Tag: curta nacional

  • Cafeka

    Cafeka

    Atire a primeira pedra aque­le ou aque­la que ten­ha um tan­to de vício no café e até hoje não se sen­tiu meta­mor­fos­ea­do após goles da bebi­da mág­i­ca. Embar­can­do nes­sa, dig­amos, pre­mis­sa de que o café — e até a fal­ta dele — pode causar as mais diver­sas sen­sações e jun­tan­do ideias de Kaf­ka, com mui­ta imag­i­nação, que o cur­ta Cafe­ka (Brasil, 2011) traz uma meta­mor­fose inusitada.

    O roteiro de Cafe­ka é a meta­mor­fose de seres impreg­na­dos em copos — aque­les clás­si­cos de iso­por — de café. Estes seres surgem jus­ta­mente com gotas recém saí­das de uma cafeteira expres­sa e vão se meta­mor­fos­e­an­do em muitas out­ras fig­uras que estão aparente­mente pre­sas ness­es copos e dese­jam sair e cri­ar vida. Os sen­ti­dos de mutação e trans­for­mação são expos­tos de for­ma magis­tral insin­uan­do, de for­ma muito cria­ti­va, a demên­cia do uso abu­si­vo do café.

    Uma viagem que pode até ser non­sense para os poucos não apre­ci­adores da bebi­da mág­i­ca, mas que mes­mo assim não deixa de ser inter­es­sante. Cafe­ka é um stop-motion impecáv­el que mostra 400 copos em ple­na trans­for­mação inspi­ra­da na obra mais con­heci­da de Franz Kaf­ka, A Meta­mor­fose. A ani­mação lev­ou quase um ano para ser fei­ta e envolveu uma boa equipe orga­ni­za­da pelo estú­dio Alo­pra, de Por­to Ale­gre.

    Con­fi­ra o site da Alo­pra Estú­dio e fotos do Mak­ing Of de Cafe­ka.

  • Amassa que elas gostam

    Amassa que elas gostam

    Con­ven­hamos que há sem­pre um número maior de mul­heres recla­man­do das ati­tudes mas­culi­nas do que elo­gian­do as mes­mas. Sem­pre há um garan­hão, para não usar out­ros nomes pejo­ra­tivos, por trás das histórias de decepção fem­i­ni­nas. Em Amas­sa que Elas Gostam (1998), de Fer­nan­do Coster surge uma inusi­ta­da história de amor que deixa a dúvi­da pairan­do no ar: afi­nal o que querem as mulheres?

    Ana é mais uma mul­her que sem­pre se sente atraí­da por caras ¨erra­dos¨ e se envolve em rela­ciona­men­tos esquisi­tos. Ela é cas­ta e cert­in­ha, até que por um dess­es aca­sos diários, com situ­ações um tan­to excên­tri­c­as, con­hece o machão Vald­is­nei, um homem real­mente difer­ente. Ana não poupará esforços para ter o homem aos seus pés, custe o que custar.

    Amas­sa que Elas Gostam é um cur­ta irôni­co sobre o eter­no dile­ma fem­i­ni­no rela­ciona­do a home­ns cer­tos e/ou erra­dos. Mis­tu­ran­do pes­soas reais com ani­mação clás­si­ca de stop-motion de mas­sa mod­e­lar, ele faz pia­da com situ­ações de rela­ciona­men­tos, sex­u­al­i­dade e ati­tudes tipi­ca­mente fem­i­ni­nas. Uma comé­dia para se diver­tir, e bem, qual­quer pes­soa con­hece alguém como Ana.

  • O Resto é Silêncio

    O Resto é Silêncio

    O que você faria se não pudesse ouvir? Como se comu­nicar sem o uso da palavra fal­a­da? Garan­to que apren­de­ria a lidar com os gestos, prestaria mais atenção nas expressões das pes­soas e enx­er­garia a palavra de out­ro modo, sem o som, mas com mais sig­nifi­cação na for­ma e no sen­ti­do. E é dessas per­cepções que o cur­ta O Resto é Silên­cio (2003), de Paulo Halm, tra­ta.

    Lucas é um garo­to sur­do que vive aten­ta­mente em prestar atenção nos gestos das pes­soas, várias vezes ele vai até a loja de dis­cos somente para obser­var as expressões. Mas além dis­so, Lucas gos­ta mes­mo é das palavras e é na poe­sia que o jovem tem suas maiores sen­sações e con­segue expressá-las através da lín­gua de Libras. Ao con­hecer Clara, a nova cole­ga do colé­gio para defi­cientes audi­tivos, ele desco­bre que exis­tem muitos out­ros meios de enten­der os sons que o mun­do pos­sui e isso muda aos poucos a vida de Lucas.

    O Resto é Silên­cio é fil­ma­do todo em lín­gua de Libras e os atores são todos sur­dos. O dire­tor faz uso inten­so do silên­cio e das sen­sações de um defi­ciente audi­ti­vo comum como as tran­sições entre som e silên­cio que muitos sen­tem. Ain­da, mostra um pouco do cotid­i­ano dess­es jovens, que tem uma vida com­ple­ta­mente adap­ta­da porém em nada difer­ente dos outros.
    É a poe­sia, não somente das palavras que o garo­to encon­tra, mas nos gestos e nas for­mas que os per­son­agens reais de O Resto é Silên­cio encon­tram para explicar o mun­do. Para Lucas as palavras são sinestési­cas, elas pos­suem for­mas, cheiros e val­ores difer­entes do som. Elas se tor­nam poe­sia para ele e assim pode trans­for­má-las em mág­i­ca nas suas mãos.

  • Os Filmes Que Não Fiz

    Os Filmes Que Não Fiz

    Por quais motivos muitos filmes não são feitos no Brasil? Sem­pre há alguém a quem cul­par:, o gov­er­no, a fal­ta de apoio da pop­u­lação, algu­ma pes­soa que não aceitaram colab­o­rar e até mes­mo a fal­ta de von­tade de ter que ir em bus­ca de recur­sos e apoio. O cur­ta Os Filmes Que Não Fiz, de Gilber­to Scarpa, tra­ta jus­ta­mente dos motivos mais banais de pro­je­tos cin­e­matográ­fi­cos não terem vin­ga­do e se tor­na­do películas.

    Em Os Filmes Que Não Fiz, Scarpa inter­pre­ta a si mes­mo como um dire­tor que acred­i­ta fiel­mente em seus pro­je­tos, mas que nun­ca tirou nen­hum do papel. Nos moldes de entre­vis­tas e doc­u­men­tários de dire­tores famosos, em que os atores e colab­o­radores par­tic­i­pantes dão seus depoi­men­tos, o dire­tor con­ta da sua saga de anti-herói das telonas nacionais.

    O tom cíni­co de Os Filmes Que Não Fiz é um dos ele­men­tos mais inter­es­santes, soan­do como uma críti­ca sobre o enorme número de pseu­do dire­tores atual­mente. O diretor/personagem nar­ra em um tom saudo­sista e car­in­hoso os seus roteiros mais inter­es­santes rela­tan­do cada detal­he do que pode­ria ter sido. Ele apre­sen­ta de for­ma extrema­mente diver­ti­da, e em for­ma­to de trail­er, um a um dos pro­je­tos. O cur­ta é uma espé­cie de ¨cur­tas den­tro de um cur­ta¨ dan­do um tom met­alin­guis­ti­co ao tra­bal­ho. Afi­nal, por que mes­mo muitos filmes não são feitos no Brasil?

  • Café com Leite

    Café com Leite

    Qual é a definição de família para você? Pai, Mãe e fil­hos? Hoje, o sig­nifi­ca­do desse ter­mo ultra­pas­sa as questões de gênero e quan­ti­dade, trazen­do o sim­ples sen­ti­do de pes­soas que con­vivem no mes­mo espaço, ten­tan­do um com­preen­der o out­ro. E em Café Com Leite (2007), de Daniel Ribeiro, muitas questões são lev­an­tadas no sen­ti­do de definir os papéis numa família improvisada.

    Dani­lo decide ir morar com o namora­do Mar­cos, mas como nem tudo sai como o esper­a­do, os pais dele acabam fale­cen­do num aci­dente e ele fica com a guar­da do irmão, Lucas. Ago­ra, Dani­lo pre­cisa lidar com uma vida a três: orga­ni­zar a sua relação com Mar­cos e cri­ar um novo con­ceito de família para o irmão caçula.

    Café Com Leite, tra­ta da sutileza de uma nova família, deixan­do em segun­do plano a questão da homos­sex­u­al­i­dade dos novos pais, focan­do na adap­tação de um novo modo de viv­er. O cur­ta-metragem pas­sou por inúmeros fes­ti­vais pelo mun­do trazen­do um tema polêmi­co com lev­eza e bom-humor.

    

  • O Troco

    O Troco

    Os call-cen­ters viraram uma pra­ga já nos anos 90, não há quem nun­ca teve uma recla­mação sobre as lig­ações, sem­pre em horas em que você está sem paciên­cia, das aten­dentes com vozes mecâni­cas. Quem nun­ca son­hou em uma vin­gança deli­ciosa con­tra ess­es seres do out­ro lado do tele­fone? Esse é o gostin­ho que espec­ta­dor tem em O Tro­co (2008), cur­ta de André Rolim.

    O Tro­co traz a história de uma aten­dente que ten­ta (como sem­pre) con­vencer um casal de clientes a com­prar o seu pro­du­to, o que ela não espera é que ess­es clientes este­jam cientes de que a vin­gança é um pra­to que se come deva­gar e que ela será o már­tir das aten­dentes de telemarketing.

    O gos­to de vin­gança é a chave para O Tro­co, que rec­hea­do de ele­men­tos cômi­cos dessa situ­ação cotid­i­ana, apre­sen­ta um cur­ta-metragem de 11 min­u­tos de muitas risadas. O cur­ta é sim­ples mas riquis­si­mo em diál­o­gos diver­tidos, impos­sív­el não se iden­ti­ficar na situ­ação de víti­mas do telemarketing.