Tag: Johnny Depp

  • Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (1993), de Lasse Hallström | Crítica

    Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (1993), de Lasse Hallström | Crítica

    Tudo ao meu redor são ros­tos famil­iares, lugares des­gas­ta­dos, faces des­gas­tadas. (…) Os son­hos nos quais eu estou mor­ren­do são os mel­hores que já tive”
    (Mad World, com­posição do Tears for Fears na voz de Gary Jules).

    gilbert-grape-lasse-hallstrom-critica-posterCer­tos lugares são dev­as­ta­dos por catástro­fes nat­u­rais ou por exter­mínio béli­co. Mas existe um tipo de des­o­lação que chega sem alarde e se insta­la. Algu­mas vezes, ela nasce jun­to com o lugar. Há os que cor­rem deses­per­ada­mente para fugir. E há os que ficam. O filme Gilbert Grape – Apren­diz de Son­hador (orig­i­nal What’s Eat­ing Gilbert Grape?), do dire­tor sue­co Lasse Hall­ström, con­ta a história de um jovem que per­maneceu no mes­mo lugar, enter­ra­do pela roti­na de uma cidade onde o reló­gio parou.

    Gilbert (John­ny Depp) vive em Endo­ra, peque­na cidade engol­i­da pelo tem­po. Depois do suicí­dio do pai, ele assume a respon­s­abil­i­dade pelo sus­ten­to da família. E não ape­nas isso: Gilbert vive inte­gral­mente para cuidar de seu irmão Arnie (Leonar­do DiCaprio), um ado­les­cente com prob­le­mas men­tais, e de sua mãe (Dar­lene Cates), que sofre de obesi­dade mór­bi­da. Há ain­da duas irmãs, Amy (Lau­ra Har­ring­ton) e Ellen (Mary Kate Schell­hardt), criat­uras atra­pal­hadas que ten­tam aux­il­iar Gilbert, mas acabam cobran­do mais do que ajudando.

    A família de Gilbert Grape
    A família de Gilbert Grape

    Tra­bal­han­do como faz-tudo em uma mer­cearia, Gilbert leva Arnie a todos os lugares. O grande even­to do ano para os dois irmãos é a pas­sagem de trail­ers pela estra­da que cruza a cidade. Em uma dessas pas­sagens, um dos veícu­los que­bra e pre­cisa per­manecer na minús­cu­la Endo­ra por algum tem­po. Esse sim­ples fato for­tu­ito é o pon­to de trans­for­mação na cabeça de Gilbert, já que ele con­hece Becky, garo­ta via­ja­da e cos­mopoli­ta, que acom­pan­ha a avó em excursões pelo país. Vivi­da pela atriz Juli­ette Lewis, Becky é o con­trapon­to de Gilbert: enquan­to o jovem tem olhos tristes, pesa­dos pelas obri­gações que nun­ca ces­sam e pre­cisa con­viv­er com son­hos acor­renta­dos, a jovem é viva, inten­sa e efu­si­va. No lugar dos arrou­bos escan­dalosos, Becky ofer­ece out­ro tipo de carpe diem: ela apre­sen­ta para Gilbert a imen­sid­ão de um mun­do que está ali, expres­so no pôr do sol ou na pos­si­bil­i­dade de obser­var a poe­sia no invisív­el. Esse é um dos pon­tos inter­es­santes do filme.

    Leonardo DiCaprio, Johnny Depp e Juliette Lewis
    Leonar­do DiCaprio, John­ny Depp e Juli­ette Lewis

    O enre­do sem pirotec­nia começa a gan­har o coração do espec­ta­dor com a atu­ação sen­sa­cional de Leonar­do DiCaprio. Os gri­tos e brin­cadeiras de Arnie arran­cam emoções do peito e des­per­tam o olhar para a existên­cia inte­ri­or de pes­soas que fogem dos padrões con­sid­er­a­dos nor­mais. As lim­i­tações men­tais de Arnie não o impe­dem de sor­rir, ser feliz e procu­rar o car­in­ho incondi­cional do irmão. Pelo con­trário: o espec­ta­dor obser­va um ado­les­cente que con­segue viv­er em Endo­ra sem que a monot­o­nia da cidade o empurre para den­tro do poço. Nesse caso, a ignorân­cia do mun­do fun­ciona como uma benção. Indi­ca­do ao Oscar em 1994 na cat­e­go­ria de mel­hor ator coad­ju­vante, DiCaprio merece cada menção hon­rosa pela atu­ação. Ele alcança os gestos, olhares e padrões de com­por­ta­men­to de uma pes­soa com defi­ciên­cia men­tal. Na época com dezen­ove anos, o ator deixou muito vet­er­a­no de queixo caído.

    Johnny Depp como Gilbert
    John­ny Depp como Gilbert

    Na pele de Gilbert, Depp mostrou ser o homem ide­al para viv­er o papel: os olhos melancóli­cos e pesa­dos de respon­s­abil­i­dade; o jeito afáv­el e ded­i­ca­do com o qual trata­va seu irmão e o dese­jo inces­sante de sair daque­le lugar. Todas essas emoções gan­haram con­tornos reais no ros­to de John­ny Depp, que ain­da não tin­ha sido pos­suí­do pelos tre­jeitos do famiger­a­do capitão Jack Sparow, per­son­agem que inter­pre­taria uma déca­da depois na série inter­mináv­el Piratas do Caribe. Mais boni­to do que nun­ca, Depp traz na expressão o deses­pero silen­cioso de Gilbert; sua inocên­cia mis­tu­ra­da ao comod­is­mo e o medo de aban­donar a sua benção e calvário: a própria família. Em Endo­ra, a família Grape é a per­son­ifi­cação da imo­bil­i­dade da cidade: a mãe obe­sa que não sai de casa há sete anos; a própria residên­cia da família, com­ple­ta­mente imutáv­el des­de que foi con­struí­da pelo pai; a rejeição de Gilbert em con­hecer o super­me­r­ca­do novo que abriu na cidade, ameaçan­do a sobre­vivên­cia do mer­cad­in­ho em que tra­bal­ha, e a roti­na de vida que leva: de casa para o tra­bal­ho e vice-ver­sa. Sua úni­ca dis­tração é o assé­dio con­stante da mul­her do cor­re­tor Carv­er, a dona de casa Bet­ty. Em uma das silen­ciosas crises exis­ten­ci­ais de Gilbert, Bet­ty rev­ela qual é o moti­vo de quer­er man­ter um caso com ele, aumen­tan­do con­sid­er­av­el­mente o caos inter­no do jovem Grape.

    Leonardo DiCaprio como o jovem Arnie
    Leonar­do DiCaprio como o jovem Arnie

     

    O lon­ga metragem sur­preende pela emoção sin­cera, dico­to­mias e dile­mas que podem estar per­to de nós. Muitas vezes, seguimos mecani­ca­mente os dias porque esta­mos pre­sos na con­fortáv­el bol­ha da vida ou em obri­gações pétreas que trans­for­mam nos­sas existên­cias em bura­cos vazios sem dire­ito à esper­ança. A feli­ci­dade de Arnie, seu modo ale­gre de viv­er, a “benção da ignorân­cia” e a capaci­dade de recomeçar os dias sem remor­so são um pon­to alto na mudança de per­spec­ti­va. O baixo orça­men­to de Gilbert Grape – Apren­diz de Son­hador provou que exis­tem emoções ocul­tas na epi­derme humana que aguardam a opor­tu­nidade de vir à tona, e inde­pen­dem de altos inves­ti­men­tos. O cin­e­ma abre espaço para essa pul­sação se manifestar.

  • Crítica: Sombras da Noite

    Crítica: Sombras da Noite

    Som­bras da Noite (Dark Shad­ows, USA, 2012), novo tra­bal­ho de Tim Bur­ton, é uma ver­são cin­e­matográ­fi­ca da nov­ela amer­i­cana — aqui mais con­heci­da como série — de mes­mo nome trans­mi­ti­da nos anos 60 e 70. Foi a primeira série tele­vi­si­va a abor­dar temas e cenários mais góti­cos e noir, trazen­do o uni­ver­so de vam­piros e bruxas que hoje é tão explo­rado na pro­dução de TV atual.

    O enre­do do filme tra­ta da família de com­er­ciantes ingle­sa Collins que no sécu­lo XVIII ruma para a Améri­ca, afim de con­stru­ir novos negó­cios. Bem suce­di­do, o patri­ar­ca deixa um lega­do para o jovem fil­ho Barn­abás que tem um caso com a empre­ga­da Angelique, a qual ele usa ape­nas por diver­são. Quan­do o jovem encon­tra Vic­to­ria, com quem pre­tende se casar, é amaldiçoa­do por Angelique, que é bruxa, a viv­er a dor da eternidade de um vam­piro além de adorme­cer por 200 anos, acor­dan­do ape­nas em 1972.

    O cenário dos anos 70 é o que dá rit­mo ao filme que uti­liza ele­men­tos da época — a Guer­ra do Viet­nã, o movi­men­to Hip­pie, as roupas e é claro, tudo isso ao som do rock que emer­gia — para com­pôr a diver­ti­da relação de Barn­abás com as pecu­liari­dades do mun­do dois sécu­los após a sua últi­ma lem­brança. Além dis­so, o vam­piro quer recu­per­ar a boa fama de sua família e ain­da se livrar de Angelique que atrav­es­sou os sécu­los para ter certeza que os Collins sem­pre fracassem.

    A paixão con­fes­sa de Tim Bur­ton e John­ny Depp (que pro­duz o lon­ga) pela série fica níti­da em todo o filme. A pro­dução de arte, como sem­pre se espera de um filme do Bur­ton, é a clás­si­ca obscuri­dade atraente que o tornou tão pop­u­lar. Já acos­tu­ma­dos a ver Depp inter­pre­tan­do os pro­tag­o­nistas excên­tri­cos, nota-se que Barn­abás tem um quê de Edward Mãos de Tesoura, prin­ci­pal­mente com o jeito desajeita­do de lidar com o cotid­i­ano difer­ente do que está acostumado.

    O maior prob­le­ma de Som­bras da Noite é a incon­sistên­cia do roteiro que deixa boa parte dos per­son­agens a mer­cê da relação de Barn­abás e Angelique (Eva Green em óti­ma for­ma), que mes­mo estando muito bem jun­tos em cena, neces­si­tam que o foco não fique ape­nas em cima deles. O elen­co é um óti­mo time com nomes como Michelle Pfeif­fer, Chloe Moretz e claro, Hele­na Boham Carter, mas nen­hum per­son­agem é de fato bem explo­rado, deixan­do um time de peso na reser­va de um filme que tin­ha tudo para ser visual­mente belo com um roteiro excelente.

    Claro que, ape­sar das lacu­nas do roteiro, Som­bras da Noite é um ver­dadeiro Tim Bur­ton, que vale ao menos para encher os olhos da magia do uni­ver­so obscuro que o dire­tor criou ness­es 30 anos de car­reira. E o sim­ples fato do lon­ga ser basea­do numa série da época que con­tex­tu­al­iza o enre­do é um dos atra­tivos para o espec­ta­dor atu­al ficar aten­to às refer­ên­cias e apre­ciar o humor. Para quem se inter­es­sar pela série, alguns tre­chos são facil­mente encon­tra­dos no Youtube, mas já deixo de antemão que Som­bras da Noite é uma releitu­ra de fãs e no caso, os fãs são Tim Bur­ton e John­ny Depp, não há neces­si­dade de com­parar o anti­go com o novo. Se alguém con­hece a série homôn­i­ma, com­par­til­he sua opinião sobre ela.

    Trail­er:

  • Crítica: Rango

    Crítica: Rango

    A qual­i­dade das ani­mações feitas por com­puta­dor atual­mente estão cada vez mais per­feitas, fazen­do com que a bus­ca por enre­dos mais elab­o­ra­dos e inteligentes seja, cada vez mais, um grande difer­en­cial neste tipo de pro­dução. Ran­go (EUA, 2011), dirigi­do por Gore Verbin­s­ki e pro­duzi­do pela Indus­tri­al Light & Mag­ic (ILM), é um lon­ga ani­ma­do que por pos­suir estas car­ac­ter­is­ti­cas, dev­erá agradar prin­ci­pal­mente o públi­co adulto.

    Ran­go (John­ny Depp) é um camaleão solitário que vive em um aquário e son­ha ser o pro­tag­o­nista de uma grande história. Após um aci­dente, ele fica per­di­do no meio do deser­to e a procu­ra de água, aca­ba entran­do em uma ver­dadeira jor­na­da para desco­brir sua real iden­ti­dade e propósi­to de vida.

    Ape­sar da saga do herói — elab­o­ra­da por Joseph Camp­bell em O poder do mito — já ter sido ampla­mente uti­liza­do em vários filmes, Ran­go vai por um viés mais mís­ti­co, engloban­do ele­men­tos mais oníri­cos e espir­i­tu­ais, que lem­bram muitas vezes o lon­ga El Topo, de Ale­jan­dro Jodor­owsky. O sur­re­al é um ele­men­to tão pre­sente na ani­mação, que aca­ba viran­do algo muito nat­ur­al durante o longa.

    Difer­ente das téc­ni­cas de cap­tura de movi­men­to, onde nor­mal­mente se usam sen­sores no cor­po dos atores, na pro­dução de Ran­go, os atores foram primeira­mente fil­ma­dos inter­agin­do entre si, para depois este mate­r­i­al ser usa­do como refer­ên­cia para a cri­ação da ani­mação. Esta téc­ni­ca em si não é nen­hu­ma novi­dade, até então, ela nun­ca havia sido usa­da tão inten­sa­mente. Logo abaixo do trail­er, há um vídeo muito legal com um breve mak­ing off (tam­bém con­heci­do como fea­turette) do lon­ga, onde é mostra­do algu­mas destas cenas.

    Ani­mações com mui­ta músi­ca nun­ca foi algo que me agradou, quan­do começa­va a parte can­ta­da, nor­mal­mente já ia me con­torcendo na cadeira queren­do que ela ter­mi­nasse logo. Mas em Ran­go, a musi­cal­i­dade não me inco­mod­ou em nen­hum momen­to, aliás foi uma das coisas que me agradou muito, sendo um dos pon­tos altos do filme. A tril­ha sono­ra da ani­mação, pro­duzi­da por Hans Zim­mer, tam­bém é fan­tás­ti­ca, lem­bran­do em cer­tos momen­tos a belís­si­ma tril­ha do filme Diários de Moto­ci­cle­ta, com­pos­ta por Gus­ta­vo San­tao­lal­la. Além dis­so, os dubladores brasileiros de Ran­go defin­i­ti­va­mente fiz­er­am um óti­mo tra­bal­ho. É a difer­ença entre escol­her profis­sion­ais em vez de “famosos” para ten­tar ala­van­car a audiên­cia — vide Enro­la­dos- e aumen­tar assim o lucro.

    Ran­go pos­sui uma duração maior do que as ani­mações nor­mal­mente lançadas, poden­do ser um pouco cansati­vo em cer­tos momen­tos — prin­ci­pal­mente para o públi­co infan­to-juve­nil — mas logo depois con­segue retomar ao rit­mo. Com um roteiro e per­son­agens muito bem elab­o­ra­dos, com certeza é um pra­to cheio para o públi­co mais adul­to, prin­ci­pal­mente aos fãs de animação.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=m5BaDD84Xho

    Mak­ing off (infe­liz­mente sem legendas):

    httpv://www.youtube.com/watch?v=r‑Bc43WVoL0

  • Novo trailer de “Rango”

    Novo trailer de “Rango”

    A Para­mount disponi­bi­li­zou o trail­er da ani­mação “Ran­go”, que tem John­ny Depp como dublador do papel principal.

    Sinopse: Ran­go con­ta a história de um camaleão com uma cer­ta crise de iden­ti­dade, após viv­er no luxo como um bich­in­ho de esti­mação. Nes­sa bus­ca por suas ori­gens, ele chega em uma espé­cie de vel­ho oeste onde se envolve em muitas con­fusões e encon­trará coisas que jamais imaginou.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=p0SYWWJAsVY&feature=player_embedded

  • Crítica: O Turista

    Crítica: O Turista

    Se Angeli­na Jolie havia fun­ciona­do, mes­mo que de for­ma bem pre­vi­siv­el, em Salt , em O Tur­ista (The Tourist, EUA, França, 2010), dirigi­do por Flo­ri­an Henck­el von Don­ners­mar­ck, ela não con­vence na repetição do papel de mais uma agente super poderosa. Fazen­do dupla com John­ny Depp, Jolie sim­ples­mente des­fi­la com lin­das jóias e mod­eli­tos de fina cos­tu­ra pelo filme, seduzin­do com seu olhar, e só. 

    O lon­ga, que é um remake do francês Antho­ny Zim­mer — A Caça­da, de Jérôme Salle, traz a belís­si­ma Elise (Angeli­na Jolie), persegui­da pela polí­cia britâni­ca por rece­ber um supos­to bil­hete de seu amante, o este­lion­atário procu­ra­do Alexan­der Pearce. Enquan­to a polí­cia mon­ta um esque­ma de bus­ca, Elise procu­ra aleato­ri­a­mente alguém que se passe por Pearce, para usá-lo como laran­ja e despistá-los. É então que ela encon­tra o esquisi­to pro­fes­sor Frank Tupe­lo (John­ny Depp), um tur­ista amer­i­cano via­jan­do soz­in­ho que pas­sará a enfrentar situ­ações inusi­tadas ao lado da bela mul­her que o seduziu.

    Diga-se de pas­sagem que o forte dos amer­i­canos não é a cri­ação. Claro, muito da história do cin­e­ma se deve a gênios amer­i­canos como Alfred Hitch­cock (que era anglo-amer­i­cano), mas o que a indús­tria cin­e­matográ­fi­ca de lá nun­ca negou foi a paixão em amer­i­canizar obras sen­sa­cionais, sejam elas européias, ori­en­tais ou lati­no-amer­i­canas, e deixá-las com todas as car­ac­terís­ti­cas que somente a tec­nolo­gia e os orça­men­tos amer­i­canos podem dar. Com O Tur­ista, acon­tece o mes­mo de sem­pre, ou seja, tudo soa com um tom que não per­tence às nar­ra­ti­vas comuns do cin­e­ma hol­ly­wood­i­ano. Um dos pon­tos em que isso fica mais níti­do é a veloci­dade e a for­ma em que tudo transcorre, com mui­ta cal­ma, sem mui­ta ação, tiroteios e perseguições. Isso, inclu­sive, deixa O Tur­ista um tan­to quan­to super esti­ma­do, pri­or­izan­do somente o glam­our das situ­ações, além de pos­suir um enre­do muito super­fi­cial. Aliás, não somente a história foi impor­ta­da da Europa, o dire­tor alemão Flo­ri­an Henck­el von Don­ners­mar­ck, que já gan­hou Oscar com o Vida dos Out­ros, estreia sua car­reira amer­i­cana com esse longa.

    Mes­mo sendo um remake, O Tur­ista incor­po­ra out­ros ele­men­tos de filmes clás­si­cos de perseguição como os da déca­da de 40 e out­ros de Alfred Hitch­cock. Belas mul­heres sem­pre são per­son­agens prin­ci­pais e moti­vações char­mosas para roubarem a cena das peripé­cias mas­culi­nas. E Angeli­na Jolie, com sua beleza a la Rita Hay­worth e Gre­ta Gar­bo, cumpre seu papel de for­ma sedu­to­ra. Inclu­sive, O Tur­ista me reme­teu a várias cenas de Gil­da, de 1946, claro que com a ver­são atu­al­iza­da de um esti­lo de diva clás­si­ca, mas mar­ca­do por grandes revi­ra­voltas dos enre­dos dess­es períodos.

    Claro que hou­ve uma super­es­ti­mação do lon­ga jus­ta­mente por reunir duas grandes e atu­ais estre­las do cin­e­ma amer­i­cano. Mas a ver­dade é que a sexy Angeli­na Jolie não com­bi­na em nada com o esquisi­to Depp, que reforça um papel bobo com algu­mas piad­in­has diver­tidas no decor­rer da história. O Tur­ista, como um todo, não é ruim e tam­bém não é nen­hu­ma mar­avil­ha da séti­ma arte, mas cumpre o papel de entreter sem cansar muito o espec­ta­dor, se tor­nan­do um filme pre­visív­el sem grandes méri­tos como esper­a­va a mídia.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=SPHqZ1UZukA

  • Crítica: Alice no País das Maravilhas

    alice no país das maravilhas

    Alice no País das Mar­avil­has (Alice in Won­der­land, EUA, 2010) é cer­ta­mente um dos filmes mais esper­a­dos do começo do ano. Não somente pelo fato de Tim Bur­ton ter dirigi­do o filme, o que em si já lev­an­ta as orel­has de mil­hões de fãs/seguidores/apreciadores, mas tam­bém por ele ser basea­do em dois “con­tro­ver­sos” livros de Lewis Car­roll (“As Aven­turas de Alice nos País das Mar­avil­has” e “Alice Através do Espel­ho”).

    É inter­es­sante deixar já bem claro no começo: Alice no País das Mar­avil­has não é nem um livro, nem o out­ro. Muito menos ape­nas a junção de ele­men­tos dos dois. O filme é uma releitu­ra das duas histórias, e de difer­entes ver­sões já feitas por out­ras pes­soas, pelo Tim Bur­ton. Que tam­bém é bem difer­ente do desen­ho lança­do em 1951 pela Dis­ney. Ou seja, quan­do você for assistí-lo, tente ir sem qual­quer tipo de pré-con­ceitos/­ex­pec­ta­ti­vas em relação a ess­es ele­men­tos (e con­fes­so que não foi muito fácil faz­er isso. Algu­mas vezes perce­bi que fiquei na expec­ta­ti­va de ver uma “remon­tagem” de algo que eu já conhecia).

    A releitu­ra está bem inter­es­sante, ape­sar de ter cau­sa­do ini­cial­mente um grande estran­hamen­to. Além de um ar mais sério e adul­to, assim como O Labir­in­to do Fauno, de Guiller­mo Del Toro, tudo é muito som­brio e melancóli­co, beiran­do total­mente o góti­co, car­ac­terís­ti­ca chave do próprio dire­tor. Esti­lo que reme­teu á uma ver­são de “Imag­ine”, de John Lennon, fei­ta pela ban­da A Per­fect Cir­cle, onde o tom de alegria/diversão foi total­mente trans­for­ma­do em tristeza/angústia.

    Nes­ta ver­são, Alice (Mia Wasikows­ka) fez 19 anos e está procu­ran­do por sua própria iden­ti­dade, não queren­do se con­for­mar e seguir a vida bur­gue­sa que querem lhe impor a todo cus­to. Alice no País das Mar­avil­has é sobre a descober­ta de si mes­mo, do eu inte­ri­or, que muitas vezes aca­ba sendo esquecido/ignorado dev­i­do à “vida adul­ta”. E, assim como no cur­ta A Gra­va­ta, de Ale­jan­dro Jodor­owsky, obe­de­cer aos dese­jos de uma out­ra pes­soa para sat­is­faz­er as suas próprias neces­si­dades, tor­na-se uma bus­ca total­mente vazia, sem sen­ti­do. Tudo isso acon­te­cen­do em um mun­do tam­bém total­mente sur­re­al­ista, cheio de pequenos detal­h­es e sim­bolo­gias, com per­son­agens total­mente inusi­ta­dos e car­i­catos. Que, aliás, é um fator mar­cante nos livros de Car­roll. E como muitos proces­sos des­ta bus­ca, ele tor­na-se uma ver­dadeira jor­na­da de uma saga de um herói que, neste caso, é a própria Alice. (quem quis­er se apro­fun­dar neste assun­to, recomen­do assi­s­tir o episó­dio “A saga do Herói” do documentário/entrevista O poder do mito, com Joseph Camp­bell)

    Tim Bur­ton con­seguiu de maneira extra­ordinária traz­er todo o seu mun­do do stop-motion para a “real­i­dade”, em Alice no País das Mar­avil­has. Você fica eston­tea­do ven­do toda a riqueza dos detal­h­es não só dos cenário, mas dos per­son­agens em si. Mes­mo os mais excên­tri­cos e bizarros, não pare­cem tão dis­tantes do que você pode­ria encon­trar em um lugar mais exóti­co. Prin­ci­pal­mente através da óti­ma inter­pre­tação do Chapeleiro Malu­co (John­ny Depp) e da Rain­ha Ver­mel­ha (Hele­na Bon­ham Carter) que, ape­sar de serem per­son­agens de cer­ta for­ma secundários, se desta­cam bas­tante. Tudo é tão bem encaix­a­do que todos ess­es ele­men­tos sim­ples­mente pare­cem nat­u­rais. E, segun­do o próprio filme, tudo que é impos­sív­el tor­na-se pos­sív­el no Under­land (assim que é chama­do o “mun­do” onde Alice vai parar). Sem con­trar na bela tril­ha sono­ra pro­duzi­da por Dan­ny Elf­man, que cria uma imer­são ain­da maior, sem ser em nen­hum momen­to apel­a­ti­va e “arti­fi­cial”.

    Muito se tem crit­i­ca­do a adap­tação de Alice no País das Mar­avil­has para 3D, e eu con­cor­do que este aspec­to ficou bem fra­co. O efeito é bas­tante sutil, sem nada pulan­do para “cima” de você, focan­do prin­ci­pal­mente nos ele­men­tos do cenário em si. Mas as vezes, apare­cem um ou out­ro ele­men­to que foi forçosa­mente (leia-se: gam­biar­ra mes­mo) trans­for­ma­do em 3D. Então, se você assistí-lo em 2D, sai­ba que não está per­den­do mui­ta coisa.

    Assi­s­tir ele no Cin­e­mark 3D do Muller, em Curiti­ba, me cau­sou mui­ta dor de cabeça. Esta é a segun­da vez que fui assi­s­tir um filme lá e, da out­ra vez acon­te­ceu a mes­ma coisa. Além de mim, uma ami­ga tam­bém teve o mes­mo prob­le­ma. Mais alguém sen­tiu isso tam­bém após ver algum filme 3D lá?

    Só uma coisa ain­da ficou marte­lando na min­ha cabeça. Afi­nal, alguém sabe “Por que um cor­vo se parece com uma escrivan­in­ha”?

    Esta críti­ca tam­bém foi pub­li­ca­da no site da Revista Movie.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=R7ygoQRaWYY