novas exper­i­men­tações e toda pro­dução literária que ven­ha acom­pan­ha­da da palavra contemporâneo.

    Além do lança­men­to do suple­men­to literário do even­to, o jor­nal Vagau, o Zoona con­tou com muitos escritores — de vários can­tos do país — lançan­do seus tra­bal­hos, por edi­toras inde­pen­dentes — ou menos descon­heci­das — do cir­cuito cos­tumeiro. Aí out­ro pon­to inter­es­sante do Zoona Literária, um momen­to para nomes do cir­cuito mais under­ground — mes­mo sendo fora de moda usar esse ter­mo em pleno ano 2011 com o auge das mídias soci­ais — terem voz, mostrarem, lerem e dis­cu­tirem suas pro­duções. Ain­da, teve leituras de nov­ela, poe­sia e tex­tos em ger­al com per­for­mances, videoartes, doc­u­men­tários e todo tipo de mate­r­i­al que traz à tona o hib­ridis­mo e poli­fo­nia geni­ais em que a pro­dução atu­al opera.

    Mas os pon­tos mais altos do Zoona Literária foram as mesas redondas pau­tadas sobre algu­ma polêmi­ca que movi­men­ta­va a plateia e os debate­dores. Assun­tos como a con­t­a­m­i­nação da Lit­er­atu­ra com Artes Visuais e os exper­i­men­tal­is­mos que a poe­sia vive des­de o Con­cretismo (e até antes) que con­fig­u­ram muito o sta­tus atu­al, per­me­ar­am as primeiras dis­cussões. Depois os debates ficaram mais inten­sos e além de todo o time de escritores óti­mos que ain­da vivem ain­da no anon­i­ma­to, o Zoona con­tou com a par­tic­i­pação dos con­heci­dos Luiz Ruffa­to e Joca Rein­ers Ter­ron.

    Nesse momen­to a dis­cussão ficou mais no entorno dos meios e for­mas que a Lit­er­atu­ra atu­al vem se con­fig­u­ran­do através da inter­net e o adven­to de novas tec­nolo­gias para leitu­ra. Ain­da, se dis­cu­tiu a questão de gêneros den­tro da prosa chama­da de mín­i­ma e o assun­to se tornou ain­da mais inter­es­sante quan­do surgiu o ques­tion­a­men­to sobre as escol­has de um autor na hora de escr­ev­er. E para finalizar o dia, a últi­ma mesa redon­da do sába­do man­teve um olhar sobre os tra­bal­hos de Valên­cio Xavier e Wil­son Bueno, dan­do um âni­mo a mais para os entu­si­as­tas dessa Lit­er­atu­ra tão rica e híbri­da. Quase impos­sív­el ressaltar todas as falas impor­tantes que acon­te­ce­r­am ness­es dias de inten­sa movi­men­tação Literária.

    Um even­to como o Zoona Literária é uma ati­tude lou­váv­el e ousa­da, per­mi­tiu que uma parcela dos leitores e autores da lit­er­atu­ra do pre­sente pudessem dialog­ar e encon­trar for­mas de tornar essas relações mais conc­re­tas. Se con­fir­ma a ideia de que a par­tir do momen­to que a lit­er­atu­ra dialo­ga com out­ras artes, ela deixa de ser pura­mente lit­er­atu­ra, pas­sa a ser uma cri­ação e aí que reside a difi­cul­dade da acad­e­mia aceitar tra­bal­hos mais ousa­dos. Mas, con­ven­hamos, a lin­guagem não tem lim­ites e como diz o filó­so­fo ital­iano Gior­gio Agambem: Con­tem­porâ­neo é aque­le que recebe em pleno ros­to o facho de trevas que provém de seu tem­po. E bem, com trevas os escritores e pesquisadores da Lit­er­atu­ra Con­tem­porânea lidam todos os dias.

  • Links da Semana: 06/02/11

    Links da Semana: 06/02/11

    A par­tir de ago­ra, a cada sem­ana o inter­ro­gAção vai sele­cionar notí­cias e links inter­es­santes, e porque não impor­tantes, e mon­tan­do uma peque­na coletânea dos mes­mos para com­par­til­har com você. 

    A escrito­ra Eliane Brum pas­sou a assi­nar uma col­u­na na revista Época e começou com uma óti­ma entre­vista com o escritor Luiz Ruffa­to sobre a idéia da Igre­ja do Livro Trans­for­mador além de con­tar a tra­jetória dele com um livro sem­pre do lado.

    Quem é fã da escrito­ra Simone de Beau­voir, vai ado­rar o espe­cial, feito pelo blog Beau­voir au jour le jour, sobre ir além do fem­i­ni­no no livro O Segun­do Sexo.

    O Almir de Fre­itas pub­li­cou em seu blog algu­mas opções de capas ani­madas para e‑books cri­adas pelo artista Char­lie Orr autor do blog The Hypo­thet­i­cal Library.

    A Fun­dação Cul­tur­al de Curiti­ba abre, no próx­i­mo dia 10 de fevereiro, inscrições para várias ofic­i­nas focadas em Análise e Cri­ação Literária , do públi­co infan­til até o adul­to. As incrições são gra­tu­itas + doação de um livro de literatura.

    Se você leu algu­ma notí­cia inter­es­sante durante esta sem­ana e gostaria de com­par­til­há-la com out­ras pes­soas, mande ela para colabore@interrogacao.org, que ire­mos faz­er uma seleção e pub­licá-las no final da semana.

  • Resumo da Bienal do Livro Paraná 2010

    Resumo da Bienal do Livro Paraná 2010

    A for­mação de leitores é tema con­stante nas dis­cussões sobre as for­mas de mel­ho­rar a edu­cação no país. A média de livros lidos pelo brasileiro é de dois vol­umes por habi­tante, um número extrema­mente baixo se com­para­do com país­es europeus e out­ros país­es con­sid­er­a­dos desen­volvi­dos. Com isso se tem pro­lif­er­a­do, em razoáv­el escala, o número de feiras, jor­nadas e bien­ais literárias pelo país. Não difer­ente, em out­ubro desse ano acon­te­ceu a primeira Bien­al do Livro Paraná 2010, em Curiti­ba, con­tan­do com 10 dias de pro­gra­mação cul­tur­al para fomen­tar o setor e, prin­ci­pal­mente, aprox­i­mar os vis­i­tantes do uni­ver­so da literatura.

    Pen­san­do nis­so, as atrações foram muitas e ten­taram abranger as mais diver­sas dis­cussões em torno do livro e da lit­er­atu­ra com temas volta­dos a con­tem­po­ranei­dade e as exper­iên­cias do leitor. Alguns destaques foi o Café Literário, que com a curado­ria de João Pereira, do jor­nal Ras­cun­ho, trouxe autores con­tem­porâ­neos dis­cutin­do temas per­ti­nentes não só aos escritores, mas tam­bém aos leitores, os aprox­i­man­do da lit­er­atu­ra como obje­to de estu­do e dis­cussão. O Even­to Nobre trouxe, no sex­to dia da Bien­al do Livro Paraná 2010, o escritor Rubem Alves defend­en­do uma edu­cação pelos sen­ti­dos e, no últi­mo dia, acon­te­ceu uma bela hom­e­nagem ao críti­co Wil­son Mar­tins. Já os debates mais ide­ológi­cos acon­te­ce­r­am no Espaço Livre, que no últi­mo dia deba­teu a liber­dade de impren­sa com Marce­lo Madureira e o pro­mo­tor Rodri­go Chemin. Além dis­so, a qual­i­dade na pro­dução artís­ti­ca para as cri­anças e jovens foi tema em dois dias do Fórum de Debates. Ain­da, o Ter­ritório Jovem, no déci­mo dia de Bien­al, dis­cu­tiu o mun­do da meni­na, um dos temas mais pre­sentes na lit­er­atu­ra infan­to-juve­nil atual.

    Um dos pon­tos fra­cos da Bien­al do Livro Paraná 2010 foi a fal­ta de pre­sença das grandes edi­toras de vários seg­men­tos literários, sendo que muitas daque­las anun­ci­adas estavam somente pre­sentes em estantes na for­ma de pro­du­to e não com uma rep­re­sen­tação ofi­cial, o que era de fato real­mente esper­a­do pelos vis­i­tantes. Dev­i­do a forte pre­sença de sebos e livrarias de pon­ta de estoque, a sen­sação era mais de se estar em uma feira de livros. Além dis­so, muitos leitores que bus­cav­am descon­tos e difer­en­ci­ações de com­pras, além de pro­du­tos mais inédi­tos, se decep­cionaram com preços iguais com os encon­tra­dos fora dele e com a mes­ma ofer­ta de opções, o que deses­tim­u­lou o dese­jo de com­pra em ger­al. Será que ain­da não foi perce­bido que se hou­ver um descon­to espe­cial, por ser uma Bien­al, have­ria um aumen­to sig­ni­fica­ti­vo nas vendas?

    Há uma importân­cia muito grande em apoiar, como vis­i­tantes, colab­o­radores, divul­gadores e etc, even­tos como a Bien­al do Livro Paraná 2010 sim­ples­mente pelo fato de ser em prol da mul­ti­pli­cação de val­ores cul­tur­ais em um país que vive, e é for­ma­do, pela mul­ti­cul­tur­al­i­dade. Pois a lit­er­atu­ra é uma das fer­ra­men­tas mais impor­tantes para a for­mação de cidada­nia e do faz­er-se ser humano.

    Quem teve a opor­tu­nidade de par­tic­i­par dos bate-papos e dis­cussões da Bien­al do Livro Paraná 2010 difi­cil­mente se sen­tiu de algu­ma for­ma arrepen­di­do, pois havi­am muitas opções de óti­ma qual­i­dade. Mas, infe­liz­mente, para muitos que foram em bus­ca de preços mais baratos e diver­si­dade nas escol­has, saíram de mãos vazias e o dese­jo não saci­a­do de adquirir algu­mas obras.

    Out­ras opiniões de quem tam­bém participou:

  • Café Literário: Elvira Vigna e Luiz Ruffato

    Café Literário: Elvira Vigna e Luiz Ruffato

    A dis­cussão se a lit­er­atu­ra é de fato um obje­to trans­for­mador ou não, sendo sim­ples­mente pas­si­va per­ante o leitor, existe há sécu­los e é um dos assun­tos mais per­ti­nentes nos meios literários. Foi com esse ques­tion­a­men­to, den­tro do tópi­co Lit­er­atu­ra: um ato de resistên­cia?, que os escritores Luiz Ruffa­to e Elvi­ra Vigna con­ver­saram no Café Literário, medi­a­do por Luis Hen­rique Pel­lan­da, do dia 08 de out­ubro, na Bien­al do Livro Paraná 2010.

    Luiz Ruffa­to é ex-jor­nal­ista e escritor profis­sion­al, entre vários títu­los escreveu o pre­mi­a­do Eles eram muitos cav­a­l­os (leia a críti­ca deste livro) e o atu­al Estive em Lis­boa e lem­brei de você (leia a críti­ca deste livro), pelo pro­je­to Amores Expres­sos. Elvi­ra Vigna é escrito­ra, desen­hista e tem uma empre­sa de tradução. Tam­bém escreveu livros pre­mi­a­dos, gan­hou o Prêmio Jabu­ti com a obra infan­til Lã de Umbi­go, e lançou recen­te­mente a obra Nada a Diz­er.

    O debate deu ini­cio com os autores falan­do sobre as for­mas de resistên­cia que a lit­er­atu­ra se apre­sen­tou em suas vidas. Para Elvira Vigna, a sua vida sem­pre esteve à margem de algo, e foi a própria exper­iên­cia que a lev­ou até a leitu­ra. Esta se trans­for­mou em obje­to de resistên­cia a tudo que ela vivia, e fun­cio­nou como o mel­hor meio de se encon­trar. Já para Luiz Ruffa­to, o livro foi e é trans­for­mador. Ele con­ta que a lit­er­atu­ra ampliou os hor­i­zontes pequenos que ele enx­er­ga­va quan­do cri­ança em Cataguas­es e, inclu­sive, lança a ideia da Igre­ja do Livro Trans­for­mador, como uma for­ma de levar a sério o poder da literatura.

    Dan­do con­tinuidade a ideia de trans­for­mação que Ruffa­to propõe, Pel­lan­da o ques­tiona se é esse sen­ti­men­to de resistên­cia que o faz sem­pre usar a classe operária como plano de fun­do e per­son­agem de suas obras. O mineiro responde dizen­do que de cer­ta for­ma sim, essa escol­ha é uma opção políti­ca, uma neces­si­dade de dar voz a quem ele acred­i­ta­va estar dis­tante e que tam­bém se sente por­ta­dor de meios de ter essa visão mais real­ista. Ain­da, afir­ma que com esse tipo de lit­er­atu­ra, ele foi apre­sen­ta­do a um novo uni­ver­so de leitores, pes­soas de fora dos cír­cu­los literários, alcançan­do uma das neces­si­dades que ele con­sid­era bási­ca à lit­er­atu­ra: ser acessív­el a todos.

    Para a escrito­ra car­i­o­ca, Ruffa­to é um otimista em relação ao poder da obra literária. Ela expli­ca que só con­segue ver isso com pes­simis­mo. Elvi­ra acred­i­ta que por tra­bal­har com a asso­ci­ação palavra + imagem, o poder da obra aca­ba por se tornar efêmero e que sim­ples­mente ¨bal­ança¨, mas não muda nen­hu­ma estru­tu­ra. Aliás, a escrito­ra car­i­o­ca, ape­sar de bem humora­da, se apre­sen­ta bem resistente a todo o val­or apli­ca­do sobre a obra literária como meio de transformação.

    Mes­mo que Elvi­ra Vigna não veja a lit­er­atu­ra da mes­ma for­ma que Luiz Ruffa­to, ela mes­ma diz que se con­tradiz ao afir­mar que a Lit­er­atu­ra pode ser sim um meio de ataque, de resistên­cia a estru­tu­ra nor­mal impos­ta pela lóg­i­ca do romance tradi­cional. Ela usa seu livro Nada a Diz­er para exem­pli­ficar as for­mas que um autor pode pro­duzir a iden­ti­fi­cação do leitor com a obra sem se focar tan­to no enre­do, e sim, na estéti­ca da palavra.

    Ain­da, a escrito­ra vê a inter­net como a maior fer­ra­men­ta para se fomen­tar a cul­tura literária. Para ela a tela do com­puta­dor é o antôn­i­mo da TV, prin­ci­pal­mente por ser um meio ati­vo, onde é o usuário que cria os links e refer­ên­cias con­tra­stan­do com o segun­do apar­el­ho em que somos usuários total­mente pas­sivos e con­sum­i­dores . Há a neces­si­dade de leitu­ra e escri­ta na web, mes­mo os famosos, e muito crit­i­ca­dos, ¨140 car­ac­teres¨ é um dos meios mais cria­tivos de se pas­sar uma men­sagem. Se há esti­los de escri­ta com lim­i­tações muito rig­orosas, como o Haikai, qual o prob­le­ma em ter algo pare­ci­do na inter­net? O escritor mineiro con­cor­da com a cole­ga de mesa dizen­do que cada história tem uma maneira de ser escri­ta e nada mel­hor do que a cria­tivi­dade da web para isso.

    Muitos out­ros assun­tos acabaram entran­do na dis­cussão sobre a lit­er­atu­ra como meio de resistên­cia. O tópi­co é de fato vas­to e pode englo­bar questões que partem des­de da relação autor-leitor, até as políti­cas sobre o incen­ti­vo da leitu­ra no país. Luíz Ruffa­to e Elvi­ra Vigna afir­mam que o próprio escritor sofre crises de iden­ti­dade, prin­ci­pal­mente quan­do bus­ca faz­er uma lit­er­atu­ra mais util­i­tarista. Ambos ressaltam dois pon­tos prin­ci­pais: a neces­si­dade do autor se assumir no cam­po estéti­co da escri­ta e da neces­si­dade social de fomen­tar a cul­tura literária. A mesa com os dois escritores foi uma das mais agradáveis do Café Literário na Bien­al do Livro Paraná 2010 jus­ta­mente por traz­er o antag­o­nis­mo bem-humora­do dos dois escritores, crian­do um debate muito inter­es­sante sem ser ten­den­cioso ou agressivo.

    O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

    Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir ou faça o down­load)

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  • Livro: Estive em Lisboa e Lembrei de Você — Luiz Ruffato

    Livro: Estive em Lisboa e Lembrei de Você — Luiz Ruffato

    Estive em Lisboa e Lembrei de Você

    Em mea­d­os de 2005 foi cri­a­do o pro­je­to Amores Expres­sos. Nele, dezes­seis escritores brasileiros via­jari­am para diver­sas cidades ao redor do mun­do e cada um iria escr­ev­er um romance basea­do em sua viagem. O pro­je­to cau­sou as mais diver­sas reações, pois se ques­tion­a­va de onde iria sair o din­heiro para custear as via­gens, e se era necessário que saíssem do país para bus­car inspi­ração. Entre ess­es escritores esta­va Luiz Ruffa­to, e o resul­ta­do da viagem dele foi o livro Estive em Lis­boa e Lem­brei de Você.

    Polêmi­cas à parte, Ruffa­to é bas­tante con­heci­do no meio literário con­tem­porâ­neo. Nasci­do em Minas Gerais, na cidade de Cataguas­es, já gan­hou diver­sos prêmios impor­tantes, como o da APCA (Asso­ci­ação Paulista de Críti­cos de Arte) e o Macha­do de Assis, da Fun­dação Bib­liote­ca Nacional. Algu­mas de suas obras mais impor­tantes são Eles eram muitos cav­a­l­os e a série Infer­no Pro­visório.

    Em Estive em Lis­boa e Lem­brei de Você, Ruffa­to foi a Lis­boa e nos trouxe a história de um rapaz chama­do Sergin­ho. Des­gos­toso com a vida que lev­a­va no Brasil, após prob­le­mas amorosos e finan­ceiros, ele con­ver­sa com seu Oliveira (por­tuguês res­i­dente de sua cidade) e resolve ir para Lis­boa “ten­tar a vida”. Após o choque ini­cial, Sergin­ho se adap­ta à vida por­tugue­sa e começa a tra­bal­har como garçom. Faz amizades, aprende um novo vocab­ulário e se aven­tu­ra pela cidade. Logo no iní­cio do livro encon­tramos uma nota do autor dizen­do que este foi basea­do numa entre­vista que ele fez com Sér­gio de Souza Sam­paio, o Serginho.

    Luiz Ruffa­to tem uma imen­sa facil­i­dade para retratar cidades. Em Eles eram muitos cav­a­l­os ele fala de São Paulo com taman­ha intim­i­dade que se pode imag­i­nar que ele seja paulis­tano. O mes­mo acon­tece com Estive em Lis­boa e Lem­brei de Você. O autor con­segue descr­ev­er as diver­sas par­tic­u­lar­i­dades da cidade, com um tom literário que poucos con­seguem cri­ar. Sua prosa é bas­tante fluí­da, com poucos pará­grafos e sua escri­ta con­tínua faz com que o leitor entre em con­ta­to dire­to com seus personagens.

    Ruffa­to não criou nen­hu­ma for­ma nova na Lit­er­atu­ra, mas trouxe uma sim­pli­ci­dade envol­vente que há muito não víamos na Lit­er­atu­ra. E inclu­sive, o autor esteve entre os final­is­tas do Prêmio São Paulo de Lit­er­atu­ra 2010, junta­mente com nomes da lit­er­atu­ra con­tem­porânea como Chico Buar­que e Bernar­do Car­val­ho.

    Infe­liz­mente, pou­ca atenção é dada à lit­er­atu­ra con­tem­porânea, prin­ci­pal­mente nas salas de aula. Muito tem acon­te­ci­do em nos­so meio literário, muitos escritores surgem com obras inter­es­santes e com pen­sa­men­tos que mere­cem ser con­heci­dos. Ruffa­to tem um papel impor­tante nesse meio, pois suas obras são um óti­mo exem­p­lo da lit­er­atu­ra con­tem­porânea brasileira, reflexo da soci­dade que vive­mos e dos cos­tumes dessa ger­ação. Ape­sar de ter óti­mos tra­bal­hos pub­li­ca­dos ele ain­da não é recon­heci­do pelo grande públi­co. Esper­amos que essa situ­ação mude muito em breve.

  • Livro: Eles Eram Muitos Cavalos — Luiz Ruffato

    Livro: Eles Eram Muitos Cavalos — Luiz Ruffato

    Em Eles Eram Muitos Cav­a­l­os, de Luiz Ruffa­to, São Paulo se apre­sen­ta nua e crua, porém inteira. Como se fos­se vista através vários olhares estrangeiros, por relatos das pes­soas que cir­cu­lam por ali todos os dias.

    É uma terça-feira do ano 2000 e ali estão todos os traços de um dia apoc­alip­ti­co de fim de sécu­lo. Em Eles Eram Muitos Cav­a­l­os a nar­ra­ti­va se dá como se estivésse­mos assistin­do a um doc­u­men­tário que nos desse aces­so a tudo o que está acon­te­cen­do em uma metró­pole em um úni­co dia: tem­per­atu­ra, descrições de per­son­agens, falas entrecor­tadas, monól­o­gos e etc. A pro­pos­ta é mon­tar uma colcha de retal­hos da for­mação urbana de São Paulo. Tudo está ali, des­de mod­e­los frustradas, pas­san­do por fol­has de clas­si­fi­ca­dos num metrô até o clás­si­co reti­rante vin­do em bus­ca de uma vida mel­hor. A pro­dução de ima­gens da real­i­dade é inten­sa e situa o leitor no tem­po e em veloci­dade própria que lem­bra muito uma pro­dução audiovisual.

    A lit­er­atu­ra há muito deixou de ser, se é que algum dia foi, uma arte iso­la­da, ou a úni­ca deten­to­ra da palavra. Hoje ela fun­ciona como reflexo do caos urbano, da ligeireza das vidas e da fini­tude do tem­po. A lit­er­atu­ra é, e neces­si­ta ser, tudo ao mes­mo tem­po e para isso as fron­teiras entre o real e o fic­cional começam a se tornar, a cada obra, menos espes­sas. Luiz Ruffa­to tra­ta dessa con­tem­po­ranei­dade de for­ma pri­morosa deixan­do que cada exper­iên­cia pos­sa ser tão pŕox­i­ma e intimista que você fica se per­gun­tan­do se aque­la situ­ação não é da sua viz­in­hança ou com algu­ma pes­soa próx­i­ma, pois sabe que já ouviu e viu aqui­lo antes.

    O autor usa recur­sos real­is­tas clás­si­cos, inclu­sive a iro­nia Macha­di­ana, e em muitos momen­tos o exagero de descrições e o pecu­liar das falas faz com que o leitor se obrigue a cri­ar laços da ficção com a real­i­dade, se con­fundin­do muitas vezes com estes vul­tos urbanos descritos. De fato, uma exper­iên­cia úni­ca em que Luiz Ruffa­to sabe adap­tar cada peque­na pro­pos­ta e mudar o cenário de for­ma que o leitor mal cria laços com a situ­ação e logo parte para a pŕox­i­ma, não deixan­do de cri­ar uma sequên­cia. A mul­ti­pli­ci­dade de vozes é o pon­to forte da nar­ra­ti­va, o leitor pas­sa a ser um sujeito cole­ti­vo, par­tic­i­pante de cada vida ou momen­to das 69 exper­iên­cias ali pro­postas. É uma grande câmera em que o leitor ape­nas acom­pan­ha os trav­el­ings da narrativa.

    E que a ver­dade seja dita, por mais que as pre­mis­sas sejam extrema­mente neg­a­ti­vas sobre qual­quer relação que o cin­e­ma pos­sa ter com a lit­er­atu­ra, hoje é muito difí­cil desvin­cu­lar as duas lin­gua­gens. Prin­ci­pal­mente na lit­er­atu­ra tida como con­tem­porânea, a lin­guagem mar­ca­da das pelícu­las se faz pre­sente no tex­to. No caso de Eles Eram Muitos Cav­a­l­os é a sen­sação doc­u­men­tal que pre­dom­i­na durante todo o dis­cur­so. Não existin­do um per­son­agem prin­ci­pal ou nar­rador, é o próprio leitor que cir­cu­la por todos os meios daque­le dia comum de São Paulo, mostran­do que a geografia dos espaços tam­bém é um belo cenário.