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  • Crítica: Senna

    Crítica: Senna

    Filmes e doc­u­men­tários sobre cele­bri­dades cos­tu­mam miti­ficar e/ou dis­torcer muito do que real­mente acon­te­ceu, é difí­cil encon­trar um que não seja muito ten­den­cioso. Sen­na (Inglater­ra, 2010), dirigi­do pelo inglês Asif Kapa­dia, é um doc­u­men­tário que uti­liza ape­nas ima­gens de arqui­vo sobre Ayr­ton Sen­na, um dos maiores pilo­tos da história do auto­mo­bil­is­mo, retratan­do de for­ma extra­ordinária um tre­cho de sua vida.

    Sen­na abrange os anos de Ayr­ton como pilo­to de Fór­mu­la 1, des­de sua tem­po­ra­da de estréia, em 1984, até a sua morte pre­coce uma déca­da depois. Difer­ente do que talvez se pode­ria imag­i­nar, o foco não é, em momen­to algum, o con­tro­ver­so tema da sua morte, mas sim na tra­jetória deste homem den­tro e fora das pis­tas de corrida.

    Ayr­ton era bas­tante con­heci­do, prin­ci­pal­mente no Brasil, pelo seu forte lado espir­i­tu­al. Durante Sen­na, ele rela­ta a seguinte exper­iên­cia: “De repente, perce­bi que não esta­va mais dirigin­do o car­ro con­scien­te­mente. Eu esta­va em uma dimen­são difer­ente. Era como se estivesse em um túnel… Eu esta­va muito além do lim­ite, mas con­seguia ir além.”. Uma das primeiras coisas que veio á mente neste momen­to foi o episó­dio “O recorde mundi­al”, dirigi­do por Takeshi Koike, do lon­ga Ani­ma­trix (2003), que mostra um corre­dor que dev­i­do sua excep­cional força de von­tade e esforço para romper com seus próprios lim­ites, tan­tos psíquicos quan­to físi­cos, aca­ba por se desconec­tar soz­in­ho da Matrix e ter um deslum­bre do “mun­do real”.

    Uma car­ac­terís­ti­ca de Sen­na que chama bas­tante atenção é que, difer­ente­mente do que se faz nor­mal­mente em doc­u­men­tários, ele não pos­sui entre­vis­tas em primeiro plano. Os relatos con­ce­bidos pelos famil­iares, ami­gos e pes­soas que acom­pan­haram a vida do pilo­to, são todos feitos em off, enquan­to as ima­gens de arqui­vo são exibidas. Asif Kapa­dia acer­tou em cheio resistin­do à uti­liza­ção deste recur­so, o resul­ta­do ficou muito mais dinâmi­co e rico, pois as ima­gens, muitas delas inédi­tas, valer­am muito mais do que ape­nas as palavras ditas. A tril­ha sono­ra do lon­ga é com­pos­ta basi­ca­mente de músi­ca clás­si­ca instru­men­tal, o que inten­si­fi­ca bas­tante o cli­ma do filme, mas não chega a ser pretenciosa.

    Sen­na não é um doc­u­men­tário somente para fãs da F1, mes­mo uma pes­soa que não con­hece muito a história do pilo­to nem tem qual­quer afinidade com o esporte, como eu, con­segue não só acom­pan­har e enten­der o seu fun­ciona­men­to (e talvez até se inter­es­sar por ele), mas tam­bém se encan­tará com a per­son­al­i­dade forte e deter­mi­na­da de Ayr­ton. Vale a pena assistir!

    Out­ras críti­cas interessantes:

    • Marce­lo For­lani, no Omelete
    • Rubens Ewald Fil­ho, no seu Blog

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=Y9GnfTJApGY

  • Crítica: Comer, Rezar, Amar

    Crítica: Comer, Rezar, Amar

    Basea­do no best-sell­er homôn­i­mo da escrito­ra Eliz­a­beth Gilbert, Com­er, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love”, USA, 2010), dirigi­do por Ryan Mur­phy, segue os padrões hol­ly­wood­i­anos na bus­ca do maior ibope e, é claro, do maior lucro.

    Liz Gilbert (Julia Roberts) é uma mul­her mod­er­na que ape­sar de ter tudo o que é cul­tur­a­mente dito ser necessário para ela (mari­do, emprego, din­heiro e suces­so), se sente infe­liz e cada vez mais estag­na­da. Após se divor­ciar do seu fra­cas­sa­do casa­men­to e con­seguir sen­tir nova­mente o gos­to de viv­er inten­sa­mente e ser mais com­ple­ta, decide par­tir em uma jor­na­da físi­ca e espir­i­tu­al, para lit­eral­mente com­er, rezar e amar.

    Com­er, Rezar, Amar pos­sui um esti­lo bem de diário pes­soal de viagem, com a pro­tag­o­nista rev­e­lando suas peque­nas con­quis­tas, angús­tias e dese­jos a respeito dos acon­tec­i­men­tos vivi­dos. Por isso mes­mo, tra­ta-se de uma visão bem fem­i­ni­na dos fatos, a qual talvez não agrade muito o públi­co mas­culi­no em ger­al (“filme de meni­na” segun­do o Rubens Ewald Fil­ho). Mas não estou de for­ma nen­hu­ma levan­do esta afir­mação ao extremo, para mim não foi um fator que chegou a incomodar.

    É inter­es­sante notar o com­por­ta­men­to de Liz Gilbert durante Com­er, Rezar, Amar como uma mera tur­ista, onde as filosofias e ensi­na­men­tos são ape­nas con­sum­i­dos, como quan­do você com­pra uma peque­na estat­ue­ta, para se adap­tar à sua real­i­dade amer­i­cana, não haven­do uma trans­for­mação mais pro­fun­da de val­ores. Aliás, o filme brin­ca as vezes com essa dual­i­dade entre ape­nas con­sumir val­ores de out­ras cul­turas como mero obje­to dec­o­ra­ti­vo, só que de maneira extrema­mente sutil, talvez até não inten­cional, como em sua com­pul­são de ter que com­prar peque­nas estat­ue­tas e sím­bo­los e de pre­cis­ar um quar­to todo dec­o­ra­do para meditação.

    O pon­to alto do filme está em sua pas­sagem pela Itália com as tomadas exibindo pratos típi­cos, assim como par­cial­mente a preparação deles, que são de dar água na boca. Além dis­so, é bem diver­tido a expli­cação, e demon­stração, de como os ital­ianos se comu­ni­cam e o que se deve faz­er para se apren­der este idioma. Tam­bém temos belas ima­gens da Índia e Indonésia, ape­sar de que todos os lugares, pes­soas e cos­tumes de Com­er, Rezar, Amar seguem a visão amer­i­cana estereoti­pa­da dos out­ros país­es (os ital­ianos ficaram bem inco­moda­dos, veja o porque). Para reforçar mais ain­da este con­ceito, temos um per­son­agem brasileiro que diz que aqui é nor­mal os pais bei­jarem os fil­hos na boca. Pelo menos não ser­e­mos mais lem­bra­dos ape­nas só pelo car­naval, fute­bol e macacos.

    Com­er, Rezar, Amar é aque­le típi­co filme para se sair da sessão com um sen­ti­men­to de com­ple­tude, depois de uma boa lon­ga, até demais, dose de auto-aju­da. Mas isso sem ter se apro­fun­da­do muito em nen­hum assun­to e tam­bém evi­tan­do tópi­cos mais incô­mo­d­os e del­i­ca­dos, para poder preser­var uma cul­tura do con­sumir, ado­rar e casar (falan­do em matrimônio, breve­mente a auto­ra lançará um novo livro jus­ta­mente sobre este tema).

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=LIGfQYg4lSQ