Primeiramente, é inegável que Hobo With a Shotgun (EUA/CAN, 2011), de Jason Eisener, entrega com sobras aquilo que promete. Aliás, promete antes mesmo de ser um filme de fato, desde que ainda era apenas mais um dos trailers falsos de Grindhouse (EUA, 2007). Em tempos em que praticamente não podemos mais considerar qualquer longa como “o mais violento que já vimos”, porque tal cargo é suplantado por uma série de novos filmes a cada ano, Hobo With a Shotgun certamente coloca seu nome entre eles.
E longe de mim considerar essa “competição” pela violência como uma coisa ruim. Considero a violência estilizada como uma das coisas mais divertidas que o cinema pode nos proporcionar e me posiciono radicalmente contra as manifestações contra os chamados “filmes violentos”. Claro que há casos e casos, há a violência fantástica de um Machete (EUA, 2010) ou de um Kill Bill (EUA, 2003), enquanto há aquilo que é gratuito e injustificado de filmes que nada tem a dizer, como O Albergue (EUA, 2005).
Hobo With a Shotgun se enquadra na primeira categoria. A violência pode, sim, ser gratuita, mas ela está ali muito mais para divertir que para chocar. E sim, funciona, inegavelmente. Mas infelizmente, e talvez aí a culpa seja minha por ter depositado esperanças demais no filme desde que ele começou a ser divulgado, as coisas acabam não sendo tão boas como poderiam…
O título é a melhor sinopse possível para o que acontece nos pouco mais de 80 minutos de Hobo With a Shotgun: um mendigo com uma espingarda que resolve colocar uma cidade corrompida de volta ao eixo. Rutger Hauer interpreta o personagem principal, um mendigo recém-chegado à citada cidade que, logo em seus primeiros instantes, presencia uma execução a céu aberto perpetrada pelo “dono” da cidade, o traficante Drake (Brian Downey), que culmina com uma dança sensual banhada pelo sangue que literalmente esguicha do corpo decapitado. É basicamente assim que somos introduzidos ao filme.
Ao salvar a vida de Abby (Molly Dunwstowth), o Mendigo é castigo pelos filhos de Drake e pela polícia corrupta da cidade. Depois disso, durante um assalto numa loja na qual estava, decide fazer justiça na cidade e começa a ir atrás de cafetões, pedófilos e todo e qualquer tipo de desajustado, até chegar ao próprio Drake.
Tudo o que acontece em Hobo With a Shotgun é muito gráfico e exagerado, e vai desde mutilação da mão com um cortador de grama a tiro no saco. Porém, tudo é TÃO exagerado que não chega a ser chocante, ainda mais para os padrões cinematográficos atuais.
Mas nem tudo são flores. O filme é divertido, é violento, o personagem principal é carismático. OK. Mas falta “algo”. Li comentários que certos elementos ruins do cinema dos anos 70 são usados propositalmente, mas não acho que tenha sido a melhor escolha. O expectador não é realmente apresentado a nenhum dos personagens e nem às relações entre eles. Não que o pano de fundo seja extremamente necessário para o que o longa se propõe (como eu disse anteriormente, isso Hobo With a Shotgun cumpre com sobras), mas no fim fica um certo vazio, o que, para mim, acaba sendo um ponto negativo que pesa bastante. Já os diálogos ruins (aí sim, nitidamente propositais) divertem por um tempo, mas acabam cansando no desenrolar da história.
Rutger Hauer é convincente como o Mendigo, mas o resto do elenco, quase que totalmente formado por desconhecidos, não segura a peteca em momentos importantes da história. Talvez isso tenha a ver, também, com a direção do inexperiente Jason Eisener (este é praticamente seu primeiro longa), que contribuiu para que falte o punch necessário ao filme. Se isso também foi proposital, aí sim a escolha foi definitivamente errada.
No lado positivo, a trilha sonora e o Technicolor garantem a parte boa do climão exploitation, mas não fazem de Hobo With a Shotgun uma experiência tão boa quanto poderia ser para os fãs deste tipo de cinema.
Assisti Hobo With a Shotgun querendo adorá-lo, mas não consegui. Me prendeu, sim, da primeira à última cena e em momento algum me pareceu uma perda de tempo, mas eu queria muito que fosse algo mais, como foi Machete (o outro – e brilhante – spin-off de Grindhouse). É o típico filme cujas opiniões a respeito divergirão muito. Só por isso, acho que vale a pena assistir e tirar sua própria conclusão.
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=6qLinsS4rjk