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  • O Natal do Burrinho (1984), de Otto Guerra | Curta

    O Natal do Burrinho (1984), de Otto Guerra | Curta

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    O mês de dezem­bro dá às caras trazen­do em sua cos­tumeira bagagem a época do ano em que histórias de amor, redenção e mis­er­icór­dia pipocam por todos os lados. Ninguém con­segue ficar imune – e duvi­do que, depois da cap­i­tal­iza­ção do nasci­men­to de Jesus Cristo, alguém ten­ha con­segui­do. Em mea­d­os de 1843, o escritor inglês Charles Dick­ens apre­sen­ta a jor­na­da espir­i­tu­al do avar­en­to Ebenez­er Scrooge em “Um Con­to de Natal” (orig­i­nal “A Christ­mas Car­ol”). O con­to foi suces­so instan­tâ­neo e eterni­zou a mág­i­ca trans­for­mação pes­soal de um sujeito desprezív­el – mudança aux­il­i­a­da dire­ta­mente pelos encan­tos natal­i­nos. É tam­bém fru­to do mês de dezem­bro a comovente história da “Peque­na Vende­do­ra de Fós­foros”, escri­ta pelo con­heci­do Hans Chris­t­ian Ander­sen. O con­to nar­ra a desven­tu­ra de uma pobre meni­na que padece de frio, fome e solidão, enquan­to o mun­do ter­reno se refestela nas ceias de pas­sagem do ano. A história serve para lem­brar home­ns e mul­heres da fal­ta de empa­tia, sol­i­dariedade e cari­dade, princí­pios bási­cos do Natal. No uni­ver­so artís­ti­co, muitos são os exem­p­los de odes natali­nas, incluin­do pin­turas (a exem­p­lo das obras de Di Cav­al­can­ti, Anit­ta Mal­fat­ti, Goya, Rem­brandt, Ben­jamin West) e músi­cas (como o CD25 de dezem­bro”, da can­to­ra brasileira Simone, que toca em loop­ing eter­no por todo o país).

    Até mes­mo esta col­u­na cul­tur­al foi arrebata­da pelo “espíri­to de natal” ao adi­ar as impressões sobre um cur­ta-metragem com temáti­ca de suspense/terror psi­cológi­co para falar da ani­mação “O Natal do Bur­rin­ho”, pro­duzi­da há 31 anos atrás pelo dire­tor gaú­cho Otto Guer­ra e com co-direção de José Maia e Lan­cast Mota.

    Otto Guerra (Foto: Maurício Capelarri)
    Otto Guer­ra (Foto: Mau­rí­cio Capelarri)

    São rápi­dos cin­co min­u­tos para acom­pan­har a triste história de um bur­rin­ho solitário que vaga por ter­ras desér­ti­cas. Logo nos primeiros segun­dos, uma melancóli­ca tril­ha sono­ra acom­pan­ha a sorum­báti­ca cam­in­ha­da do bur­rin­ho noite aden­tro. O ani­mal guar­da cer­ta semel­hança com Bison­ho, per­son­agem da tur­ma do Ursin­ho Puff cujas feições cansadas pare­cem rev­e­lar tor­por e um “âni­mo exaus­to” – por mais que essa afir­ma­ti­va soe uma con­tradição em termos.

    Soz­in­ho, o bur­rin­ho bebe água, cho­ra no lago e dorme embaixo de uma árvore. A vida seguiria seu cur­so depres­si­vo se não fos­se por uma família que aparece no meio do deser­to. Pai, mãe e bebê chamam a atenção do bur­ro, que decide seguí-los e ajudá-los. Os ros­tos dessas pes­soas não são visíveis, mas é pos­sív­el dis­tin­guir os traços de José, Maria e Jesus em sua fuga para o Egi­to. Esse episó­dio é ampla­mente ilustra­do nas artes e pode ser inferi­do no cur­ta-metragem tan­to pela indu­men­tária das per­son­agens quan­to pela pas­sagem de sol­da­dos romanos – rep­re­sen­ta­dos pelos seus olhos raivosos e pelo estandarte com o acrôn­i­mo SPQR, frase lati­na que pode ser traduzi­da como “O Sena­do e o Povo Romano”.

    Pintura "The Nativity of Christ", de Vladimir Borovikovsky
    Pin­tu­ra “The Nativ­i­ty of Christ”, de Vladimir Borovikovsky

    Depois de enfrentar lon­gas dis­tân­cias, tem­pes­tades de areia e frio, a família e o bur­rin­ho con­seguem chegar ao des­ti­no final. Esse acon­tec­i­men­to trans­for­ma a vida do ani­mal, lançando‑o para o encan­ta­men­to dos finais felizes. No entan­to, Otto Guer­ra nos sur­preende com um des­fe­cho inusi­ta­do que, em um áti­mo de segun­do, lev­an­ta out­ro pon­to impor­tante: o quan­to as “mudanças mág­i­cas” são ver­dadeiras? Elas exis­tem ou são obje­tos da neces­si­dade fic­cional, tão comum em épocas de fim de ciclo? A pre­sença do bur­rin­ho soa como uma fábu­la dis­farça­da ou sem intenção. Mas está lá, oculta.

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    O Natal do Bur­rin­ho foi sele­ciona­do para os fes­ti­vais de Bil­bao (Espan­ha) e Ober­hausen (Ale­man­ha). Tam­bém con­quis­tou o prêmio de mel­hor cur­ta gaú­cho no Fes­ti­val de Gra­ma­do de 1984. Em uma época em que o estí­mu­lo à pro­dução e cir­cu­lação de obras nacionais não provo­ca­va inve­ja a ninguém, esbar­ran­do na fal­ta de incen­ti­vo, inter­esse e espaço – fato que, ape­sar de notáveis mel­ho­rias, per­manece até hoje -, Otto Guer­ra e sua equipe apos­taram na ani­mação. Se a crença em fábu­las for capaz de mudar a con­cepção dos finan­ciadores e do públi­co do cin­e­ma nacional, cabe uma dica: a história “O Cav­a­lo e o Bur­ro”, de Mon­teiro Lobato.

    Assista ao cur­ta com­ple­to abaixo:

  • Le Miroir

    Le Miroir

    Como você sabe que o tem­po pas­sa, que está envel­he­cen­do? Os seus olhos não se deix­am enga­nar e o espel­ho é uma das fer­ra­men­tas de apoio nes­sa jor­na­da chama­da Vida. Aque­les momen­tos sim­ples, e muitas vezes efêmeros, de se olhar na frente do espel­ho, esco­var os dentes, se pen­tear, maquiar ou faz­er a bar­ba, se fos­sem fil­ma­dos, cola­dos dia após dia, dari­am uma sequên­cia de uma vida toda e foi com essa ideia que os irmãos sue­cos Ramon e Pedro cri­aram Le Miroir (2010), “O espel­ho” em francês.

    Fil­ma­do num fan­ta­sioso plano sequên­cia Le Miroir mostra des­de uma esco­v­a­da de dentes de um garo­to de seis anos até o últi­mo desli­gar de luzes do ban­heiro do mes­mo, só que idoso. Todas as fas­es da vida, a bar­ba, as espin­has, o amor, a fil­ha, o cansaço e afins são trata­dos num úni­co ambi­ente como se o tem­po cor­resse somente no cor­po do protagonista.

    Para ficar ain­da mais impres­sio­n­ante, os dire­tores con­vi­daram o ator Pier­rick Destraz, seu pai e fil­ho reais para pro­tag­oni­zar o homem que vê sua vida através do espel­ho. A câmera sem­pre na posição dos olhos dá a ideia de lem­brança, pas­san­do uma del­i­ca­da intim­i­dade ao espec­ta­dor numa sin­to­nia bas­tante poéti­ca. Provavel­mente você não irá encar­ar o espel­ho toda man­hã da mes­ma forma.

    Você pode ver o mak­ing of do cur­ta aqui.

  • The Maker

    The Maker

    A ampul­heta do tem­po escoan­do e a neces­si­dade de cri­ar a obra per­fei­ta para que a vida ten­ha vali­do a pena, que algu­ma coisa per­maneça e con­tin­ue o que já foi feito. The Mak­er (2011), é um pre­mi­a­do cur­ta do estú­dio amer­i­cano Zeal­ous, tra­ta do tem­po como ele é, uma sucessão de even­tos e cri­ações que são con­tínuas, o eter­no retorno de for­ma positiva.

    O pequeno enre­do é pro­tag­on­i­za­do por uma criatu­ra bem ao esti­lo Tim Bur­ton, som­bria e ao mes­mo tem­po sim­páti­ca, um músi­co com o sím­bo­lo do Stradi­var­ius (famosa mar­ca de instru­men­tos de cor­da) na tes­ta. Ele corre con­tra o tem­po para dar vida a uma criatu­ra per­fei­ta, pelo menos aos seu olhos, alguém que con­tin­ue a músi­ca e a sua linhagem.

    A ani­mação é em stop-motion e cada detal­he de câmera colab­o­ra na con­strução do dra­ma que se dá através dos pequenos gestos do boneco e sua del­i­cadeza em manip­u­lar os obje­tos que darão vida à sua cri­ação além do vio­li­no, que é o instru­men­to mági­co da vida e é muito bem exe­cu­ta­do no cur­ta com a músi­ca “The Win­ter” de Paul Hal­ley. Neste vídeo você pode acom­pan­har um pouco do proces­so dos cri­adores na manip­u­lação da câmera e a magia que é fil­mar um stop-motion.

  • Kinoforum Curitiba 2012, no Teatro Caixa Cultural em Curitiba

    Kinoforum Curitiba 2012, no Teatro Caixa Cultural em Curitiba

    Vai ficar por Curiti­ba nesse feri­ado de 7 de setem­bro? Se é fã de cin­e­ma e gos­ta da arte do cur­ta-metragem o Kino­fo­rum Curiti­ba 2012 é uma óti­ma pedi­da. O mini-fes­ti­val acon­tece esse ano no teatro da Caixa Cul­tur­al durante os dias 07, 08, 09 de setem­bro com 26 cur­tas de 18 país­es nas 5 sessões do even­to que faz parte da itin­erân­cia do 23o. Fes­ti­val de Cur­tas-Metra­gens de São Paulo. O even­to tem entra­da fran­ca e ofer­ece sem­pre o mel­hor que tem rola­do da pro­dução inter­na­cional, lati­na e brasileira de cur­tas, entre os filmes que fazem parte da pro­gra­mação estão vence­dores do Urso de Ouro e Fes­ti­val de Sun­dance.

    Cada sessão terá nova pro­gra­mação. Os debate­dores serão William Hine­strosa e Alex Andrade de Paulo e Sil­va, do Kino­fo­rum de SP e Paulo Camar­go, do Cader­no G da Gaze­ta do Povo de Curiti­ba. A medi­ado­ra será Denize Arau­jo, Dire­to­ra do Cli­pagem — Cen­tro de Cul­tura Con­tem­porânea — e Coor­de­nado­ra da pós-grad­u­ação em Cin­e­ma da UTP

    Con­fi­ra a Programação:

    7 de setem­bro de 2012 (sex­ta-feira)
    19h
    — ”Rafa” – João Salav­iza (Por­tu­gal, 25min)
    Às seis da man­hã Rafa desco­bre que a mãe está deti­da pela Polí­cia. Car­reira: Urso de Ouro, Berlim, 2012.

    - “Um Pas­seio Mati­nal” (A Morn­ing Stroll) – Grant Orchard (Reino Unido, 7min)
    Quan­do um nova-iorquino pas­sa por uma gal­in­ha, na rua, durante seu pas­seio mati­nal, somos lev­a­dos a ques­tionar qual dos dois é o ver­dadeiro cos­mopoli­ta. Mel­hor Ani­mação, Sun­dance 2012; BAFTA Mel­hor Ani­mação 2012 e Indi­cação ao Oscar de mel­hor ani­mação 2012.

    - “Cole­gas de Equipe” (Team­mate) – Maya Paz (Israel, 9min)
    Eleanor fica men­stru­a­da pela primeira vez, bem no dia em que deve com­pe­tir num encon­tro region­al de natação. Ela esconde isso do resto de sua equipe, que já não a acei­ta bem.

    - “Going Kin­s­ki” – Smokey Nel­son (Peru, 23min)
    O fil­ho peru­ano bas­tar­do de Klaus Kin­s­ki, con­ce­bido enquan­to ele fil­ma­va Fitz­car­ral­do, ofer­ece um tour com a temáti­ca da cidade de Iqui­tos, basea­da no filme, mas desco­bre que quase ninguém o assistiu.

    - “Viraremos Petróleo” (We’ll Become Oil) – Mihai Gre­cu (Romê­nia, 8min)
    Pais­agens ári­das mostram traços de um con­fli­to, um inex­plicáv­el esta­do de crise toma con­ta dos espaços, trans­for­man­do a geografia pura­mente min­er­al num pal­co de guer­ra. Mel­hor Ani­mação Tam­pere FF, Fin­lân­dia, 2012.

    8 de setem­bro de 2012 (sába­do)
    15h30
    — “O Pavio: ou como queimei Simon Boli­var (Kako Sam Zapalio Simona Boli­vara) – Igor Drl­ja­ca (Bós­nia-Herze­gov­ina, 9min)
    A par­tir de filmes caseiros, o doc­u­men­tário mostra como o esforço de um garo­to, para evi­tar uma nota baixa em um tra­bal­ho de esco­la, na Sara­je­vo dos anos 1990, pode ter con­tribuí­do para uma guer­ra civil.

    - “A arte de andar pelas ruas de Brasília” – Rafaela Came­lo (Brasil/DF, 17min)
    Duas garo­tas se encon­tram na cidade. Fes­ti­val de Brasília, 2011. Mostra do Filme Livre, 2011. Mel­hor Cur­ta, For Rain­bow, 2011,

    - “Oh Willy…” — Emma de Swaef e Marc James Roels (Bél­gi­ca, 16min)
    Força­do a voltar para suas raízes natur­is­tas, Willy desajeitada­mente parte para uma nobre vida sel­vagem. Grande Prêmio, Hol­land Ani­ma­tion FF, 2012. Grande Prêmio e Prêmio do Públi­co , Ani­mafest, 2012. Mel­hor Cur­ta, Ani­film Tebron, 2012.

    - “Tudo Bem” – Christo­pher Faust Pereira (Brasil/PR, 11min)
    Cami­la ter­mi­nou recen­te­mente seu namoro. Divide ago­ra seu tem­po entre bal­adas, ami­gas e seu cachorro.

    - “A Fes­ta” (Che­fu) – Adri­an Sitaru (Romê­nia, 18min)
    Neli, 55, vai para Bucareste por uns dias deixan­do seu fil­ho Dan, de 17, soz­in­ho em casa. Quan­do ela vol­ta, os viz­in­hos cor­rem para con­tar sobre a fes­ta que acon­te­ceu em sua ausên­cia. Onda Cur­ta Award, Indie Lis­boa, 2012.

    19h
    — “Café Reg­u­lar, Cairo” – Ritesh Batra (Egi­to, 11min)
    Num café lota­do no Cairo, uma relação enfrenta seu primeiro grande teste. Prêmio da Crit­i­ca, Ober­hausen, 2011. Menção Hon­rosa, Tribeca Film Fes­ti­val, 2011. 

    - “Esque­cerei esse dia” (Ia Zabubu Etot Dien) – Ali­na Rud­nit­skaya (Rús­sia, 24min)
    O que uma mul­her está pen­san­do e sentin­do pouco antes de faz­er um abor­to. Mel­hor Doc­u­men­tário, Varsóvia, 2011. Mel­hor cur­ta doc­u­men­tário, S. Peters­bur­go, 2011.

    - “Bal­aio de Gato” (Sac de Noeuds) — Eve Duchemin (Bél­gi­ca, 25min)
    Brux­e­las. Três jovens arru­a­ceiros mex­em com os pas­sageiros de um bonde e um deles chama a atenção de Anna. Fes­ti­val Inter­na­cional de Film de Femmes de Creteil, França, 2012.

    - “A Maldição” (The Curse) – Fyzal Bouli­fa (Mar­ro­cos, 16min)
    Fatine se arriscou a sair de sua vila para se encon­trar com seu amante mais vel­ho. Ao ser sur­preen­di­da por um garo­to, tudo o que ela quer é voltar para casa. Mel­hor Cur­ta Quinzena dos Real­izadores, Cannes, 2012. Mel­hor cur­ta e fotografia, UK Fuji­film Com­pe­ti­tion, 2012.

    - “Bonde” (Tram) – Michaela Pavla­to­va (Rep. Tcheca, 7min)
    Uma motorista de bonde vive mais um dia ente­di­ante de tra­bal­ho até que cha­coal­hões e o atri­to com a rua e o rit­mo da máquina de bil­hetes des­per­tam uma reação eróti­ca nela. Mel­hor Ficção e Prêmio da Críti­ca, Annecy, França, 2012. Mel­hor Cur­ta, Greno­ble, 2012.

    9 de setem­bro de 2012 (domin­go)
    15h30
    — “Af Antü” – Alber­to Gajar­do (Chile, 16min)
    Uma família Pehuenche é manip­u­la­da e induzi­da a aban­donar sua cul­tura por outra.

    - “Lila” – Sebas­t­ian Dietsch (Argenti­na, 15min)
    O fute­bol e suas intrigas.

    - “Nem a mim, nem a ti” – Tomás von der Osten (Brasil/PR, 13min)
    De repente uma saudade e uma von­tade de chorar aque­les raios de Sol. Mostra de Cin­e­ma de Tiradentes, 2012.

    - “Hum­boldt” — René Castil­lo Ibac­eta e Nico­las Cortes (Chile, 12min)
    Pre­so em uma ilha ao norte do Chile, um pin­guim decide retornar para a Antár­ti­ca. Fes­ti­val de Cine de Viña, Chile, 2012.

    - “A história de alguns” (The Sto­ry of Ones) – Lan Pahm Ngoc (Viet­nã, 9min)
    Uti­lizan­do o som de pro­gra­mas banais de rádio Viet­na­mi­tas como sua base de áudio, o filme acres­cen­ta fotos e ima­gens, fornecen­do um ros­to e um sen­so de con­tex­to ao não visto.

    - “Cupi­do” (Cupid) – John Dion (EUA, 15min)
    Um cupi­do cansa­do, e alcoóla­tra, redesco­bre o amor. Col­lege Tele­vi­sion Awards, Hol­ly­wood, 2012.

    19h
    — “Éguas e Papa­gaios” (Yeguas y Cotor­ras) – Natalia Gara­gi­o­la (Argenti­na, 30min)
    Del­fi­na e suas duas mel­hores ami­gas vão pas­sar seu últi­mo dia jun­tas na fazen­da da família, antes da chega­da dos con­vi­da­dos de seu casa­men­to. Sem­ana da Críti­ca, Cannes, 2012.

    - “Obri­ga­do” (Spa­si­bo) – Anaïs Sar­ti­ni (Rússia/França, 13min)
    Um ator francês vai a São Peters­bur­go para um fes­ti­val de cin­e­ma, mas percebe que ninguém con­segue vê-lo ou ouvi-lo. Ele então encon­tra um gay rus­so que tem o mes­mo problema.

    - “Apneia” (Apnoe) – Har­ald Hund (Áus­tria, 10min)
    Últi­mo filme de uma trilo­gia sobre a gravi­dade, mostra um dia na vida de uma família.

    - “Lox­oro” – Clau­dia Llosa (Peru, 18min)
    Lima, Peru. Maku­ti, uma mãe solteira na meia idade procu­ra deses­per­ada­mente por sua fil­ha, ambas trans­sex­u­ais. Ted­dy Bear, Fes­ti­val de Cin­e­ma de Berlim, 2012.

    - “Por­cos Raivosos” – Isabel Penoni e Leonar­do Sette (Brasil/PE, 10min)
    Um grupo de mul­heres decide fugir ao desco­brir que seus mari­dos se trans­for­maram mis­te­riosa­mente em por­cos furiosos. Quinzena dos Real­izadores, Cannes, 2012.

    Serviço

    Kino­fo­rum Curiti­ba 2012

    Local: CAIXA Cul­tur­al Curiti­ba – Rua Con­sel­heiro Lau­rindo, 280 – Curiti­ba (PR)
    Data: de 7 a 9 de setem­bro de 2012 (sex­ta-feira a domingo)
    Horário: sex­ta às 19h, sába­do e domin­go às 15h30 e às 19h
    Ingres­sos: Entra­da fran­ca. (Ingres­sos indi­vid­u­ais serão dis­tribuí­dos 1 hora antes de cada sessão)
    Bil­hete­ria: (41) 2118–5111 (de terça a sex­ta-feira das 12h às 20h, sába­do das 16h às 20h e domin­go das 16h às 19h)
    Clas­si­fi­cação etária: Livre para todos os públicos
    Lotação máx­i­ma: 125 lugares (2 para cadeirantes)

  • Las Palmas

    Las Palmas

    Imag­ine um bebê que pilota uma moto, fuma e ado­ra encher a cara num bar servi­do por garçons mar­i­onetes. A mini-tur­ista arru­a­ceira que mal sabe andar e falar, chega à cidade ator­men­tan­do a vida dos empre­ga­dos e clientes do bar, toman­do con­ta do lugar, beben­do e comen­do tudo o que vê pela frente. Essa é a história do cur­ta-metragem Las Pal­mas (2011), do sue­co Johannes Nyholm.

    O cur­ta-metragem de 13 min­u­tos tem como per­son­agem prin­ci­pal a própria fil­ha de Nyholm de ape­nas um ano, mas que inter­pre­ta uma sen­ho­ra de meia-idade com espíri­to aven­tureiro, que chega à cidade em um feri­ado de sol em bus­ca de novas amizades para cur­tir um pouco o seu tempo.

    Com uma óti­ma tril­ha sono­ra com­pos­ta por Björn Ols­son e Goyo Ramos, Las Pal­mas é real­mente engraça­do. A saca­da de Nyholm em uti­lizar as car­ac­terís­ti­cas de um bebê, como a fal­ta de jeito para com­er, a espon­tanei­dade ou a difi­cul­dade em andar por estar em fase de cresci­men­to, dan­do-nos a ideia de uma sen­ho­ra bêba­da é sen­sa­cional. Aliás, os out­ros per­son­agens, inter­pre­ta­dos por mar­i­onetes, tam­bém são muito diver­tidos, pois pare­cem estar indig­na­dos e estáti­cos diante do com­por­ta­men­to da turista.

    Las Pal­mas foi exibido em Curiti­ba no ano pas­sa­do pelo 1º Kino­fo­rum, Fes­ti­val Inter­na­cional de Cur­tas-Metra­gens de São Paulo, que sele­cio­nou qua­tro cur­tas par­tic­i­pantes da Sem­ana da Críti­ca do Fes­ti­val de Cannes de 2011.

    O trail­er do cur­ta está disponív­el pelo nome Baby trash­es bar in Las Pal­mas, mas pode ser vis­to na ínte­gra pela pági­na do Face­book de Nyholm. Alguns o con­sid­er­am uma ideia de humor negro, já eu acho uma grande brin­cadeira que resul­tou em um óti­mo tra­bal­ho. Ah, e não se pre­ocupe o que ela bebe é ape­nas suco.

  • The Chase

    The Chase

    The Chase (2012) é um pro­je­to pes­soal do amante de cin­e­ma e pub­lic­itário chileno de 25 anos, Tomas Ver­gara. O cur­ta-metragem de ani­mação em 3D foi pro­duzi­do em uma cabana iso­la­da em uma flo­res­ta próx­i­ma a San­ti­a­go, no Chile, na qual Ver­gara per­maneceu durante seis meses. Como o cri­ador é um auto­di­da­ta, e a ani­mação foi o seu primeiro tra­bal­ho como dire­tor e edi­tor, as eta­pas de sua pro­dução, os livros e filmes que servi­ram de inspi­ração para a con­clusão da obra (um Top 250 filmes), o mak­ing-of, as ideias e con­ceitos, o ambi­ente em que ele foi pro­duzi­do, foram todas divul­gadas pas­so a pas­so em um blog cri­a­do exclu­si­va­mente para o curta.

    The Chase pos­sui 13 min­u­tos e con­ta a história de um assas­si­no profis­sion­al que tin­ha pela frente uma mis­são sim­ples para realizar, mas que, ines­per­ada­mente, aca­ba se tor­nan­do o alvo e tudo se trans­for­ma numa cor­ri­da pela sua própria sobrevivência.

    A tril­ha sono­ra, o aspec­to dos per­son­agens como bonecos de cera, as cores, a con­strução da nar­ra­ti­va e o proces­so de cri­ação, são alguns dos ele­men­tos que fazem de The Chase uma óti­ma ani­mação e um grande exem­p­lo de moti­vação para quem gos­ta do assun­to e pre­tende cri­ar a sua própria obra. Pois como diz Tomas Ver­gara em seu blog: “To make this thing hap­pen it will take hard work thought”*.

    *Para que isso acon­teça será necessário bas­tante trabalho.

  • Sebastian’s Voodoo

    Sebastian’s Voodoo

    Os bonecos de vodu — religião africana que aparente­mente não tem muito a ver com os bonecos — foram pop­u­lar­iza­dos prin­ci­pal­mente com filmes de ter­ror se tor­nan­do ícones quan­do se tra­ta de maldições con­tra alguém. A práti­ca se resume em cri­ar man­ual­mente um boneco e alfinetá-lo com agul­has afim de atin­gir a pes­soa amaldiçoa­da através desse rit­u­al. Com esse tema, aparente­mente obscuro, o dire­tor paraguaio, errad­i­ca­do nos E.U.A., Joaquim Bald­win con­stru­iu a ani­mação em 3D Sebas­tian’s Voodoo (2008).

    Os pequenos bonecos de vodu, pen­dura­dos em série, sabem que para se lib­ertarem terão que sac­ri­ficar um dos seus pares. Um deles, ner­voso porém deci­di­do, arquite­ta a sua fuga de um gan­cho que está pen­dura­do e se vol­ta con­tra o homem que tira a vida de alguém alfine­tan­do o coração dos bonecos. Usan­do téc­ni­cas de 3D e cuidan­do com pequenos detal­h­es, como a tex­tu­ra da estopa que dá o tom da super­fí­cie do boneco, se movi­men­tan­do con­forme a res­pi­ração ofe­gante dele, nos levan­do a acred­i­tar que ele de fato existe e que esta­mos pres­en­cian­do a sua sofri­da situação.

    O jovem Bald­win desen­volveu Sebas­tian’s Voodoo em um tra­bal­ho de cur­so na UCLA Ani­ma­tion Work­shop, onde estu­dou ani­mação em 2008 e des­de lá vem gan­han­do vários prêmios com seus cur­tas, alguns deles — e seus respec­tivos mak­ing off — podem ser vis­to no seu canal do Vimeo.

  • Handmade

    Handmade

    Depois de assi­s­tir o cur­ta aí embaixo, diga aí, não parece tra­bal­ho de caras como o Michel Gondry, Spike Jonze e afins? Mas Hand­made (2008) é brasileiro e resul­ta­do do primeiro tra­bal­ho-não-com­er­cial de Denis Kamio­ka, ou mais con­heci­do como Cis­ma. O cur­ta é cheio de metá­foras del­i­cadas com boas dos­es de cria­tivi­dade, sen­si­bil­i­dade e toques de surrealismo. 

    O ciclo de vida de um rela­ciona­men­to, o encan­ta­men­to do íni­cio e as divergên­cias que vão ali­men­tan­do o fim de um casal mon­tam o enre­do de Hand­made, que é reple­to de min­u­ciosas ima­gens. O casal é inter­pre­ta­do por Luisa Love­foxxx (vocal­ista da ban­da Can­sei de ser Sexy) e Dan Nak­a­gawa (que tam­bém é cantor). 

    A direção de arte e a pós pro­dução são dois belos trun­fos de Hand­made, que segun­do Cis­ma era um tra­bal­ho que dev­e­ria ser total­mente o opos­to dos cos­tumeiros com­er­ci­ais que pro­duzia. O esti­lo viria a ser recon­heci­do nos próx­i­mos tra­bal­hos dele que con­tin­uar­i­am a usar metá­foras e surrealismo.

    Acom­pan­he mais tra­bal­hos do artista que merece atenção aqui.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=30Z1dPfYRZ0

  • Estou Aqui

    Estou Aqui

    Spike Jonze é um dess­es dire­tores que parece que sem­pre está fazen­do algo fofo para agradar a qual­quer um. Há pouco tem­po foi acla­ma­do por diri­gir o exce­lente clipe da músi­ca The Sub­urbs, do álbum homôn­i­mo, do Arcade Fire e pos­te­ri­or cur­ta-media-metragem Scenes from the Sub­urbs. A car­reira do dire­tor é exten­sa, prin­ci­pal­mente pelo seu bom gos­to na direção de video­clipes e pelos tra­bal­hos geni­ais com o ami­go-par­ceiro Char­lie Kauf­man nos óti­mos Adap­tação (Adap­ta­tion, EUA, 2002) e Quero ser John Malkovich (Being John Malkovich, EUA, 1999).

    O cur­ta-media-metragem Estou Aqui (I’m Here, 2010) é reple­to de ideias já vis­tas em seus tra­bal­hos. Com um sub­tí­tu­lo de Uma história de amor em um mun­do abso­lu­to o enre­do se tra­ta basi­ca­mente da história de amor de dois robôs que vão con­stru­in­do sua relação através de uma doação mútua que os colo­ca num pata­mar até mais sen­sív­el do que os sen­ti­men­tos humanos. Viven­do num mun­do que os robôs coex­is­tem com as pes­soas, onde acabaram gan­han­do muitas car­ac­terís­ti­cas sen­ti­men­tais destes, o casal vai apren­den­do a lidar com as difer­enças do fato de sen­tirem que devem cuidar um do outro.

    Claro que Estou Aqui não surgiu por aca­so, o cur­ta foi cri­a­do em uma parce­ria com a mar­ca de vod­ca Abso­lut, sendo que o dire­tor soube muito bem unir a pro­pa­gan­da com os sen­ti­dos de comoção do espec­ta­dor. O cur­ta pas­sou por alguns fes­ti­vais e foi muito bem rece­bido prin­ci­pal­mente pela estéti­ca cria­ti­va e ao mes­mo tem­po sim­plória que se apre­sen­ta. Lem­bran­do bas­tante o tra­bal­ho do francês Michel Gondry, Estou aqui é um cur­ta tocante onde a vida toma pro­porções fan­tás­ti­cas e sen­síveis, uma bela metá­fo­ra do que se entende por amor.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=dy5MufiKTX0&feature=related

    httpv://www.youtube.com/watch?v=uVa07lwhTtU&feature=related

  • Rotting Hill

    Rotting Hill

    É inegáv­el que os zumbis estão na moda. Assim como vam­piros, lobi­somens e afins se tornaram pro­du­to de con­sumo, os clás­si­cos per­son­agens de Romero nos anos 60 tam­bém se tornaram alvo fácil da cul­tura pop. Claro, que des­de A Noite dos Mor­tos Vivos (1968), e out­ros clas­si­cos do gênero, os zumbis nun­ca mais foram os mes­mos e ago­ra além de assus­ta­dores gan­ham for­mas mais diver­tidas e até, dig­amos, român­ti­cas como mostra o cur­ta Rot­ting Hill (2011) — numa diver­ti­da brin­cadeira com o famoso lon­ga român­ti­co Um lugar chama­do Not­ting Hill (1999) - pro­duzi­do pelos alunos da Media Design School, na Nova Zelândia.

    Um casal feliz em ple­na vida cotid­i­ana nas situ­ações como obser­var o céu azul, namorar e se ali­men­tar. Tudo muito nor­mal se o casal não fos­se dois zumbis com­ple­ta­mente nor­mais, claro, den­tro dos padrões de nor­mal­i­dade dos mor­tos-vivos. O roteiro de Rot­ting Hill é sim­ples e cur­to — ape­nas qua­tro min­u­tos — mas prom­ete arran­car muitas risadas. Afi­nal todos tem o dire­ito de amar, não é?

    E não é somente o roteiro do cur­ta que acom­pan­ha o tema atu­al, os efeitos em CGI são de boa qual­i­dade — e alguns proces­sos são mostra­dos no fim do cur­ta — tor­nan­do a exper­iên­cia ain­da mais diver­ti­da e para muitos até menos nojen­ta. Rot­ting Hill lem­bra o diver­tido Zum­bilân­dia (2010), mostran­do que os zumbis são criat­uras de sen­ti­men­to também!

    Rot­ting Hill from Media Design School on Vimeo.

    Mak­ing Of:

    Rot­ting Hill — Mak­ing Of from Media Design School on Vimeo.

  • Cafeka

    Cafeka

    Atire a primeira pedra aque­le ou aque­la que ten­ha um tan­to de vício no café e até hoje não se sen­tiu meta­mor­fos­ea­do após goles da bebi­da mág­i­ca. Embar­can­do nes­sa, dig­amos, pre­mis­sa de que o café — e até a fal­ta dele — pode causar as mais diver­sas sen­sações e jun­tan­do ideias de Kaf­ka, com mui­ta imag­i­nação, que o cur­ta Cafe­ka (Brasil, 2011) traz uma meta­mor­fose inusitada.

    O roteiro de Cafe­ka é a meta­mor­fose de seres impreg­na­dos em copos — aque­les clás­si­cos de iso­por — de café. Estes seres surgem jus­ta­mente com gotas recém saí­das de uma cafeteira expres­sa e vão se meta­mor­fos­e­an­do em muitas out­ras fig­uras que estão aparente­mente pre­sas ness­es copos e dese­jam sair e cri­ar vida. Os sen­ti­dos de mutação e trans­for­mação são expos­tos de for­ma magis­tral insin­uan­do, de for­ma muito cria­ti­va, a demên­cia do uso abu­si­vo do café.

    Uma viagem que pode até ser non­sense para os poucos não apre­ci­adores da bebi­da mág­i­ca, mas que mes­mo assim não deixa de ser inter­es­sante. Cafe­ka é um stop-motion impecáv­el que mostra 400 copos em ple­na trans­for­mação inspi­ra­da na obra mais con­heci­da de Franz Kaf­ka, A Meta­mor­fose. A ani­mação lev­ou quase um ano para ser fei­ta e envolveu uma boa equipe orga­ni­za­da pelo estú­dio Alo­pra, de Por­to Ale­gre.

    Con­fi­ra o site da Alo­pra Estú­dio e fotos do Mak­ing Of de Cafe­ka.

  • A Dama e a Morte

    A Dama e a Morte

    A Morte já foi human­iza­da inúmeras vezes na Lit­er­atu­ra, Quadrin­hos e no Cin­e­ma. Como não lem­brar, por exem­p­lo, da Morte que entrou em greve no livro As Inter­mitên­cias da Morte, do por­tuguês José Sara­m­a­go. No cur­ta A Dama e a Morte (La dama y la muerte, 2009), de Javier Recio Gra­cia, gan­hador do Goya espan­hol — equiv­a­lente ao Oscar — de mel­hor ani­mação, a morte é aque­la figu­ra clás­si­ca com uma enorme capa pre­ta e ros­to de caveira. E prin­ci­pal­mente, com a teimosia iner­ente a alguém que deve cumprir sua função.

    Uma sen­ho­ra idosa olha nos­tál­gi­ca pela janela do quar­to. Vemos uma fotografia de um sen­hor que ela acari­cia com saudade. Como se esperasse algu­ma coisa ela se dei­ta para dormir e aca­ba ten­do um belo son­ho com sim­páti­ca Morte a levan­do, final­mente. Ela só não con­ta­va com a astú­cia de um médi­co que vai faz­er qual­quer coisa para que ela per­maneça, afi­nal, essa é a sua reputação.

    A Dama e a Morte é uma diver­ti­da ani­mação em 3D com cores ani­madas e detal­h­es diver­tidos. Ques­tiona jus­ta­mente a escol­ha de alguém quer­er ir e o dev­er do médi­co de sal­var. Sem nen­hu­ma fala a ani­mação prom­ete reflexão risadas prin­ci­pal­mente com a dis­pu­ta entre a Morte e o médi­co reconhecido.

    La dama y la muerte from Dere­cho a Morir Dig­na­mente on Vimeo.

  • A Tragédia Shakespearina (Uma Comédia)

    A Tragédia Shakespearina (Uma Comédia)

    Crises cria­ti­vas são mais que comuns para quem tra­bal­ha com pro­duções, seja o seg­men­to que for. Difí­cil mes­mo é imag­i­nar um escritor como Shake­speare em ple­na crise cria­ti­va ao escr­ev­er o clás­si­co Romeu e Juli­eta. E com essa ideia, a ani­mado­ra Anna Cohen hom­e­nage­an­do o enig­máti­co escritor, deu uma for­ma diver­ti­da ao A Tragé­dia Shake­spea­ri­na (Uma Comé­dia) sobre o impasse do autor em relação a decisão das vidas do casal mais con­heci­do das tragé­dias Shakespearianas.

    Em um quar­to reple­to de refer­ên­cias pop, porém incor­padas em ele­men­tos medievais, o escritor amas­sa papéis, um atrás do out­ro. A difi­cul­dade de Shake­speare em finalizar mais uma história de amor está o deixan­do impa­ciente. Ao sen­tar nova­mente em sua mesa nota que o casalz­in­ho cria vida em for­ma de bonecos pal­i­tos, dan­do sug­estões para que o escritor final­mente dê fim a peça. Sug­erindo situ­ações, algu­mas além da sua época, os bonecos pas­seiam por alguns finais prováveis, mas o escritor procu­ra algo além do sen­so comum.

    A Tragé­dia Shake­spea­ri­na (Uma Comé­dia) é ani­ma­do em stop-motion clás­si­co e em Flash, crian­do for­ma como tra­bal­ho final da dire­to­ra na for­mação pela Emu­na Col­lege, em Jerusalém. A téc­ni­ca é tra­bal­ha­da de for­ma sim­ples e a ani­mação tem alguns detal­h­es bem car­i­catos para dar for­ma diver­ti­da ao desen­ro­lar da crise como por exem­p­lo um car­taz, na frente da mesa, com uma pin-up medieval, dan­do um cli­ma bas­tante irôni­co e atem­po­ral. O cur­ta é uma diver­ti­da hom­e­nagem ao 395º aniver­sário de uma das fig­uras mais enig­máti­cas da história da Literatura.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=V2CjZgjLKNw

  • Amassa que elas gostam

    Amassa que elas gostam

    Con­ven­hamos que há sem­pre um número maior de mul­heres recla­man­do das ati­tudes mas­culi­nas do que elo­gian­do as mes­mas. Sem­pre há um garan­hão, para não usar out­ros nomes pejo­ra­tivos, por trás das histórias de decepção fem­i­ni­nas. Em Amas­sa que Elas Gostam (1998), de Fer­nan­do Coster surge uma inusi­ta­da história de amor que deixa a dúvi­da pairan­do no ar: afi­nal o que querem as mulheres?

    Ana é mais uma mul­her que sem­pre se sente atraí­da por caras ¨erra­dos¨ e se envolve em rela­ciona­men­tos esquisi­tos. Ela é cas­ta e cert­in­ha, até que por um dess­es aca­sos diários, com situ­ações um tan­to excên­tri­c­as, con­hece o machão Vald­is­nei, um homem real­mente difer­ente. Ana não poupará esforços para ter o homem aos seus pés, custe o que custar.

    Amas­sa que Elas Gostam é um cur­ta irôni­co sobre o eter­no dile­ma fem­i­ni­no rela­ciona­do a home­ns cer­tos e/ou erra­dos. Mis­tu­ran­do pes­soas reais com ani­mação clás­si­ca de stop-motion de mas­sa mod­e­lar, ele faz pia­da com situ­ações de rela­ciona­men­tos, sex­u­al­i­dade e ati­tudes tipi­ca­mente fem­i­ni­nas. Uma comé­dia para se diver­tir, e bem, qual­quer pes­soa con­hece alguém como Ana.

  • Estreia do curta “Naquela Noite Ele Sonhou com um Mar Azul”, em Curitiba

    Estreia do curta “Naquela Noite Ele Sonhou com um Mar Azul”, em Curitiba

    Estréia do cur­ta-metragem Naque­la Noite Ele Son­hou com um Mar Azul, as 20h, na Cin­e­mate­ca, em Curiti­ba — Paraná
    Entra­da Gratuita

    Naque­la Noite Ele Son­hou com um Mar Azul ficção, cor, dig­i­tal, 20min, PR, 2010
    Direção: Aris­teu Araújo — cineas­ta e jor­nal­ista. É tam­bém edi­tor da Revista Movi­o­la. Tra­bal­ha com direção de vídeos. Real­i­zou os cur­tas Crime é silên­cio (2002); Ruiv­os (2004); Espera (2006) e Estela (2009).

    Ficha Téc­ni­ca:
    pro­dução exec­u­ti­va: Aris­teu Araújo
    roteiro: Aris­teu Araújo e Fer­nan­do Secco
    fotografia: Thaís Grechi
    mon­tagem: Aris­teu Araújo e Fer­nan­da Gadotti
    som: Denise Soares e Guil­herme Empke
    direção de arte: Juliana De Bonis
    cenografia e fig­uri­no: André Von Schimonsky
    tril­ha sono­ra: Láu­dan­no e China
    músi­ca orig­i­nal: Láudanno
    pro­du­to­ra: Treze

    Assista ao Teas­er do curta:

    httpv://www.youtube.com/watch?v=1kZei9g9jls

  • Trois Petit Points

    Trois Petit Points

    Para os amantes da ani­mação é prati­ca­mente impos­sív­el não ser fã das pro­duções da Esco­la de Gob­elins, na França. A Gob­elins L’é­cole de L’im­age é refer­ên­cia mundi­al em cur­tas ani­ma­dos, sem­pre muito ousa­dos e com lin­gua­gens próprias, for­man­do reno­ma­dos artis­tas para os maiores estú­dios do mun­do. Para finalizar o ano, a própria esco­la fez uma lista das mel­hores pro­duções de 2010, e nes­sa leva, está o belo Trois Petit Points, em por­tuguês Três Pequenos Pon­tos, pro­duzi­do pelos alunos de grad­u­ação Lucre­tia Andreae, Alice Dieudon­né, Tra­cy Nowocien, Flo­ri­an Par­rot, Ornel­la Pri­oul e Remy Schaepman

    Para a Europa, as guer­ras sem­pre foram deci­si­vas, infe­liz­mente, para a for­mação da sociedade, da geopo­lit­i­ca e inclu­sive de país­es. Em Trois Petit Points, a guer­ra é mostra­da pela óti­ca poéti­ca do cin­e­ma: a espera incan­sáv­el de quem fica longe das trincheiras, e a depressão e o afe­ta­men­to pro­fun­do de quem vol­ta de lá. Uma cos­tureira espera seu mari­do voltar, assim que o vê chegar, destruí­do em todos os sen­ti­dos, ela, só con­segue pen­sar em usar seus dons de cos­tu­rar, con­stru­ir e jun­tar partes para que sua vida con­tin­ue. Ele, pelo con­trário, só vê tris­teza e escuridão, como se não hou­vesse con­tin­u­ação após uma guerra.

    Trois Petit Points é lin­do, e talvez isso ain­da nem o defi­na. O cur­ta tra­bal­ha com a metá­fo­ra da recon­strução através de uma cos­tureira que acred­i­ta sal­var o mun­do com sua agul­ha, con­tra­stan­do com o mari­do, recém-chega­do da guer­ra, se trans­for­man­do, aos poucos, em um enorme cor­vo. Uma ani­mação com jeit­in­ho francês, lem­bran­do muito os tra­bal­hos de Syl­vain Chomet, onde as palavras não tem quase nen­hu­ma função per­to da imagem.

    httpv://www.youtube.com/watch?v=G0yC2ldpBFI&feature=player_embedded

  • Harvey

    Harvey

    A bus­ca pela metade, pela com­ple­tude. As utopias em torno do con­ceito con­tem­porâ­neo do Amor são muitas. A solidão não cabe ao ser humano e ele insis­ten­te­mente faz de tudo para que o out­ro lado cor­re­spon­da a todo cus­to, como se hou­vesse uma obri­gação, egoís­ta, na rec­i­pro­ci­dade dos sen­ti­men­tos. E é desse auto-engano sobre a existên­cia de uma metade que o cur­ta Har­vey (2001) de Peter Mcdon­ald tra­ta, de uma for­ma espe­cial­mente realista-fantástica.

    Har­vey é um homem incom­ple­to, em todos os sen­ti­dos. Soz­in­ho e pela metade ele obser­va a sua estran­ha viz­in­ha pela por­ta, se apre­sen­tan­do como um voyeur apaixon­a­do de olhar obceca­do. Em bus­ca de suprir e ali­men­tar o seu ego par­tido ao meio, Har­vey vai até ela e a obri­ga ser a sua metade. Mes­mo a cos­tu­ran­do ao seu cor­po, Har­vey não con­segue obrigá-la a amá-lo na sua mes­ma pro­fun­di­dade. Ao con­trário, a faz ter mais medo ain­da daque­la obsessão e fug­in­do ela o deixa numa solidão mais pro­fun­da ainda.

    Peter Mcdon­ald pode­ria ter tor­na­do Har­vey em ape­nas um pro­je­to ambi­cioso de ficção beiran­do ao estran­hamen­to e ao ter­ror. Mas, fez o cur­ta fun­cionar pelas téc­ni­cas usadas que vão des­de o chro­ma key até o 3D, em ape­nas nove min­u­tos sin­te­ti­za em metá­foras a sig­nifi­cação de amores platôni­cos e os lim­ites da pos­sessão. Har­vey rep­re­sen­ta uma infinidade de pes­soas que vivem a incom­ple­tude da solidão e a obsessão pelo sen­ti­do utópi­co de amor eter­no e obri­gatório. Um cur­ta antes de tudo, e para­doxal­mente, sen­sív­el a pon­to de doer os olhos.

  • O Resto é Silêncio

    O Resto é Silêncio

    O que você faria se não pudesse ouvir? Como se comu­nicar sem o uso da palavra fal­a­da? Garan­to que apren­de­ria a lidar com os gestos, prestaria mais atenção nas expressões das pes­soas e enx­er­garia a palavra de out­ro modo, sem o som, mas com mais sig­nifi­cação na for­ma e no sen­ti­do. E é dessas per­cepções que o cur­ta O Resto é Silên­cio (2003), de Paulo Halm, tra­ta.

    Lucas é um garo­to sur­do que vive aten­ta­mente em prestar atenção nos gestos das pes­soas, várias vezes ele vai até a loja de dis­cos somente para obser­var as expressões. Mas além dis­so, Lucas gos­ta mes­mo é das palavras e é na poe­sia que o jovem tem suas maiores sen­sações e con­segue expressá-las através da lín­gua de Libras. Ao con­hecer Clara, a nova cole­ga do colé­gio para defi­cientes audi­tivos, ele desco­bre que exis­tem muitos out­ros meios de enten­der os sons que o mun­do pos­sui e isso muda aos poucos a vida de Lucas.

    O Resto é Silên­cio é fil­ma­do todo em lín­gua de Libras e os atores são todos sur­dos. O dire­tor faz uso inten­so do silên­cio e das sen­sações de um defi­ciente audi­ti­vo comum como as tran­sições entre som e silên­cio que muitos sen­tem. Ain­da, mostra um pouco do cotid­i­ano dess­es jovens, que tem uma vida com­ple­ta­mente adap­ta­da porém em nada difer­ente dos outros.
    É a poe­sia, não somente das palavras que o garo­to encon­tra, mas nos gestos e nas for­mas que os per­son­agens reais de O Resto é Silên­cio encon­tram para explicar o mun­do. Para Lucas as palavras são sinestési­cas, elas pos­suem for­mas, cheiros e val­ores difer­entes do som. Elas se tor­nam poe­sia para ele e assim pode trans­for­má-las em mág­i­ca nas suas mãos.

  • Os Filmes Que Não Fiz

    Os Filmes Que Não Fiz

    Por quais motivos muitos filmes não são feitos no Brasil? Sem­pre há alguém a quem cul­par:, o gov­er­no, a fal­ta de apoio da pop­u­lação, algu­ma pes­soa que não aceitaram colab­o­rar e até mes­mo a fal­ta de von­tade de ter que ir em bus­ca de recur­sos e apoio. O cur­ta Os Filmes Que Não Fiz, de Gilber­to Scarpa, tra­ta jus­ta­mente dos motivos mais banais de pro­je­tos cin­e­matográ­fi­cos não terem vin­ga­do e se tor­na­do películas.

    Em Os Filmes Que Não Fiz, Scarpa inter­pre­ta a si mes­mo como um dire­tor que acred­i­ta fiel­mente em seus pro­je­tos, mas que nun­ca tirou nen­hum do papel. Nos moldes de entre­vis­tas e doc­u­men­tários de dire­tores famosos, em que os atores e colab­o­radores par­tic­i­pantes dão seus depoi­men­tos, o dire­tor con­ta da sua saga de anti-herói das telonas nacionais.

    O tom cíni­co de Os Filmes Que Não Fiz é um dos ele­men­tos mais inter­es­santes, soan­do como uma críti­ca sobre o enorme número de pseu­do dire­tores atual­mente. O diretor/personagem nar­ra em um tom saudo­sista e car­in­hoso os seus roteiros mais inter­es­santes rela­tan­do cada detal­he do que pode­ria ter sido. Ele apre­sen­ta de for­ma extrema­mente diver­ti­da, e em for­ma­to de trail­er, um a um dos pro­je­tos. O cur­ta é uma espé­cie de ¨cur­tas den­tro de um cur­ta¨ dan­do um tom met­alin­guis­ti­co ao tra­bal­ho. Afi­nal, por que mes­mo muitos filmes não são feitos no Brasil?

  • Café com Leite

    Café com Leite

    Qual é a definição de família para você? Pai, Mãe e fil­hos? Hoje, o sig­nifi­ca­do desse ter­mo ultra­pas­sa as questões de gênero e quan­ti­dade, trazen­do o sim­ples sen­ti­do de pes­soas que con­vivem no mes­mo espaço, ten­tan­do um com­preen­der o out­ro. E em Café Com Leite (2007), de Daniel Ribeiro, muitas questões são lev­an­tadas no sen­ti­do de definir os papéis numa família improvisada.

    Dani­lo decide ir morar com o namora­do Mar­cos, mas como nem tudo sai como o esper­a­do, os pais dele acabam fale­cen­do num aci­dente e ele fica com a guar­da do irmão, Lucas. Ago­ra, Dani­lo pre­cisa lidar com uma vida a três: orga­ni­zar a sua relação com Mar­cos e cri­ar um novo con­ceito de família para o irmão caçula.

    Café Com Leite, tra­ta da sutileza de uma nova família, deixan­do em segun­do plano a questão da homos­sex­u­al­i­dade dos novos pais, focan­do na adap­tação de um novo modo de viv­er. O cur­ta-metragem pas­sou por inúmeros fes­ti­vais pelo mun­do trazen­do um tema polêmi­co com lev­eza e bom-humor.