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  • Lincoln | Crítica

    Lincoln | Crítica

    Abra­ham Lin­coln é com certeza uma das fig­uras públi­cas mais con­heci­da e ama­da nos Esta­dos Unidos, e ninguém mel­hor do que o dire­tor Steven Spiel­berg, para enal­te­cer ain­da mais essa figu­ra em Lin­coln (EUA, 2012), seu mais novo filme. Basea­do em uma das partes do livro “Team of Rivals — The Polit­i­cal Genius of Abra­ham Lin­coln” escrito por Doris Kearns Good­win e lança­do aqui no Brasil pela Edi­to­ra Record sob o títu­lo “Lin­coln”, o lon­ga abrange os últi­mos 4 meses de vida do pres­i­dente, que foi assas­si­na­do em 15 de abril de 1865.

    Este foi jus­ta­mente o perío­do em que o Lin­coln batal­ha­va para con­seguir que a 13º emen­da da con­sti­tu­ição, a qual proib­ia a escravidão nos Esta­dos Unidos, fos­se aprova­da, bem como para ter­mi­nar a Guer­ra Civ­il Amer­i­cana, provavel­mente a maior crise inter­na vivi­da pelo país. Saben­do que a guer­ra era uma opor­tu­nidade úni­ca para con­seguir a abolição da escra­vatu­ra,  ten­tou de todas as maneiras pos­síveis que ela fos­se legal­iza­da. Uti­lizan­do difer­entes tipos de arti­man­has e sub­or­nos, lem­bran­do em alguns momen­tos a história do Papa Rodri­go Bor­gia, que pos­sui uma série em quadrin­hos incrív­el ilustra­da por Milo Man­ara e escri­ta por Ale­jan­dro Jodor­owsky, tiran­do todo o sexo, é claro. Esse tipo de manobra traz um ques­tion­a­men­to bem inter­es­sante não só a respeito das vul­ner­a­bil­i­dades de uma repúbli­ca, assim como da val­i­dade do aspec­to, de cer­ta for­ma maquiavéli­co (o fim deter­mi­na os meios), de uma ambição cujo propósi­to é um bem maior para a humanidade. Questões que cer­ta­mente dão muito o que pen­sar e discutir.

    Acom­pan­hamos tam­bém vários momen­tos ínti­mos de Lin­coln em situ­ações que geral­mente não imag­i­namos um pres­i­dente fazen­do, como ele engraxan­do suas próprias botas ou de joel­ho no chão colo­can­do lenha na sua lareira. O foco do filme é mostrar como era o dia a dia des­ta pes­soa que teve um papel tão impor­tante em mod­e­lar o país como ele é hoje, rev­e­lando mais o homem e menos o mito. A facil­i­dade, em relação a hoje em dia, de pes­soas comuns falarem com o pres­i­dente a respeito de prob­le­mas que estavam ten­do, tam­bém causa cer­to estran­hamen­to. Assim como toda a men­tal­i­dade racista e cheia de pre­con­ceitos de uma época em que falar sobre mul­heres terem o dire­ito ao voto causa­va uma grande con­fusão. Este é um momen­to ante­ri­or ao ambi­en­ta­do no filme “Djan­go Livre” (2012), onde a escravidão pre­domi­na­va e a Guer­ra Civ­il Amer­i­cana esta­va prestes a estourar.

    O grande destaque do lon­ga são as óti­mas atu­ações, prin­ci­pal­mente o Daniel Day-Lewis como Lin­coln, cujo últi­mo tra­bal­ho foi o fraquís­si­mo “NINE” (2009) dirigi­do por Rob Mar­shall, e Tom­my Lee Jones (“Home­ns de Pre­to 3″). Há tam­bém um pequeno papel do exce­lente Joseph Gor­don-Levitt (“Loop­er: Assas­si­nos do Futuro” e “Bat­man — O Cav­aleiro das Trevas Ressurge”) como fil­ho do pres­i­dente, o qual foi indi­ca­do ao Spiel­berg pelo próprio Day-Lewis, mas acabou fican­do ofus­ca­do pelas out­ras atu­ações. Ape­sar de já terem sido escritos muitos livros sobre o Lin­coln, há vários pon­tos de vis­tas em relação a sua per­son­al­i­dade, o que aca­ba geran­do cer­ta dis­crepân­cia entre os his­to­ri­adores e tor­nan­do a definição do per­son­agem mais difí­cil. Dev­i­do à inex­istên­cia de mate­r­i­al audio­vi­su­al sobre o pres­i­dente, um dos prob­le­mas por exem­p­lo foi achar a “voz” do mes­mo. O próprio Day-Lewis foi respon­sáv­el por grande parte da con­strução de seu per­son­agem. As cenas que provavel­mente ficarão gravadas na memória, são os momen­tos em que Lin­coln inter­rompe o tra­bal­ho de todos e con­ta uma história, para o deleite ou o despraz­er de quem está a sua volta.

    “Witch­ing Hour” por Andrew Wyeth

    Visual­mente o filme chama bas­tante atenção por ser bem escuro e uti­lizar somente a ilu­mi­nação nat­ur­al, seja por velas, lareiras ou janelas com a corti­na aber­ta. O dire­tor con­ta que se inspirou bas­tante nos quadros dos pin­tores impres­sion­istas do sécu­lo 19, onde eles começaram a usar o efeito da luz nat­ur­al para ilu­mi­nar o con­teú­do de suas pin­turas. A prin­ci­pal refer­ên­cia foram as obras do pin­tor Andrew Wyeth, que pos­sui um con­traste bem forte em seus quadros, car­ac­terís­ti­ca que é bem mar­cante no lon­ga. Inter­es­sante tam­bém, foi a escol­ha de deixar de fora cer­tas cenas que mostravam o grande resul­ta­do de um acon­tec­i­men­to, como o final da votação da 13º emen­da ou o seu assas­i­na­to, para focar em lugares e acon­tec­i­men­tos mais per­iféri­cos. É claro que este não deixa de ser um filme do Spiel­berg, ape­sar de ter uma ou out­ra cena de batal­ha com sangue, a enal­tação da beleza e da bon­dade das pes­soas trans­bor­da pela tela. Tam­bém temos algu­mas tomadas bem estratég­i­cas não só para enfa­ti­zar o quão alto o pres­i­dente era, mas tam­bém toda a grandiosi­dade que o mes­mo trans­mi­tia, tan­to em pre­sença quan­to em espírito.

    Lin­coln pode não faz­er muito sen­ti­do em ter­ritório nacional como um “cin­e­ma pipoca”, não só pelo pouco — ou inex­is­tente — ape­lo emo­cional des­ta figu­ra públi­ca por aqui, mas prin­ci­pal­mente pela sua lon­ga duração, prati­ca­mente duas horas e meia de filme. Sendo o mes­mo assis­ti­do mais como uma exper­iên­cia pela curiosi­dade históri­ca, o lon­ga aca­ba sendo muito inter­es­sante, mas real­mente é pre­ciso estar nesse movi­men­to. E com o Oscar aí, não há dúvi­da que este seja o querid­in­ho dos amer­i­canos, res­ta ago­ra torcer para que o nacional­is­mo não fale mais alto do que a qual­i­dade dos can­didatos entre si. Se não ocor­rer nova­mente toda a tram­bicagem na hora da votação, é claro.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=b6WkKvgn2G4

  • Crítica: J. Edgar

    Crítica: J. Edgar

    poster J. EdgarA sigla F.B.I. é con­heci­da prati­ca­mente em todo o mun­do, as vezes como um sím­bo­lo de poder e justiça, já out­ras vezes tam­bém como o grande irmão que vigia a todos e real­iza suas ações con­forme suas intenções. Mas como será que tudo isso começou? J. Edgar (EUA, 2011), dirigi­do por Clint East­wood, nar­ra a história de J. Edgar Hoover (Leonar­do Di Caprio) o homem que foi respon­sáv­el por cri­ar o F.B.I. como con­hece­mos hoje em dia, sendo seu prin­ci­pal chefe por cin­co décadas.

    Por ter seu enre­do forte­mente rela­ciona­do aos acon­tec­i­men­tos históri­cos que pre­ced­er­am nos Esta­dos Unidos durante a déca­da de 20 até 70, aque­les que não estiverem famil­iar­iza­dos com esta época, provavel­mente se sen­tirão um pouco per­di­dos — algo que acon­te­ceu as vezes comi­go — ou até cri­arem a impressão de que J. Edgar é muito arras­ta­do e deva­gar, mas que na ver­dade não é o caso. É um filme, de cer­ta for­ma, biográ­fi­co, por isso tam­bém não se deve esper­ar ver grandes cenas com ação, cortes rápi­dos e explosões, algo nor­mal­mente rela­ciona­do com histórias do F.B.I., ele segue um rit­mo mais mod­er­a­do e car­rega­do, já car­ac­terís­ti­co do East­wood.

    Algo que que chama bas­tante atenção em J. Edgar são as maquia­gens de envel­hec­i­men­tos apli­cadas nos atores, para poderem acom­pan­har essa pas­sagem de quase meio século.
    Difer­ente de muitos out­ros filmes, como por exem­p­lo acon­te­ceu com a ver­são idosa do per­son­agem Saito em A Origem, des­ta vez a maquiagem ficou bas­tante real­ista, pois em vez de se uti­lizar latex, foi usa­do uma nova téc­ni­ca com finas camadas de sil­i­cone, que dá um efeito mais pare­ci­do com a pele nat­ur­al. Mas o que real­mente deu vida a essas trans­for­mações foram as atu­ações, desta­can­do-se prin­ci­pal­mente a de Leonar­do DiCaprio que esta­va excep­cional, as vezes fican­do total­mente irrecon­hecív­el por trás do seu papel como J. Edgar.

    Hoje em dia é difí­cil imag­i­nar os agentes do F.B.I. sem armas ou suas inves­ti­gações não pos­suírem um forte teor cien­tí­fi­co, mas antes de J. Edgar Hoover isto esta­va longe de ser real­i­dade. Inclu­sive, a ideia de uti­lizar a ciên­cia para iden­ti­ficar um crim­i­noso era tido como algo total­mente sem nexo e malu­ca. Pen­sar em ter uma cen­tral de impressões dig­i­tais, nem se fala! Ele tam­bém foi respon­sáv­el por aju­dar a con­stru­ir a imagem do F.B.I. na mídia pop­u­lar, ten­do sido con­sul­tor da Warn­er Bros para um filme e uma série de TV, se asse­gu­ran­do pes­soal­mente que a orga­ni­za­ção fos­se retrata­da de maneira mais dramáti­co do que os out­ros poli­ci­ais da época.

    Um fato curioso era que na época os estrangeiros ile­gais eram chama­dos de aliens e foi implata­do todo um pro­gra­ma para tirar ess­es intru­sos do país. E pen­sar que depois sur­giri­am ficções como o Arqui­vo X, que seria local­iza­do den­tro do próprio F.B.I., e tam­bém o M.I.B., que lidam jus­ta­mente com a invasão de aliens nos Esta­dos Unidos…

    J. Edgar é com certeza um filme muito inter­es­sante tan­to por tratar de uma per­son­al­i­dade muito impor­tante para a história dos Esta­dos Unidos, que de um jeito ou de out­ro tam­bém teve a sua reper­cursão mundial­mente, pelas exce­lentes atu­ações e, é claro, por ser mais um óti­mo lon­ga do Clint East­wood.

    Para quem gos­tou de J. Edgar, tam­bém recomen­do assi­s­tir O Espião que sabia demais, um lon­ga bem difer­ente sobre espi­onagem dirigi­do por Tomas Alfred­son (que fez o sen­sa­cional Deixe Ela Entrar), que foca jus­ta­mente no tra­bal­ho mais men­tal e “buro­cráti­co” dos espiões.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=V_fgz4uJdtQ