Considerada como um dos setes pecados capitais, a ganância é um sentimento cuja origem está profundamente enraizada na nossa história como seres humanos. Sendo muito cultuada em certos círculos de negócios, a cobiça é muitas vezes vista como essencial para quem aspira ser bem sucedido. “O Lobo de Wall Street” (The Wolf of Wall Street, EUA, 2013), novo filme do renomado diretor Martin Scorsese, é uma odisseia no mundo de um grupo de corretores de Wall Street, onde a ambição desmedida impera sem qualquer restrições.
Baseado na vida do corretor Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), cuja trajetória foi repleta de drogas, excessos e fraudes, acompanhamos sua evolução de trabalhador inocente vindo de uma família pobre para milionário dono de uma grande empresa. Jordan é um verdadeiro “self made man”, que vende sua trajetória como exemplo da concretização do sonho americano. Afinal, segundo ele, quem não quer ficar rico?
![o-lobo-de-wall-street-2013-de-martin-scorsese-critica-4](https://i0.wp.com/www.interrogacao.com.br/wp-content/uploads/2014/02/o-lobo-de-wall-street-2013-de-martin-scorsese-critica-4.jpg?resize=600%2C300)
Suas competências como vendedor vão muito além da sua área de atuação, e seu principal produto é ele mesmo. A plateia de Belfort não é formada só por seus clientes e funcionários, que muitas vezes o adoram quase como um deus, mas também pelo próprio espectador do filme. Através de várias falas diretamente para câmera, Jordan não está só contando a sua história, mas vendendo‑a para você, criando simpatia e ganhando sua confiança. Ao mesmo tempo que suas atitudes são intoleráveis, é difícil não sentir certa fascinação por sua “sinceridade” e carisma. É um sentimento muito parecido com aquele criado por alguns dos personagens principais do Woody Allen, que as vezes ele mesmo interpreta, ao se justificar ao espectador o seu comportamento egoísta e muitas vezes bizarro.
![As brincadeiras nada usuais dentro da empresa](https://i0.wp.com/www.interrogacao.com.br/wp-content/uploads/2014/02/o-lobo-de-wall-street-2013-de-martin-scorsese-critica-3.jpg?resize=600%2C300)
Falando em não usual, leia-se extravagante e as vezes até grotesco, esqueça totalmente o politicamente correto ao assistir “O Lobo de Wall Street”, pois um dos seus destaques é justamente o humor negro, e as vezes de mau gosto. Preconceitos, drogas, masturbação, sexo, … tudo é contato e mostrado abertamente e sem censura como se fosse uma conversa entre dois amigos íntimos. Se você gostou de filmes como “TED” (2012) e “Superbad: É Hoje” (2007), provavelmente vai adorar este.
![O quase irreconhecível Leonardo DiCaprio como Leonardo DiCaprio](https://i0.wp.com/www.interrogacao.com.br/wp-content/uploads/2014/02/o-lobo-de-wall-street-2013-de-martin-scorsese-critica-2.jpg?resize=600%2C249)
Outro grande destaque do filme é seu excelente elenco. Depois de fazer dois papéis seguidos de milionário, no péssimo “O Grande Gatsby” (2013) e no ótimo “Django Livre” (2012), Leonardo DiCaprio está sensacional como o magnata Belfort, ficando muitas vezes irreconhecível de tão envolvedora que é sua atuação. Seu papel é quase como uma possível maturação de seu outro personagem, o Frank de “Prenda-me se For Capaz” (2002). Mas apesar de já ter um portfólio bem forte, este é seu sexto trabalho com o diretor Scorsese, DiCaprio ainda não conquistou nenhum Oscar, fato que pode mudar este ano com sua indicação como melhor ator pelo papel, principalmente por já ter levado o “Globo de Ouro” de 2014 na mesma categoria. “O Lobo de Wall Street” também está sendo indicado a mais quatro Oscars, o de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (o excelente Jonah Hill) e roteiro adaptado.
![Margot Robbie, Leonardo DiCaprio e o diretor Martin Scorsese](https://i0.wp.com/www.interrogacao.com.br/wp-content/uploads/2014/02/o-lobo-de-wall-street-2013-de-martin-scorsese-critica-5.jpg?resize=600%2C300)
Uma curiosidade interessante a respeito desta produção é que o verdadeiro Jordan Belfort ainda está vivo e foi bastante consultado durante a produção do filme. Além de ter passado um tempo junto com Belfort durante a preparação para o papel, DiCaprio também o consultava quando tinha alguma dúvida durante as filmagens. Segundo o ator, Jordan é bem aberto a respeito desta sua fase mais obscura, não tendo problema de falar sobre ela, inclusive em público.
![Quase um deus perante seus funcionários](https://i0.wp.com/www.interrogacao.com.br/wp-content/uploads/2014/02/o-lobo-de-wall-street-2013-de-martin-scorsese-critica-6.jpg?resize=600%2C300)
Com três horas de duração, “O Lobo de Wall Street” consegue explorar bem a sua história e personagens, tudo se desenvolve de forma tão natural que você quase não percebe o tempo passando. A não linearidade da narrativa cria um ritmo bem dinâmico, não apelando para flashbacks ou cortes muito rápidos demais somente para envolver o espectador em seu enredo. Sua carga dramática é muito bem balanceada com o seu humor, mas apesar de engraçado não classificaria como comédia. Ao final do filme fica apenas uma grande questão: como você me venderia uma caneta?
Assista o trailer legendado abaixo:
Veja também o makin off dos efeitos especiais: