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  • Three The Hard Way (1974), de Gordon Parks Jr.

    Three The Hard Way (1974), de Gordon Parks Jr.

    Não tin­ha como dar erra­do. Three The Hard Way (EUA, 1974) jun­ta três dos maiores nomes da história do blax­ploita­tionJim Brown, de Slaugh­ter (EUA, 1972), mas provavel­mente mais con­heci­do pela (óti­ma) par­tic­i­pação em Marte Ata­ca! (EUA, 1996); Fred Williamson, ou O Chefão de Nova York (EUA, 1973), mas lem­bra­do por Um Drink no Infer­no (EUA, 1996); e Jim Kel­ly, o Williams de Oper­ação Dragão (Hong Kong/EUA, 1973) – dirigi­dos pelo respon­sáv­el por um dos mais clás­si­cos filmes do gênero – Gor­don Parks Jr. dire­tor do inques­tionáv­el Super­fly (EUA, 1972). Infe­liz­mente, os nomes podem diz­er pouco para a grande maio­r­ia dos fãs de cin­e­ma hoje em dia. O que impor­ta é que o lega­do dos caras está por aí para quem se inter­es­sar. Williamson ain­da tra­bal­ha fre­neti­ca­mente no under­ground do cin­e­ma, Brown aparece pouco, mas não se aposen­tou, e Kel­ly parece ter se dis­tan­ci­a­do um pouco das telas. Parks, que, aliás, era fil­ho do lendário Gor­don Parks, que dirigiu Shaft (EUA, 1971), mor­reu cedo, em 1979. 

    Mas volte­mos ao que inter­es­sa, que é Three The Hard Way.

    Sem­pre achei o blax­ploita­tion um dos par­entes mais próx­i­mos do cin­e­ma de ação dos anos 80, ao lado dos filmes da Shaw Broth­ers. Talvez o blax­ploita­tion seja aque­le o tio bacana que usa ter­nos col­ori­dos, sei lá. Sei que Three The Hard Way deixa essa influên­cia mais clara que qual­quer out­ro exem­plar do gênero. Tem muito mais ação e vio­lên­cia do que era comum no gênero, com perseguições, tiroteios e o Jim Kel­ly dis­tribuin­do per­nadas toda hora. 

    A tra­ma é típi­ca daque­las que NUNCA se tornar­i­am real­i­dade no mun­do cin­e­matográ­fi­co hipócri­ta e meti­do a politi­ca­mente cor­re­to de hoje: supremacista bran­co pre­tende exter­mi­nar toda a raça negra con­t­a­m­i­nan­do a água com um vírus que não afe­ta os de ascendên­cia cau­casiana. E ele tem um exérci­to, um cien­tista e uma ban­deira que lem­bra um SS, e é inter­pre­ta­do pelo canas­trão Jay Robin­son, que foi o Calígu­la em Man­to Sagra­do (EUA, 1953), mas deve ser mais lem­bra­do por ter par­tic­i­pa­do de A Rain­ha Tirana (EUA, 1955). E neste Three The Hard Way atende pelo incrív­el nome de Mon­roe Feather…

    O grande plano de Mon­roe começa com a con­t­a­m­i­nação da água em Detroit, Los Ange­les e Wash­ing­ton – claro, as três cidades onde vivem os três heróis. Jim Brown é Jim­my Lait, que tem seu ami­go mor­to e namora­da seqüestra­da pelos vilões; Fred Williamson é Jag­ger Daniels, o per­son­agem menos apro­fun­da­do, e Jim Kel­ly é Mis­ter Keyes, mestre de caratê com roupas bril­hantes e col­ori­das. A primeira meia-hora de filme serve basi­ca­mente para con­hecer­mos os per­son­agens, com algu­mas cenas antológ­i­cas no meio (uma perseguição com tiroteio em um par­que de diver­sões e o espal­hafatoso carate­ca der­ruban­do poli­ci­ais no meio da rua – e tudo sendo com­ple­ta­mente igno­ra­do pelos transe­untes), mas depois que os três se jun­tam, Three The Hard Way se tor­na definidor de parâmet­ros den­tro do blaxploitation. 

    Difer­ente de out­ros filmes da época, o teor racial (ape­sar da história absur­da) é mín­i­mo. Three The Hard Way é mais cal­ca­do no espetácu­lo, nas cenas de ação, que na políti­ca e, por isso, talvez seja mais acessív­el para os menos ínti­mos do estilo. 

    E como todo exploita­tion que se preze, Three The Hard Way tem sua cena do peit­in­ho, quan­do três moto­queiras vestin­do roupas de couro col­ori­das são chamadas para tor­tu­rar um pri­sioneiro dos três heróis. A úni­ca razão de ser da tal cena é mostrar as três atrizes peladas – entre as quais está Irene Tsu, cujo nome pode não sig­nificar nada, mas provavel­mente já foi vista par­tic­i­pan­do em uma das inúmeras séries que fez ao lon­go da car­reira ou mes­mo de alguns filmes mais con­heci­dos, como Um Mil­ionário na Alta Roda (EUA, 1986).

    Enfim, demor­ei anos para ver Three The Hard Way e acabou se tor­nan­do um dos meus blax­ploita­tions favoritos. Como é comum nesse tipo de pro­dução, as imper­feições adi­cionam muito mais do que atra­pal­ham. As atu­ações pouco con­vin­centes, os car­ros que explo­dem sem moti­vo aparente, o fer­i­men­to à bala que é esque­ci­do depois de poucos min­u­tos etc., tudo fun­ciona tão bem que até parece estar lá de propósi­to! Um exce­lente filme para os ini­ci­a­dos e uma óti­ma por­ta de entra­da para os interessados. 

    Cena do filme:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=cYFgoh4YTE8

  • The Toolbox Murders (1978), de Dennis Donnely

    The Toolbox Murders (1978), de Dennis Donnely

    The Toolbox Murders, 1978, de Dennis DonnelyLev­ei anos para assi­s­tir The Tool­box Mur­ders (EUA, 1978). Sem­pre me pas­sou a impressão de ser só mais um slash­er, como tan­tos que pipocaram depois do suces­so de Hal­loween. Não que isso seja ruim, muito pelo con­trário. Ape­nas não me pare­cia ter algo a mais. Jun­tan­do isso à fal­ta de leg­en­das disponíveis, o filme ficou encosta­do aqui por anos esperan­do a sua hora. Que chegou quan­do me toquei que The Tool­box Mur­ders foi lança­do meses ANTES de Hal­loween, no mes­mo ano de 1978. E que gratís­si­ma sur­pre­sa ao começar a rodar o filme!

    O caso é que The Tool­box Mur­ders se aprox­i­ma muito mais do ciclo de exploita­tions ultra-vio­len­tos dos anos 70, tipo os clás­si­cos The Last House on The Left, I Spit on Your Grave e, prin­ci­pal­mente, O Mas­sacre da Ser­ra Elétri­ca. Com este últi­mo, inclu­sive, divide o fato de ser ‘basea­do em uma história real’, inclu­sive com toda a irre­al­i­dade da história real apre­sen­ta­da. Aliás, con­fes­so que não ten­ho nen­hu­ma pista sobre qual é a tal história, caso ela real­mente exista. Mas o que impor­ta é o filme, então volte­mos a ele. 

    A ideia de um mon­stro que nada tem de sobre­nat­ur­al, que não vol­ta dos mor­tos. Pes­soas comuns envolvi­das em uma situ­ação extra­ordinária, algo que sem­pre me fas­ci­nou, com o adi­cional que só o baixo orça­men­to e a cria­tivi­dade seten­tis­tas con­seguiam proporcionar. 

    O iní­cio de The Tool­box Mur­ders é bru­tal. Uma série de mortes de mul­heres den­tro de um con­domínio de aparta­men­tos nas quais o assas­si­no uti­liza as ditas fer­ra­men­tas da caixa do títu­lo. É tudo cru, com níti­da fal­ta de recur­sos, mas sur­preen­den­te­mente efi­ciente. Marte­lo, pis­to­la de pre­gos, furadeira (aliás, o cli­ma do filme por algum moti­vo me lem­brou muito, o tem­po todo, de Driller Killer, obra-pri­ma do Abel Fer­rara) etc., tudo em uma espé­cie de pre­cur­sor dos méto­dos que seri­am uti­liza­dos em Sex­ta-Feira 13 dois anos depois. Curioso que uma das víti­mas é inter­pre­ta­da por Kel­ly Nichols, muda e worka­holic do cin­e­ma pornô dos anos 70 e 80 e que con­tin­u­a­va na ati­va no final dos anos 2000, do alto de seus quase 60 anos… Ao que me con­s­ta, este é seu úni­co tra­bal­ho fora do ramo pornográ­fi­co. E sua per­son­agem aparece úni­ca e exclu­si­va­mente nua. Boa sacada. 

    Um pon­to que chama bas­tante a atenção durante esta primeira parte do filme é a escol­ha da tril­ha sono­ra dos assas­si­natos. Todos ocor­rem com uma ‘músi­ca ambi­ente’, sem­pre algo pen­den­do para o coun­try bre­ga amer­i­cano, sem nen­hu­ma lig­ação com o que está acon­te­cen­do na tela. 

    Somente depois de ter­mi­na­da a série de assas­si­natos que começamos a con­hecer os per­son­agens. Mais especi­fi­ca­mente, con­hece­mos a família de Lau­rie Bal­lard (Pame­lyn Fer­din, cuja car­reira foi quase que total­mente con­struí­da com par­tic­i­pações na TV). E as apre­sen­tações param por aí, porque logo Lau­rie é seqüestra­da pelo assas­si­no e começa a mudança bru­tal de dire­ciona­men­to de The Tool­box Mur­ders.

    The Toolbox Murders, 1978, de Dennis Donnely

    O climão exploita­tion hard­core subita­mente dá lugar a um thriller den­so, arras­ta­do. Os assas­si­natos param, os per­son­agens são apro­fun­da­dos e o arreme­do de história apre­sen­ta­do até então começa a se desen­har com sur­preen­dente flu­idez. Pas­samos a acom­pan­har a ten­ta­ti­va do irmão de Lau­rie, Joey (Nico­las Beau­vy, que tam­bém foi mais atu­ante na TV, mas par­ticipou do genial The Cow­boys, de 1972, e foi a ver­são cri­ança do Richard Har­ris como Rei Arthur no inter­mináv­el e enfadon­ho Camelot), de desco­brir o que acon­te­ceu com ela. 

    Um pouco mais à frente no filme, vemos Lau­rie amar­ra­da a uma cama enquan­to o assas­si­no, ago­ra rev­e­la­do, mas óbvio des­de as primeiras cenas, lhe serve um café-da-man­hã, cita a Bíblia e expli­ca que está purif­i­can­do o mun­do com seus atos. OK. Ah, ele tam­bém expli­ca que seqüe­strou Lau­rie por ela lhe lem­brar sua fale­ci­da filha. 

    Os últi­mos 40 min­u­tos de The Tool­box Mur­ders podem repelir o expec­ta­dor casu­al de hor­ror ou fanáti­co por gore, pois são real­mente arras­ta­dos. O foco prin­ci­pal muda da inves­ti­gação para a psi­cose do assas­si­no para a bus­ca de Joey, mas sem se pren­der muito a qual­quer um deles. Par­tic­u­lar­mente, achei fasci­nante a for­ma como as coisas foram con­duzi­das pelo dire­tor Den­nis Don­nely, neste que é seu úni­co lon­ga (dirigiu inúmeros seri­ados até mea­d­os dos anos 90, inclu­sive vários episó­dios de As Pan­teras e Esquadrão Classe A). Mes­mo quan­do as coisas começaram a se arras­tar, em momen­to algum The Tool­box Mur­ders se tornou ente­di­ante, para mim. 

    The Toolbox Murders, 1978, de Dennis Donnely

    No ger­al, um thriller extrema­mente váli­do, que mere­cia um recon­hec­i­men­to maior do que o obti­do. Não decep­ciona em nen­hu­ma de suas ver­tentes, seja no exploita­tion ou no thriller, e tem um final incô­mo­do e sur­preen­dente. A últi­ma cena, que con­tin­ua rodan­do enquan­to sobem os crédi­tos, me foi bem inquietante.

    Boa direção, boas atu­ações (tem tam­bém o Cameron Mitchell, que esteve à margem de faz­er suces­so nos anos 50 mas acabou viran­do fig­ur­in­ha fácil dos filmes B anos depois, geral­mente em papeis per­tur­ba­dos), boa história. Ou seja, The Tool­box Mur­ders é alta­mente recomendado. 

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=WGZJjfjUqN0

  • Crítica: Hobo With a Shotgun (O Vingador)

    Crítica: Hobo With a Shotgun (O Vingador)

    Crítica Hobo with a ShotgunPrimeira­mente, é inegáv­el que Hobo With a Shot­gun (EUA/CAN, 2011), de Jason Eisen­er, entre­ga com sobras aqui­lo que prom­ete. Aliás, prom­ete antes mes­mo de ser um filme de fato, des­de que ain­da era ape­nas mais um dos trail­ers fal­sos de Grind­house (EUA, 2007). Em tem­pos em que prati­ca­mente não podemos mais con­sid­er­ar qual­quer lon­ga como “o mais vio­len­to que já vimos”, porque tal car­go é suplan­ta­do por uma série de novos filmes a cada ano, Hobo With a Shot­gun cer­ta­mente colo­ca seu nome entre eles.

    E longe de mim con­sid­er­ar essa “com­petição” pela vio­lên­cia como uma coisa ruim. Con­sidero a vio­lên­cia estiliza­da como uma das coisas mais diver­tidas que o cin­e­ma pode nos pro­por­cionar e me posi­ciono rad­i­cal­mente con­tra as man­i­fes­tações con­tra os chama­dos “filmes vio­len­tos”. Claro que há casos e casos, há a vio­lên­cia fan­tás­ti­ca de um Machete (EUA, 2010) ou de um Kill Bill (EUA, 2003), enquan­to há aqui­lo que é gra­tu­ito e injus­ti­fi­ca­do de filmes que nada tem a diz­er, como O Alber­gue (EUA, 2005).

    Hobo With a Shot­gun se enquadra na primeira cat­e­go­ria. A vio­lên­cia pode, sim, ser gra­tui­ta, mas ela está ali muito mais para diver­tir que para chocar. E sim, fun­ciona, inegavel­mente. Mas infe­liz­mente, e talvez aí a cul­pa seja min­ha por ter deposi­ta­do esper­anças demais no filme des­de que ele começou a ser divul­ga­do, as coisas acabam não sendo tão boas como poderiam…

    O títu­lo é a mel­hor sinopse pos­sív­el para o que acon­tece nos pouco mais de 80 min­u­tos de Hobo With a Shot­gun: um mendi­go com uma esp­in­gar­da que resolve colo­car uma cidade cor­romp­i­da de vol­ta ao eixo. Rut­ger Hauer inter­pre­ta o per­son­agem prin­ci­pal, um mendi­go recém-chega­do à cita­da cidade que, logo em seus primeiros instantes, pres­en­cia uma exe­cução a céu aber­to per­pe­tra­da pelo “dono” da cidade, o traf­i­cante Drake (Bri­an Downey), que cul­mi­na com uma dança sen­su­al ban­ha­da pelo sangue que lit­eral­mente esguicha do cor­po decap­i­ta­do. É basi­ca­mente assim que somos intro­duzi­dos ao filme.

    Ao sal­var a vida de Abby (Mol­ly Dun­w­stowth), o Mendi­go é cas­ti­go pelos fil­hos de Drake e pela polí­cia cor­rup­ta da cidade. Depois dis­so, durante um assalto numa loja na qual esta­va, decide faz­er justiça na cidade e começa a ir atrás de cafetões, pedó­fi­los e todo e qual­quer tipo de desajus­ta­do, até chegar ao próprio Drake.

    Tudo o que acon­tece em Hobo With a Shot­gun é muito grá­fi­co e exager­a­do, e vai des­de muti­lação da mão com um cor­ta­dor de gra­ma a tiro no saco. Porém, tudo é TÃO exager­a­do que não chega a ser chocante, ain­da mais para os padrões cin­e­matográ­fi­cos atuais.

    Mas nem tudo são flo­res. O filme é diver­tido, é vio­len­to, o per­son­agem prin­ci­pal é caris­máti­co. OK. Mas fal­ta “algo”. Li comen­tários que cer­tos ele­men­tos ruins do cin­e­ma dos anos 70 são usa­dos proposi­tal­mente, mas não acho que ten­ha sido a mel­hor escol­ha. O expec­ta­dor não é real­mente apre­sen­ta­do a nen­hum dos per­son­agens e nem às relações entre eles. Não que o pano de fun­do seja extrema­mente necessário para o que o lon­ga se propõe (como eu disse ante­ri­or­mente, isso Hobo With a Shot­gun cumpre com sobras), mas no fim fica um cer­to vazio, o que, para mim, aca­ba sendo um pon­to neg­a­ti­vo que pesa bas­tante. Já os diál­o­gos ruins (aí sim, niti­da­mente proposi­tais) divertem por um tem­po, mas acabam cansan­do no desen­ro­lar da história.

    Rut­ger Hauer é con­vin­cente como o Mendi­go, mas o resto do elen­co, quase que total­mente for­ma­do por descon­heci­dos, não segu­ra a pete­ca em momen­tos impor­tantes da história. Talvez isso ten­ha a ver, tam­bém, com a direção do inex­pe­ri­ente Jason Eisen­er (este é prati­ca­mente seu primeiro lon­ga), que con­tribuiu para que falte o punch necessário ao filme. Se isso tam­bém foi proposi­tal, aí sim a escol­ha foi defin­i­ti­va­mente errada.

    No lado pos­i­ti­vo, a tril­ha sono­ra e o Tech­ni­col­or garan­tem a parte boa do climão exploita­tion, mas não fazem de Hobo With a Shot­gun uma exper­iên­cia tão boa quan­to pode­ria ser para os fãs deste tipo de cinema.

    Assisti Hobo With a Shot­gun queren­do adorá-lo, mas não con­segui. Me pren­deu, sim, da primeira à últi­ma cena e em momen­to algum me pare­ceu uma per­da de tem­po, mas eu que­ria muito que fos­se algo mais, como foi Machete (o out­ro – e bril­hante – spin-off de Grind­house). É o típi­co filme cujas opiniões a respeito diver­girão muito. Só por isso, acho que vale a pena assi­s­tir e tirar sua própria conclusão.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=6qLinsS4rjk

  • Crítica: Machete

    Crítica: Machete

    Primeira coisa: Machete (EUA, 2010), de Robert Rodriguez, não é um filme para se levar a sério. Nasci­do como um trail­er fal­so de Grind­house (2007), é, sim, uma fan­tás­ti­ca hom­e­nagem ao exploita­tion dos anos 70. Tudo está lá, com exagero em todos os sen­ti­dos: na ação, nos one-lin­ers (com “Machete don’t text” sendo a fala mais espetac­u­lar de todo o filme), na vio­lên­cia e, espe­cial­mente, nos clichês. Mas, ao con­trário de Plan­e­ta Ter­ror (2007), tam­bém do mes­mo dire­tor, que mostrou a um públi­co novo o cin­e­ma B de hor­ror, Machete não serve como intro­dução ao exploita­tion, por se tratar de um filme de fato cal­ca­do no gênero.

    Dan­ny Tre­jo é o per­son­agem que dá nome ao filme (pro­tag­o­nista pela primeira vez na car­reira, aos 66 anos), um ex-Agente Fed­er­al que tem a vida destruí­da pelo chefe do trá­fi­co local, Tor­rez, um Steven Sea­gal sur­preen­den­te­mente bem escol­hi­do para o papel, e pela primeira vez inter­pre­tan­do um vilão. Anos depois, Machete é con­trata­do por um asso­ci­a­do de Tor­rez para assas­si­nar o senador McLaugh­lin, inter­pre­ta­do por um Robert de Niro per­feita­mente encaix­a­do no espíri­to do filme. Após desco­brir que o tra­bal­ho era na ver­dade uma armadil­ha, Machete pas­sa a bus­car vin­gança con­tra todos os envolvi­dos. Um enre­do sim­ples, óbvio, na exce­lente tradição do gênero nos anos 70!

    Com­ple­tam o esquadrão prin­ci­pal do elen­co de Machete: Cheech Marin (talvez o mel­hor per­son­agem do filme), Michelle Rodriguez (com­pe­tente), Jes­si­ca Alba (passáv­el) e Lind­say Lohan (insos­sa grande parte do tem­po, mas com pelo menos uma cena mem­o­ráv­el). Robert Rodriguez tem se espe­cial­iza­do em tra­bal­har com elen­cos este­lares e tem demon­stra­do cada vez mais com­petên­cia, sendo que mes­mo atores de qual­i­dade ques­tionáv­el não com­pro­m­e­tem o resul­ta­do final. O elen­co fem­i­ni­no, mes­mo for­ma­do por nomes de cer­to peso, é de qual­i­dade alta­mente ques­tionáv­el e em um primeiro momen­to parece escol­hi­do exclu­si­va­mente pela beleza – as atrizes pas­sam grande parte do filme em ‘tra­jes insin­u­antes’ – oi, 70’s exploitation.

    Um pon­to no elen­co de Machete que será nota­do pelos fãs do cin­e­ma de hor­ror, é a pre­sença de Tom Savi­ni como o assas­si­no de aluguel con­trata­do por Tor­rez. Savi­ni é o homem por trás do visu­al dos zumbis de George A. Romero, além de alguns filmes de Dario Argen­to, do primeiro Sex­ta-Feira 13 (1980), Creepshow (1982) e den­tre out­ros, além de ter feito pon­tas como ator em diver­sos filmes con­heci­dos no mun­do do hor­ror. Ele tam­bém dirigu o remake de A Noite dos Mor­tos-Vivos (1990).

    No final, Machete fun­ciona extrema­mente bem no que se com­pro­m­ete a faz­er: diver­tir. Não cabe ten­tar anal­is­ar o filme como sendo um “retra­to da luta do imi­grante lati­no”, mas sim como o exce­lente exploita­tion que é. A influên­cia grad­ual de Quentin Taran­ti­no, na obra de Robert Rodriguez, tam­bém está mais forte do que nun­ca, enraiza­da inclu­sive no con­ceito do filme. Dan­ny Tre­jo é sen­sa­cional como o anti-herói, na con­tramão dos mocin­hos boni­tos e bem arru­ma­dos que ten­tam nos enfi­ar goela abaixo nos filmes de ação atuais.

    Aliás, 2010 vem sendo de cer­ta for­ma um alen­to para aque­les que, como eu, cresce­r­am assistin­do os filmes de ação “de macho” dos anos 80. Mes­mo Machete sendo cal­ca­do no esti­lo dos 70 ele trouxe, jun­to com Os Mer­cenários (2010 – e sem “mim­i­mi Stal­lone xin­gou o Brasil”. Evolua, povo!), o ado­ra­do exagero de vol­ta ao grande públi­co. Tiros, bom­bas, facas, explosões… Apos­to que não fui o úni­co a sen­tir fal­ta dis­so tudo…

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=2IfCRq8b4MA

  • Crítica: Morgue Story — Sangue, Baiacu & Quadrinhos

    Crítica: Morgue Story — Sangue, Baiacu & Quadrinhos

    Morgue Story

    Ter­ror não é um gênero muito explo­rado pelo cin­e­ma brasileiro, e quan­do é geral­mente con­segue pouquís­si­ma divul­gação e suporte/fomento para a sua pro­dução, cain­do sem­pre no rótu­lo de cin­e­ma B. Morgue Sto­ry (Brasil, 2009), de Paulo Bis­ca­ia Fil­ho, com­pro­va que se é pos­sív­el pro­duzir um óti­mo filme, com ele­men­tos de ter­ror trash de qual­i­dade, sem pre­cis­ar de inves­ti­men­tos grandiosos (exatos cen­to e vinte e seis mil e qua­tro­cen­tos reais) e em pouquís­si­mo tem­po (onze dias).

    Ana Argen­to (Mar­i­ana Zanette), uma car­tunista (cujo nome é uma hom­e­nagem ao cineas­ta Dario Argen­to) de rel­a­ti­vo suces­so com suas HQs que tem como per­son­agem um zumbi caol­ho, Tom (Ander­son Faganel­lo), um catalép­ti­co que vende seguros, e Doutor Daniel Tor­res (Lean­dro Daniel Colom­bo), um médi­co legista com méto­dos e gos­tos bas­tante pecu­liares, são os per­son­agens prin­ci­pais que, pelo aca­so do des­ti­no (ou não), se encon­tram em um necrotério. Com um enre­do muito bem con­struí­da e mon­ta­da, com várias revi­ra­voltas e flash­backs, é pos­sív­el acom­pan­har cer­tos even­tos pela óti­ca de cada per­son­agem, que aca­ba tornando‑a ain­da mais diver­ti­da. Isso sem falar em algu­mas cenas de quadrin­hos ani­madas, que dão um toque espe­cial ao longa.

    Morgue Sto­ry foi basea­do em uma peça de teatro homôn­i­ma muito bem suces­si­da, pela Vig­or Mor­tis, que faz pesquisa em cima do teatro de hor­ror. Ape­sar da atu­ação dos per­son­agens beirar muitas vezes ain­da o teatral, ao exagero dos dial­o­gos, uma car­ac­terís­ti­ca típi­ca de filmes exploita­tion, a fil­magem con­seguiu romper a bar­reira dos pal­cos e o resul­ta­do ficou bem cin­e­matográ­fi­co. A qual­i­dade da imagem é óti­ma, o que não cos­tu­ma ser muito fre­quente em gravações dig­i­tais, mas por con­ta do abu­so de efeitos espe­ci­ais, para dar uma impressão de filme anti­go com câmera amado­ra, o resul­ta­do final foi um pouco prej­u­di­ca­do de tão over que ficou.

    Morgue Sto­ry é engraça­do não só pelas situações/personagens que beiram ao absur­do e efeitos pra lá de trash, mas prin­ci­pal­mente dev­i­do aos diál­o­gos, com um humor áci­do e sar­cás­ti­co, que lem­bram os filmes do Taran­ti­no. Resu­min­do: uma óti­ma exper­iên­cia, tan­to para quem pro­duz­iu quan­to para quem assiste, do cin­e­ma brasileiro.

    Con­fes­so que quan­do assisti ao trail­er de Morgue Sto­ry pen­sei que só con­seguiria vê-lo amar­ra­do com uma parafer­nália esti­lo a do Laran­ja Mecâni­ca, onde é impos­sív­el fugir e fechar os olhos. Mas eu esta­va com­ple­ta­mente engana­do. E se você teve a mes­ma sen­sação após o trail­er, não desista, vale a pena!

    Como o filme está com uma divul­gação lim­i­ta­da, a exibição do mes­mo em algu­mas cidades está sendo feito prin­ci­pal­mente pela con­ver­sa entre os exibidores e o públi­co, e o espec­ta­dor pode ser fun­da­men­tal nesse proces­so de divul­gação. Se con­hecer algu­ma exibido­ra local que pode­ria estar inter­es­sa­da no filme, entre em con­ta­to com a respon­sáv­el pela dis­tribuição do mes­mo, Diana Moro da Vig­or Mor­tis, para ver a pos­si­bil­i­dade de exibição.

    Out­ra críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=E4MrFkjc7Gs

  • Crítica: O Lobisomem

    Crítica: O Lobisomem

    lobisomen

    Alguns per­son­agens, que já há muito tem­po fazem parte não só da cul­tura ger­al, mas dos medos mais prim­i­tivos, sem­pre estão sendo refilma­dos e adap­ta­dos. O Lobi­somem (The Wolf­man, Reino Unido/EUA, 2010), de Joe Johston, é mais um dess­es filmes.

    Difer­ente do clás­si­co orig­i­nal, dirigi­do por George Wag­gn­er, em 1941, este tem como cenário a Inglater­ra Vito­ri­ana. A história pos­sui cer­tas sim­i­lar­i­dades e, nes­ta ver­são, Lawrence Tal­bot (Beni­cio Del Toro[bb]) retor­na da Améri­ca para sua ter­ra natal, a fim de aju­dar na bus­ca de seu irmão, a pedi­do da noi­va dele, Gwen (Emi­ly Blunt[bb]). Na sua bus­ca por pis­tas, vai parar em um acam­pa­men­to cigano, que é ata­ca­do por um mon­stro “descon­heci­do”. Durante o ataque, Lawrence é mor­di­do quase que fatal­mente no pescoço, se recu­peran­do alguns dias depois, de uma maneira anor­mal­mente ráp­i­da, na man­são de seu pai (Antho­ny Hop­kins[bb]). Ele começa então a ser inves­ti­ga­do pelo Dete­tive Aber­line (Hugo Weav­ing[bb]), que aca­ba desco­brindo a sua maldição.

    Ape­sar do óti­mo elen­co, a atu­ação de cada um é muito fra­ca, mostran­do pou­ca veraci­dade nos per­son­agens, geran­do um sen­ti­men­to de mui­ta dis­tân­cia e pouco envolvi­men­to. A uti­liza­ção da tril­ha, para pro­duzir e manip­u­lar as emoções, é, de cer­ta maneira, bem exager­a­da. As cenas que dev­e­ri­am pro­duzir “sus­tos”, ape­nas o fazem dev­i­do a uma brus­ca mudança, ou aparição de um som muito alto, às vezes até antes da cena em si, de fato, real­mente acon­te­cer. Chegan­do até a tornar ridícu­lo alguns momen­tos de suspense.

    A car­ac­ter­i­za­ção do lobi­somem ficou bem no esti­lo da pelícu­la de 1941, com um ros­to mais “humanóide”, que me lem­brou muito o per­son­agem Chew­bac­ca, do Star Wars[bb], fican­do às vezes até mais engraça­do do que assus­ta­dor. Há tam­bém um per­son­agem no filme que é idên­ti­co ao Smeagol, do Sen­hor dos Anéis[bb], de Peter Jack­son[bb], só que mais pobre visual­mente. Assim como a trans­for­mação de homem para lobi­somem que, ape­sar dos avanços nas téc­ni­cas de efeitos espe­ci­ais, não sur­preen­deu nem um pouco. As tomadas do lobi­somem ata­can­do as pes­soas lem­braram aque­les filmes exploita­tion, com pedaços de cor­po voan­do para todo lado. Ape­sar de algu­mas cenas pare­cerem engraçadas, incluin­do algu­mas piad­in­has tam­bém, não eram tão boas a pon­to de provo­car risada.

    O Lobi­somem é bem sessão da tarde, para quem quer ver alguns órgãos voan­do e sus­pense, que graças aos efeitos sonoros usa­dos em dema­sia, não farão você dormir.

    Con­fi­ra tam­bém a críti­ca deste filme no blog Claque ou Cla­que­te, por Joba Tri­dente.

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