Diferente da grande maioria dos filmes já feitos sobre este icônico personagem, Robin Hood (Robin Hood, EUA/Inglaterra, 2010), de Ridley Scott, vai por um viés bastante diferente, se resumindo a contar a história do homem antes de virar a lenda. Segundo o próprio final do longa metragem, depois disso, todos já ouviram falar de como ela continua.
A história se passa na Inglaterra, século XII, quando Ricardo I, o atual rei, morre em uma batalha. Robin Longstride (Russel Crowe) é um dos arqueiros da Coroa que, se aproveitando deste ocorrido, resolve fugir com um grupo de amigos da batalha, antes que se instaure o caos. Tendo sorte nos acontecimentos que seguem, ele consegue se estabelecer em Nottingham, onde fica na casa de Lady Marion (Cate Blanchett) e seu pai Sir Walter Loxley (Max von Sydow). Enquanto isto, o príncipe João (Oscar Isaac) assume o trono e tenta, a partir da violência, conseguir mais dinheiro para o cofre real, causando revoltas com o seu povo.
Apesar de ser um filme de ação, Robin Hood foca-se mais na construção do personagem principal, apesar de às vezes ser um pouco atropelada (por exemplo: a partir de que momento Robin tornou-se tão eloquente e politizado?), mas nada que atrapalhe muito. Também não podemos esquecer que não há qualquer fato/documento histórico que relate a vida deste homem, então a imaginação correu solta para na criação deste roteiro. Por isso acho que não vale muito a pena ficar discutindo certos acontecimentos ocorridos pois, querendo ou não, se quis dar um destaque na trajetória deste (anti-)herói.
Durante as batalhas de Robin Hood não há aqueles abusos de efeitos especiais, com inúmeras tomadas em câmera lenta e sangue jorrando, tornando-as mais realistas. Com destaque também para a caracterização dos personagens e das locações, que também foram muito bem produzidas, incluindo até pequenos detalhes como goteiras por causa da chuva dentro de uma casa. Tudo isso tornou a ambientação muito envolvedora e fiel ao que possivelmente acontecia nesta época.
Além disso são tratados vários temas interessantes, apesar de às vezes só dar uma pincelada rápida, como as cruzadas em si, que segundo o próprio Robin, os tornaram homens sem Deus, devido a tamanha crueldade dos atos praticados durante elas. O poder da Igreja é novamente questionado quando ao invés de ajudar as pessoas em momentos de necessidade, preferiu continuar explorando o povo continuamente. Há também todo um clima de início à democracia, com direitos inatos para cada cidadão, afrontando vários aspectos da monarquia. Apesar de ter ficado meio atropelado este último assunto, de certa forma era o que Robin Hood, tentava fazer (re)distribuindo as riquezas, mas provavelmente de uma maneira menos conscientemente politizada de como foi retratado no filme.
Parece que é inevitável a comparação deste longa com Gladiador ou Cruzada, que no meu ver se dá apenas por também ser mais um filme épico feito pelo mesmo diretor. Já tendo ambientado várias dessas produções utilizando uma cenografia e fotografia do mesmo estilo, em épocas parecidas, todas medievais, com todas suas guerras e lutas, é inevitável que haja certas semelhanças.
Robin Hood é mais sobre transformação e questionamento de certas verdades, tidas como absolutas, do que sobre lutas e guerras. Sem entrar em todos aqueles clichês já feitos em cima desta lenda, tendo como resultado uma obra, no mínimo, original.
Outra críticas interessantes:
- Érico Borgo, no Omelete
- Joba Tridente, no Claque ou Claquete
- Thiago Siqueira, no Cinema com Rapadura
Trailer:
httpv://www.youtube.com/watch?v=EZU1AfNDGds