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  • As Sessões | Crítica

    As Sessões | Crítica

    as-sessoes-posterAs Sessões (The Ses­sions, 2012), de Ben Lewin é, infe­liz­mente, o tipo de filme que pas­sa des­perce­bido pelo cir­cuito com­er­cial de cin­e­ma. O lon­ga traz o jor­nal­ista e poeta Mark O’Brien, que quan­do cri­ança con­traiu a poliomelite, per­den­do quase todos os movi­men­tos do cor­po. Por con­ta des­ta situ­ação, neces­si­ta ficar pelo menos qua­tro horas den­tro de uma maquina de res­pi­ração. Mas não se engane achan­do que a vida de O’Brien era sofri­da ou até mes­mo triste.

    O recorte que As Sessões faz é de um Mark O’Brien aos 38 anos, nar­ran­do a sua neces­si­dade de sexo – pois ain­da era virgem — de toque e a grande car­ga de sen­si­bil­i­dade e sen­ti­men­tos que isso traz ao cor­po. O fato dele pas­sar boa parte do dia den­tro de uma câmera chama­da “pul­mão de aço”, não inter­fere na sua sen­si­bil­i­dade tan­to de cri­ação poéti­ca como cor­po­ral, mes­mo sem com­preen­der total­mente o seu cor­po. Para essa nova descober­ta, a ter­apeu­ta sex­u­al Cheryl, inter­pre­ta­da por Helen Hunt, vai ser fun­da­men­tal. Ela tra­bal­ha para que ele des­cubra como sen­tir o próprio cor­po e o da out­ra pes­soa com quem vai se rela­cionar. A del­i­cadeza das cenas que retratam as sessões entre paciente e ter­apeu­ta é arrepi­ante e emo­ti­va. O que pode­ria ser em muitos momen­tos ape­nas sessões de ter­apia lev­adas de for­ma profis­sion­al, são car­regadas de emoção, prin­ci­pal­mente quan­do ela começa a se envolver com as emoções de Mark, que é como um ado­les­cente sentin­do cada cen­tímetro novo do seu corpo.

    O títu­lo do lon­ga se ref­ere às seis sessões ini­cial­mente pro­postas para que o paciente comece a perce­ber e enten­der o seu cor­po e os dese­jos dele. Cheryl Cohen-Greene é a chama­da “sub­sti­tu­ta sex­u­al”, alguém que tra­ta um paciente defi­ciente para a con­sci­en­ti­za­ção sex­u­al do mes­mo, de for­ma mais sen­sív­el e menos agres­si­va como nor­mal­mente pode acon­te­cer, além de ser uma pesquisado­ra do assunto.

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    É impos­sív­el ver As Sessões e não pen­sar sobre todo o proces­so de sen­si­bil­i­dade que o cor­po neces­si­ta e, como um defi­ciente físi­co é pri­va­do dis­so por padrões soci­ais que o car­ac­ter­i­zam como inca­paz ou sim­ples­mente como anor­mal. Ver Mark O’Brien pas­san­do por esse proces­so de descober­ta, é pen­sar o quão pouco somos inclu­sivos quan­do se tra­ta do difer­ente, por achar que sabe­mos o real sen­ti­do de normal.

    O lon­ga é reple­to dessas pecu­liari­dades geran­do um estran­hamen­to no espec­ta­dor em relação ao mun­do dessas pes­soas que fazem o pos­sív­el para ter uma vida comum do seu próprio jeito. As cenas de Mark sendo lev­a­do a vários lugares em sua maca, são tratadas com uma sim­pli­ci­dade arrebata­do­ra. Ele con­ver­sa com suas assis­tentes enquan­to elas o lev­am de um lugar para out­ro, vai à Igre­ja e inclu­sive sai para com­prar roupas, tudo isso acopla­do à sua maca e a um cano de ar para que pos­sa con­tin­uar respirando.

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    O’Brien tem muito a seu favor, cos­tu­ma agradar as mul­heres fazen­do poe­mas e dizen­do coisas que elas dese­jam ouvir, mes­mo na sua situ­ação é um ver­dadeiro galanteador. O lon­ga tam­bém mostra que ele já se rela­cio­nou emo­cional­mente com algu­mas mul­heres, mas que não con­seguiram se adap­tar ao seu esta­do. Há ain­da o fator da religião na vida dele, um dos seus mel­hores ami­gos é – um bem pouco orto­doxo – padre. Várias das cenas mais diver­tidas do filme se pas­sam com Mark se con­fes­san­do e con­tan­do sobre sua ter­apia para o ami­go católi­co, sendo tudo trata­do de uma for­ma incriv­el­mente nor­mal, boni­ta e divertida.

    É jus­ta­mente essa roti­na de Mark, alheia aos padrões humanos, que fazem o espec­ta­dor apre­ciar as sessões dele com a Dra. Cheryl. Uma relação que vai se con­stru­in­do na base da descober­ta de ambos, um que percebe que tem um cor­po que sente além do seu cére­bro e o out­ro que pas­sa a perce­ber o seu obje­to de estu­do como um ser humano com sentimentos.

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    Se tratan­do de elen­co, é impor­tante destacar John Hawkes, que inter­pre­ta O’Brien talvez num dos papéis mais fortes do gênero, jun­ta­mente com Helen Hunt, que está bem à von­tade no papel de “sub­sti­tu­ta”. Ape­sar do óti­mo tra­bal­hos dos atores coad­ju­vantes, todos trans­mitin­do uma lev­eza incrív­el, o destaque vai mes­mo para essa dupla que con­segue emo­cionar sem dramatizar.

    O dire­tor Ben Lewin, que tam­bém foi acometi­do pela poliomelite quan­do cri­ança, diz que em 2009 esta­va nave­gan­do pela inter­net procu­ran­do sobre o sexo no cotid­i­ano do defi­ciente físi­co e encon­trou o arti­go de Mark O’Brien inti­t­u­la­do de Sain­do com uma Sub­sti­tu­ta Sex­u­al . O lon­ga é basea­do nesse rela­to e em entre­vis­tas com a própria Cheryl e Susan Fern­bach, a últi­ma com­pan­heira de Mark. Lewin con­seguiu tratar de dois assun­tos tabus – sexo e defi­ciên­cia físi­ca – de uma for­ma que somente alguém que con­hece de per­to a situ­ação con­segue dar cores e for­mas tão leves e sim­ples para um enre­do emocionante.

    Trail­er:

  • O Voo | Crítica

    O Voo | Crítica

    O Voo Poster | CríticaUm homem pode ser absolvi­do pelos seus vícios por con­ta de um grande ato de heroís­mo, que salvou muitas vidas em uma situ­ação onde provavel­mente todos iri­am mor­rer? Este é o grande ques­tion­a­men­to em torno de O Voo (Flight, EUA, 2013), dirigi­do por Robert Zemeck­is e com Den­zel Wash­ing­ton no papel principal.

    A história começa em uma man­hã que parece ser como qual­quer out­ra, depois de uma noita­da de álcool, dro­gas e sexo, Whip Whitak­er vai tra­bal­har como se nada tivesse acon­te­ci­do. Só tem um pequeno detal­he, ele é pilo­to de aviões domés­ti­cos em uma grande com­pan­hia aérea. Para pio­rar a situ­ação, o avião que esta­va pilotan­do sofre uma pane no meio do voo e começa a cair de pon­ta cabeça em direção ao chão. Esta era uma situ­ação que difi­cil­mente alguém pode­ria sair vivo, mas ele teve a genial ideia de virar o avião de cabeça para baixo e assim nivelá-lo nova­mente para poder pousar, sal­va­do prati­ca­mente quase todos a bor­do. Só que quan­do as inves­ti­gações a respeito do que pode­ria ter acon­te­ci­do com a aeron­ave começam a ser feitas, é descober­to que ele esta­va bêba­do durante o aci­dente e o mes­mo pode ser pre­so por con­ta disso.

    As atrizes Nadine Velazquez como Katerina Marquez e Tamara Tunie como Margaret Thomason
    Nadine Velazquez como Kate­ri­na Mar­quez e Tama­ra Tunie como Mar­garet Thomason

    Ape­sar do trail­er dar uma impressão de ser um filme de comé­dia, ele é na ver­dade um dra­ma bem inten­so. Com vários out­ros filmes de peso no cur­rícu­lo como a trilo­gia De Vol­ta para o Futuro, For­rest Gump, o Con­ta­dor de Histórias e Náufra­go, talvez este seja o lon­ga mais pesa­do, ou o mais adul­to, que o o dire­tor Robert Zemeck­is já fez. Não só falan­do da temáti­ca, mas tam­bém da escol­ha de fil­mar cenas de maneiras que nor­mal­mente são evi­tadas. É inesquecív­el, por exem­p­lo, o momen­to em que o avião está cain­do e toda a aeron­ave sim­ples­mente vira de cabeça para baixo e vemos detal­he por detal­he tudo que acon­tece den­tro do avião. Depois dessa você vai pen­sar duas vezes antes de não quer­er usar o cin­to de segu­rança na sua próx­i­ma viagem. Tam­bém não são poupadas as cenas de nudez, prin­ci­pal­mente da atriz Nadine Velazquez que faz o papel de aero­moça e amante de Whip, não fican­do naque­le esconde esconde hol­ly­wood­i­ano ridículo.

    Não é por menos que Den­zel Wash­ing­ton está con­cor­ren­do ao Oscar de 2013 como Mel­hor Ator por con­ta deste filme, que segun­do ele é um dos papéis mais com­plex­os que já fez. Dev­i­do as suas várias fac­etas, é con­stante a alternân­cia entre admi­ração e repul­sa em relação ao coman­dante Whip. Você não sabe se ado­ra ou se odeia aque­le per­son­agem. Bem difer­ente por exem­p­lo do seu papel em O Livro de Eli (2010), dirigi­do por Albert e Allen Hugh­es, onde ele é sim­ples­mente o herói bon­doso de coração puro.

    Bruce Greenwood e Don Cheadle como os protetores do personagem de Denzel Washington
    Bruce Green­wood e Don Chea­dle como os pro­te­tores do per­son­agem de Den­zel Washington

    O Voo desen­volve bem toda essa questão do dual­is­mo herói/vilão e do vício de Whitak­er, assim como os de out­ros per­son­agens secundários, sem entrar em todas aque­las cenas e argu­men­tos clichês que esta­mos acos­tu­ma­dos a ver em lon­gas do gênero. Além dis­so, ele tam­bém aprovei­ta para faz­er algu­mas piad­in­has e ques­tionar algu­mas insti­tu­ições, como as próprias com­pan­hias aéreas e o sis­tema legal, mas sem se perder nelas. Para a feli­ci­dade ou o des­gos­to de alguns, o filme aca­ba ten­den­do forte­mente para a religião, mas total­mente plausív­el con­sideran­do as cir­cun­stân­cias do acon­tec­i­men­to. Algu­mas pes­soas talvez achem o filme cansati­vo por ter um pouco mais de duas horas de duração, mas isso aca­ba sendo impor­tante para poder desen­volver sem pres­sa toda a sua trama.

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=LdpzTsqRSPw

  • Crítica: Instinto de Vingança

    Crítica: Instinto de Vingança

    Instin­to de Vin­gança (Tell Tale, EUA/Inglaterra, 2010), dirigi­do pelo estre­ante Michael Cues­ta, pos­sui uma pre­mis­sa pra lá de pecu­liar: o recep­tor de um coração doa­do é toma­do por cer­tos dese­jos do anti­go dono do órgão.

    Ter­ry Bernard (Josh Lucas) é um homem que, ape­sar de todas as difi­cul­dades, con­tin­ua seguin­do em frente na esper­ança de uma situ­ação mel­hor. Ele foi aban­don­a­do pela mul­her, é um fra­cas­sa­do profis­sion­al­mente, cui­da da fil­ha que pos­sui uma doença genéti­ca muito rara e seu próprio esta­do de saúde é bem vul­neráv­el. Recen­te­mente con­seguiu um trans­plante de coração, sub­sti­tuin­do seu anti­go que logo iria fal­har, mas parece que o seu cor­po está mostran­do sinais de rejeição ao órgão. Sua úni­ca feli­ci­dade são as idas à Dra. Eliz­a­beth (Lena Head­ey), médi­ca de sua fil­ha, pela qual tem uma cer­ta queda.

    Até aí pode­ria ser mais uma história de super­ação, mas Instin­to de Vin­gança foge do padrão com Ter­ry começan­do a sen­tir dese­jos incon­troláveis de matar algu­mas pes­soas, que desco­bre serem os assas­i­nos do dono orig­i­nal de seu novo coração. Toda vez que encon­tra um deles, o seu coração começa a bater muito forte e ele começa a ser doma­do pela von­tade de vingança.

    Ape­sar de Instin­to de Vin­gança pos­suir uma ideia inter­es­sante, basea­da no con­to “o coração dela­tor”, do escritor amer­i­cano Edgar Allan Poe, sua insistên­cia em quer­er dar expli­cações para todos os acon­tec­i­men­tos durante o decor­rer do filme, com o uso exces­si­vo de flash­backs e enfa­ti­za­ção de cer­tos ele­men­tos, acabam tornando‑o monótono demais. E para pio­rar, fica total­mente explíc­i­to, e força­do, cer­tos diál­o­gos onde a função é mera­mente dar expli­cações á questões ain­da con­fusas da história para quem está assistin­do. Por que tan­to esse medo de deixar o espec­ta­dor ir desen­vol­ven­do os que­bras-cabeças jun­to com o lon­ga? Se for para faz­er um sessão “desliga­men­to men­tal”, então já nem se dev­e­ria começar pen­san­do em uma tra­ma min­i­ma­mente com­pli­ca­da. As atu­ações tam­bém não aju­dam muito, beiran­do uma “leitu­ra” de diál­o­gos mecânica.

    Instin­to de Vin­gança tem os ele­men­tos cer­tos para ter sido um bom filme trash, mas dev­i­do a seriedade na qual os temas são abor­da­dos, aca­ba por ser pouco envol­vente. No final, o lon­ga dá uma revi­ra­vol­ta (total­mente pre­visív­el para alguns), fazen­do um fechamen­to mais inter­es­sante, mas que não con­segue mudar a sen­sação ger­al produzida.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=WQoBOu-Vfo4

  • Crítica: Corações em Conflito

    Crítica: Corações em Conflito

    corações em conflito

    Tra­bal­har muito para con­seguir gan­har din­heiro sufi­ciente e dessa for­ma man­ter um padrão de vida dese­jáv­el é a real­i­dade de muitos. Em Corações em Con­fli­to (Mam­moth, Suécia/Dinamarca, 2009), de Lukas Moodys­son, é refleti­do jus­ta­mente o dis­tan­ci­a­men­to que este tipo de com­por­ta­men­to pode causar den­tro de uma família.

    Leo (Gael Gar­cia Bernal), cri­ador de um site sobre jogos eletrôni­cos de suces­so, e Ellen (Michelle Williams), cirurgiã total­mente ded­i­ca­da à sal­var vidas, são um casal de suces­so profis­sion­al. Eles tem uma fil­ha de oito anos mas, por tra­bal­harem demais, ela pas­sa a maior parte do tem­po com sua babá Fil­ip­ina, de for­ma que a relação entre pais e fil­ha é muito escas­sa. Quan­do Leo pre­cisa via­jar a Tailân­dia, para assi­nar um con­tra­to impor­tante, uma série de reações em cadeia começam a acon­te­cer, trazen­do con­se­quên­cias dramáti­cas para todos.

    Corações em Con­fli­to tem como prin­ci­pal car­ac­terís­ti­ca per­son­agens que mes­mo estando em lugares e situ­ações total­mente difer­entes, pos­suem algum tipo de lig­ação, na maio­r­ia dramáti­cas. O que lem­bra muito filmes como Babel, de Ale­jan­dro González Iñár­ritu, e Crash — No lim­ite, de Paul Hag­gis. Ape­sar dis­so, o lon­ga não chega a ser tão envol­vente e cati­vante quan­tos estes dois.

    O enre­do pos­sui algu­mas ideias bem inter­es­santes, prin­ci­pal­mente em mostrar difer­entes real­i­dades con­viven­do uma ao lado da out­ra sem terem con­sciên­cia dis­so. Corações em Con­fli­to ques­tiona tam­bém a fal­ta de atenção dada á própria família, prin­ci­pal­mente aos fil­hos, e a difi­cul­dade de lidar com eles por causa deste afas­ta­men­to cada vez maior. Algu­mas cenas do filme são bas­tante impac­tantes, mostran­do como o ciúme e a difi­cul­dade para con­seguir comu­nicar uma men­sagem, podem resul­tar em des­do­bra­men­tos muito sérios.

    Um dos grandes prob­le­mas de Corações em Con­fli­to está na sua tril­ha sono­ra, mais pare­cen­do um apan­hado das dez músi­cas favoritas de alguém da equipe de pro­dução, que sim­ples­mente jogou em cima do lon­ga em cenas que achou legal. As músi­cas sim­ples­mente não tem nen­hu­ma lig­ação com o que está acon­te­cen­do, algu­mas se repe­ti­ram incan­sáveis vezes, além de “que­brarem o cli­ma” dramáti­co alme­ja­do pelo lon­ga. Como as tril­has sono­ras são um aspec­to muito impor­tante para mim, fiquei muito inco­moda­do e pos­so afir­mar: difi­cil­mente vi uma pro­dução sono­ra tão ruim. Infe­liz­mente os atores tam­bém não aju­daram muito a man­ter o cli­ma do filme, seus papéis são bem vazios e cer­tas atu­ações são total­mente forçadas e sem emoção.

    Corações em Con­fli­to lida com prob­le­mas fre­quentes e impor­tantes das relações humanas, mas que muitas vezes são igno­ra­dos por causa da com­plex­i­dade que trazem con­si­go. Ape­sar de não con­seguir ser muito envol­vente, causa um descon­for­to dev­i­do aos fortes temas abor­da­dos, que podem ser usa­dos para uma boa dis­cussão após o filme.

    Out­ras críti­cas interessantes:

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=qVgwpLyN2ek

  • Crítica: Cabeça a Prêmio

    Crítica: Cabeça a Prêmio

    Cabeça a Prêmio (Brasil, 2010), estréia do dire­tor Mar­co Ric­ca, basea­do em livro homôn­i­mo de Marçal Aquino, é um filme nacional que ape­sar de ter um enre­do mis­tu­ran­do dra­ma e poli­cial, com ele­men­tos já bem con­heci­dos, con­segue ousar e apre­sen­tar um resul­ta­do muito pouco convencional.

    Miro (Ful­vio Ste­fani­ni) é um poderoso cri­ador de gado, que tam­bém faz para­le­la­mente out­ros “negó­cios” jun­to com seu irmão Abílio (Otávio Müller). Para isso eles usam o pilo­to de aluguel Denis (Daniel Hendler), que tem um caso com a fil­ha de Miro, Elaine (Alice Bra­ga), e faz o trans­porte de mer­cado­rias pela fron­teira do país. Tam­bém há mais dois capan­gas, Albano (Cás­sio Gabus Mendes) e Brito (Eduar­do Mosco­vis), respon­sáveis por man­ter a ordem e servirem de guardas costas. Resu­min­do: uma peque­na família de mafiosos nacional.

    Cabeça a Prêmio prati­ca­mente não faz uso de tril­ha sono­ra, só em pou­cas tomadas de pais­agem e de con­tem­plação de algum per­son­agem tam­bém com a pais­agem, sendo bas­tante “cru” na exibição dos acon­tec­i­men­tos, geran­do uma con­tem­plação maior aos even­tos ocor­ri­dos. Acred­i­to até que ele pode­ria ter dis­pen­sa­do toda tril­ha sono­ra, pois quan­do ela se faz pre­sente aca­ba destoan­do com com cli­ma do filme em ger­al. As pais­agens gan­ham um destaque espe­cial no lon­ga, não só pela beleza com que foram fil­madas, mas pelo sig­nifi­ca­do que gan­ham com o silên­cio e vazio que o filme propõe.

    Sem flash­backs ou qual­quer tipo de recur­so para ten­tar explicar as moti­vações de cada per­son­agem, somos lit­eral­mente joga­do em situ­ações para, cada um, ten­tar encaixar por si mes­mo as peças do que­bra cabeça ao qual somos apre­sen­ta­dos. Infe­liz­mente o uso exces­si­vo des­ta téc­ni­ca em Cabeça a Prêmio acabou geran­do uma fal­ta de conexão com o enre­do em ger­al, resul­tan­do em um sen­ti­men­to de que muito está acon­te­cen­do, mas ao mes­mo tem­po nada real­mente se desenvolve.

    A riqueza e a ganân­cia, são mostradas lit­eral­mente com todo seu peso, amar­gu­ra e indifer­ença em relação a vida. Tudo é ape­nas um negó­cio, que na ver­dade nun­ca sabe­mos qual real­mente é, e as pes­soas são sim­ples­mente empre­ga­dos, ten­tan­do pis­ar em cima do out­ro a qual­quer opor­tu­nidade. Todos ess­es ele­men­tos são extrema­mente claros em Cabeça a Prêmio não por serem desta­ca­dos ao exces­so na tela, mas por pos­suírem uma sutileza muito marcante.

    Mes­mo Cabeça a Prêmio sendo uma pro­dução muito boa, com ele­men­tos não muito con­ven­cionais, o filme em ger­al parece que lit­eral­mente não acon­tece, no sen­ti­do de não agradar e cati­var, e tem pou­cas chances de con­seguí-lo em relação ao públi­co. Isso inclui tan­to os que bus­cam o mais con­ven­cional quan­to aos que querem coisas mais diferentes.

    Out­ras críti­cas interessantes:

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    httpv://www.youtube.com/watch?v=GlAKBqKloKs

  • Crítica: O estranho em mim

    Crítica: O estranho em mim

    o estranho em mim

    Faz­er filmes para con­sci­en­ti­zar os espec­ta­dores de um deter­mi­na­do problema/fato, sem ser “educa­ti­vo” demais, não é uma tare­fa fácil. O estran­ho em mim (Das Fremde In Mir, Aeman­ha, 2008), de Emi­ly Atef, além de abor­dar temas como a comu­ni­cação e relações humanas em ger­al, tem como pano de fun­do a depressão pós-par­to, uma doença cujos peri­gos muitas pes­soam desconhecem.

    Rebec­ca (Susanne Wolff) e Julian (Johann von Bül­low) for­mam um casal apaixon­a­do e feliz que estão esperan­do seu primeiro fil­ho. Tudo parece per­feito até que a cri­ança nasce e a mãe tem seu primeiro con­ta­to com o bebê, logo após o par­to. É pos­sív­el niti­da­mente ver em sua expressão que há algo de erra­do, pois toda aque­la feli­ci­dade e expec­ta­ti­va sim­ples­mente some. Nas sem­anas seguintes acom­pan­hamos o crescer de uma repul­sa, assim como total indifer­ença, em relação ao bebê.

    Todas essas situ­ações tor­nam o cli­ma do filme muito ten­so, chegan­do até a beirar o insu­portáv­el em cer­tas cenas. Você sim­ples­mente dese­ja que tudo se resol­va logo, pois não aguen­ta mais tan­ta ten­são. Na sessão que assisti O estran­ho em mim, que esta­va lota­da, era claro perce­ber um cer­to incô­mo­do entre as out­ras pes­soas que tam­bém o assis­ti­am, na maior parte do tem­po em silên­cio abso­lu­to, total­mente imer­sos nos acon­tec­i­men­tos e quan­do chega­va em uma cena mais pesa­da, todos se retor­ci­am e não par­avam qui­etos na cadeira. Ape­sar da per­son­agem prin­ci­pal ir para ter­apia e ter pro­gres­so em seu proces­so, a sen­sação descon­fortáv­el per­petu­ou até mes­mo após a saí­da da sala de cinema.

    O esti­lo sim­plista da pro­dução de O estran­ho em mim lem­brou bas­tante os filmes do movi­men­to Dog­ma 95. O uso da hand­cam em algu­mas tomadas cri­am a sen­sação que acom­pan­hamos lit­eral­mente os pas­sos de Rebec­ca. Out­ras car­ac­terís­ti­cas como: som do ambi­ente nat­ur­al, pou­ca ou nen­hu­ma luz arti­fi­cial e locações reais usadas como cenário, pro­por­cionaram um mer­gul­ho ain­da maior na tra­ma do filme. Há uma toma­da envol­ven­do um bebê e uma ban­heir­in­ha, que de tão chocante que é a sua intenção, perde-se a noção de que é ape­nas uma fic­cão e não algo doc­u­men­tan­do um fato real­mente ocorrido.

    O filme usa a tril­ha sono­ra de maneira muito pon­tu­al, prati­ca­mente sendo só acom­pan­hado pelo som do ambi­ente e da voz dos per­son­agens. Os ápices de ten­são em O estran­ho em mim são todos acom­pan­hados dess­es “silên­cios”, com­pro­van­do mais uma vez que não é pre­ciso ficar entupin­do o espec­ta­dor de melo­dias para assim con­seguir provo­car algum sen­ti­men­to. Tam­bém é indis­pen­sáv­el citar a óti­ma atu­ação de Susanne Wolff, que foi indis­pen­sáv­el nesse proces­so de envolvi­men­to com a sua situ­ação e ações.

    O estran­ho em mim não é um filme de fácil digestão, com um cli­ma extrema­mente ten­so e frio, e para alguns, “alemão” demais. Mas ele é váli­do jus­ta­mente pela própria exper­iên­cia que causa e tam­bém como um óti­mo meio de con­sci­en­ti­zar as pes­soas sobre a gravi­dade da depressão pós-parto.

    Out­ras críti­cas interessantes:

    Trail­er: (infe­liz­mente sem leg­en­da, se alguém achar um leg­en­da­do por favor avise)

    httpv://www.youtube.com/watch?v=s4-p3aM5k3U